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quinta-feira, 15 de março de 2012

Diante da cruz

Tenho identificado-me bastante com a cruz nestes últimos dias. Não por causa deste período de Quaresma, mas sim pelo momento que estou vivendo em minha vida, presenciando o sofrimento de minha avó materna, poucos meses após perder a mãe do papai.

http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2011/10/adeus-vovo.html

Conforme escrevi nas duas últimas postagens neste blogue e nos comentários às mesmas, minha avó Marisa de Albuquerque não anda nada bem de saúde. Ela foi internada no hospital e o seu estado físico-emocional só vem piorando a cada dia.

A luta toda começou em 08/04/2010, quando vovó caiu e quebrou o fêmur, tendo sido internada no Hospital do Andaraí. Lá ela ficou por um bom tempo, submeteu-se a cirurgia, foi precocemente liberada pelos médicos e retornou para casa sem jamais ter se recuperado totalmente.

http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2010/04/tornando-escrever-e-comentarios-sobre-o.html

Graças a umas sessões de fisioterapia, ela melhorou por uns tempos, chegando a caminhar apoiada num andador e transportada na cadeira de rodas para locais mais distantes. Porém, de uns meses pra cá, sua saúde foi declinando aceleradamente. Em meados de dezembro de 2011, quando vim morar aqui no Rio de Janeiro, senti que ela já se encontrava bem caidinha e a cada semana piorava, como pude constatar sempre que fazia minhas visitas na casa de minha mãe.

Não deixamos de levá-la ao seu médico homeopata, mas de nada adiantou. No mês de fevereiro e começo de março, ficamos espantados com uma piora que a cada dia foi se apresentando até o ponto de minha mãe já não conseguir mais alimentá-la dentro de casa e ninguém mais poder lhe dar banho. Em 04/03/2012, data do meu aniversário de casamento com Núbia, vovó já não estava nem mais saindo da cama. Tentamos sentá-la para que comesse um pedaço do bolo de chocolate, porém, ela mal conseguia ingerir o alimento. Foi dificílimo fazer com que ela sentasse naquele sofrido momento.

http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2012/03/minha-nova-colaboradora-no-blogue.html

Foi aí que eu e minha mãe decidimos interná-la num hospital. Como não foi possível conseguir vaga no Instituto Municipal Geriatria e Gerontologia Miguel Pedro, um hospital especializado em idosos ao lado do Pedro Ernesto, em Vila Isabel, não restou outra alternativa senão acionarmos o SAMU em 05/03. Ligamos para o 192 e vovó foi levada pra Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Tijuca, perto da Praça Sans Peña. Ali ela ficou de dieta zero tomando soro na veia enquanto aguardava vaga num hospital da rede pública para receber a indispensável hemotransfusão. Além desta desculpa sobre carência de vagas, a UPA alegava falta de disponibilidade de ambulância.

http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2012/03/vulnerabilidade-dos-pacientes.html

Assim passamos a semana anterior vivendo debaixo desta expectativa até que resolvi ingressar com uma ação na Justiça afim de que vovó fosse transferida para algum hospital adequado. Peguei um laudo médico mais os documentos necessários e fui até o atendimento da Defensoria Pública no plantão judiciário noturno de 09/03 (noite de sexta-feira), iniciando o Shabat na luta pelo direito à vida dela. E, dentro de pouco mais de uma hora, o magistrado já havia concedido a liminar assim determinando:

“(...) defiro a antecipação dos efeitos da tutela pleiteada para DETERMINAR aos réus que PROMOVAM A IMEDIATA REMOÇÃO da parte autora em UTI móvel avançada, para internação em Hospital com Suporte para Serviço de Hemotransfusão em um dos Hospitais da Rede Pública Municipal ou Estadual, adequado para a sua recuperação.. Inexistindo vagas na rede pública de saúde DETERMINO que a parte autora seja internada em qualquer hospital da rede privada, arcando os réus com todos os custos do tratamento, bem como cirurgias, exames e outros procedimentos necessários, sob pena de multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Intime-se à Central de Vagas. Após, à livre distribuição. Rio de Janeiro, 09 de março de 2012. - 20:00 h.” (decisão interlocutória proferida pelo MM. Juiz de Direito Dr. GUSTAVO HENRIQUE NASCIMENTO SILVA nos autos do processo tombado sob n.º 0076799-62.2012.8.19.0001)

