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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Eu e a leitura




Gosto de literatura, mas confesso não conseguir devorar muitos livros em pouco tempo porque sou lento na minha cognição. Leio alguns e preciso do fator motivação para prosseguir. Se achar monótona a obra e faltar interesse pelo conteúdo, acabo deixando tudo de lado.

Curioso que, se eu ficar sem um livro para acompanhar, mesmo que numa velocidade a 20 km/h (o último com pouco mais de 500 páginas do primeiro volume Lira Neto sobre Getúlio Vargas levei de abril a outubro), sofro de uma espécie de crise de abstinência. Ou seja, como teria dito Moisés de que "nem só de pão vive o homem", sinto falta de um alimento para mente

Dentre os meus ancestrais, tenho notícias de que papai também gostava de ler, mas não me recordo do seu gosto porque faleceu cedo. Dizem que, tal como eu, interessava-se por História. Também sei que o seu livro de cabeceira era O Capital de Karl Marx, numa versão em espanhol adquirida secretamente num sebo porque o regime militar proibia edições "subversivas" no país. Porém, nem sei onde aquele velho exemplar mais antigo do que eu foi parar. E, se achasse, certaria não me animaria com a obra.

O livro que mais li até hoje foi a Bíblia. Nesta data mesma concluí a leitura do Pentateuco de Moisés que corresponde à Torá para os judeus. Trata-se de algo que executo em pequenas porções matutinas junto com minha esposa, mas que, às vezes, fazemos à tarde ou de noite, sendo que nem sempre Núbia se acha disposta para ouvir.

Além dos livros, recordo que li muitos gibis na época de criança, mais precisamente quando estava no 2º ano do primário e estudava no Colégio Stella Matutina, na cidade Juiz de Fora (MG). Vindo de outra escola menos exigente, não sabia ainda como elaborar uma composição na sala de aula em conjunto com outros colegas. Porém, quando a "tia" Emérita me ensinou como fazer, a jovem professora despertou em mim um lado criativo que até então desconhecia de modo que, em pouco tempo, passei a redigir minhas próprias historinhas em casa e também os meus quadrinhos, chegando a inventar uma cidade de macacos com quatro personagens principais inspirada na "Patópolis" do Walt Disney.

Quanto aos meus preferidos gibis, além das historinhas do Mickey e do Pato Donald, lia as do Maurício de Souza: Mônica, Cebolinha, Cascão, Magaly e Chico Bento. Assim que o vovô Sylvio me dava a pequena mesada, gastava todos os cruzados na banca do seu Pascoal. Ficava duro na mesma semana mas fazia a festa. Rapidamente engolia aquelas revistinhas e o vô logo me chamava a atenção para não ficar lendo tão de perto. Com isso, a família notou a necessidade de me levar ao oftalmologista e, já aos nove anos, passei a usar óculos permanentemente para corrigir a miopia.

No ano seguinte, quando fui estudar catecismo para fazer a primeira comunhão, a madre mandou que comprássemos os quatro evangelhos de Jesus. Seria apenas para consultar nas aulas de religião e fazer uns trabalhinhos em casa, porém passei a devorar em meu quarto todos os textos e não demorou muito estava já conhecendo outras narrativas bíblicas como o livro de Atos dos Apóstolos, Gênesis, uma parte de Êxodo, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Rute, Jonas, Ester e Daniel, além de Tobias. Só não tinha paciência naquela época era com os Salmos, a maioria dos profetas, as leis e as descrições do Pentateuco, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos e as epístolas. Mas, por incrível que pareça, tinha fixação no Apocalipse e nas doutrinas escatológicas, sendo que não demorei muito para virar um evangélico fanático aos catorze anos.

Na atualidade, percebo que as crianças andam lendo menos que no meu tempo. Apesar de muitas naquela época já passarem horas assistindo desenho animado no Xou da Xuxa, bem como jogando games no Atari, ainda não havia uma internet tão desenvolvida e acessível. Eu mesmo só conheci a rede mundial de computadores no ano de 1995 quando, aos dezenove anos, passei a usar as listas de e-mail da Unicamp e o MOO de algumas universidades públicas (uma realidade virtual muito usada pelos estudantes antes de inventarem a  navegação na web). Ainda assim, não desisti da literatura convencional...

Devo ter hoje uns cem livros aqui em casa e, se fosse indicar três autores, citaria os nomes de Augusto Cury para auto-ajuda, Philip Yancey para os interessados em assuntos cristãos, e Laurentino Gomes para quem curte aprender mais sobre a História do Brasil. Aliás, apaixonei-me pelas três obras dele que tratam, respectivamente, da vinda da família real para o país, da Independência e da Proclamação da República: 1808, 1822 e 1889.

A meu ver, os pais precisam habituar seus filhos à leitura. Não pela imposição, mas conquistando o coração da criança e apresentando-a a um mundo que, certamente, nem a internet e tão pouco os joguinhos eletrônicos conseguirão substituir. E aí, começar pelos gibis não deixa de ser um caminho para instigar a mente infanto-juvenil.

Viva a leitura!

4 comentários:

  1. Ler é fundamental, Rodrigo. Comecei a ler literatura e romances bem cedo ainda na adolescência. Eu não consigo passar um dia inteiro sem ler um livro, tiro pelo menos uma hora e meia no mínimo por dia para ler. E tenho lido pouco, poderia ler mais já que tenho um bom tempo disponível mas que é gasto com sapp, face e leituras de revistas. Os gibis estão um pouco de lado, apesar de comprar as coleções que estão saindo em capa dura de histórias antigas das Marvel e da DC. E tenho um defeito: leio 3, 4 livros ao mesmo tempo. Consigo fazer isso porque já estou acostumado, mas tenho tentado me limitar a dois de cada vez, sempre um sendo não ficção e outro de literatura.

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    1. Boa noite, Edu.

      Confesso ter lido poucos romances até hoje. Uma das obras desse estilo que li foi Marília de Dirceu do autor árcade Tomaz Antonio Gonzaga. Aliás, o que li mesmo foi A Barca dos Amantes do Antônio Barreto, o qual visitou a a escola na qual eu cursava o então 2º grau, no Instituto Granbery da Igreja Metodista, em Juiz de Fora. Como pode ver na resenha feita por Bruna Capozzoli,

      "O livro conta o lendário romance vivido entre Marília e Dirceu, mas por um olhar diferente, contado pelo próprio casal.
      Quando eles se conhecem, Dirceu é desembargador e faz parte de um grupo de patriotas. Eles vivem um lindo romance para ela, mas muitas mentiram para ele, que esconde da amanada todo seu passado, inclusive filhos que teve com outras moças.
      Eles ficam juntos ate quando o grupo de patriotas que Dirceu fazia parte é descoberto, pois planejaram a Inconfidência Mineira (...)" - http://simplesliteratura.blogspot.com.br/2013/11/a-barca-dos-amantes-antonio-barreto.html

      Faz muito tempo que não leio mais os gibis. Aliás, foi um ato que acabei perdendo no meio da adolescência e na minha época de alienação religiosa, a partir dos 14 anos. Chegava a imaginar o demônio agindo por trás de alguns personagens infantis... kkkkkkkkkkk

      Voltando aos livros, mesmo que fique um tempinho sem ler, passo a sentir falta depois. E não foi que ontem mesmo localizei uma obra perdida do Augusto Cury que havia presenteado Núbia antes de nos casarmos?! Iniciei a leitura ontem mesmo.

      Mas sobre ler de três a quatro livros simultaneamente, fica complicado. Até uns dois já não consigo. Aliás, só a atividade na internet atrapalha essa minha disciplina já que preciso conciliar também com as atividades laborais. Mas admiro a sua capacidade de fazer tudo isso. Quando era pré-adolescente, o meu terapeuta da fala, dr. Pedro Block, notável escritor de origem judaica, contou-me pra mim numa consulta que chegava a ler uns vinte livros por mês...

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  2. Foi também na adolescência que o gosto pela leitura me pegou e não me largou mais. Foi nessa fase inesquecível da vida que me deram na escola o primeiro apelido: "Cheira-cheira". Ainda hoje, tenho a mania de cheirar as páginas de livro enquanto o leio, especialmente os novos (ao contrário dos vinhos).

    Como diz a Psicologia, o que somos hoje devemos muito áquele tempo esfuziante das grandes descobertas (das mal-vistas vitórias e benditas frustações). Ou não, Eduardo?

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    1. Caro Levi,

      Também sempre gostei do cheirinho de livro novo. Mas, quando meu avô paterno contava que, no tempo dele, tratava-se de um bem caro e que era por sua família adquirido no sebo, tendo que passar querosene nas folhas, não sei se o aroma deveria ser tão agradável (rsrsrs)

      Sobre o que perguntou ao Eduardo, concordo quem as experiências ocorridas na adolescência contribuíram para nos moldar. Aliás, quanto mais jovens éramos, maior influência havia. A diferença é que antes da adolescência, as crianças costumam ler menos ou pegam coisas mais superficiais tipo os gibis.

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