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sábado, 7 de agosto de 2010

Os quatro pastores e o projeto de igreja

Numa tarde de sábado no Rio de Janeiro, quatro pastores evangélicos combinaram de se encontrar num local discreto para discutirem entre si a criação de mais uma nova igreja. Um deles, o pastor Paulo de Tarso, já estava sentado no banco de uma praça debaixo da sombra de uma frondosa árvore.

- Fala, Paulo! Como tem passado?

- Apesar daquela derrota vergonhosa por quatro a zero que meu time sofreu no campeonato de futebol, estou muito bem e bastante animado com a reunião que marquei pra hoje ali no restaurante. E você, Carlos? Resolveu aquele probleminha da sua conta telefônica

- Cara, nem me fale! Com este salário de professor que a igreja nos dá mal consigo para pagar meus compromissos em dia. Precisei parcelar a conta para a empresa religar a minha linha. Por isso é que você só fala com este celular da minha esposa que está sem crédito.

- Já sei! Aquele celular “pai de santo” que só recebe chamadas...

- Sai fora! Tá amarrado!

Pastor Paulo deu uma gargalhada.

- Me diz aí, cara. Quem são as outras pessoas que você chamou para esta reunião? Conheço algum?

- Talvez você só tenha ouvido falar do pastor Ricardo que costuma vender por aí aqueles CDs de louvor sertanejo misturado com outras músicas que ele grava por sua conta.

- Sei. Você está falando daquele cara que quase foi processado uma vez por piratear canções gospel gravadas durante os cultos nas igrejas?

- Se ele foi processado nem estou sabendo, mas não acho que gravar um louvor ao vivo cantado numa igreja seja errado.

- E quem é o outro sujeito que você convidou? Pelo visto da nossa igreja só devem vir eu e você. Estou errado?

- Claro que não! O outro pastor se chama Davi de Jessé. Foi meu colega no seminário, fez missão por um ano na África, voltou para o Brasil e foi dar aulas numa faculdade em Curitiba onde também trabalhava como pastor auxiliar numa igreja pentecostal. Depois disto, rompeu com a denominação, mudou-se para trabalhar numa empresa em Curitiba, foi demitido ano passado, divorciou-se da esposa e agora está novamente pelo Rio morando com a sua família na Tijuca.

- Este Davi não seria aquele rapaz que dividia o quarto contigo e que fazia os trabalhos do seminário pra você?

- É ele mesmo em pessoa! Meu amigão Davi é um dos caras mais inteligentes que já conheci e, quando soube que ele estava aqui pelo Rio procurando emprego, resolvi chamá-lo para esta reunião?

- Mas então, pelo que você me contou, parece que ele está desviado? E, se ele também se separou da mulher, pode ter alguma coisa de errado no seu currículo.

- Não tenho certeza se ele anda se congregando em algum lugar ou não. Mas o que interessa isto, Carlos? Importa é que ele tem potencial para estar no ministério com agente e a sua participação agrega valor. É mais experiente do que você.

- Tá! E se amanhã descobrem o cara tendo um relacionamento sexual ilícito com alguma mulher? E o que vão falar de um pastor divorciado dirigindo a nossa futura igreja? Você não sabe como as pessoas são dentro do meio evangélico?

- Cara! Estou muito firme no que estou fazendo. Relaxa! O pastor Davi é um homem de minha inteira confiança. No seminário, éramos quase que uma só carne. Tínhamos uma relação de cumplicidade e ele sempre me ajudou nas horas mais difíceis. Até hoje lhe sou grato por ter enganado o professor quando quase me pegaram colando na hora da prova. Nas sextas-feiras, agente ia juntos pras festinhas pegar mulher nos velhos tempos da lambada...

- Tudo bem. E o pastor Vicente? Ele não pode saber que agente está aqui.

- É lógico que, por enquanto, ele nem desconfia de nada. Mês que vem serão as férias dele e quem estará presidindo os próximos cultos serei eu, você, o pastor José e outros irmãos do conselho da igreja.

- Olha lá! Não quero que este plano dê errado e eu ainda acabe perdendo meu emprego. Estou cheio de dívidas pra pagar. Nem o pastor Vicente e nem o imbecil do pastor José podem saber disto aqui, ou do contrário estaremos fritos.

- Carlos, já falei pra você ficar despreocupado. Conheço muito bem aquela igreja e sei quem são as pessoas que nos acompanhariam quando fundarmos a nossa própria congregação. Por isso é que tenho feito tantas visitas ultimamente nas casas e não estou nem um pouco me importando com o puxa-saco do José. Na ausência do pastor Vicente, aquele cara não é capaz de me enfrentar numa disputa de opinião.

Neste momento, um motorista num carro velho buzinou. Era o pastor Ricardo chegando em seu Fusca verde ano 78.

- A paz do Senhor, meus queridos!

Paulo acenou e disse:

- Grande levita e varão de guerra!

- Demorei muito?

- Que nada! São duas e dez no meu relógio e chegar atrasado neste país é super normal. Ainda estamos esperando mais um colega que deve estar vindo aí.

- Beleza! Vou ver se encontro um lugar pra estacionar aqui perto.

- Pode parar ali na vaga do restaurante. É para lá que iremos daqui a pouco. Já reservei a nossa mesa.

- Tudo bem.

Pastor Carlos arregalou os olhos e reclamou com o pastor Paulo:

- Cara, você sabe que eu estou duro e não vou ter como pagar esta conta. As faturas dos meus cartões de crédito estão todas vencidas e o banco já deve ter mandado meu nome para o SERASA.

- Fica frio, malandro, que depois eu pago a sua despesa no restaurante. E depois você não tem que esquentar a cabeça com nome sujo. Já te expliquei um dia desses que primeiro o banco vai negativar o seu CPF. Vão fazer muita pressão para ver se você paga a dívida com aquelas ameaças nos call center de cobrança. Então, se nada der certo, o banco te coloca no rol de inadimplentes, abate a dívida no imposto de renda da empresa e, tempos depois, te manda uma proposta de acordo bem menor do que o débito inicial.

- Você está dizendo isto porque não é o teu nome que está em jogo.

- Bicho, eu já parei de contar as vezes que fiquei pendurado no SPC e até hoje vivo quebrando com o devido planejamento antecipado. Nestas ocasiões, movimento o dinheiro que tomei de empréstimo na conta de minha esposa e, quando chega uma proposta boa, sem aqueles juros horrorosos, em poucos dias o banco tira meu nome do pau após o pagamento e ainda me mandam um novo cartão de crédito pra eu fazer nova dívida. Esta é uma das vantagens de ser um homem casado...

Carlos deu uma falsa gargalhada.

- Paulo, tem horas que eu queria ser malandro como você.

- Você ainda vai chegar lá e pode acreditar que, dentro de um ano, quando nossa igreja estiver cheia, seus problemas financeiros vão se resolver. Mas agora vamos parar com o papo que eu tenho coisa mais objetiva pra tratar com o pastor Ricardo.

Trazendo consigo uma maleta preta, o pastor Ricardo se aproximou da dupla.

- Quantos dólares tem nesta bolsa? - perguntou o pastor Paulo.

- Dólares? Não tenho nem trinta reais no bolso. Fui cantar numa igreja nesta quinta e a oferta do dia não chegou nem a 100 contos.