No sábado, durante o horário de visita das 15 horas, na UPA, levei um grande susto. Ao entrar na emergência, o leito onde vovó ficava estava vazio. Procurei saber o que tinha acontecido e a assistente social informou-me que ela havia sido levada para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no distante bairro de Acari. Então, imediatamente peguei o metrô e fui até lá a sua procura, conseguindo ingressar na unidade de saúde somente após autorização da assistente social para aquele dia. Na ocasião, constatei ainda que seus dados nem tinham sido trazidos durante a remoção da UPA pra lá.

Desde sábado (10/03) até ontem (14), eu a visitei no leito “B” da enfermaria 529 do referido hospital e foram muitas as dores de cabeça por causa dos absurdos procedimentos impostos pela direção hospitalar quanto ao horário de ingresso do acompanhante, restrição de visitas na internação da clínica médica a apenas três vezes na semana, demora para conseguir novo contato com o serviço social e recusa do diretor em me atender pessoalmente quando resolvi reclamar das dificuldades no dia 12. Ainda assim, consegui que a assistente social flexibilizasse minha entrada como acompanhante fora dos dois horários estabelecidos a partir do fim da tarde desta última segunda.

Houve momentos neste conflito em que, durante a briga, saí até do foco que é zelar pela saúde de minha avó. Confesso que, por razões internas e externas, não foi nada fácil cumprir o meu propósito de ficar ao seu lado. Fiz daquela oportunidade de acompanhamento visitas diárias de algumas horas para ao menos estar com ela por um tempinho no hospital e me informar com os médicos acerca de seu estado de saúde. Só que já não era mais possível conversar normalmente com vovó, restando-me a angústia de olhar pra uma pessoa gemendo de dor na minha frente sem nada poder fazer.

Desde o último dia de minha avó em casa, ela dormia a maior parte do tempo e quase não respondia às conversas. Se antes suas queixas e cansativas perguntas aborreciam os ocupantes da sua própria casa (exceto o bisneto), eis que, a partir daí, qualquer palavra que saísse de sua boca foi se tornando desejada. É que, no começo do mês parece ter caído a ficha de que agora estavam perdendo a matriarca da família.

Lembro que passei por situação parecida e muito mais dolorosa com o meu avô paterno, falecido há quase sete anos. Em meados de 2000, ele se tornou inconsciente, com confusão mental e perda de memória. Mais lentamente do que minha avó materna, ele foi entrando num estado vegetativo irreversível até ficar todo entubado e inchado no Hospital Militar de Juiz de Fora (MG). E esta foi minha última imagem dele até uns dois ou três dias antes de sua partida em 30/05/2005.

A imagem que tive ontem de minha avó, ao deixar a enfermaria, não foi muito diferente. Ela estava com uma invasiva sonda nasogástrica para drenar uma hemorragia no aparelho digestivo e outra sonda por causa da urina. Além do quadro de pneumonia e anemia profunda, ela ainda está com constipação intestinal, sendo desaconselhável diagnosticá-la através de exames como endoscopia ou colonoscopia porque sua debilidade física não permite suportar nem a anestesia. E ainda que se descubra um tumor qualquer no intestino ou no estômago, operá-la também não dá. Logo, o médico não pôde me dar boas esperanças. O que o hospital vai fazer é continuar monitorando-a e procurando manter sua vida por escassas e preciosas bolsas de sangue.

Ao assistir minha avó minguando diariamente, como não me identificar com a cruz de Cristo e que também é o sofrimento de todos nós? E também como não me ver na pessoa de cada discípulo que abandonou o Mestre quando ele foi preso?

