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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Milagres e perdão: por que Jesus veio ao mundo?

Um leproso aproximou-se dele e suplicou-lhe de joelhos: “Se quiseres, podes purificar-me!” Cheio de compaixão, Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Quero. Seja purificado” Imediatamente a lepra o deixou, e ele foi purificado. Em seguida Jesus o despediu com uma severa advertência: “Olhe, não conte isso a ninguém. Mas vá mostrar-se ao sacerdote e ofereça pela sua purificação os sacrifícios que Moisés ordenou, para que sirva de testemunho”. Ele, porém, saiu e começou a tornar público o fato, espalhando a notícia. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente em nenhuma cidade, mas ficava fora, em lugares solitários. Todavia, assim mesmo vinha a ele gente de todas as partes. (Evangelho de Marcos 1.40-45; tradução da NVI)

Não só nesta passagem bíblica, mas também em várias outras, Jesus pediu que as pessoas guardassem sigilo a respeito de seus milagres e da sua identidade como o Messias esperado por Israel. Sua conduta é sem dúvida bem intrigante e uma das primeiras coisas que o leitor dos dias atuais logo percebe na narrativa acima diz respeito a uma atitude de modéstia adotada por Jesus.

Por outro lado, o texto torna-se auto-explicativo ao demonstrar que a ampla divulgação dos milagres de Jesus comprometia a sua obra de pregação nas cidades da Palestina, por onde o Senhor andava acompanhado pelos seus discípulos. Notas de rodapé da “Bíblia de Estudo de Genebra” sobre os versículos 34 e 45 do capítulo acima referenciado, tentam elucidar o assunto:

“(...) A revelação de Jesus como o Messias tinha de começar discretamente e avançar por estágios, de modo que o plano de Deus, para a morte de seu servo, não fosse comprometido por qualquer excesso de entusiasmo popular (…) Este não é o tempo para a proclamação desenfreada, ainda que devesse chegar o tempo, na história da redenção (depois da ressurreição), quando a pregação aberta seria adequada (Mt 10.27; Lc 12.2-3)”

Evidentemente são comentários teológicos respeitáveis e dignos de uma ponderação profunda. E uma suposição que, a partir daí, pode ser suscitada seria a antecipação de seu assassinato pelas autoridades religiosas de seu povo, caso Jesus fizesse seus milagres abertamente e num ritmo acelerado.

Contudo, lendo o Manual Bíblico da SBB (uma ótima opção para quem não dispõe de uma Bíblia de estudo com comentários), verifiquei ali outra perspectiva, além de uma interessante indagação que de certa maneira me inspirou a escrever este artigo:

“Mas será que esta era a única razão pela qual Jesus pediu às pessoas (pelo menos nove vezes neste Evangelho) que não revelassem a sua verdadeira identidade? Por que manter em segredo o fato de que ele era o Messias? A razão parece estar nas idéias erradas sobre o Messias e sua missão que eram comuns na época. O povo esperava um líder político para livrá-los dos romanos. Jesus precisava de tempo para explicar o tipo de 'reino' que ele viera inaugurar: era algo que até seus seguidores mais próximos teriam dificuldades em entender.”

No século I, quando os judeus agonizavam debaixo da opressão greco-romana, a coletividade dos israelitas aguardava a chegada do Messias. Com base em profecias das Escrituras, as pessoas nutriam a expectativa de restauração do reinado de Davi, o que não só protegeria a cultura judaica como traria tempos de paz e de prosperidade à toda nação.

Aproveitando esse gancho, posso colocar aqui mais uma questão que considero pertinente aos nossos dias: será que o principal motivo da vinda de Jesus era fazer milagres?

Vivemos um tempo em que “pastores” que dizem pregar o Evangelho vão para suas igrejas e programas de TV prometendo soluções imediatas para os problemas das pessoas. Diversos líderes de denominações evangélicas saem por aí anunciando convites para “campanhas de milagres”, “correntes de prosperidade” e “cultos de libertação”, o que acaba criando expectativas erradas a respeito da obra que Jesus veio iniciar na terra. Usando de estratégias de marketing, não muito diferentes dos anúncios publicitários que tentam promover um produto qualquer no mercado, tais pregadores de uma “teologia de prosperidade” fazem justamente o contrário que Jesus praticava.

Ainda que alguns deles preguem também sobre o arrependimento de pecados e a graça de Deus, tenho dúvidas se a mensagem de salvação ordenada pelo Senhor está sendo de fato compreendida pelos ouvintes. Tenho preocupações se as pessoas que participam dessas “correntes” de cura e de prosperidade estejam entendendo o significado de vir a Cristo, aceitando-o como o único Senhor de suas vidas. Causa-me a impressão de que muitos frequentadores acabam se tornando mais ambiciosos em relação ao dinheiro e passam a dar uma super valorização às riquezas materiais.