- Qual igreja? Aquela Meu Deus é Rico para todos que o invocam que você costuma ir lá em Caxias?

- Esta mesmo. E o pastor de lá prometeu que eu iria ficar com metade da arrecadação do dia e todo o dinheiro da venda dos disquinhos. Só que hoje cedo eu soube que, no culto de domingo, tinha vindo um pregador de São Paulo e fez aquele apelo de ofertas, os famosos “desafios de fé”, e aí quase todo o povo deve ter esvaziado os bolsos da noite para o dia. Pior é que não consegui vender nada depois do culto.

- Depois de uma dessas é um absurdo o pastor ainda ter te dado só a metade da oferta. - interveio Carlos.

Nesta hora chegou um rapaz andando numa cadeira de rodas e oferecendo balas.

- Senhores, compra uma jujuba pra me ajudar. São só dois reais.

Pastor Paulo virou a cara para o lado, desprezando a presença do jovem. Já o pastor Carlos deu um sorriso amarelo mostrando os bolsos vazios:

- Estou sem nada agora. Fica pra outra vez. Vai na paz.

Quando o rapaz já estava se retirando do meio deles, o pastor Ricardo abriu sua mala e ofereceu um CD para o jovem que tinha na capa uma foto de festa caipira com o título “Arraiar de Jesus”.

- Espera aí. Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho te dou! Leva um disquinho meu e Jesus vai te abençoar. - disse o pastor Ricardo ao rapaz usando palavras ditas por Pedro no livro de Atos dos Apóstolos.

- Muito obrigado, mas não posso aceitar. Lá em casa somos todos crentes e não frequentamos nada de festa junina apesar de recebermos cesta básica de uma igreja católica do bairro.

- A paz do Senhor, meu irmão! Este CD é de músicas sertanejas evangélicas. Não tem nada de adoração a João Batista, Pedro ou Santo Antônio. Sou pastor, tenho um ministério ambulante de louvou e eu mesmo é quem gravo. Algumas composições são de minha própria autoria!

- Neste caso, te agradeço de coração. Valeu pelo CD.

- Qual o seu nome, jovem?

- Marcos.

- Então, Marcos, se gostar do CD fala para o pastor de sua igreja e também pro padre que vou lá tocar para vocês. Meu telefone está aqui atrás. Estarei orando por ti, meu irmão! Deus é o mesmo de ontem, hoje e eternamente!

- Amém! Fica com esta jujuba.

Quando o rapaz já estava se afastando, o pastor Paulo propôs ao grupo que fosse para o restaurante:

- Gente, vamos entrar de uma vez. Estou ficando cansado. Nossa mesa já está reservada e não quero ficar mais nenhum minuto aqui fora aturando esta gente pegajosa.

- E se este seu amigo do seminário chegar? Como ele vai encontrar-se com agente? - perguntou o pastor Carlos preocupado.

- Mando um torpedo SMS pra ele avisando. Relaxa, cara.

Nesta momento, o celular “pai de santo” da esposa do pastor Carlos tocou.

- Quem é?

- Sou eu, amor. Estou ligando da casa da vizinha.

- Oi, amor! Estou numa reunião importante com o pastor Paulo e com aquele cantor de gospel sertanejo, o pastor Ricardo.

- Você está aí na igreja?

- Não, amor. Lembra que eu te falei que agente tinha combinado de se encontrar numa praça na Zona Oeste?

- Olha lá! Não tem nenhuma mulher aí com vocês?

- Claro que não. Só tem homem feio.

- Tá bom. Não demora não. Sábado é o único dia que agente tem pra ficar junto.

- Vou fazer o que posso. Beijos.

- Beijinho.

Meio irritado, o pastor Paulo olhou para o pastor Carlos:

- Você contou tudo o que estamos fazendo pra sua esposa?

- Claro que não.

- Tá. Vê se não estraga a coisa. Por enquanto, só nós quatro sabemos do plano de fundar uma nova igreja. Mais ninguém, escutou?!

- Nem eu quero que, por enquanto, outras pessoas fiquem sabendo também - disse o pastor Ricardo.

- Mas por quê? - perguntou o pastor Carlos.

- Quando você está vinculado a um ministério pastoral de qualquer denominação fica mais difícil entrar nas igrejas para tocar sua música e dar uma mensagem no púlpito. Os pastores ficam achando que a sua intensão será levar as ovelhas deles para a sua igreja.

- Tem muito o que aprender este rapaz! – disse o pastor Paulo referindo-se ao pastor Carlos.

Os três entraram no restaurante e o pastor Paulo começou a escrever sua mensagem de texto para o pastor Davi.

- A esta hora não servimos mais refeições. O que vocês querem para beber? - perguntou a garçonete sorridente.

Tanto o pastor Carlos quanto o pastor pediram uma coca-cola e dois copos.

- E pra você? - dirigiu-se a garçonete para o pastor Ricardo.

- Pode me trazer um chopp bem gelado num daqueles copos descartáveis de guaraná.

- Desejam comer algum aperitivo?

- Por enquanto, não – finalizou o pastor Paulo.

Um conhecido do pastor Ricardo que estava acabando de almoçar com a família acenou para o grupo sandando-o com a paz do Senhor.

- Cara, você tem muito conhecido aqui? - perguntou o pastor Paulo.

- Neste bairro, quase ninguém. Aquele era um irmão que devo ter tocado na igreja dele. Acho que ele é batista... Não! Minto! É da Metodista.

- Tudo bem. Daqui a alguns minutos o pastor Davi deverá estar chegando e o restaurante já estará quase vazio. Até às cinco da tarde poderemos conversar sossegados.

- Mas não se esqueçam que, às cinco e meia, tem um jogo do Flamengo com o São Paulo e que o estabelecimento vai ficar lotado de torcedores enchendo a cara e gritando palavrões. Então nem é bom que vejam agente por aqui porque, se aparecer um irmão da igreja, poderão dizer que estamos assentados na roda dos escarnecedores. - disse o pastor Carlos.

- Olha, não falem mal do meu time! - falou o pastor Ricardo.

Chegou então o chopp espumando num copão descartável e o refrigerante com dois copos para os outros pastores. Logo que a garçonete afastou-se da mesa, o pastor Ricardo pôs-se a perguntar:

- Pastor Paulo, você acha que consegue trazer quantas pessoas de sua igreja? Qual o número atual de membros de lá?

- Cadastrados no sistema são mais de mil, mas apenas uns oitocentos participam ativamente, contando com os que não são membros ainda. Tem gente que já morreu, outros que se desviaram e mais aqueles que passaram a frequentar outra igreja.

- Mas quantos te acompanham?

- Pelo menos duzentos. Nos cultos de cura e libertação, que faço todas às sextas-feiras, dificilmente dá menos de cem, dos quais nem todos são membros.

- Como assim?

- É que uma parte dos frequentadores é de pessoas de fora, muitos andam até envolvidos com o espiritismo, mas que frequentam a reunião sem assumirem um compromisso institucional concosco – explicou o pastor Carlos.

- Mas não vamos contar só com isto. Eu espero que o pastor Ricardo possa trazer o seu pessoal e juntos possamos formar uma congregação de seus duzentos membros, o que talvez proporcione uma arrecadação de mais de R$ 5.000,00 contando também com as ofertas.

- Pastor Paulo, quantos contribuintes efetivos você imagina que teremos?

