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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Combatendo o mal com o bem

“Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor. Ao contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.” (Epístola aos Romanos 12.17-21; Nova Versão Internacional – NVI)

Acho muito edificante esta passagem bíblica em que o apóstolo Paulo encoraja os seus leitores de sua carta em Roma a vencerem o mal fazendo o bem.

Quando me deparo com tal ensinamento, admiro a maneira como Deus quer que seus filhos atuem no combate ao mal, sem usar as mesmas armas malignas do adversário. A razão humana ainda não explica como isto acontece, mas podemos considerar que se trata de um princípio bíblico plenamente adequado aos propósitos divinos que é ganhar vidas para o seu reino celestial.

Há muitos séculos, na Europa, um homem chamado Francisco, oriundo da cidade de Assis e tido pelos católicos como um santo, dirigiu-se a Deus com estas célebres palavras que ficaram conhecidas como a “Oração da Paz”, a qual exemplifica um pouco o que Paulo havia nos escrito em sua epístola:

“Senhor! Fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.”


Maravilhosas palavras estas de Francisco de Assis e creio que ele estava mesmo inspirado pelo Espírito Santo de Deus quando fez sua sincera oração, a qual nos faz pensar profundamente a respeito de como combater o mal com o bem.

Posso dizer que em minha caminhada cristã tenho tentado experimentar isto no cotidiano, embora muito me falte para que eu seja um adequado instrumento nas mãos do Senhor para promover a paz.

Certamente que nos apegando à Palavra de Deus (conhecendo-a e meditando nela) estaremos dando nossos primeiros passos para que possamos ser as pessoas certas nas horas incertas. Se algo nos deixa desanimados a ponto de ficarmos desesperados, por exemplo, é bom que nos recordemos das promessas do Senhor, conforme escreveu o profeta Jeremias em suas Lamentações:

“Quero trazer à memória
o que me pode dar esperança.”
(Lamentações 3.21; ARA)

Sermos pessoas construtivas num mundo destrutivo certamente não é tarefa fácil. Porém é algo que depende de nós e não dos outros. Pois o que precisamos fazer é cultivar coisas boas nos nossos relacionamentos com as pessoas, aplicando o amor de Deus a cada situação em que nos envolvemos. E isto envolve desde as relações mais simples nos meios familiares, entre vizinhos, ou nos ambientes de trabalho, como também diante de complicadas questões políticas.

Mohandas K. Gandhi (1869-1948), mais conhecido como o Mahatma Gandhi, não era cristão. Era chamado de “santo” (pelos hindus) e conseguiu contribuir decisivamente para mudar a história de seu país. Nasceu na Índia, formou-se em Direito em Londres onde chegou a exercer a advocacia, mudou-se para a África do Sul e, finalmente, retornou para a Índia quando então travou uma persistente resistência pacífica contra o Império Britânico. A seu respeito escreve Philip Yancey em “Alma sobrevivente: Sou Cristão, Apesar da Igreja”:

“A mais famosa contribuição de Gandhi, a técnica de desobediência civil, evoluiu gradualmente (…) Enquanto o Império Britânico apertava os parafusos, Gandhi passava longas horas meditando sobre uma ação apropriada. A idéia veio-lhe à mente numa madrugada, nos momentos entre o sono e a consciência. Ele decidiu conclamar um dia quando não haveria nenhum tipo de atividade. A Índia responderia a seus senhores simplesmente recusando-se a cooperar. As lojas ficariam fechadas, o tráfego pararia, o país ficaria fechado por um dia (…) A seguir, Gandhi atacou o sistema econômico colonial. A Grã Bretanha plantava algodão na Índia, transportando-o para a Inglaterra para moagem e manufatura, e então exportando o produto manufaturado de volta para a Índia, para ser vendido a altos preços. Para quebrar esta cadeia, Gandhi pediu a todo indiano, quer do campo, quer da cidade, que passasse pelo menos uma hora por dia numa roca, fiando (…) Em resposta ao monopólio britânico sobre o sal, um gênero necessário a todo o mundo, Gandhi contra-atacou com a famosa Marcha do Sal, uma dolorosa e lenta viagem de 380 quiômetros até o mar. Como os oficiais de Londres seguiam cuidadosamente cada passo, um milhão de camponeses juntaram-se a seu séquito por todo o caminho (…) Gandhi colocou-se como um espinho no Império Britânico porque os meios formais de controle não tiveram efeito contra seus protestos nada ortodoxos. Quando os policiais tentavam barrar os manifestantes batendo neles com cassetetes, os rebeldes colocavam-se em fila para receber os golpes. Os indianos logo encheram as cadeias até superar sua capacidade, o que era exatamente seu intento. Quando as autoridades levaram o próprio Gandhi aos tribunais e o ameaçaram com prisão, ele calmamente pediu a pena máxima (…) Mais tarde, Gandhi imaginou uma forma de protesto que se mostrou a mais poderosa de todas: ele simplesmente se recusou a comer. Planejou seu jejum com o mesmo cuidado que um general elabora sua estratégia militar, às vezes jejuando por um período de tempo específico, e em outras ocasiões alertando que faria um jejum até à morte, caso certas exigências não fossem atendidas.”

Diferente de muitos líderes revolucionários, Gandhi não fazia uso da violência e aplicou princípios bíblico à sua luta pois teve contato com o Evangelho e chegou a se corresponder com o escritor cristão russo Leon Tolstoi, tendo lido a obra “The Kingdom os God os Within You”, de maneira que ele tentou por em prática os ensinamentos de Jesus do Sermão da Montanha no que diz respeito a amar os inimigos.

Mas voltando à Oração da Paz de Francisco de Assis, vejo ali um grande segredo entendido por este valente discípulo de Cristo, mostrando o quanto ele compreendia o sentido da mensagem do Evangelho. Trata-se de abrir mão de sua própria vontade, do seu eu, colocando Deus no centro e não o seu eu.

É bem verdade que todos temos necessidades de sermos consolados e compreendidos quanto aos nossos dramas ou problemas. Queremos ser de todas as formas amados pelas demais pessoas. Porém, não temos que ficar esperando alguém fazer por nós tudo o quanto desejamos. Precisamos nos tornar doadores de coisas boas, pois, se continuarmos sendo meros receptores, poderemos não compreender aquilo que talvez já estejamos recebendo.

Deus já demonstrou o seu imensurável amor pela humanidade dando o seu Filho unigênito para que, através de Jesus, pudéssemos ter a vida eterna de modo que agora cabe a cada cristão retribuir sua gratidão ao Pai amando o seu semelhante. Aliás, foi este o mandamento que Jesus nos deu:

“O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu os amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vocês serão meus amigos se fizerem o que eu lhes ordeno. Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome. Este é o meu mandamento: Amem-se uns aos outros.” (Evangelho segundo João 15.12-17)

Observem que não foi Jesus quem primeiramente foi escolhido e amado pelos seus discípulos. O Senhor decidiu amar a humanidade, escolhendo a nós todos ao invés de preferir a si próprio. Ele nos deu o perfeito exemplo amando-nos até seu último instante de vida quando esteve pregado naquela dolorosa cruz, sem que nada tivéssemos feito por Ele.

Amar não se trata de um sentimento e sim de uma ação. Trata-se do Ágape que os gregos já conheciam na época em que foi escrito o Novo Testamento, o que é algo relacionado a uma decisão que tomamos generosamente, sem esperar qualquer retribuição.

Só o amor pode vencer o ódio! Só o amor pode transformar este mundo decaído e trazer sentido às nossas vidas que do contrário não teriam significado. Só o amor é capaz de desarmar o nosso adversário.

Que Deus nos ensine e nos ajude a vencer o mal com o bem através da prática do amor!

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