Uma das coisas que poucos eleitores sabem é que, no jogo da política, nem todos os candidatos fazem campanha para ganhar. Quando olhamos os resultados das eleições nos jornais, ficamos surpresos em saber por que alguns políticos não conseguiram ao menos um voto?!
A verdade é que, por trás de uma candidatura, existem inúmeros interesses desconhecidos e que passam desapercebidos pelo cidadão comum. Um deles tem a ver com o lançamento de campanhas de políticos que não estão trabalhando para ganhar e sim para marcarem alguma posição.
É muito comum nas eleições estaduais e federais, pessoas se candidatarem a deputado pensando unicamente em alcançar outros objetivos nas próximas eleições (as municipais). Em momentos como o das eleições deste ano, surgem aventureiros, vereadores de cidades médias que sabem muito bem que, passada a disputa política, retornarão para a Câmara Municipal e tem também aqueles que apresentam seus nomes com o intuito de atrapalhar o desempenho eleitoral de algum outro concorrente numa determinada região, recebendo para isto dinheiro de um terceiro candidato.
Para quem tem plenos de futuramente disputar eleições municipais em sua cidade, pode até ser uma estratégia válida vir a se candidatar agora para deputado estadual ou federal, tornar-se conhecido perante o eleitorado, medir seu cacife com outros políticos e então, finalmente, conseguir que as urnas o consagrem vereador ou prefeito.
Contudo, tenho minhas reservas éticas quanto às políticas deste tipo em que o atual momento eleitoral acaba sendo usado como um mero trampolim. Penso que um candidato a deputado federal deveria estar mesmo interessado em resolver os problemas de seu país, estudando as leis e o orçamento da União.
Do mesmo modo quem quer ser um deputado estadual precisa estar realmente preocupado com a situação de seu estado. O parlamentar depois de eleito não deve ser somente o representante de um segmento social ou de uma região. Ele é alguém que precisa pensar a política estadual como um todo, permanecendo sempre atento a todas as questões de interesse.
Ora, será que a política se faz apenas para se alcançar o poder? Ocupar um cargo eletivo deve ser um fim em si mesmo ou um meio de verdadeiramente promover o bem estar da coletividade? Até quando permitiremos que oportunistas tirem proveitos da política eleitoral e partidária, buscando unicamente a própria promoção?
Um dos critérios que o eleitor deveria adotar na escolha de seu candidato é verificar se as posições do político correspondem ao cargo que ele pretende ocupar na hipótese de ser eleito. E tal análise não pode excluir o discurso adotado, pois, se alguém quer ser deputado federal, deve conhecer profundamente os problemas do país, apresentar propostas, opinar a respeito da nossa política externa e estar mesmo por dentro das pautas das sessões do Congresso.
Moro numa cidade no interior fluminense que tem cerca de 180 mil habitantes. Por aqui, o que mais vejo são candidatos a deputado pensando mais nas eleições de 2012 do que no que está sendo decidido em 2010. E, nestas circunstâncias, prefiro dar o meu voto para quem é de outro domicílio eleitoral, de maneira que estou analisando com bastante rigor os candidatos da terra, tendo já riscado muitos nomes de minha lista.
Infelizmente, muitos partidos aproveitam-se de situações como esta. Como a maioria das agremiações partidárias também visa o jogo do poder e não tem compromissos com o bem estar da sociedade brasileira, os delegados das convenções são “convencidos” a aprovar candidaturas sem avaliarem o conteúdo dos pretendentes. Busca-se em primeiro lugar angariar votos para a legenda de olho no resultado eleitoral ou então fazem uma repudiável troca de interesses pessoais em que alguns delegados chegam até mesmo a vender seus votos por dinheiro, favores, emprego, apoio político, etc.
Pergunto onde é que ficou a transparência dentro dos partidos políticos brasileiros? Por acaso são instituições verdadeiramente democráticas ou atendem a interesses de alguns caciques? Será que os ideais estatutários destas agremiações são meramente formais?
Na década de 90, fiquei decepcionado quando soube que o meu candidato nas eleições majoritárias teria fechado muitos de seus comitês no país depois que supostamente recebeu dinheiro do que estava cotado para vencer as eleições no primeiro turno. Depois de ter manipulado tanta gente e feito seus teatros, ele teria passado a fazer corpo mole na campanha sem dar uma explicação aos eleitores a respeito dos acordos.
Sou contra votar apenas em quem tem chances ou naquele que as pesquisas indicam que vai vencer, mas acho fundamental avaliarmos se de fato o candidato está realmente trabalhando para ganhar as eleições ou blefando. Por este e outros motivos, é que devemos trabalhar pela conscientização dos eleitores, mostrando, através de um português claro e acessível, tudo o que rola nos bastidores da política, afim de que as pessoas façam escolhas mais refletidas quando comparecerem à seção eleitoral e ficarem diante da urna eletrônica.
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