- Talvez uns setenta. E, pagando o aluguem do galpão que já estou vendo, mais despesas de água, luz e telefone, talvez sobre uns R$ 4.000,00 para distribuirmos entre nós no começo.

- É menos do que eu recebo hoje – reclamou Carlos.

- Cara, já te falei que se quiser melhorar de vida você vai ter que dar uma segurada. Deixa as contas atrasarem por um tempo. Paga só o essencial e invista no nosso trabalho. Depois de um ano agente vai ficar numa boa.

O telefone celular do pastor Paulo tocou.

- Alô!

- Sou eu, Davi. Já estou aqui na praça. Qual o nome do restaurante? Não estou conseguindo me localizar.

- Espera que vou até aí te buscar.

- Ok.

Quando o pastor Paulo saiu, os pastores Carlos e Ricardo conversaram entre si:

- Este sujeito que vem aí é careta?

- Não sei. Não conheço ele. É um colega do pastor Paulo da época em que ele estava no seminário.

- Tá certo. Pelo sim e pelo não, vou parar logo com este chopp e pedir um refri.

- Sei lá. Acho que ele é um malandro igual a nós. Mas se você não se sente a vontade, pede outra coisa.

- Ei, garçonete, agora me trás um guaraná.

- Pastor Ricardo, faz mais de uma década que eu nem sei o que é beber cerveja.

- Por quê? Acha que é pecado ingerir bebida alcoólica?

- Lógico que não! Mas na nossa igreja o pastor Vicente prega que crente não pode beber e, por causa disto, não quero que outros crentes me vejam tomando chopp.

- E o pastor Paulo bebe?

- Pelo que sei, bebe uma vez ou outra. Mais quando ele sai de férias com a família. Só que ele é um cara muito discreto e que também prega ser pecado qualquer tipo de bebida alcoólica.

- Você não vai me dizer que na igreja de vocês o pastor Vicente nega que Jesus tenha tomado vinho na Ceia, né?

- Bom, ele nunca entrou nesta questão em público, mas, se baseando na epístola aos romanos, diz que, por amor aos irmãos mais fracos, não devemos beber nenhuma gota de álcool. O próprio pastor Vicente não bebe nada e tem uma alimentação parecida com os adventistas.

- Besteira! Eu só evito beber cerveja em público por causa do que outros crentes vão dizer, pois não quero perder meu espaço nas igrejas. Sabe como que é o povo evangélico...

Expressando uma alegria incomum, o pastor Paulo retornou para a mesa apresentando o pastor Davi aos demais colegas.

- Irmãos, este aqui é o pastor Davi, um amigo meu de longa data.

- Muito prazer. Pastor Ricardo, seu servo.

- O prazer é todo meu, amigos. Mas, por favor, não fiquem me chamando de pastor. Somos todos irmãos e pra mim pastor não é título, mas apenas uma função.

Chegou a garçonete.

- Senhores, vão querer mais alguma coisa?

- Uma água mineral gasosa, por gentileza – respondeu o pastor Davi com um olhar sedutor para a moça.

Neste instante, o pastor Carlos não conseguiu esconder a sua reprovação, embora tanto ele quanto o pastor Ricardo, ambos casados, dessem suas olhadas discretas para o corpo escultural da jovem garçonete. Já o pastor Paulo mostrou total indiferença diante da situação. Não lhe interessava censurar o comportamento de seu colega de seminário e nem apreciar a beleza da funcionária.

- Conforme já havia lhes falado, este é o pastor Davi, o melhor aluno de minha turma no seminário, e decidi convidá-lo para esta reunião porque acredito muito em seu trabalho e confio na sua pessoa.

- Fico feliz por estar aqui, Paulo. Principalmente porque, desde que voltei ao Rio, ainda não encontrei nenhum grupo de de irmãos com os quais me senti a vontade para me congregar e participar ativamente de um projeto comum. Estive visitando algumas congregações perto da casa de minha família, mas não me identifiquei com o propósito de nenhuma delas. Fui até em alguns cultos da igreja onde meus pais me criaram, só que não suportei aquele tradicionalismo deles. Não dá pra viver uma vida cristã dentro das formalidades.

- Quer dizer que o pastor Davi é mais um desigrejado? - ironizou o pastor Ricardo.

- Sem denominação, quer dizer, pois continuo parte da Igreja de Cristo que é universal. Mas me conte, Paulo, sobre o que você tem em mente? Quais são seus projetos?

- Como eu havia te falado outro dia no telefone e também conversei com os pastores Ricardo e Carlos, pretendo trazer parte da igreja onde trabalho como pastor auxiliar.

- Não é bem isto que eu quero saber. Meu interesse na pergunta diz respeito à concepção de igreja que pretendemos construir.

- Como assim, pastor Davi? Seja mais direto, por favor.

- Vamos começar falando do ponto que considero principal, sobre a doutrina de salvação. No que vocês crêem?

- Somos salvos pela graça de Deus – respondeu o pastor Ricardo.

- Acho que não devemos fugir do assunto da pauta. O tempo é curto, hoje é sábado, meu único dia de descanso, e logo mais quero estar com minha família – interrompeu o pastor Carlos.

- Deixa ele colocar o que pensa – interveio o pastor Paulo.

Continuou o pastor Davi:

- Lembra, Paulo, que, na época do seminário, defendíamos ser uma vez salvos, salvos para sempre? Ainda crê nesta doutrina?

- Claro! E acho que todos aqui também.

- Mas pelo que estou sabendo, não o que prega o pastor Vicente. Ele diz no seu programa de rádio que, se o crente pecar, e morrer sem pedir perdão, perde a salvação. Correto?

- Sim. O pastor Vicente alerta que, se dissermos para o povo que eles estão salvos de uma vez por todas, as pessoas na igreja vão começar a pecar deliberadamente. E isto seria o caos – respondeu o pastor Carlos.

- Então, Carlos, o que o Vicente prega não é o que os pastores da igreja dele acreditam?

- Lógico que não. Ele se baseia na passagem de João 16.12 quando Jesus disse que ainda teria muito o que dizer para os discípulos mas que eles ainda não podiam suportar naquele momento de modo que determinadas doutrinas na nossa igreja são apenas reservadas ao ministério pastoral e aos diáconos que participam do conselho administrativo. Nós pastores temos a consciência de que somos eternamente salvos desde o momento que, arrependidamente, aceitamos a Jesus como o nosso único Senhor e Salvador. Caso eu cometa um pecado e morra no instante seguinte, a graça de Deus é suficiente para me salvar. Mesmo se tiver que pedir perdão antes do último suspiro, certamente Deus me dará a oportunidade para me desculpar.

- O contexto não diz que Jesus estivesse encobrindo dos discípulos toda a verdade, pois seria uma contradição com o texto de João 8.32 quando o Senhor fala que a Verdade liberta. Também não entendi por que impor um pesado jugo ao povo de Deus? Quero que todos tenham a oportunidade de conhecer a graça de Deus e experimentem uma transformação de caráter livres do medo. Nem Deus se agrada que falemos coisas incorretas a seu respeito.

O pastor Paulo interveio:

- Meu caro pastor Davi. Eu entendo o que quer dizer e também compreendo os motivos pelos quais o pastor Vicente faz isto. A princípio, não desejo levantar discórdias a respeito desta doutrina, mesmo me parecendo ser um excelente pano de fundo para eu dividir aquela igreja. Porém, tenho um ousado projeto de médios e longos prazos para colocar em ação pois pretendo construir uma poderosa denominação evangélica neste país com mais de mil templos dentro de uma década de modo que a doutrina de ser salvo sempre salvo não me interessa.

Os pastores Carlos e Ricardo arregalaram os olhos. O pastor Paulo continuou.

- Não sei se todos aqui sonham alto como eu, mas a minha mente não se prende a situações do momento. Quero apenas levar comigo uma parte da igreja do pastor Vicente para nos manter financeiramente durante um período e nos servirmos de alguns obreiros para então iniciar um grandioso plano de expansão.

- E o que isto tem a ver com a doutrina de salvação? - perguntou o pastor Ricardo.

- Muita coisa! Quero concentrar toda a energia das pessoas na igreja nesse ousado projeto de crescimento rápido. Por isso, quero que tanto os membros quanto os obreiros estejam sempre bem dispostos a frequentar assiduamente os cultos e a cumprir o nosso comando.

- E a graça de Deus atrapalha? - questionou o pastor Davi.

O pastor Paulo fez uma pausa e prosseguiu:

- Não é isto. A graça será sempre um amparo nas situações difíceis que, estrategicamente, ministraremos para aliviar a mente de alguns membros mais confusos, evitando que eles fiquem surtados e deixem de ir na igreja. Mas quero que as pessoas sintam a necessidade de conquistar a salvação a cada dia, trabalhando com afinco para convidar outros para participar dos cultos.

- Permita-me interrompê-lo, Paulo. Penso que se alimentamos sentimentos equivocados nas mentes das pessoas, não só estaremos formando nelas uma ideia errada a respeito de Deus como também teremos uma igreja escravizada pelo medo, o que não é nada bom para alcançarmos um crescimento de qualidade. Ou você não se lembra que “o amor perfeito lança fora o medo”?

- Pastor Davi, não se esqueça qual é a religião que mais cresce no mundo. Não são os cristãos, mas sim os muçulmanos e eles morrem de medo da Geena que é o inferno. O Alcorão não dá nenhuma certeza de que o crente será salvo. Até o fato de alguém se converter é vontade de Alá, algo que vagamente lembra também a doutrina da predestinação do calvinismo, mas negando a graça. Em 2050, a maior parte do continente europeu será muçulmano.

- Discordo de você, Paulo. Os muçulmanos estão aparentemente crescendo mais do que os cristãos porque o número de filhos de uma família muçulmana é bem maior do que a taxa de fecundidade das mulheres cristãs. Além disso, raramente alguém que é cristão se converte ao Islã porque significa romper com valores fortíssimos de nossa cultura.

- Sua análise é considerável neste ponto, pastor Davi, mas o colega não pode se esquecer que raramente um muçulmano abandona sua religião e muito menos as raízes culturais. Dificilmente um árabe aceita o Evangelho porque pra eles é uma blasfêmia confessar Jesus como Filho de Deus porque, segundo Maomé, Alá não procria. Eles têm Jesus como um profeta, nada mais que isto.

- Só que você quer montar uma igreja cristã e não uma mesquita islâmica, pastor Paulo – interveio o pastor Ricardo.

- Quero ser pastor de uma igreja que tenha milhões de membros em todo o mundo e, obviamente, estarei salvando muitas almas do inferno mesmo que eles desconheçam que estarão salvos de uma vez por todas. E pra alcançar este objetivo quero que as pessoas sintam medo de nos deixar ou de falarem mal dos seus pastores.

- Você pretende atacar outras igrejas? - perguntou o pastor Ricardo.

- Não vamos nos opor diretamente a qualquer denominação. As pessoas só precisam pensar que a nossa igreja foi escolhida dentre todas as outras para executar o plano de Deus. Mas quanto aos católicos, os testemunhas de Jeová, os espíritas e outras religiões vou me opor abertamente. Até porque tirar pessoas do espiritismo tem sido a minha especialidade nos cultos de libertação que deverão ser feitos justamente nas sextas-feiras.

- Muito bem pensado! - exclamou o pastor Carlos – pois sexta-feira é o dia que o brasileiro gosta de ir pra macumba.

- Acho que devemos evitar a intolerância para não declararmos nenhuma espécie de guerra santa – comentou o pastor Davi.

- Meu caro colega. Não vou atacar os espíritas, mas sim o espiritismo. Não sei se você já me ouviu pregando no programa de rádio quando faço a oração da meia noite e, cinco minutos, chamo espíritas, católicos, budistas e evangélicos de outra igreja de “meus irmãos”, mesmo sabendo que só os crentes são filhos de Deus - esclareceu o pastor Paulo.

- Tanto é que, nos cultos de libertação, aparecem pessoas de várias religiões, mas principalmente ex-macumbeiros. Muitos dos que hoje são membros da nossa igreja são ex-macumbeiros, ex-viciados, ex-prostitutas e ex-travestis que passaram pelos cultos de libertação do pastor Paulo – complementou o pastor Carlos.

O pastor Paulo deu um soco na mesa e disse:

- Fui eu quem suei a camisa para trazer mais da metade dos membros pra aquela igreja e agora não estou mais disposto a carregar o pastor Vicente nas costas. Ele tira mais de dez mil reais por mês, vai viajar com a família pra um resort na América Central e dirige um Corolla do ano. Eu troquei o meu automóvel semana passada por um carro mais inferior para investir neste projeto, mas garanto a vocês que, dentro de alguns anos, todos nós vamos ter um BMW na garagem

- E você não acha que fica estranho um pastor sair desfilando de carrão pela cidade? - perguntou o pastor Davi ao pastor Paulo.

- Muito pelo contrário! Expor a minha futura Ferrari será um tremendo marketing. As pessoas vão dizer “como que este pastor é abençoado, pois é pra igreja dele que eu vou”.

- Paulo, não me diga que você vai se tornar mais um desses teólogos da prosperidade?

- Por que não? Minha ideia é escrever muitos livros que falem sobre você se tonar uma pessoa rica. Grana é a maior necessidade das pessoas hoje em dia, logo temos que adequar o nosso discurso a esta realidade. Você já reparou quantas vezes a Bíblia fala sobre dinheiro.

- A Bíblia tem é muitas advertências sobre o amor ao dinheiro, assunto que foi várias vezes debatido por Jesus. Ou você se esqueceu disto?

- Mas é claro que não me esqueci, pastor Davi. E vou combater a concentração de riquezas incentivando a generosidade das pessoas de darem as suas ofertas para o nosso projeto missionário. Lançarei ousados desafios de fé e prosperidade pedindo altas contribuições financeiras.

- No começo, as pessoas da sua igreja que nos acompanharão vão estranhar esta atitude porque o pastor Vicente vez ou outra critica os teólogos da prosperidade – ponderou o pastor Ricardo.

- Eu sei! Por isto é que eu pretendo adiar um pouco estes desafios de fé. Vamos começar pela união do grupo e, no momento certo, direi que tive alguma visão ou um sonho sobre termos o nosso próprio programa de rádio para evangelizarmos mais pessoas. Você e outro pastor compartilham que também tiveram este mesmo tipo de sentimento e aí eu faço aquele apelo de oferta para que os irmãos se comprometam. Tiro até do meu bolso uma quantia das ofertas anteriores e coloco a grana no envelope na frente de todo mundo, dizendo que vendi uma propriedade em Minas Gerais que um tio me deixou de herança pra investir na obra de Deus. Falarei que não será motivo pra ninguém se preocupar porque receberão muito mais nesta vida e na outra. Então, o povo vai ficar comovido e, certamente, vai contribuir mais.

- Pastor Paulo, você é um gênio! - exclamou o pastor Carlos.

- Eu discordo! – disse o pastor Davi – Pois, além de faltar com a sinceridade, as pessoas logo vão perder o entusiasmo e, quando a situação financeira apertar, elas acabarão saindo da igreja procurando outro pastor.

O pastor Ricardo interveio:

- Me desculpa dizer isto, pastor Davi, mas se você não está interessado em participar do projeto ninguém aqui está te obrigando. Basta procurar outra igreja.

- Olha, estou aqui porque eu quero e, na hora em que esta conversa me cansar, pago minha conta e entro no meu ônibus. Só vim na reunião porque o Paulo me chamou. Antes eu imaginava que iria fazer parte de uma igreja que estivesse mais disposta a viver plenamente o Evangelho, mas agora permaneço aqui porque estou com pena de você e quero que reflitam sobre o sério equívoco que todos estão cometendo.

- Você não está na minha pele, pastor Davi. Não suporto mais esta vida de cantor de músicas evangélicas. Raramente alguém resolve comprar meus CDs e fico mendigando o pão de igreja em igreja. Quero uma renda mais estável que me permita não apenas trocar de carro, mas também pagar um plano de saúde pra minha família, sair do aluguel e matricular meu menino num colégio particular. Esta semana minha esposa teve que chegar às cinco da manhã no hospital para conseguir ser atendida pelo médico do SUS daqui um mês. Infelizmente eu não pude fazer uma faculdade de Teologia igual a você e o pastor Paulo. Meu pai era operário de fábrica e criou a mim e meus nove irmãos com bastante sacrifício. Pra ter meu carro, fiquei meses procurando peças nas oficinas do Rio de Janeiro até que consegui reformá-lo. Não quero ser rico, mas apenas viver com mais conforto e tranquilidade.

- E eu só quero pagar minhas dívidas! - resmungou o pastor Carlos - Fui ordenado pastor tem poucos anos. Se pudesse voltar no tempo, não teria entrado para o ministério e hoje talvez fosse funcionário público concursado ou então estaria trabalhando numa grande empresa. Às vezes até penso em estudar pra sair desta situação, mas me falta tempo.

Tentando retomar o controle das discussões, o pastor Paulo chamou a garçonete:

- Ei, menina! Trás aí uma porção de fritas para os meus amigos.

- Vocês querem mais alguma coisa? - perguntou a funcionária

- Estou satisfeito com a água mineral – disse o pastor Davi.

- Se for por tua conta, pode me trazer mais um refrigerante – falou o pastor Carlos ao pastor Paulo sem se acanhar.

- Fiquem tranquilos que eu pago. E você, pastor Ricardo, outra cerveja ou um guaraná?

- Você está perguntando se cachorro quer carne? - indagou o pastor Ricardo – Pode mandar logo uma Skol gelada na tulipa mesmo que agora não tem ninguém no bar.

O pastor Paulo resolveu descontrair o ambiente:

- Se cachorro tivesse religião, qual seria?

- Não faço a mínima ideia – respondeu o pastor Carlos.

- Cãondomblé! Esta é velha! - disse o pastor Ricardo.

A princípio ninguém riu. Em seguida exclamou o pastor Carlos e a turma toda caiu na gargalhada:

- Tá amarrado! - exclamou o pastor Carlos.

- A piada foi sem graça, mas o pastor Carlos é muito engraçado – comentou o pastor Ricardo.

- Uma vez ou outra não poderemos nos esquecer de convidar algum ex-pai de santo ou ex-bruxo para dar testemunho em nossa futura igreja. De preferência aqueles que deram consultas para pessoas famosas como artistas e políticos. Sabem que o povo evangélico sente muita falta de assistir a novela das oito e as pessoas precisam escutar um depoimento chocante de preferência contado por quem já teve passagem pelas religiões afro-brasileiras. - disse o pastor Paulo.

- Eu acho nojento o candomblé! – falou o pastor Carlos – Ainda mais depois que eu soube da quantidade de homossexuais que fazem parte desses cultos aos orixás.

- Não suporto gays! - bradou o pastor Ricardo.

- Então quer dizer que você não iria cantar o seu sertanejo gospel na Igreja da Comunidade Metropolitana que costuma sair naquelas passeatas GLS? - ironizou o pastor Davi.

- Tá amarrado! - exclamou novamente o pastor Carlos.

- Pra te dizer a verdade, não sei se eu recusaria um convite destes, pois estou precisando de grana, mas ficaria bem atento para não me agarrarem lá dentro.

- Já pensou se o pastor deles te tasca um beijo na boca e você gosta? - ridicularizou o pastor Paulo.

- Vou compartilhar com vocês que, ultimamente, tenho mudado minha visão a respeito da homossexualidade – surpreendeu o pastor Davi.

- Mas a Bíblia não diz claramente que este tipo de comportamento é pecado?! - disse o pastor Carlos.

- É tão pecado quanto um heterossexual fazer sexo com a esposa de alguém. É tão pecado quanto mentir, enganar, ofender as pessoas, roubar, matar. No fundo, todos nós somos pecadores decadentes e que continuamos carecedores da graça de Deus. - explicou-se o pastor Davi.

- Mas irmão, a Bíblia não diz claramente que os homossexuais não entrarão no reino dos céus?! Então você quer mudar aquilo que está escrito? - insistiu o pastor Carlos.

- As citações bíblicas falam não só de homossexuais como de qualquer de outro pecador, se decidir depender de seus próprios atos de justiça. Por isso, sou contra excluir das igrejas gays e lésbicas mesmo que eles continuem tendo seus relacionamentos com pessoas do mesmo sexo. Defendo a integração deles como nossos irmãos em Cristo que, semelhantemente a qualquer crente, está lutando contra o pecado em suas vidas e se abastecendo com a graça de Deus.

- Então você é a favor que pastores celebrem casamentos entre homossexuais?! - perguntou o pastor Paulo ao pastor Davi.

- Claro que não, assim como a Igreja não deve ficar celebrando qualquer tipo de casamento mesmo entre pessoas heterossexuais. O que estou dizendo é que o fato de não concordarmos com o ato homossexual, isto não pode se tornar motivo para pregarmos atitudes de intolerância entre as pessoas. A nossa atitude precisa ser inclusiva e não exclusiva. Cada homem, ou mulher, deve ser aceito na Igreja mesmo com suas imperfeições.

- Você se refere ao casamento entre pessoas divorciadas, pastor Davi? - perguntou o pastor Carlos.

- Refiro-me a qualquer tipo de união que não esteja de acordo com o pensamento da Igreja, conforme fez João Batista reprovando o relacionamento de Herodes com Herodias, mulher de Filipe, seu irmão. Tratando-se de pessoas divorciadas, parece que cada caso é um caso e que merece ser tratado particularmente. Há também casais não casados no papel que vivem juntos há anos e que, portanto, merecem mais respeito da Igreja do que muita gente casada no civil e no religioso.

- Nesta questão de aprovar novos casamentos de pessoas divorciadas prefiro ser mais flexível. Temos como justificativa o fato de que a separação ocorreu quando a pessoa se encontrava no mundo ou afastada dos caminhos de Deus. Se não der mais pra reconstruir o casamento antigo, agente celebra um novo. Além disso, se a culpa for de quem traiu ou quem deu causa à separação, tem-se justificativa para as novas núpcias. Importante é que o sexo ocorra sempre dentro do casamento - tentou pacificar o pastor Paulo.

O pastor Davi então surpreendeu a todos:

- Pra mim, o casamento não precisa do papel, pois, dependendo do nível de relacionamento entre um homem e uma mulher, o matrimônio pode ser considerado como uma aliança já existente perante Deus e, portanto, temos todo o dever de incluir na Igreja as famílias que se encontram formadas esta condição. Precisamos abençoar tal relação, incentivar os companheiros a formalizarem o casamento no cartório, conforme as possibilidades deles, e não proibi-los de participar da Ceia ou de eventos para casais como retiros e jantares.

- Mesmo sem estarem casados? - perguntou o pastor Carlos.

- Sim! E acho também que não devemos agir com tanta discriminação quanto aos jovens namorados que fazem sexo antes do casamento. Temos que parar de impor um jugo pesado às pessoas, ameaçando-as com este papo de que serão amaldiçoadas. Prefiro que dois jovens façam bastante sexo e se casem do que interromper o relacionamento deles a ponto de induzi-los a uma vida de imoralidade.

- E sexo antes do casamento não é fornicação? - contestou o pastor Carlos.

- Não necessariamente. Fornicar pra mim é ter uma vida sexual desregrada transando com qualquer pessoa, ou mesmo praticando atos libidinosos no estilo “ficar” que se banalizou entre os adolescentes dos anos 90 pra cá. Se um homem e uma mulher se amam de verdade, mas não podem viver juntos por razões econômicas, quem sou eu para acusá-los de fornicação se os dois namorados vivem na mais completa fidelidade mesmo tendo relação sexual? Cabe à Igreja valorizar o compromisso assumido entre os dois e transmitir aos mais jovens esta noção desde cedo afim de que não errem banalizando o relacionamento.

- Discordo do irmão! - exclamou o pastor Ricardo – O pecado no meio da Igreja é como um fermento que faz levedar toda a massa de pão. Temos que lançar fora do nosso meio pessoas imorais afim de nos tornarmos uma nova massa! Como que o irmão interpreta, por exemplo, a passagem do capítulo 5 da primeira epístola aos coríntios quando o apóstolo Paulo mandou que expulsassem da Igreja o homem que tinha transado com a madrasta?

- Ali se tratava de uma situação em que um membro daquela comunidade eclesiástica estava pecando deliberadamente e, com isto, induzindo outros a fazerem o mesmo. Ele não estava na Igreja para procurar ajuda! Aquele homem impedia a comunhão entre os irmãos e precisava de disciplina e o único meio era retirá-lo do meio do povo de Deus.

Mostrando desinteresse pelo assunto, o pastor Paulo tentou introduzir outro tema:

- Vocês estão muito ansiosos. Acredito que, na nossa igreja, não vai ser necessário tomar medidas extremas deste nível a ponto de expulsarmos pessoas que estejam fora dos padrões que iremos estabelecer. Não vou ficar vigiando a conduta de ninguém, exceto dos que estiverem colaborando na obra para evitarmos escândalos. Uma vez por mês, faremos o culto do amor para pessoas que estão solteiras, viúvas e divorciadas, quando então serão feitas orações pela vida sentimental de cada um.

- Mas pastor Paulo, o divórcio não é pecado? - indagou o pastor Ricardo.

- Como já disse tem várias interpretações e o pastor Davi sabe muito bem disso. Tanto é que ele não tira o olho da garçonete que tem idade para ser quase sua filha.

- Eu não nego que senti atração por ela – falou o pastor Davi – Estou divorciado há algum tempo, minha ex-mulher resolveu me deixar, já arrumou outro homem e não acho que estou condenado a ficar sozinho pra sempre ou até que, finalmente, fique viúvo. Não tenho o dom pra celibatário e vocês também estão de olho na garota do restaurante, embora sejam casados!

- Nos cultos do amor, que poderemos fazer no último sábado de cada mês, o pastor Davi vai ter muitas oportunidades de ficar desencalhado, ainda mais sendo ele um dos pastores. Vai chover mulher na horta dele! – comentou o pastor Paulo.

- E quem disse que eu farei parte deste ministério ou que frequentarei estas reuniões casamenteiras? Agradeço muito ao Paulo por ter me convidado para vir aqui passar esta tarde com vocês, mas estou fora deste esquema! Um projeto desses é mais um fermento pecaminoso que a verdadeira Igreja de Cristo dispensa.

Todos emudeceram. Neste momento chegaram as batatas fritas e, por alguns instantes, todos se calaram saboreando o alimento.

- Gente, agora vamos comer? - sugeriu o pastor Paulo.

- Ei menina. Trás logo o sal! – exigiu o pastor Ricardo de olho nas pernas da garçonete.

Depois de se alimentarem, tanto o pastor Carlos quanto o pastor Ricardo se retiraram juntos com o objetivo de retornarem para às suas casas afim assistir a partida de futebol do Flamengo, ficando a sós apenas os velhos colegas de seminário.

- Faz um tempão que eu não comia frituras - disse o pastor Davi.

- Nem eu. Pedi batata frita porque sei que aqueles dois gostam – referiu-se o pastor Paulo aos pastores Carlos e Ricardo que já tinham partido.

- Então por que escolheu este cardápio? - perguntou o pastor Davi.

- Aprendi determinadas regras de socialização quando trabalhei na campanha de um candidato a vereador que nossa igreja apoiou dois anos atrás. O sujeito adora comer queijo brie com vinho fino, tem uma alimentação toda balanceada durante a semana, mas, quando estava fazendo o corpo a corpo com o eleitor, parou numa carrocinha e pediu um cachorro quente de lingüiça.

- Era o personagem dele...

- Exatamente. Assim como eu tenho o meu personagem, quando estou pregando no púlpito ou no programa de rádio “Falando com Deus”, os políticos criam o deles.

- Não concordo muito com isto. Mesmo se estiver pastoreando uma igreja, quero compartilhar com todos a minha humanidade, ser quem eu verdadeiramente sou, confessar em público meus erros e defeitos, chorar como Jesus fez por causa da morte de Lázaro e pedir ajuda para os outros irmãos. Já cansei de ver gente de máscaras dentro das igrejas. Em casa elas são uma pessoa, mas, quando estão no culto, fingem ser doces, puras, tolerantes e até mesmo estampam uma falsa alegria no rosto.

- Eu respeito o seu estilo, Davi, e lamento que não queira fazer parte deste ministério. Resolvi te chamar porque também quero te ajudar. Pensei até na hipótese de te lançar como candidato a deputado federal daqui alguns depois que agente crescesse e aí nem precisaria ficar vindo depois nos cultos, pois sua vida passaria a ser em Brasília.

- Dispenso a proposta de candidatura e, se eu aceitasse este tipo de ajuda, estaria fazendo um mal para mim mesmo. Vou acabar levando uma vida de fachada e me distanciando de um relacionamento autêntico com Deus e com meus irmãos.

- Tudo bem. Não leve a sério esta ideia.