Quando pessoas entram numa fase terminal de vida, torna-se muito comum os próprios parentes evitarem fazer visitas. Principalmente nos CTIs. É como se ninguém desejasse se confrontar com a morte, com a mais nua realidade realidade de todo o planeta, o momento do nosso encontro unilateralmente marcado sem que saibamos qual é a data agendada.

Mas como iremos julgar as pessoas por não conseguirem ficar presentes nos momentos finais de um paciente se o próprio Jesus perdoou seus discípulos por se ausentarem quando ele foi preso?

A bem da verdade, todos somos traidores do nosso próximo. Não é preciso ser um Judas e nem negar confessionalmente a exemplo de Pedro. Homens como o apóstolo João, personagem dos evangelhos que teria seguido Jesus até à cruz, também cometem suas fraquezas. Segundo Marcos, João foi um dos três que não aguentaram e dormiram durante a agonizante oração no Getsêmani (Mc 14.33). E, ainda que o discípulo amado tivesse permanecido ao pé da cruz com algumas mulheres, conta o quarto evangelho que ele levou Maria embora do Gólgata para casa (Jo 19.27) .

Suponho que os momentos finais de Jesus teriam sido bem solitários, sem João e sem as discípulas por perto, mas tão somente com os sádicos soldados romanos que tentaram prolongar o seu sofrimento dando-lhe vinagre para beber numa esponja ao invés de água. E, igualmente, as situações são repetidas hoje nos CTIs quando pacientes entubados e com dieta zero anseiam molhar a boca seca com água enquanto têm suas horas prolongadas pelo soro e pela medicação na veia, carregando uma cruz não poucas vezes bem mais pesada do que aquela carregada pelo Salvador.

Como um segundo parto, todos um dia iremos nos confrontar com a morte, ultrapassando a fronteira do mundo conhecido. Por mais que a recusemos (e acho que nem devemos desejá-la), é necessário admiti-la e até mesmo fazermos uns planejamentos acerca desta ocasião pensando nos outros. Principalmente se a encararmos como um fenômeno bem natural e integrante do ciclo da existência de todos os seres, afim de cedermos espaço a uma geração que nos sucederá no tempo.

Por não acreditar mais no inferno e nem num céu literal, imagino a morte mesmo como um descanso. Para um paciente terminal que está sofrendo com fortes dores no corpo e na mente, inconformado com o seu estado de saúde, eis que o momento oportuno deve chegar como uma doce paz, incomparável com qualquer sedativo do hospital. Como se, repentinamente, a pessoa descobrisse já não sentir mais nada de dor e que, como se lê nas palavras de Jesus, está tudo “consumado”.

Não quero concluir este artigo desejando que a morte venha depressa pra minha avó. Desejo a sua cura e completa recuperação. E quero que seja feita a vontade de Deus em sua vida, estando em paz com o Eterno sobre todos estes acontecimentos por mais dolorosos que estejam sendo pra ela e também pra família.

Bendito seja Deus! E muito obrigado, Senhor, pela vida que nos dá.


OBS: A foto acima, na qual constam minha avó na cadeira de rodas junto com minha irmã Marina, foi tirada durante o amigo oculto do Natal de 2011.

16 comentários:

  1. Pôxa vida Rodrigão, se todos fizéssemos valer nossos direitos nesse país como vc com tamanha clareza e conhecimento de causa fez com sua avó, creio que as coisas no mínimo seriam movidas da cômoda situação do descaso para uma responsabilidade perante a lei!

    Nessa nação não temos que matar um leão por dia, e sim, enfrentar a dor da injusta crucificação diária!

    Desejo tudo de bom pra sua avó, e pra vcs que estão enfrentando essa cruz!

