"Se não sou negro por raça, posso ser negro por opção política. Mesmo não sendo negro, posso assumir a causa de libertação dos negros, defender o direito de suas lutas, reforçar, como puder, sua organização e sentir-me aliado na construção de um tipo de sociedade que torne cada vez mais impossível a discriminação racial e a opressão social e que veja como riqueza a diferença e a acolha como complementação." (Leonardo Boff)
Como se sabe, eis que, todo 20 de novembro, comemoramos em nosso país o "Dia Nacional da Consciência Negra", data esta que lembra a luta do líder Zumbi, do Quilombo dos Palmares, um dos principais símbolos da resistência negra à escravidão, o qual foi assassinado em 1695.
Podemos dizer que o marco inicial dessa comemoração data do ano de 1971, quando ativistas do Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, chegaram à conclusão de que 20 de novembro teria sido a data de execução de Zumbi de modo que a estabeleceram como o Dia da Consciência Negra, sendo que, em 1978, foi incorporado pelo Movimento Negro Unificado (MNU) como uma celebração nacional.
Entretanto, foi somente no ano de 2002 que o estado do Rio de Janeiro, por meio da Lei Estadual n.º 4007, de 11 de novembro de 2002, tornou a data da morte de Zumbi um feriado regional. E, em 2003, por meio da Lei Federal nº 10.639, sancionada naquele ano, ficou estabelecida a data como parte do calendário escolar brasileiro.
Assim, além de lembrar da história de Zumbi, o Dia Nacional da Consciência Negra é marcado pela discussão sobre a situação sócio-econômica e política da população negra no estado do Rio de Janeiro e no Brasil. Também tem sido um momento muito bem utilizado pelo Movimento Negro para destacar a contribuição que os negros e as negras deram para a construção e o desenvolvimento desse país, algo que jamais pode ser esquecido pela História!
Todavia, a realidade racial do Brasil é muito cruel e merece uma atuação firme e eficaz dos poderes públicos. Isto porque os negros ainda são a maioria dentre dos pobres! Representam praticamente a metade da população, mas podemos considerá-los 2/3 dos 10% mais pobres. Ou seja, de cada 06 (seis) pessoas pobres, 04 (quatro) se autodeclaram pretas ou pardas.
Por sua vez, nas universidades, mais de 90% são brancos e a taxa de analfabetismo dos negros é muito superior a dos brancos. Isso sem nos esquecermos de que, dentre os jovens vitimizados pela preocupante violência, a maioria é negra. Aliás, somos um dos países com o maior número de morte de jovens (15 a 24 anos) por arma de fogo.
Se desejamos mudar essa triste realidade, precisamos lutar, simultaneamente, contra o preconceito racial e contra a discriminação racial. Pois, infelizmente, trazemos conosco ideias equivocadas já construídas em nossa mentalidade e afetos, em que, inconscientemente, já preconceituamos pessoas ou grupos por causa da raça/etnia, bem como a cor da pele. Por mais que a legislação do país proíba qualquer distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito anular ou destruir a igualdade de oportunidade e tratamento por causa da raça/etnia ou cor da pele, eis que não há norma jurídica capaz de tirar de nós os conceitos errados. Só mesmo a educação!
Por tudo isso, sou a favor de que, nas semanas em que recair o dia 20 de novembro, cada ente federativo dedique-se ao desenvolvimento de atividades acerca da situação dos negros e das negras em nossa sociedade, divulgando também a História e Cultura Afro-Brasileira. Ou seja, seria um oportuno momento de conscientização do necessário respeito que se deve ter à diversidade étnico/racial e ao combate ao racismo nas suas diferentes formas de manifestação.
Embora já esteja tramitando no Congresso Nacional o Projeto de Lei n.º 331/2007, de autoria do deputado cearense José Guimarães, o qual pretende instituir no âmbito da Administração Pública Federal a Semana da Consciência Negra, penso que tanto os vereadores e os deputados estaduais deveriam inspirar-se na sua iniciativa. Pois, com a aprovação de projetos assim, os órgãos públicos dos municípios e dos estados brasileiros terão a oportunidade de melhor contribuir com a promoção da igualdade racial no país, principalmente nas escolas, o que poderá fazer grande diferença no futuro dessa nação que é de todas as raças e etnias.
Portanto, fica aí a dica aos nossos legisladores e parabenizo o parlamentar do Ceará que, embora filiado a um partido diverso do meu, apresentou uma brilhante proposição na Câmara Federal, cuja justificação inspirou-me a escrever esse artigo.
Viva o dia Dia da Consciência Negra!
OBS: A ilustração acima refere-se a uma pintura do artista niteroiense Antônio Diogo da Silva Parreiras (1860 – 1937) dedicada a Zumbi dos Palmares, conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia.
Olá, Rodrigo!
ResponderExcluirUm texto bem feliz e incentivador. Parabéns!
Minha mãe dizia uma frase, k nunca esqueci: toda a gente é pessoa. A entendes?
Sei k os negros são discriminados, mas acho que entre eles, tb, há mta discriminação e isso não é uma atitude razoável.
Parabéns pelo k aí anda sendo feito a favor do respeito k qualquer ser humano nos merece.
Agora, vou mesmo deixar você.
Beijo e dias felizes.
Oi, CEU.
ResponderExcluirObrigado por sua leitura e comentários.
Acho que preconceitos e atitudes discriminatórias são próprias do ser humano, inclusive dentro do próprio grupo.
O Brasil possui uma população de afrodescendente bem expressiva, mas poucos ocupam cadeiras no Parlamento. E o mesmo ocorre com a população feminina também em que os homens costumam ter mais êxito nas eleições.
Mas o fato é que o dominador consegue estabelecer o seu modo de pensar e de ver o mundo sobre o dominado e daí a mudança de mentalidade requer tempo.
Bom descanso e uma excelente noite pra você.
Infelizmente ainda existe no mundo muito racismo. Tanto de brancos para negros como o inverso, não tenhamos ilusões. Acredito que um dia essa situação melhore mas não acredito que algum dia acabe
ResponderExcluir.
Deixo um abraço
Perto do que foi há 50 ou 60 anos, vejo que o problema do racismo melhorou muito. Um exemplo forte seria o Sul dos EUA é outro a África do Sul. Entretanto, a minoria racista ainda persiste. Há quem odeie Mandela e se recuse a comemorar o feeiado dedicado a Martin Luther King em seus respectivos países. Até aqui no Brasil, as cotas para estudantes negros nas universidades públicas causou forte oposição reativando um ódio racial há tempos adormecido.
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