Faltam menos de três meses para as eleições presidenciais e o que se mostra nas pesquisas é uma polarização entre Dilma e Serra, em que uma candidatura representa o governo e a outra a oposição.
Antes de mais nada, pergunto: qual a principal diferença entre uma candidatura e a outra? Digo que exceto pela tendência do PT em aumentar a presença estatal na economia, inchar o funcionalismo estatal e adotar mecanismos constitucionais de perpetuação no poder, ainda não vejo um diferencial que satisfaça as expectativas de se construir uma nova política no Brasil caso o PSDB retorne.
Se José Serra ganhar, a atual tendência estatista ficará mais moderada e um pouco mais ao sabor do mercado. Contudo, nada garante que deixaremos nossos modelos ultrapassados de economia de governo. O velho toma-lá-dá-cá dos políticos parece que vai continuar como uma maneira de se negociar favores pessoais e corporativos em detrimento do interesse da coletividade. Nomes mudarão nos ministérios, evidentemente, mas o câncer do fisiologismo ainda não será extirpado. Também nas licitações públicas, estou certo de que apenas veremos alguns grupos novos se beneficiando e outros se adaptando para permanecer lucrando com o Estado brasileiro.
Vivemos no século XXI e basta darmos uma olhada no passado recente de décadas anteriores para tirarmos conclusões acerca dos fracassos obtidos tanto pelo socialismo quanto pelo neoliberalismo. Se o estatismo levou à estagnação econômica, as especulações financeiras do neoliberalismo conduziu à quebra de várias economias, repercutindo sobre o bem estar de milhões e milhões de famílias. Logo, não temos justificativas para repetirmos os erros de outrora como tem feito a vizinha Venezuela, país que um dia precisará recuperar o tempo perdido quando as ilusões do petróleo se acabarem.
Mas não é de economia que pretendo falar neste texto e sim de política. E, neste sentido, vejo nos candidatos um compromisso maior com os seus interesses corporativos do que com os anseios da população brasileira em geral, de modo que os programas sociais oficiais servem na verdade para para esconder as reais intensões de cada grupo político.
Temos aí uma ótima candidata que pode ajudar nesse processo de mudança da política brasileira – Marina Silva. Chego a compará-la a um vinho novo deitado em odres velhos porque o Partido Verde, assim como as demais agremiações partidárias, não é uma instituição tão democrática quanto parece, estando tão vulnerável às tentações do fisiologismo quanto as demais legendas. Muitas propostas estatutárias do PV são lindas, mas, nas escolhas dos candidatos, durante a convenção green, adota-se um questionável mecanismo de democracia indireta que não é muito diferente do que vejo no PSDB, no DEM, no PPS ou no PTB, partidos que apoiam José Serra. E verdade seja dita que boa parte das lideranças verdes estão é com Serra, não com Marina.
Como também não sou ingênuo, sei que, na possibilidade de minha candidata ganhar as eleições, os abutres estarão prontos para atacar o poder, o que obrigaria Marina a fazer inevitáveis concessões para poder governar. Contudo, as mudanças ocorrem lentamente e a seu tempo, bem diferente do que nós desejamos ou imaginamos. E daí a importância das vozes que defendem a ética, o bem estar social, a preservação do meio ambiente, uma educação libertadora e um desenvolvimento inclusivo. Ou seja, antes, durante e depois das eleições, precisaremos continuar a fazer política na condição de cidadãos interessados. E, neste caso, pouco importa quem estará governando o Brasil.
Na verdade, o que precisamos é criar uma nova cultura política no país! Sem descartar a importância do momento eleitoral e da escolha dos melhores (ou dos menos piores) nomes dentre candidatos, não podemos deixar de mudar a nossa maneira de fazer política e de interagirmos com os nossos governantes.
Tenho pra mim que a internet já deu sua grande parcela de contribuição para a mudança desse quadro, mas a rede mundial de computadores, por si só, não se torna ingrediente para revolucionar pensamentos e atitudes. Penso que há valores éticos dentro de cada um de nós que precisam ser reciclados afim de que possamos primeiramente nos relacionar com o coletivo de uma outra maneira.
Nas mais pequenas coisas, ainda vejo o quanto o brasileiro é individualista. Seja no trânsito, nas filas ou na busca do emprego, as pessoas esquecem que há outros na mesma situação que elas precisando igualmente sobreviver. Cada um quer resolver o seu próprio problema, deixando de lado a solidariedade. Todos querem viver num ambiente saudável, mas a maioria acha que o planeta pode conviver com o próprio lixo que produz.
Ao vencer as eleições municipais de 2008, o prefeito de minha cidade iniciou um discurso de nova ordem urbana, propagando que faria com que Nova Friburgo voltasse a ser a “Suíça brasileira” a ponto dos carros pararem quando os pedestres colocarem seus pés na faixa. Doce ilusão. Recentemente, uma emissora de TV a cabo local flagrou o carro do mandatário indevidamente estacionado enquanto ele assistia a missa em sua igreja. Que vexame!
Também não vou ser hipócrita a ponto de me aproveitar desta situação ocorrida para malhar a religião católica do prefeito, pois várias vezes o culto na igreja evangélica que frequento já foi interrompido pelo pastor porque o órgão de trânsito estava guinchando o automóvel de algum membro que parou em frente à garagem de um morador. E, apesar do convênio celebrado com um estacionamento da cidade, em que foi disponibilizada até uma kombi para transportar as pessoas até a igreja, nem todos deixam gratuitamente o carro no tal do E-park, preferindo disputar as poucas vagas disponíveis numa estreita rua residencial onde já existem três templos e uma escola.
É muito difícil contribuirmos para mudar a política quando nos recusamos a abandonar a nossa mentalidade individualista e egoísta. Talvez eu não tenha a resposta sobre como é que vamos construir uma nova cultura política no Brasil, mas acredito que o primeiro passo se dá através da nossa disposição para agirmos de maneira diferente. E, a partir daí, a nossa participação poderá influenciar outras pessoas e até sensibilizar o restante da sociedade. Ou seja, parece-me que a transformação precisa ocorrer de baixo para cima, vinda do próprio povo, ou do contrário de nada adiantará trocarmos os nomes dos políticos.
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