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  2. Querido amigo:compartilhando da sua dor, resta-nos a certeza de que um dia tornaremos encontrar os nosso entes queridos, na Glória do Pai.Entretanto, temos que lutar pela vida de todos, enquanto houver vida aqui na terra. É o que você está fazendo por sua avó, por amá-la. É por isso que "família" é uma instituição sagrada. Isso aconteceu com o meu pai, ele saíu do Hosp. Pedro Hernesto curado, por uma oração que fizemos no dia da visita. E os médicos ficaram boquiabertos.
    Sabemos que o mesmo Pai que deu vida aos "ossos secos" do profeta é o mesmo Onipotente Pai, que pode dar saúde à Sua filha Marisa de Albuquerque. É preciso que profetizemos! "Marisa Albuquerque está curada, em o Nome Yaohushua(Jesus)"! Temos que focalizar a cura e não a doença, pois, quando o poder de YHWH entra a doença vai embora. Então, faremos a nossa parte. Vamos levantar um jejum, amanhã mesmo, para profetizarmos, o dia inteiro eu favor dela. Combinado?
    Um forte abraço da irmã em Yaohushua.
    Telma

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  3. Rodrigo,

    Sem ter o que dizer diante deste texto, apenas digo que estou solidária a voce e sua família.

    Beijos amigo,

    Paz,

    Anja

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  4. Rodrigão

    Solidarizo-me com você nesta hora. Estou passando por um dilema igual: minha mãe é portadora de Insuficiência Cardíaca congestiva - quadro em que só um coração novo resolveria.

    Ela está bem consciente do seu quadro, e tem escolhido ficar perto da família, ao invés de um frio e inumano CTI, até o dia em que a velha máquina cardíaca não mais suporte bombear sangue para todo o organismo.

    Abraços,

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  5. Olá, amigos.

    Muito obrigado pelas solidárias mensagens de vocês!

    Hoje eu e mais quatro pessoas da família fomos visitá-la. Vovó já estava no CTI e não mais na enfermaria, conforme o médico havia me prometido ontem durante a visita nos leitos. E, segundo o plantonista de hoje, ela apresentou uma sensível melhora depois que foi para o CTI. Graças a Deus!

    Vou responder a seguir os comentários de cada um.

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  6. FRANKLIN,

    Realmente é muito complicado neste país quando as famílias e os pacientes vivem já um drama por causa da saúde e ainda precisem recorrer à Justiça.

    Hoje, enquanto estávamos aguardando o horário da visita, uma outra pessoa compartilhou conosco que também só tinha conseguido vaga pra sua mãe no hospital graças a uma ação judicial movida pelo patrocínio da Defensoria Pública.

    Infelizmente, poucos são os que conseguem chegar até à Defensoria nestas horas. A maioria do nosso povo nem sabe como exercer seus direitos ou a quem recorrer. Ficam na espera da intercessão de um político ou de um funcionário de dentro do sistema de saúde, como se eles estivessem prestando um favor, não um dever que nossa Constituição Federal garante no seu artigo 196. Muitos agem como aquele paralítico no tanque de Betesda que não tinha ninguém para colocá-lo dentro das águas quando estas eram agitadas pelo anjo.

    Obrigado por seu apoio, mano! Por mais pesada que seja a cruz, é o que podemos suportar.

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  7. Prezada Telma,

    Seja bem vinda ao meu blogue!

    Realmente é bem pertinente a ideia do jejum nestas horas.

    Entendo que não somos mais abençoados porque fazemos jejum. Porém, nestas horas difíceis, jejuar e orar tornam-se atitudes adequadas.

    Hoje mesmo, quando estava retornando do hospital, meditei que nada teria aver neste momento eu sentar com pessoas da família no final de semana para nos banquetearmos com boas comidas e finas bebidas se vovó está no hospital sofrendo. Trata-se de nos solidarizarmos em sentimento com o outro.

    Quero de coração agradecê-la por se dispor a orar e jejuar em favor de minha avó, mesmo sem nos conhecer.

    Quero mesmo colocar este jejum amanhã em minha agenda. Mesmo que seja parcial já que estarei na rua fazendo atividades e não posso me sentir mal ou tonto.

    Que Deus te abençoe, minha irmã!

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  8. Cara ANJA,

    Às vezes, só a presença de alguém já se torna um grande apoio. Mesmo que não seja dita nenhuma palavra.

    No livro de Jó, os amigos dele poderiam ter sido suficientemente solidários se, após os sete dias de silêncio (Jó 2.13), não tivessem aberto a boca para censurar as palavras daquele justo sofredor. Porém, quando Jó começou seu desabafo (cap. 3), nenhum deles foi capaz de simplesmente ouvi-lo. Foram logo tentar convencê-lo de que as suas enfermidades e derrotas eram por causa do pecado.

    Confesso que, neste momento doloroso, enquanto pessoas bacanas me dão apoio, encontro às vezes quem venha questionar minha fé, minha conduta, etc. Hoje mesmo, enquanto estava no hospital, tive que aguentar pessoas me pertubando a paciência só porque estou há três meses aqui no Rio e ainda não arrumei uma igreja para me congregar... Já ouvi gente da Igreja Universal dando indiretas que minha avó teve pioras em sua saúde porque deixou a IURD do Edir Macedo para congregar-se em outro lugar. E por aí vai. São assédios e mais assédios que nem sempre convêm...

    Querida, posso dizer que fico imensamente grato só com sua presença e manifestação neste blogue.

    Obrigado por me ouvir.

    Paz!

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  9. Prezado Levi,

    Entendo e respeito a atitude de sua mãe.

    Se estivesse passando por situação semelhante, talvez eu optaria pelo mesmo risco. Preferiria permanecer em casa com a família do que ficar isolado de todos num CTI onde os contatos com as pessoas próximas tornam-se restritas às breves visitas. Igualmente, acho que não me submeteria a tratamentos e cirurgias que degradariam a minha condição só para ter uma sobrevida.

    Desejo muita força pra você nesta hora, meu irmão! E saiba que receber amor das pessoas pode valer bem mais do que soro e medicamentos.

    Abraços.

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  10. Rodrigo, tenho encontrado pessoas que não têm mais condições físicas e emocionais para cuidar do seu idoso e no entanto, não têm outra alternativa, então, nestes casos me pergunto: por que pessoas assim, são pressionadas a seguir num desgaste que talvez as leve a enfermidades sem cura, principalmente da alma, porque se sentem constrangidos pelas interpretações de quem nunca viveu este drama?
    No caso da minha mãe, ela também quebrou o fêmur e eu a cuidei exatamente nesta época de operação e recuperação, apesar de diabética a cura dela foi rápida, mas eu já não aguentava mais, meu corpo estava para parar, foi quando meu irmão veio em minha casa com minha cunhada e reconhecendo a minha incapacidade, levou-a para a casa deles. Mesmo com cuidantes dia e noite, o desgaste deles foi inevitável e como eu não estava em condições de recomeçar, outro irmão meu assumiu.
    Eu pergunto: será que uma pessoa que já não tem condições de cuidar, seria um monstro por levar sua mãe para um lar de idosos?
    A outra pergunta, por que sempre muitas pessoas censuram, quando mesmo existindo apenas uma única filha em meio a vários homens, esta filha não está cuidando, no caso se for especialmente a mãe? Por que tem que ser a filha e não pode ser um filhO?

    Advogado ou conselheiro? kkkkkkkkkk Beijão amigo.

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  11. Não é fácil Rodrigo! Que Deus te dê forças para ser o suporte dessa situação.

    Desejo melhoras a sua Avó!

    Abraços.

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  12. Nem sei o que dizer. Que momento dramático. Ver alguém chegar a esse ponto e nada poder fazer para tirá-la dessa situação, é terrível. Não sei a idade de sua avó,mas não me parece tão idosa, mas já parei de pedir pra viver muito, envelhecer e perder a saúde é um dilema. Que tudo se resolva da maneira menos traumática possível. Muita força aí!!
    Que seja Benvinda a Núbia, sua esposa a blogosfera, é uma ótima terapia, eu gosto!! e nem me preocupo com números...

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  13. Olá, Guiomar.

    Nosso Senhor Jesus Cristo orientou seus discípulos para que não julgassem e acho que o caminho é por aí.

    Minha mãe tem vivido esta luta toda, semelhante a que você expôs, há quase dois anos. Tem sido ela e não meu tio, o qual vive nos Estados Unidos, que tem cuidado a maior parte do tempo de minha avó. Aliás, com todas suas falhas, minha mãe tem se dividido entre cuidar de meu sobrinho bebê, minha avó e também uma cadela de estimação já idosa que, não raramente, urina e vomita dentro de casa. Em seu desespero, sem dúvida que já passou pela cabeça dela colocar minha avó num lar de idosos ou se livrar da cachorra.

    Minha chegada ao Rio, em meados de dezembro, tem servido de encorajamento pra minha mãe. Ela entende que não vim pra cá por acaso e eu acredito também que não. E, nestes dias em que tenho ido ao hospital, deixado inclusive de fazer a prova para o concurso do Tribunal de Justiça no domingo passado, pude constatar experimentalmente como tem sido dura a vida de minha mãe, hoje uma mulher de com quase 54 anos e alguns probleminhas de saúde já surgindo.


    "será que uma pessoa que já não tem condições de cuidar, seria um monstro por levar sua mãe para um lar de idosos?"

    Entendo que não, Guiomar. E, às vezes, se a pessoa não tomar uma atitude dessas pode acabar prejudicando mais gente. No entanto, colocar o pai ou a mãe num lar de idosos não pode se tornar sinônimo de abandonar a pessoa. Cabe aos filhos e demais parentes próximos, nesta situação, assistir a pessoa tanto economicamente quanto no aspecto afetivo fazendo visitas, reservando um tempo para conversas, carinhos físicos dando uns telefonemas, etc.

    Ainda assim, não julgo quem deixa hoje o pai no asilo e, dentro de três ou quatro semanas, acaba perdendo o costume de visitar o idoso. E também não julgo quem deixa de visitar um parente enfermo no CTI por não aguentar ver o sofrimento alheio.


    "A outra pergunta, por que sempre muitas pessoas censuram, quando mesmo existindo apenas uma única filha em meio a vários homens, esta filha não está cuidando, no caso se for especialmente a mãe? Por que tem que ser a filha e não pode ser um filhO?"

    Boa indagação crítica, amiga! Penso que o machismo ainda é grande na nossa sociedade de mentalidade terceiromundista e capitalista. Na verdade, a responsabilidade deve ser compartilhada entre todas as pessoas da família na proporção do grau de parentesco. Em outras sociedades fora do Ocidente, os cuidados com viúvas, órfãos e pessoas em situação vulnerável são feitos por toda a comunidade. É o que se vê em muitos lugares do Oriente, na África e até entre os nossos índios. É o que fazia o Israel na Antiguidade conforme as determinações da Lei de Moisés em que, sem excluir a responsabilidade do parente mais próximo, todos tinham um forte senso de coletividade e de amparo aos irmãos que tinham alguma necessidade. E sabemos que, quando estas coisas não eram observadas, os velhos profetas clamavam pelas ruas das cidades protestando das mais diferentes maneiras...


    "Advogado ou conselheiro?"

    Bem, se lembrarmos o sentido do termo grego parakletos, o qual corresponde ao advogado, podemos então dizer que o ideal de quem abraça a profissão deve incluir também o companheirismo, o consolo e a intercessão pelo outro. É como o Evangelho de João fala do Espírito Santo em que Jesus O chama de outro parakletos.

    Valeu amigona pelo seu comentário e apoio nesta hora.

    Paz!