- Mas você falou sério como se estivesse tentando me seduzir.

- Tá bom. Esqueça! Só quero que saiba o quanto preciso de você, pois acho que não conseguiria liderar sozinho este ministério. Suas opiniões, mesmo sendo divergentes, são muito importantes porque preciso ter uma noção a respeito das falhas e das vulnerabilidades do meu trabalho.

- Você continua inseguro, Paulo!

- Por que acha isto? Com ou sem você eu vou começar o ministério e estou fazendo uma poupança pra poder investir durante uns seis meses até me estabilizar financeiramente.

- Se você vai criar mais uma igreja neste país provocando uma divisão, não tenho dúvidas de que isto possa ocorrer e também não duvido do seu potencial para criar uma futura denominação.

- Então me diz por que me falta segurança?

- Simples. Se você tivesse segurança em Deus, não precisaria controlar as pessoas, prendendo-as pelo medo, pela culpa, pela necessidade ou pelas falsas expectativas.

- Que delírio! Da onde você tirou isto? Estamos todos aqui conversando abertamente e não escondi de nenhum dos quatro o meu maquiavelismo.

- Em parte, você escondeu sim e impôs um certo limite entre você e o Carlos e quanto ao Ricardo. Até em relação a mim você não está sendo totalmente transparente.

- Esta não! Agora você vai ficar parecendo minha mulher querendo discutir a relação?

- Me diz uma coisa, Paulo. Você crê em Jesus? Como está o seu relacionamento com Deus? Se você morrer hoje, acredita que vai entrar no céu?

Por um instante o pastor Paulo pensou sobre como iria se posicionar. Preferiu representar:

- Jesus pode voltar agora mesmo que eu tenho certeza do meu arrebatamento. Sei que tenho pecado, mas estou salvo pela graça. Ele perdoa, compreende minhas motivações e tem me usado para salvar muitas. Até hoje devo ter ganhado mais de vinte mil almas, contando com a audiência do programa da igreja na rádio e aqueles que não fazem mais parte do rol de membros.

- Por mais que seu trabalho seja útil para a Igreja de Cristo, não esqueça que Judas e os sacerdotes do templo executaram o plano de Deus quando entregaram Jesus. O que você faz nem sempre importa para o teu Criador, pois vale diante Dele é quem você realmente é.

Pastor Paulo não se controlou e, entre alguns palavrões, respondeu:

- Você está pregando pra mim? Vê se te enxerga! Eu chamei você aqui porque soube que estava desempregado e precisando de uma oportunidade, mas agora estou vendo que sua participação neste projeto só vai me atrair problemas. E sabe do que mais? A escolha de continuar pobre, andando de ônibus e morando na casa da família é toda sua. Depois não vai se arrepender quando estiver me assistindo num programa de TV ou quem sabe com a minha própria emissora de televisão.

- Vamos encerrar por aqui. Vejo que já cumpri o dever com a minha consciência falando a verdade e reprovando suas atitudes.

- Já me cansou mesmo.

- Ei menina, a conta!

Os dois pastores saíram e foram caminhando sem nada dizer um para o outro. Estava começando a escurecer e o restaurante já estava ficando lotado de torcedores de futebol. Ambos foram para o mesmo ponto de ônibus afim de aguardar a condução para o centro do Rio, o que demorou uns vinte minutos. Neste tempo o celular do pastor Paulo tocou:

- Pronto! Quem é?

- Sou eu, pastor Carlos!

- Amanhã esteja na minha casa depois do culto da noite e chame o pastor Ricardo.

- Desta vez, não. Ele acabou de sofrer um acidente aqui na auto-pista enquanto me dava carona. O freio do carro quebrou e batemos. Por sorte eu escapei. Ninguém quer parar para nos socorrer e não consigo falar com o Corpo de Bombeiros. Não sei se ele vai sobreviver. Está perdendo muito sangue.

- Esta não! Onde vocês estão? Alô!

Repentinamente a chamada telefônica caiu. Pastor Paulo tentou fazer outras ligações para o celular do pastor Carlos, mas não teve jeito.

- Pastor Davi, você não conhece ninguém por aqui que tenha carro e possa nos dar uma ajuda. O pastor Ricardo acabou de sofrer uma acidente e na certa devia estar dando uma carona pro Carlos. Não deu pra saber onde eles estão. Estimo que o local fique uns dez minutos daqui.

- Vamos pegar um táxi! Você não fez uma poupança para investir na futura igreja? Olhe! Tem um caixa 24 Horas logo ali e uma agência do Itaú aqui do lado.

- Eu estou com quatrocentos reais na carteira.

- Ótimo! Tem um táxi parado logo na outra esquina. Vamos?!

Os dois pastores entraram no táxi e logo chegaram ao ponto onde houve o acidente. O pastor Ricardo estava desmaiado.

- Pra colocar gente com hemorragia no meu carro vai te custar mais caro. Sabe como é, vou perder o dia e ainda terei que paga ruma limpeza – reclamou o taxista.

- Depois agente acerta, bicho. Vamos logo pro hospital! - respondeu o pastor Paulo.

Ao chegar no hospital, o atendimento de emergência estava lotado com várias pessoas também gemendo de dor no banco de espera.

- Estamos sem médicos neste plantão – respondeu a funcionária.

- O quê? Uma pessoa sofre um acidente, está sangrando e vocês não têm como prestar socorro? Este homem tem mulher e filho pra sustentar! - reclamou o pastor Davi.

- Só podemos prestar os primeiros socorros e aguardar a chegada da ambulância pra transportá-lo para uma outra unidade de saúde. Logo adiante tem um outro hospital, mas é particular. Quais são os dados dele pra eu fazer a fichinha?

- E agora? Ele vai ter que ficar aqui mesmo já que o pastor Ricardo nunca teve plano de saúde – disse o pastor Paulo.

- Nada disso! Numa situação de emergência até o hospital particular é obrigado a atender. Vamos pra lá.

Apressados, levaram o pastor Ricardo para o hospital particular.

- Pois não. Em que posso ajudá-los – perguntou o rapaz da recepção.

- Este nosso amigo acabou de sofrer um acidente e está inconsciente e perdendo sangue. - respondeu o pastor Paulo

- Qual é o convênio?

- Não tem plano. É uma emergência.

- Neste caso, os senhores terão que fazer uma caução de três mil reais.

- Mas eu não tenho este dinheiro!

- Se tiver cartão de débito agente aceita. Cheques não.

- Mas isto é errado. Vocês não podem se omitir. Meu amigo está morrendo.

- Sinto muito. São normas da empresa.

O pastor Davi interveio:

- Cara, você vai amarelar. Se tem dinheiro no banco, dê esta oferta ao seu próximo. Lembre-se da parábola do bom samaritano.

O pastor Paulo pensou um pouco e disse pro recepcionista:

- Tudo bem. Pode passar o cartão, mas antes vou ter que transferir uma quantia do fundo de aplicações pra conta porque o cheque especial sozinho não cobre. Não serve cartão de crédito?

- Só débito!

- O próximo!

- Me empresta o telefone! Deixa eu ligar pro banco.

- Aqui, senhor.

- O call center do banco estava com defeito emitindo sinal de ocupado.

- Tem como passar só dois mil no cartão de débito? Depois volto aqui e complemento.

