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terça-feira, 28 de julho de 2015

Parabéns, Caetano e Gil!





"Todas as questões difíceis que as pessoas dessa região precisam enfrentar ficaram mais claras para mim e para o Gil também" (Caetano Veloso)

Achei bem madura a atitude dos cantores brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil em não cancelarem o show agendado em Israel nesta brilhante turnê que estão fazendo pelo mundo em comemoração ao meio século de carreira artística da dupla. 

Conforme a imprensa tem noticiado, alguns artistas internacionais, inclusive o Roger Waters, ex-cantor do Pink Floyd, pressionaram Caetano e Gil para que cancelassem o show em protesto contra a política israelense de construir assentamentos em terras palestinas. Os dois brasileiros, porém, decidiram primeiro tirar suas próprias conclusões. Caetano havia respondido que não desistiria do evento musical, a menos que estivesse totalmente contra o país.

Inteligentemente, assim fizeram ambos tendo visitado ontem (27/07) a Susiya, um vilarejo palestino de 340 pessoas que tem chamado a atenção do mundo após o governo israelense anunciar a demolição das casas de famílias que vivem ali há mais de um século. Também estiveram com o ex-presidente de Israel Shimon Peres e depois ainda foram para um hotel à beira da praia da capital Tel Aviv onde se reuniram com ativistas e músicos a favor do diálogo com os palestinos. Ou seja, foram conhecer pessoas vivendo dentro do Estado de Israel que, assim como eles e o Roger Waters, querem uma nova política israelense. 

Agindo com sensatez, Caetano decidiu não aderir a esse boicote a Israel, apesar de ter discursado contra a ocupação dos territórios palestinos. Manteve seu show porque preferiu "dialogar", conforme podemos ler numa postagem feita no perfil oficial do cantor no Facebook:

"Um basta à ocupação, um basta à segregação, um basta à opressão... Nós enfrentamos a pressão para não vir para Israel e cancelar o show que faremos amanhã, mas decidimos não cancelar, porque preferimos conversar, dialogar..."

Com esse grandioso exemplo, Caetano e Gil estão ensinando ao mundo sobre a importância de não tomarmos atitudes radicais. O boicote, embora seja uma posição pacífica e válida também deve ser repensado para não se tornar incoerente em determinados casos, sendo cabível sempre avaliar os riscos de uma equivocada generalização. Do contrário, o próprio ativista pode se tornar também um preconceituoso e não exercitar mais o seu livre pensar, passando a ceder a pressões externas que, a meu ver, são capazes de caracterizar um assédio de opinião.  

Que o show da dupla hoje em Israel seja um grande sucesso! E que, aprendendo com Caetano e Gil, muitos não deixem de sonhar com a possibilidade de ainda vivermos numa "frátria" global com espaços e oportunidades para todos. Torço para que a mensagem musical produza esse efeito no mundo rompendo as fronteiras territoriais e de pensamento.


OBS: Foto mostrando Caetano Veloso e Gilberto Gil visitam território palestino durante turnê para show em Tel-Aviv.

4 comentários:

  1. Caetano e Gil devem estar pisando em ovos. Acho que eles serão pragmáticos, no sentido de não falar a verdade incoveniente sobre o que relamentem pensam sobre Netaniahu e sua política para os Palestinos. Com certeza, Caetano não vai cantar aquela sua música que diz: "Pense no Haiti/Reze pelo Haiti" (rsrs)

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    1. Leia-se INCONVENIENTE, onde está escrito "Incoveniente".

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    2. Caro Levi,

      Quando se opta pelo chamado "caminho do meio", o qual não se confunde com a atitude omissiva de ficar "em cima do muro", há que se ter sempre a devida cautela. Num mundo em que as pessoas radicalizam entre dois pólos, é muito comum quem não se deixa levar por um lado e nem pelo outro acabar se "queimando" com todos.

      Atualmente, com a sociedade brasileira caminhando rumo a uma polarização política, pessoas que optam por um pensamento mais plural e descomprometido acabam tendo dificuldades parecidas. Por exemplo, é difícil ser a favor do Bolsa Família e não ser confundido com um simpatizante do PT. Ou assumir uma posição de "esquerda" na área social e não ser logo acusado de concordar com regimes totalitários como os da Venezuela, Bolívia ou Cuba.

      Dando outro tipo de exemplo, é complicado no Brasil atual você assumir que é cristão protestante e as pessoas que não são do ramo evangélico acharem que seja mais um fundamentalista. Ou ter um posicionamento teológico mais liberal e não ser visto como um ateu.

      Mas voltando aos nossos músicos, acho que eles têm coragem para cantar essa música, sim. Afinal, arte é arte. Não deve ser vista como uma afronta, mas, sim, uma crítica construtiva. Ainda que para as pessoas radicais (um israelita ultra-ortodoxo) só as declarações de Gil e do Caetano contra a ocupação das terras dos palestino já devem ter parecido ofensivas...

      Abraços.

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  2. E perlo visto, o show deles foi mesmo um sucesso, Levi. A televisão informou que muitos latinos com nacionalidade e residênia em Israel foram lá assisti-los.

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