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sábado, 17 de abril de 2010

Tornando a escrever e comentários sobre o consumo de bebida alcoólica dentro da cultura evangélica brasileira

Quanta saudade eu tenho sentido de escrever novos textos aqui no blog! Depois do último texto que postei neste site falando sobre a Páscoa, em 03/04/2010, com um brevíssimo comentário de minha autoria, dias depois senti-me inspirado novamente a compartilhar meus pensamentos. Alguns assuntos vieram à minha cabeça no decorrer destas semanas de abril, como a polêmica questão da ingestão de bebida alcoólica pelos cristãos, a candidatura de Marina Silva à Presidência da República, reformas intrigantes que sonho com o espaço urbano de minha cidade e outros temas que agora se acham momentaneamente perdidos numa área esquecida de meu cérebro.

Passei por lutas e aflições durante a primeira metade do mês de abril. E, desde 31/03/2010, foram até agora quatro viagens que empreendi ao Rio de Janeiro, sendo duas delas exclusivamente por causa do meu trabalho e as outras em que conciliei questões familiares com o exercício profissional. Dia 05/04/2010, consegui deixar o Rio de Janeiro poucas horas antes das fortes chuvas que caíram naquela data terem inundado as ruas da cidade. Eu havia me ausentado na reunião dominical de minha igreja para comemorar o aniversário de minha mãe no domingo (04/04) e, na segunda-feira (05/04), fui sustentar oralmente no julgamento do recurso de um cliente meu na Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis no Fórum do Rio, tendo saído de lá com um êxito parcial.

Em 08/04, minha avó materna, que mora com minha mãe no Rio, quebrou a cabeça do fêmur, encontrando-se até hoje internada no Hospital do Andaraí aguardando uma cirurgia. Ao ser informado acerca do seu acidente no sábado passado (10/04), desci novamente para o Rio no domingo (11/04) faltando pela segunda vez consecutiva ao culto de domingo no qual minha igreja celebrou a Ceia, bem como à minha aula de inglês nas segundas-feiras. Contudo, naquele dia, minha Ceia era estar mais uma vez com os meus familiares e estar presente nos momentos de dor, sendo que acabei comemorando o meu aniversário em meio à luta. Depois, retornei para Friburgo no dia 13 e fiquei trabalhando em cima de dois casos bem cansativos mal tendo tempo para sossegar ou dar uma atenção melhor à esposa. Então, em 16/04 (ontem), fui ao Rio e retornei de lá no mesmo dia, tendo chegado a tempo de participar da reunião da rede dos homens de minha igreja que ocorre às sextas, 19 horas e 30 minutos.

Uma pena eu não ter registrado todas as ideias que passaram pela minha cabeça. Fui descuidado, mas me senti atolado e refém de várias situações. Porém, apesar dos pesares, dou graças a Deus por ter conseguido finalizar mais uma semana e me encontrar agora em paz no meu apartamento curtindo uma madrugada de temperatura amena em que torno a escrever com desejo e empolgação uma vez que não consigo pegar no sono no momento.

Só posso mesmo dar graças a Deus por poder agora escrever e deixar minhas ideias correrem solto, o que, sob um ponto de vista, não deixa de ser um saudável surto psicótico de modo que também agradeço por não ser tão “normal”.

No fundo, quem neste mundo pode ser considerado normal? E o que é significa ser normal?

Tenho pra mim que somos todos seres complexos e desajustados, com comportamentos bem variados. Todos são pessoas com problemas distintos, atravessando dificuldades bem peculiares, mas que também possuem qualidades inigualáveis formando uma maravilhosa sinfonia, a sinfonia da vida.

Mesmos em estar com minhas ideias bem ordenadas, quero me expressar. Quero falar brevemente a respeito do consumo de bebida alcoólica pelos cristãos, uma das primeiras ideias que brotou na minha cabeça recentemente.


A QUESTÃO DO USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS PELOS CRISTÃOS

Sinceramente, acho que o comportamento evangélico brasileiro é muito tacanho em tratar a ingestão de bebida alcoólica e o fumo como pecados. A maioria das denominações evangélicas no Brasil proíbe seus membros de consumirem o álcool, havendo pastores que proíbem quem bebe de participar da Ceia e de algumas atividades da comunidade.

