Páginas

domingo, 2 de novembro de 2014

Estão todos vivos!




Por diversas razões, muitos de nós preferimos guardar somente as boas lembranças dos familiares, cônjuges e amigos que se foram, deixando de lado as recordações ruins. Criamos em nossa mente uma outra imagem da pessoa falecida, geralmente sem os seus defeitos, tornando-a mais agradável, acessível e melhorada. Em outras palavras, procedemos da maneira como gostaríamos de imortalizar o nosso saudoso ente querido.

Penso que, sob certo aspecto, tal comportamento seja bem proveitoso porque revela o desejo de perdoar existente nos nossos corações. Compreendemos que de nada adianta fixarmos nas coisas ruins carregando-as por toda a eternidade na memória. Logo, a melhor coisa a fazer é buscar uma reconciliação com o passado afim de que possamos prosseguir sem embaraços psíquicos. Porém, se algo ocorrido lá atrás ainda está incomodando, considero necessário o enfrentamento das situações desagradáveis dentro do nosso interior por meio de uma oração dirigida a Deus e/ou conversando com alguém capaz de ajudar. E tudo isto pode ser realizado com poderoso efeito apesar da pessoa que um dia nos feriu já não se encontrar mais presente no plano físico.

Mas pensando bem, meus amigos, eis que para Deus ninguém morre! O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos tessalonicenses, fala metaforicamente da morte como um sono, encorajando os seus leitores a não ficarem tristes:

"Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem." (1Ts 4:13-14; ARA)

Prosseguindo na leitura, Paulo complementa dizendo que, algum dia, no futuro, estaremos todos reunidos "para sempre com o Senhor" (verso 17). Por isso, os cristãos da cidade de Tessalônica deveriam se consolar mutuamente tendo por base a crença da ressurreição. Esta, quer a entendamos como sendo literal ou metafórica, é suficientemente poderosa para nos dar uma nova perspectiva e transmitir a esperança que precisamos ter diante dos fatos trágicos da vida que, materialmente falando, parecem irreversíveis.

Não sou contra a existência desse feriado de finados e nem condeno o fato de alguém ir costumeiramente a um cemitério. Manter viva a memória de um falecido, quer seja um ancestral da família ou uma liderança importante da comunidade, é certo que nos fará bem. Ainda mais quando se tratam de bons exemplos inspiradores de vida e que podem ser contados aos nossos filhos, netos e bisnetos. Entretanto, deve-se ter em mente que a visita ao túmulo nada mais é do que estar diante de um monumento que a nossa cultura ainda insiste em erguer junto com o depósito de corpos em decomposição, os quais são sem utilidade para a consciência já desencarnada.

Posso compartilhar que não me sinto interessado a frequentar cemitérios. Principalmente se for num dia tumultuado como é o feriado do dia 02/11! Não que o ambiente fúnebre me incomode, mas, sim, porque não necessito de um lugar específico para lembrar-me das boas recordações. E, sinceramente, prefiro hoje estar vivendo o presente do que estar preso a um passado que já foi, pois creio num Deus que faz novas todas as coisas. Um Deus que nos dá uma alma eterna e com Quem desejo viver para todo o sempre, tanto nesta vida como na outra.

Amados, creio que o ponto principal da mensagem bíblica é este: estar para sempre com o Senhor. E aí a ressurreição de Jesus nos trás uma significante imagem do que é entrar na dimensão da eternidade. Pois, tendo o Mestre se apresentado vivo aos seus discípulos, estes precisaram aprender que a vida não depende deste corpo perecível, o qual apenas serve de instrumento para a prática das coisas boas. Logo, quando chegou o momento da ascensão (quarenta dias depois do Senhor ressurgir), a "despedida" tornou-se um evento mais para jubiloso do que fúnebre em que os olhares dos apóstolos converteram-se na esperança da volta de Cristo:

"E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois verões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Este Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir." (At 1:10-11) 

Creio que esse deva ser o nosso pensamento em relação a todos os que dormem, isto é, de que ainda nos reencontraremos no dia determinado por Deus. E até lá devemos viver a nossa missão nesta Terra, cuidando uns dos outros, praticando o amor fraternal, crescendo na graça e no conhecimento do Senhor. Assim sendo, não cabe ao ser humano antecipar a sua partida deste mundo ou passar seus dias anestesiado diante dos fatos, porém procurar fazer de cada ocasião um momento significante capaz de dar sentido à sua existência, sabendo que o depósito de nossa alegria não se encontra no passageiro e sim no que é eterno. Portanto, voltemos sempre à Vida!

Um ótimo domingo a todos e desejo mais do que nunca um feliz feriado dos ressurretos.


OBS: A ilustração acima refere-se à obra do pintor renascentista Luca Signorelli (1445-1523), na Catedral de Orvieto, Itália, conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ressurrei%C3%A7%C3%A3o_de_Jesus#mediaviewer/File:Signorelli_Resurrection.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário