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terça-feira, 26 de julho de 2011

Reflexões sobre um império em crise


O brasileiro que nunca visitou a Estátua da Liberdade (The Statue of Liberty) geralmente imagina algo tão imponente como o "Cristo Redentor" no Morro do Corcovado, na cidade do Rio de Janeiro. Porém, se observar de perto, o turista que visita Nova York pode verificar que o monumento erguido em 1886 pelo centenário da Declaração de Independência dos Estados Unidos vive mais é de aparência mesmo.

O mesmo também podemos dizer dos sistemas econômicos norte-americano e global em que a prosperidade dos países tornou-se ficcional, baseado numa ilusória ideia vendida a bilhões de pessoas no mundo. Aliás, quem conhece um pouquinho melhor os USA sabe muito bem que lá não é sempre como nos filmes, mas também existe pobreza, violência, serviços de saúde pública insatisfatórios, exploração do trabalho humano, pessoas drogadas, fundamentalismo religioso e discriminação ao estrangeiro. E aí o sonho de tentar a sorte na América pode virar um terrível pesadelo (e perpetuar o pesadelo de tantos outros povos explorados pelo sistema econômico dos norte-americanos).

Atualmente, vendo os Estados Unidos em crise, fico a meditar nesta passagem bíblica, extraída do livro do Apocalipse, em que o seu autor fala da queda da Babilônia, referindo-se evidentemente a Roma de seus dias:


"Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória. Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável, pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria. Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou. Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela. O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver! Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou." (Apocalipse 18.1-8; ARA)


De modo algum quero demonizar os Estados Unidos e menos ainda os cidadãos norte-americanos. Porém, não me incomodo em satanizar todo e qualquer sistema opressivo que promove a desigualdade social, a exploração dos mais pobres, o desrespeito à soberania dos demais povos, o belicismo e a destruição do meio ambiente. E, neste sentido, pode-se dizer que os USA deram continuidade às políticas imperialistas da velha Roma e de seus patrícios ingleses após as duas guerras mundiais no século XX. Poder meio do poderio econômico e até mesmo de intervenções militares nos governos de outras nações, a Casa Branca tem sido na verdade a sede de um neocolonialismo onde hipocritamente a liberdade individual e coletiva é considerada como um ícone de uma perversa ideologia mercadológica.

Semelhantemente o nosso Brasil também tem um sistema tão opressivo quanto o dos Estados Unidos, motivo pelo qual não é de surpreender que sejamos o quinto maior investidor da imensurável dívida norte-americana. Pois, ao invés do nosso governo investir na saúde e na educação, bem como melhorar as condições das estradas, construir uma infra-estrutura em transportes de massa, modernizar os precários portos e aeroportos, terminar logo os estádios de futebol para a Copa de 2014 (se bem que não deveríamos estar preocupados com isto agora) e combater a violência, lamentavelmente o nosso país está se prestando para tirar da crise um dos algozes da humanidade, aumentando em 30,9%, desde maio de 2010, a nossa aplicação em papéis que, futuramente, poderão nem mais ser pagos.

Certamente que muitos economistas vão questionar argumentos como o meu e eles têm lá seus discursos técnicos que tentam justificar investimentos deste tipo em meio às incertezas do mercado internacional. Contudo, prefiro tomar o ponto de vista de um cidadão brasileiro que sua a camisa o ano inteiro pra ganhar um miserável salário mínimo por mês, tem dificuldades de colocar seu filho numa boa escola, o seu dinheiro evapora quando vai ao supermercado fazer compras e precisa ficar horas na fila do SUS quando ele ou alguém de sua família fica doente, sendo ainda muito mal atendido pelos profissionais de saúde. E, só neste ano, o governo Dilma teve ainda a coragem de efetuar cortes financeiros no programa habitacional "Minha casa, minha vida", enquanto que um bom volume do nosso dinheiro permanece investido no exterior.


"Dois terços das reservas internacionais do Brasil são compostas por títulos da dívida dos Estados Unidos. Atualmente colocado como quinto maior investidor nesse tipo de papel, o país teve a segunda maior expansão de aplicação na dívida dos EUA em 2010 entre os dez maiores credores, segundo o Tesouro americano. No ano passado, o aumento brasileiro ficou atrás apenas da China. A informação foi divulgada na segunda-feira (18), em meio a negociações entre a Casa Branca e o Congresso dos EUA para ampliar o teto da dívida pública do país para além dos atuais US$ 14,3 trilhões. Embora enfrente resistência da oposição republicana, o presidente Barack Obama insiste em sensibilizar deputados para permitir a rolagem da dívida – emissão de novos títulos para honrar compromissos assumidos anteriormente. A aprovação precisa ser feita até 2 de agosto." (Fonte Agência Brasil - extraído de http://www.redebrasilatual.com.br/temas/economia/2011/07/brasil-teve-segunda-maior-expansao-na-compra-de-divida-dos-eua  )


Realmente não é este o tipo de economia que queremos, sendo também repugnante a solidariedade existente entre os países que participam do babilônico sistema mundial e o empenho que fazem para mantê-lo.

Sai dessa Babilônia, povo brasileiro!

Temos que recriar um mundo com valores onde a vida e a existência humana estejam acima de um sistema econômico que nada mais é do que um covil de políticos imundos e detestáveis. Algo que é podre, ilusório e opressor e nocivo para todos os povos. Inclusive para os próprios norte-americanos das classes média e pobre.

3 comentários:

  1. Rodrigo, confesso que alguns dados abordados por vc eu desconhecia, mas achei ótima e contundente sua abordagem.

    Como vc mesmo disse não adianta demonizar, já que estaríamos dando tiro no nosso próprio pé.

    Creio que o parágrafo final resolveria a questão se a humanidade não estivesse tão mergulhada na inversão de valores, priorizando o sistema/coisas ao invés do ser vivente.

    Para que tem consciência, resta assumir seu papel independente de confissões religiosas ou não, e tentar fazer do seu presente e futuro imediato, uma opotunidade de promover o bem no contexto em que vive colocando o ser humano como o centro e canalização de todos os esforços.

    É isso meu irmão, um abraço!

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  2. Olá, Franklin!

    Obrigado por seus comentários!

    Mesmo que os nossos olhos não contemplem uma mudança significativa no mundo, penso que sempre valerá a pena plantar as sementes do bem com fez Jesus e tantos mártires do passado agindo com fé.

    Como disse o Renato Russo numa de sus canções, "o sistema é mau, mas minha turma é legal". E aí mais do que nunca precisamos estar organizados em grupos pensando em soluções, bem como buscando um diálogo construtivo entre esses grupos.

    Neste sentido, recordo aqui um trecho do Pai-Nosso o qual diz: "Que venha a nós o Vosso Reino".

    Sim! Não só devemos esperar pelo "Reino" como também promovê-lo a cada dia pela prática incansável do bem.

    Abração.

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  3. Em tempo!

    O nome da música composta pelo Renato Russo do Legião Urbana que citei na réplica acima chama-se "Vamos Fazer um Filme". E sua letra tem muito a ver com a nossa luita por um mundo melhor:

    "Achei um 3x4 teu e não quis acreditar
    Que tinha sido há tanto tempo atrás
    Um bom exemplo de bondade e respeito
    Do que o verdadeiro amor é capaz
    A minha escola não tem personagem
    A minha escola tem gente de verdade
    Alguém falou do fim-do-mundo,
    O fim-do-mundo já passou
    Vamos começar de novo:
    Um por todos, todos por um

    O sistema é mau, mas minha turma é legal
    Viver é foda, morrer é difícil
    Te ver é uma necessidade
    Vamos fazer um filme

    O sistema é mau, mas minha turma é legal
    Viver é foda, morrer é difícil
    Te ver é uma necessidade
    Vamos fazer um filme
    E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
    E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?

    Sem essa de que: "Estou sozinho."
    Somos muito mais que isso
    Somos pingüim, somos golfinho
    Homem, sereia e beija-flor
    Leão, leoa e leão-marinho
    Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito
    Chega de opressão:
    Quero viver a minha vida em paz
    Quero um milhão de amigos
    Quero irmãos e irmãs
    Deve de ser cisma minha
    Mas a única maneira ainda
    De imaginar a minha vida
    É vê-la como um musical dos anos trinta
    E no meio de uma depressão
    Te ver e ter beleza e fantasia.

    E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
    E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
    E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
    E hoje em dia, vamos Fazer um filme
    Eu te amo
    Eu te amo
    Eu te amo"

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