Contudo, questiono onde que está o amparo bíblico que sirva de fundamento para a conduta discriminatória e repressiva dessas igrejas. Fico perplexo e incomodado com tanta ignorância que é alimentada no mundinho evangélico brasileiro, o que acaba fazendo dos “crentes” uma tribo fechada dentro do país, causando impressões erradas a respeito de todas as comunidades cristãs.

Meditando sobre a Bíblia, vejo claramente que o vinho sempre fez parte da cultura judaica (o meio onde Jesus viveu), sendo uma droga que proporcionava uma boa convivência comunitária. Inúmeras são as passagens do Antigo Testamento que falam a respeito do vinho! O Shir Hashirim (lit. “cântico dos cânticos”) inicia-se com a fala da esposa comparando o amor do esposo ao vinho:

“Beija-me com os beijos
de tua boca;
porque melhor é o teu amor
do que o vinho.”

Além do mais, na Ceia, o que foi que o Senhor Jesus bebeu? Suco de uva ou vinho? E o que dizer sobre o milagre nas bodas de Caná da Galileia? Negaremos que os judeus tomavam seus goles de vinho nos casamentos?

Escrevendo a Timóteo, Paulo aconselhou seu discípulo que fizesse uso do vinho com finalidade terapêutica. Porém, o apóstolo também advertiu os cristãos da cidade de Éfeso que não se embriagassem com vinho, “no qual há dissolução”.

Por sua vez, no Antigo Testamento está registrada um episódio na história de Noé em que o patriarca, após o dilúvio, cultivou uma vinha e, após ter bebido do seu fruto, ficou nu em sua tenda necessitando ser vestido pelos seus filhos Sem e Jafé. E a lei mosaica fala a respeito dos nazireus, pessoas que, em razão de um voto, abstinham-se de qualquer bebida forte, além de não poderem tocar num cadáver ou passar a navalha sobre a cabeça, como foi o caso de Sansão e de João Batista.

É certo que ingerir bebida alcoólica e fumar jamais foram considerados pecado de acordo com a Bíblia, muito embora o uso do tabaco seja comprovadamente nocivo à saúde pela ciência. Sabe-se também que muitas famílias passam por terríveis desgraças dentro do contexto do uso excessivo de álcool.

A verdade é que o álcool, embora não seja a causa dos males, torna-se o veículo através do qual muitas maldades são cometidas. Uma vez embriagado ou sob o efeito de drogas alucinógenas, um indivíduo pode extravasar com mais facilidade a ira que armazena dentro de si, seja praticando assassinatos, agredindo fisicamente as pessoas ou falando palavras que vão ferir corações. Tanto o vinho como a cerveja, a cachaça, a vodca ou o uísque são facilitadores capazes de potencializar o terrível mal que há dentro de nós.

Contudo, não temos o direito de legislar no lugar de Deus a ponto de transformar em pecado aquilo que nunca foi proibido. E como cristãos temos o dever de dizer a verdade contando o que a Bíblia de fato diz a respeito do consumo de bebidas alcoólicas.

Penso que as igrejas evangélicas brasileiras, ao invés de criarem um verdadeiro tabu em relação à ingestão de bebida alcoólica pelos cristãos, deveriam pensar em como reintroduzir o uso do vinho nas comunidades cristãs e ao mesmo tempo encorajar as pessoas com problemas de alcoolismo a se posicionarem de maneira correta, aceitando suas próprias limitações.

A meu ver, se um cristão alcoólico pensa que é pecado beber, ele se torna mais vulnerável a cair na tentação de retornar ao seu passado de embriaguez porque sua conduta está baseada numa proibição e não na auto-consciência de que ele, por uma razão específica não pode ingerir substâncias que contêm álcool.

Independentemente das pessoas terem ou não propensão ao alcoolismo, penso que continua sendo papel das igrejas preocupar-se com o uso moderado do álcool dos cristãos. Além do versículo da epístola aos efésios referido neste texto, deve-se cultivar o domínio próprio que é fruto do Espírito Santo. Isto porque o cristão não deve ser dominado por nenhuma compulsão. Seja em relação ao sexo, ao apego pelo dinheiro ou quanto aos alimentos em geral. Aliás, somos livres e, como disse Paulo, “foi para a liberdade que Cristo nos libertou”.

Um bom final de semana a todos e apreciem a vida com moderação!

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