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    1. Rodrigão, eu tenho uma admiração e carinho grande por você. Fico impressionada como você está sempre disposto a ajudar as pessoas, como é atencioso e prestativo.
      Fiquei triste por você haver perdido a prova do concurso, isto significa que você perdeu o concurso ou tem uma chance por causa justa?

      Estou muito grata por suas respostas sensatas e compreensivas. Oro para que Deus abençoe e fortaleça você em todas as sus lutas e também a sua mãe. Um grande abraço.

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    2. Oi, Gui.

      Realmente perdi a prova do domingo passado.

      Disseram-me no hospital que minha avó só receberia novas bolsas de sangue caso eu conseguisse mandar novos doadores em favor dela para o HEMORIO.

      Embora tenha considerado injusto, ilegal e até inconstitucional, preferi não sair brigando mais uma vez e, logo de manhã, fui até o Centro do Rio doar meu sangue junto com um rapaz da família (primo de minha avó). Porém, depois disto, vim a saber que o hospital não adotava tal procedimento, pelo que estariam orientando as pessoas de maneira errada e causando desespero nas famílias apenas para conseguirem um prestígio institucional junto ao HEMORIO.

      Infelizmente não dá para fazer outra prova neste mesmo concurso. Também não tenho provas para depois processar o hospital pela informação errada que uma funcionária tinha me passado e nem estou afim de perder tempo brigando num momento que está sendo tão difícil.

      Obrigado por suas orações, irmã. Contar com a força de pessoas como você é muito confortador. Talvez queira adicionar minha mãe lá no Facebook. Acho que vocês farão uma ótima amizade.

      Abração!

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  14. Caros Donizete e Wilma,

    Agradeço muito pelas mensagens de vocês!

    É muito importante contar com o apoio das pessoas nesta hora, mesmo que virtualmente e com quilômetros nos distanciando fisicamente.

    Minha avó tem 76 anos, Wilma. Para os padrões atuais, uma pessoa desta idade seria ainda nova já que nossos velhinhos têm chegado facilmente aos 80 e meus dois avós paternos morreram com quase 90 (minha avó paterna foi com 89 no ano passado faltando menos de dois meses para seu aniversário em 14/11).

    No Japão, é bem comum idosos viverem bastante. Até os 90, muitos deles ainda estão fortes trabalhando e contribuindo para a previdência. Quando se aposentam, não deixam de exercer atividades úteis no meio social, cultivam hábitos saudáveis de vida, fazem uma dieta baseada em alimentos bons, andam muito nas ruas para conversar com pessoas ao invés de ficarem o tempo todo na frente da televisão, muitos ainda praticam esportes, lutas marciais e coisas que acabam servindo simultaneamente de terapia.

    Sinceramente, não posso dizer que meus avós paternos e a avó materna tiveram uma vida saudável. Esta avó que está internada viveu boa parte da sua terceira idade assistindo a noticiários da TV Record e frequentando a igreja do Edir Macedo. Segundo minha mãe, ela tinha que se submeter a um exame no intestino para investigar a causa de sua anemia que vem de anos, mas, talvez por medo do procedimento, ou quem sabe até do resultado, vovó sempre ficou adiando até que a coisa complicou.

    Nestas horas, responsabilizo a Igreja Universal até certo ponto por alimentar expectativas erradas acerca da cura divina, mas nunca totalmente porque, na verdade, cada qual responde por sua própria escolha perante as consequências. Também não a julgo. Simplesmente prefiro amá-la neste momento de dor, sabendo o quanto ela é humana, importante para todos nós e também para Deus. Aliás, eu mesmo sei que continuo adiando coisas importantes como a correção postural, a frequência nas consultas com o médico e o dentista, além de minha vida profissional. Se tenho umas dores na coluna e o dinheiro não é suficiente para pagar minhas contas, é porque tenho escolhido ficar na minha zona de conforto. E, independente disto, sei que sou simplesmente amado por Deus.

    Mais uma vez, muito obrigado pelas manifestações de vocês aqui no blogue e torço pra que Núbia anime-se a escrever.

    Abração!

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