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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Quando nos sentimos constrangidos a praticar o bem...




As igrejas cristãs e a própria Bíblia ensinam que viver segundo a vontade de Deus, isto é, fazer o bem, torna-se fonte de uma alegria verdadeira, a qual passa a habitar permanentemente o nosso coração. Sem ficar perdendo tempo discutindo conceitos e doutrinas de homens, posso afirmar que a conduta benéfica integra o sentido existencial do ser humano sendo que, nela, encontramos plena realização.

No entanto, há que se ter sempre a devida cautela porque fazer o bem pode acabar se tornando um enorme peso em nossas costas, um fardo, além de podermos realizar algo pensando ser a coisa correta e esta não corresponder à verdadeira vontade divina. Então, constrangidos por uma moral religiosa, assumimos compromissos que muitas das vezes nos custam caro a ponto de prejudicarem as nossas finanças, nosso tempo livre de lazer, nosso conforto, nosso trabalho, nosso convívio harmonioso com a família, a nossa saúde e até mesmo a nossa própria vida.

Ora, mas essas perdas não seriam o preço a pagarmos pelas escolhas feitas quando deixamos para trás a zona de conforto?!

Pode ser que sim ou que não. Mas o certo é que, ao se deparar com as dificuldades enfrentadas, muitos são os que retrocedem na caminhada com Cristo, fato considerado normal devido ao grau de maturidade/aprendizado de cada um. Como Pedro, declaramos estar dispostos a morrer com Jesus (Mt 26:35), porém negamos seguir o Mestre instantes depois quando falhamos com as atitudes tomadas.

Pois bem. Será que, naquela ocasião da Ceia, Pedro falou coisas estando meramente constrangido por seus valores pessoais/morais sob o efeito das emoções? Não sabemos de tudo o que teria se passado em seu coração e o texto aberto do Evangelho permite o estabelecimento de inúmeras identificações com o discípulo lembrando-nos também da larga compreensão do Mestre acerca do comportamento humano cheio de falhas. Pois Jesus conhecia com profundidade o desenvolvimento espiritual de cada um de seus seguidores não tendo exigido que eles o acompanhassem naquela ocasião até o Calvário. Para o Senhor bastaria que os três mais chegados permanecessem ao seu lado enquanto estivesse orando em sua agonia no Getsêmani, apoio este que nenhum deles conseguiu dar:

"E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." (Mt 26:40-41; ARA) 

Confesso, meus amigos, que me sinto distante até da estatura ética do apóstolo Pedro porque, em minha caminhada cheia de tropeços, já cheguei a duvidar dos bons valores de Cristo a ponto de indagar-me se amar ao próximo teria sido um equívoco da religião. Foi então me sentindo aflito e triste nas escolhas feitas pelo bem que pude diagnosticar melhor as batidas do coração, o qual não estava repousando inteiramente nas coisas do Reino de Deus. Pois, no fundo, ainda me encontrava dividido e com o processo de crucificação do ego (da "carne") por concluir.

Mas será que essa transformação acaba quando nos convertemos e entregamos confessionalmente as nossas vidas a Jesus Cristo?!

Por acaso um cristão maduro não poderá sentir que está fazendo o bem mais por constrangimento tendo em vista que todos ainda preservamos a nossa natureza carnal até entrarmos totalmente na glória do Pai?!

E, se for assim, não estaríamos todos sujeitos a perder o foco da essência da vida cristã quando pensamos em cuidar dos próprios interesses?

Queridos leitores, digo que, em meio a toda essa luta, ainda prefiro continuar optando pelo bem mesmo quando deixo de sentir a minha realização existencial porque não quero correr atrás dos bens perecíveis deste mundo, os quais não passam de vento. Ilusórias são as coisas passageiras desta vida a exemplo das riquezas acumuladas, das emoções fortes de uma paixão lasciva sem um fundamento construtivo, da fama, das preocupações excessivas com aparência estética, da estima social, da hipócrita posição moral diante dos homens, etc. Logo, posso buscar a felicidade em todas essas crises porque, mesmo sem colher resultados imediatos quanto à escolha do Reino de Deus, sei que o amor fraternal é uma semente de eternidade.

Para uma maior tranquilidade espiritual, podemos contar sempre com a graça do Pai que foi manifesta em Cristo Jesus. Há quem diga que, durante a última Ceia, Pedro já teria recebido um perdão antecipado do Mestre pelas suas três negações na casa de Caifás e, da mesma maneira, podemos contar com as infinitas misericórdias do Senhor. São elas que nos amparam, sustentam, fortalecem e nos levam ao caminho do retorno quando nos afastamos da plana vereda dos retos. Por isso não cesso de bendizer essa graça salvadora e regeneradora! Aleluia!

Prezado leitor, se você, por algum motivo, sente-se arrependido pela escolha custosa do bem, reanime seu coração. Duvide se o que está fazendo seria de fato o correto conforme a vontade do Senhor, mas nunca descreia do fundamento espiritual da vida que é o amor. Se lhe faltam forças na caminhada, jamais desista. Descanse na graça do Pai, olhe para o alto, lembre-se de Jesus e siga em frente confiando que o Espírito Santo é quem nos fortalece.

Tenham todos um dia abençoado na companhia de Jesus!


OBS: Foto acima de autor desconhecido extraída de http://universodoespirito.blogspot.com.br/2014/05/como-entender-o-principio-da-caridade.html

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