Retornando ao texto do Evangelho (precisamos estar sempre voltando ao Evangelho), encontro logo no começo do capítulo 2 de Marcos outra passagem que ajuda a ampliar o meu entendimento, parecendo se tratar de um fato ocorrido não muito tempo depois da cura do leproso, relatando uma polêmica que surgiu porque Jesus perdoou os pecados de um paralítico:

Poucos dias depois, tendo Jesus entrado novamente em Cafarnaum, o povo ouviu falar que ele estava em casa. Então muita gente se reuniu ali, de forma que não havia lugar nem junto à porta; e ele lhes pregava a palavra. Vieram alguns homens, trazendo-lhe um paralítico, carregado por quatro deles. Não podendo levá-lo até Jesus, por causa da multidão, removeram parte da cobertura do lugar onde Jesus estava e, pela abertura no teto, baixaram a maca em que estava deitado o paralítico. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os seus pecados estão perdoados”. Estavam sentados ali alguns mestres da lei, raciocinando em seu íntimo: “Por que esse homem fala assim? Está blasfemando! Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?” Jesus percebeu logo em seu espírito que era isso que eles estavam pensando e lhes disse: “Por que vocês estão remoendo essas coisas em seu coração? Que é mais fácil dizer ao paralítico: Os teus pecados estão perdoados, ou: Levante-se, pegue a sua maca e ande? Mas para que vocês saibam que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” - disse ao paralítico - “eu lhe digo: Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa”. Ele se levantou, pegou a maca e saiu à vista de todos, que, atônitos, glorificaram a Deus, dizendo: “Nunca vimos nada igual!” (Mc 2.1-12)

Muitos ensinamentos podem ser extraídos deste outro texto, mas quero chamar a atenção para o fato de que Jesus veio curar uma doença muito mais grave que qualquer outra enfermidade conhecida pela Medicina. O Messias veio tratar de uma chaga espiritual chamada pecado!

O pecado é um mal que destrói o ser humano em todos os aspectos. É a causa de inúmeras doenças não só do corpo como da mente, mas também do espírito. Foi por causa do pecado, a humanidade perdeu o relacionamento que tinha no começo com o seu Criador, sentindo medo e vergonha de se aproximar de Deus. Sua consequência inevitável se acha representada através da nossa morte física, o que nos trás a ideia de uma separação contínua da presença divina, conforme compôs o salmista Davi quando disse “não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito”.

Para a nossa lógica pessoal, parece ser muito mais difícil uma cura física do que apenas dizer que os pecados de alguém estão perdoados. Isto porque a nossa mente geralmente fica limitada a um raciocínio que procura explicações dentro de um universo material. Mas pergunto: quem é que tem autoridade para perdoar pecados? Jesus, o Messias, tem e foi pra isto que ele veio ao mundo.

Antes de Jesus, muitos profetas realizaram milagres perante o povo de Israel, só que nenhum deles perdoou pecados. Podemos citar aqui Elias e Eliseu que ressuscitaram mortos, além dos prodígios registrados nos ministérios de Moisés e de Josué, tais como as dez pragas derramadas sobre o Egito, a abertura do Mar Vermelho, as vezes que brotou água da rocha em pleno deserto, a comida do maná, a nuvem que cobria os israelitas do abrasador calor do dia e a coluna de fogo que os aquecia de noite, a passagem com pés enxutos pelo rio Jordão, a destruição das muralhas de Jericó e o dia em que o sol (ou a Terra) parou. Já o ministério de Jesus não deixa nada a dever e podemos destacar, dentre muitos outros acontecimentos, as duas multiplicações de pães, a ressurreição de Lázaro, a cura de um cego de nascença, a vez em que o Senhor acalmou a tempestade no Mar da Galileia e a transfiguração que foi vista somente por três discípulos.

Curiosamente, na hora de sua morte, Jesus não fez nenhum milagre, tendo se entregado voluntariamente aos seus assassinos como uma ovelha é levada a um matadouro. Mas foi ali, na cruz, no auge de sua vulnerabilidade, que o maior milagre de todos os tempos aconteceu – a reconciliação entre Deus e o homem.

No momento em que Jesus foi sentenciado por Pilatos, sendo ele inocente de qualquer crime, todos os pecados da humanidade foram punidos na sua pessoa. Através da sua execução, a pena que todos nós cumpriríamos, suportando uma eterna separação de Deus, foi de uma só vez aplicada em Jesus, afastando definitivamente a nossa culpa e permitindo que o relacionamento com o Criador seja restabelecido.

Como prova de seu triunfo, Jesus ressuscitou vencendo a morte, proporcionando a esperança de vida eterna a todos os que de coração lhe aceitarem como Salvador, submetendo-se ao seu domínio.

Mais tarde Jesus apareceu aos Onze enquanto eles comiam; censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração, porque não acreditaram nos que o tinham visto depois de ressurreto. E disse-lhes: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se, beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados”. (Mc 16.14-18)

Ora, esta é a mensagem que deve ser proclamada pelos pregadores deste tempo que se chama hoje. Uma mensagem acessível e simples, porém suficiente, a qual deve ser destinada a todos sem qualquer tipo de discriminação. Uma mensagem que não exclui os milagres e nem a cura para as enfermidades que tanto afligem a humanidade, mas que tem como foco a pregação do Evangelho de Jesus Cristo, a chegada do Reino de Deus aos corações das pessoas.

O tempo que se chama hoje é o momento para as pessoas se arrependerem a se reconciliarem com Deus. É o momento de abrirmos mão de nós mesmos, deixando de lado as ambições do dinheiro, nos desprendermos dos planos terrenos e servirmos a Deus de coração, fazendo o bem ao nosso próximo. É o momento de pregarmos a mensagem da salvação e que, através de Jesus, os pecados são definitivamente cancelados.

Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. “O tempo é chegado”, dizia ele. “O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!” (Mc 1.14-15)

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