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segunda-feira, 26 de julho de 2010

O cristianismo como uma experiência coletiva

Ultimamente tem-se debatido muito nas igrejas brasileiras a respeito dos terríveis males causados pela institucionalização. A corrupção no meio pastoral, as diversas técnicas de manipulação e o comprometimento de lideranças evangélicas com candidatos a cargos eletivos tornaram-se os principais temas questionados pelos críticos da Igreja, os quais não estão errados quanto a este aspecto.

Por outro lado, tenho observado que toda esta crise pela qual os evangélicos atravessam pode estar contribuindo para o preocupante isolamento de irmãos que, atualmente, encontram-se afastados de suas igrejas, deixando de participar de um projeto coletivo sonhado por Jesus que garantiu a sua presença onde houvesse duas ou mais pessoas reunidas em seu Nome.

Mais do que criarmos relacionamentos, a Bíblia fala que devemos ter comunhão uns com os outros, o que torna indispensável que busquemos caminhar juntos com os nossos irmãos formando uma verdadeira comunidade, conforme fazia a Igreja de Jerusalém, conforme a narrativa de Atos dos Apóstolos, sendo meus os destaques em negrito:

“Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam-se a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.” (At 2.42-48; tradução da Nova Versão Internacional)

Este texto acima citado é a chave para compreendermos muitas questões acerca da comunhão entre os cristãos e, certamente, este estudo não se esgota nos trechos destacados.

O pastor Rick Warren, na introdução de seu livro “Juntos somos melhores”, assim nos escreve sobre este aspecto importante da vida cristã chamada comunhão:

“A Bíblia diz que fomos criados para a comunhão. Obviamente, não é possível tê-la sozinho! São necessárias pelo menos duas pessoas. E você não consegue desenvolvê-la com uma multidão. A verdadeira comunhão ocorre num pequeno grupo de pessoas, é por isso que Jesus tinha um grupo de 12 discípulos! Ele nos deixou o modelo da comunhão. Ela não acontece automaticamente. O fato de nos reunirmos numa igreja não a garante! Você pode frequentar as reuniões durante toda a sua vida e ainda assim sentir-se sozinho e desconectado. A Bíblia diz “Irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês; antes que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer” (1Coríntios 1.10). Note que comunhão é algo que precisamos aprender. Tem de ser intencionalmente cultivada. O que significa cultivar uma vida em comum? Na Bíblia, a palavra grega para comunhão é koinonia. Significa estar comprometido mutuamente, como estamos com Jesus Cristo. A comunhão verdadeira nos leva além de uma socialização simples, de um estudo em conjunto, leva-nos a níveis mais profundos de serviço mútuo e, às vezes, a passarmos por sofrimento juntos. Esse tipo de comunhão é o antídoto para a penetrante solidão que assombra tantas pessoas.”

Em momento algum culpo os críticos da Igreja pelo fato de muitos irmãos estarem vivendo isoladamente, pois me parece útil que profetas se levantem para denunciar as obras más praticadas no nosso meio, opondo-se a lobos vestidos de ovelhas que ainda usam o nome de Deus para fins espúrios. Para mim, livros como “Por que você não quer ir mais à Igreja?” chegaram como uma benção porque ajudam a desconstruir o sistema institucional nocivo que, durante séculos, cultivou-se entre os cristãos e que, em muitos momentos, entram em rota de colisão com os planos de Cristo para a sua Igreja.

Vale a pena continuarmos frequentando reuniões de uma igreja onde nos sentimos “desconectados”, as pessoas vivem uma falsa comunhão na hora da Ceia e reduzem seus relacionamentos ao nível da formalidade? Como que o crente poderá ser participante de um projeto comum numa igreja dessas se falta comunicação entre as pessoas e o líder age como um verdadeiro ditador que se coloca acima de todos como se fosse um “ungido do Senhor"? Sem dúvida que um lugar destes não serve para nenhum cristão, pois o sistema se torna uma enganação para todos os que lá se encontram, inclusive para o próprio pastor.

Contudo, se uma pessoa deixa a igreja onde congrega por se sentir “desconectada” (gostei desta palavra usada no texto do Rick), ela também não se conectará no isolamento. Mesmo que este irmão continue orando, lendo a Bíblia, procurando cumprir os mandamentos de Deus e ainda praticando atos de caridade, sua experiência cristã ainda será pobre em termos espirituais porque lhe faltará a vivência coletiva – a comunhão.

Centralizar as atividades dentro de um grande templo ou tentar viver o cristianismo sozinho conduzem a um mesmo estado de isolamento. E, neste aspecto, a única vantagem de estar descomprometido institucionalmente é que o cristão pode se sentir livre para reunir-se com pessoas sem estar debaixo de um sistema religioso que o sufoca. Por sua vez, quem se reúne na unidade de uma grande denominação religiosa pode talvez encontrar a Igreja dentro de uma igreja.

De qualquer modo, tanto o sufocamento de um sistema institucional, quanto os vícios do nosso isolamento, serão sempre nocivos para que realmente se estabeleça a tão desejada comunhão. Pois, quando nos reunirmos a exemplo da Igreja primitiva, será preciso aceitar o meu irmão do jeito que ele é, suportar seus erros, superarmos nossas diferenças, aprender a ouvi-lo, não ter medo de me abrir, estar disposto a sair do meu comodismo para participar de seus dramas, perdoá-lo sempre e amá-lo incondicionalmente.

É indispensável, irmãos, que voltemos sempre ao Evangelho, retornando às práticas simples da fé cristã ensinadas pelo nosso Senhor aos seus discípulos. Acredito que a formação de pequenos grupos, conforme orienta o Rick em seu livro, seja mesmo a oportunidade para tentarmos viver o ideal do cristianismo. Porém, isto não significa que tudo será perfeito dentro de uma “célula”. A prática de princípios bíblicos precisará ser atentamente observada por toda e qualquer comunidade cristã, seja ela institucionalizada ou não.

2 comentários:

  1. VOCÊ ESTÁ CORRETO MEU MANO, precisamos crescer nesta questão que vai na contra mão de nossa cultura "social" do isolamento, até parecendo contraditório, mas é o próprio CAOS em ação.
    vida em Cristo mano
    Robson

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  2. Graça e paz, mano! Acredito que o nosso isolamento cultural tenha raízes profundas, inclusive históricas que de um certo modo se associam com o liberalismo do século XIX, quando o Ocidente foi perdendo a noção de comunidade, as ruas deixaram de ser locais de convivência social para se transformarem em corredores de passagens e começaram a dar mais importância à individualidade e à privacidade do que ao coletivo. O hábito de estudarmos a Bíblia sozinhos em nossas casas sob um certo aspecto seria relativamente recente, pois até alguns séculos depois da invenção de Guttemberg, as Escrituras costumavam ser aprendidas em grupo. Atualmente, esta prática dura apenas uma mínima parcela de nosso tempo quando nos encontramos nas nossas igrejas.

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