- Senhor, hoje é sábado e a esta hora já não tem ninguém da diretoria que possa autorizar uma caução num valor menor. Procure outro hospital.

Nesta hora o pastor Carlos interveio, dirigindo-se ao funcionário:

- Devo ter uns seiscentos reais no meu cheque especial. Vai me quebrar, mas não tem outro jeito. Será que dá pra passar dois cartões?

- Pode. Faltam ainda quatrocentos!

- Eu tenho duzentos na minha poupança do Bradesco! – disse o pastor Davi.

- Tenho mais uns trocados que sobraram da corrida do táxi. - falou o pastor Paulo.

- Faltam só cinquenta! - alertou o recepcionista.

- Não dá pra você aceitar neste valor? - perguntou o pastor Paulo.

- Você não quer que eu perca o meu emprego, né?

- Vê no bolso e na mala dele! - disse o pastor Carlos.

- Caramba! Ainda não fechou! Vão faltar vinte reais! - lamentou o pastor Paulo.

- Moço, você não aceita ficar com estes CDs em garantia?

- O que? Parece que é tudo pirata. Olha, vocês estão atrapalhando o meu atendimento. Se não tem como pagar vão procurar um hospital público! Quem mandou não fazer plano de saúde?

- Ei, tem dois CDs originais aqui dentro! Um é daquela cantora famosa de Gospel, a Alice no País das Adoradoras e o outro do grupo Sou Vitorioso com Cristo!

- O quê? Vocês têm o CD desta banda! Aleluia! Eu sou da Igreja “Caminho da Prosperidade” do pastor Zacarias. Estou há dias louco por este CD. Podem me dar que eu libero o atendimento pro amigo de vocês. Vou chamar os enfermeiros. Querem café? A paz do Senhor, meus irmãos.

- Você é crente? - perguntou o pastor Paulo ao recepcionista.

- Desde criancinha. Quando tinha onze anos eu cantava no coral da igreja de meus pais e hoje trabalho com as crianças com o pastor Zacarias. Querem que eu chame algum irão pra orar pelo amigo de vocês.

Transtornado com o comportamento do funcionário, o pastor Paulo não se conteve e, fechando os punhos, cobriu de socos o recepcionista, dizendo:

- Seu hipócrita, safado! Meu amigo é pastor e está morrendo naquela maca. Você foi incapaz de ao menos de mover uma palha. É de falsos crentes como você que as igrejas estão cheias! Imprestável! Inútil!

- Para com isto, Paulo! Não vai adiantar nada brigar! - interveio o pastor Davi.

Nisto chegaram os seguranças do hospital que eram policiais militares a paisana, os quais conduziram o pastor Paulo para a delegacia.

- Carlos, você fica aí e avisa a família do pastor Ricardo. Telefone também pro pastor Vicente. Eu vou acompanhar o pastor Paulo na DP.

- Não vai dar! O meu celular está sem crédito e estou sem nada no bolso. Lá em casa o telefone está cortado.

- Liga a cobrar pro meu telefone fixo e pede pra alguém de minha família fazer as ligações. Fica com o meu cartão!

- Felizmente, o pastor Ricardo apresentou melhora e, dias depois, foi transferido para uma enfermaria do SUS onde permaneceu internado durante duas semanas. Já o pastor precisou pagar as despesas do hospital e mais os honorários de seu advogado que conseguiu livrá-lo de um processo por agressão física. Um mês depois, todos voltaram a se reunir no mesmo restaurante:

Depois desta luta toda, estamos nós aqui novamente firmes e fortes - disse o pastor Carlos.

- Vamos aproveitar para agradecer a Deus aqui mesmo nesta mesa – compartilhou o pastor Ricardo.

- Sua poupança deve estar zerada, pastor Paulo? - perguntou o pastor Davi.

- Praticamente zerada, mas, graças a Deus, tenho o suficiente para pagar a conta de hoje no restaurante com o serviço de pintura de paredes que fiz ontem pra um vizinho meu. Paguei meu advogado, comprei uns remédios pro pastor Ricardo e ajudei este mané a pagar sua dívida com a Telemar – referiu-se ao pastor Carlos.

- E o projeto de igreja? Você deixou de lado, amigo? - perguntou o pastor Davi.

- De jeito nenhum! Pedi ao pastor Vicente pra ser mandado embora e estou esperando que acertem minhas contas. Agora eu e o Carlos temos nos reunido lá na casa do pastor Ricardo. Somando nossos familiares, amigos e vizinhos somos, por enquanto umas quinze pessoas.

- Que bom! Uma hora vou lá fazer uma visita.

- Só visitar? Agente não pretendia falar nada agora, mas o pastor Ricardo está te convidando como nosso anfitrião para você ser o nosso pastor. - disse Paulo.

- Embora eu esteja assoberbado de trabalho porque passei a dar aulas num seminário teológico, acho que não tenho como recusar.

- Isto merece um brinde! Parabéns pelo novo emprego, Davi - falou o pastor Carlos

- Ei, menina! Trás logo uma cerveja e quatro copos pra nós comemorarmos! - Gritou o pastor Ricardo.

- Cara! Isto é jeito de falar com a minha mulher? - reclamou o pastor Davi.

- Espera aí? Você já está de caso com a garçonete do restaurante? - perguntou o pastor Paulo com um ar de curiosidade.

- O quê? Ficamos noivos ontem. Afinal, qual o significado deste o anel de compromisso na minha mão direita? Ainda não sabem como são os crentes?

- Conta melhor esta história, Davi.

- É isto mesmo. Eu e a Helena passamos a namorar. Na semana seguinte ao acidente, voltei aqui e a chamei para conversar. Disse que estava interessado nele e que queria conhecê-la melhor. Passei a vir outras vezes trazendo bombons e cartões artesanais que eu mesmo fabrico. Então passamos a namorar.

- Mas ela deve ter a metade da sua idade.

- Não dá tanta diferença. Eu faço quarenta em dezembro e Helena tem vinte e um. Eu e ela somos divorciados e já temos nossos filhos.

- Não me diga que o irmão avançou o sinal com a menina? - perguntou o pastor Ricardo sem conseguir esconder a sua reprovação.

- Calma, gente. Estou guardando a merenda pra quando começar o recreio. Só que nós dois estamos com a ideia de iniciar a festa logo depois que dermos entrada nos papéis no cartório.

- Sei não. Não parece que fica bem pra um pastor evangélico iniciar uma união estável antes do processo do casamento terminar.

- Pastor Paulo, você não quer celebrar o nosso compromisso de casamento um dia desses? Ficou melhor assim?

- Tudo bem, pastor Davi. Mas com uma condição. Cancela a cerveja e pede logo uma daquelas garrafas de vinho chileno. Vamos bebemorar por sua conta desta vez.

- Demorou! Eu pago a conta desta vez, pois estou num bom emprego.

- Amém! Faz uma oração de agradecimento, pastor Ricardo.

2 comentários:

  1. Posso participar desse esforço com uma intenção. Propagar uma palavra de amor, conhecimento, conforto e solidariedade de iguais. Para quem estiver preparado consciência de si e auto-conhecimento. Grande abraço Rodrigo Luz. Entra em contato: -> oiserrano@oi.com.br.

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  2. Prezado Carlos Pinto, seja bem vindo a este blogue! Faz tempo que não paramos pra conversar. Me liga um dia desses quando vier à cidade para tomarmos um café. Forte abraço.

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