Achei bem corajoso o resultado do plebiscito na Grécia ocorrido neste último domingo (05/07). Contrariando o que diziam as pesquisas de opinião, mais de 60% dos eleitores que foram às urnas rejeitaram as medidas de austeridade econômica impostas pela UE em troca de uma ajuda financeira.
De acordo com as agências de notícias, a votação ocorreu normalmente. Estima-se que 65% dos eleitores tenha comparecido à votação. Após a apuração, o "não" ficou com 61,31% dos votos. E, levando-se em conta que a taxa de abstenção foi praticamente a mesma das últimas eleições parlamentares (cerca de 35%), pode-se considerar que o apoio ao partido do governo de Aléxis Tsípras cresceu de 37% para mais de 50% nesses poucos meses de gestão.
Inegavelmente que 2015 está sendo um marco na história do país! A Grécia que, no período compreendido entre 1967 e 1974, foi submetida a um regime militar de direita (a chamada "ditadura dos coronéis"), teve pela primeira vez um partido de esquerda chegando ao poder - o SYRIZA. Todavia, isto não significa que o povo grego esteja aderindo a um regime de esquerda ou tão pouco a fim de deixar a zona do euro, ou deixar a União Européia. E aí devemos ponderar que a decisão pró "não" de domingo significa apenas que a população está indisposta a aceitar as condições sacrificantes dos credores, as quais importariam em desemprego, cortes de benefícios e no aprofundamento da crise.
Ontem, apesar da reação negativa dos mercados, em que as bolsas de valores abriram em queda (Paris: – 2,06 % / Frankfurt: – 2,1 % / Milão: – 3 % / Londres: – 1,07 % / Madrid: – 2,41 %), tendo ainda o euro se desvalorizado perante o dólar, eis que as autoridades europeias posicionaram-se flexivelmente. Reconhecendo a vontade amplamente majoritária do povo grego, tudo indica que a durona chanceler alemã Angela Merkel dessa vez aceitará rever o acordo com a Grécia. Por sua vez, o presidente francês, François Hollande, declarou à imprensa que "a porta está aberta para discussão".
Verdade é que os eleitores gregos precisaram vencer o terrorismo psicológico de que a economia do país entraria em colapso, caso votassem pelo "não". Porém, como disse Tsipras, "mesmo nas circunstâncias mais difíceis, a democracia não pode sofrer chantagem", considerando o resultado do referendo "uma grande vitória em si mesma". E assim agradeceu à população de seu país:
"Independentemente de como tenham votado, hoje nós somos um (...) O mandato que vocês me deram não pede uma ruptura com a Europa, mas me dá mais força para negociar (...) Os gregos fizeram uma escolha corajosa. Sua resposta vai alterar o diálogo existente com a Europa"
De qualquer modo, não se pode ignorar a realidade. De fato, esse resultado da consulta popular confere um poder maior de barganha ao país em suas negociações com os credores, mas nunca podemos nos esquecer de que a Grécia continua necessitando de uma nova ajuda antes que os seus bancos fiquem sem dinheiro bem como precisará definir a situação de sua dívida perante o Banco Central Europeu (no dia 20/07 vence uma parcela de € 3,5 bilhões). Acredito que o socorro provavelmente virá do FMI e a solução dependerá de uma corajosa atitude de reajuste nos gastos, ainda que em condições mais suaves. Ou seja, algum acordo terá que ser cumprido.
OBS: Imagem acima extraída do site do SYRIZA.
Curioso como que os institutos de pesquisas naufragaram neste referendo. Na véspera, estimavam um empate em torno de 44%. Na boca de urna deram uma vitória do "não" por 3 pontos. O resultado foi uma vitória que alcançou 22 pontos!
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