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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

As tristezas e alegrias de cada um



"O coração conhece a sua própria amargura,
e da sua alegria não participará o estranho."
(Pv 14:10; ARA) 

Lendo o versículo bíblico acima durante esta semana, observei como que os sábios da Antiguidade não deixaram de refletir sobre o estado de humor do ser humano ao estudarem o comportamento das pessoas nas relações estabelecidas entre elas. Mesmo há uns três milênios atrás, sentimentos como a alegria e a tristeza também fizeram parte da temática do autor sagrado, o que se verifica não apenas no livro de Provérbios como na literatura dos Salmos, em Eclesiastes, no Cântico dos Cânticos e de um modo geral nas narrativas e ensinamentos das Escrituras.

É muito difícil entendermos o que se passa com o outro. Os próprios psicólogos e psiquiatras conhecem as limitações desse campo quando lidam diariamente com os pacientes nos seus consultórios. Eles sabem que há coisas da vida impossíveis de ser comunicadas verbalmente e nem sempre conseguem traçar um diagnóstico completo do indivíduo ainda que lhe atribua um CID. Ou então, mesmo quando percebem algo na vida da pessoa, precisam deixar que o paciente compreenda a si próprio.

De fato, há aspectos da vida da gente que são pessoais e particulares de modo que ninguém poderá fazer nada para resolvê-los por nós. Procurar terapia certamente pode ajudar em muito e acho que todo ser humano deveria ter acesso a esse serviço independente de estar doente porque muitos serão os benefícios do auto-conhecimento. E embora existam religiosos resistentes a se tratar com um psicólogo, preferindo recorrer exclusivamente à assistência de um ministro eclesiástico, ou às orações, jamais devemos nos esquecer das limitações de um padre ou pastor quando o problema exige o apoio de um profissional especialista, sendo certo que a cura divina também é alcançada pelo intermédio de um terapeuta independentemente de qual for a crença deste (ou se o médico for ateu).

Muitos falam ser a depressão o mal deste século, ideia que também compartilho, evitando, porém, uma abordagem isolada sem levar em conta o nosso contexto psicossocial: ambientes de trabalho prejudiciais, relações familiares neuróticas, agressões recebidas na infância, estilos de vida estressantes, valores errados que cultivamos, etc. A cada ano, milhões de pessoas enfermam tornando-se inaptas para fins laborais e até dependentes de pesados medicamentos controlados. Por isso concordo plenamente com o artigo Agenda política do século XXI e a depressão escrito por Fabio Feldmann no seu blogue em que o autor questionou a falta de debates acerca desse tema sobre saúde mental durante a campanha política desse ano. Pois mais do que nunca vamos precisar de políticas públicas eficientes que se mostrem capazes de tratar e de prevenir os transtornos psíquicos em nossa sociedade adoecida:

"(...) Como é sabido, estou coordenando a temática de sustentabilidade e meio ambiente da campanha de Aécio Neves. Quando tomei conhecimento sobre o suicídio de Robbin Williams me perguntei se este tema deveria ou não ser contemplado neste campo. Ou eventualmente no que tange à saúde. Pesquisei também os outros programas das outras candidaturas e me convenci de que há uma omissão clara em relação à matéria. A agenda de século XXI tem que tratar a depressão na complexidade que ela exige. A exemplo de outros temas complexos e contemporâneos, estou convicto de que o assunto merece uma atenção da Presidência da República. Por que? Em primeiro lugar, por exigir uma abordagem holística, assegurando com isso que não se torne matéria de domínio exclusivo de um ou dois ministérios. Além disso, é importante que se colete o mais amplo conjunto de informações sobre como o tema tem sido tratado pela ciência no mundo e no Brasil. E quais políticas públicas são mais eficazes para o diagnóstico, prevenção e tratamento da doença nas várias esferas da vida das pessoas (...)"

Outrossim, há que se considerar o sentimento de tristeza como algo normal e capaz de coexistir com a alegria. Trata-se muitas das vezes do estado de melancolia com o qual as gerações que nos antecederam até umas cinco ou seis décadas atrás parecem ter lidado com maior naturalidade. Pois da mesma maneira como a luz precisa da escuridão para revelar seu brilho, também não conheceríamos a alegria sem experimentarmos também um pouco da tristeza. E aí qualquer religioso que afirma jamais ficar triste porque diz seguir a Deus, certamente está negando o enfrentamento da realidade.

"Até no riso tem dor o coração,
e o fim da alegria é tristeza."
(Pv 14:13) 

Finalmente, há que se considerar a diferença entre alguém ser feliz e ter seus momentos passageiros de alegria. E, embora eu não tenha condições de caracterizar suficientemente a felicidade (talvez nem devamos tentar padronizá-la), pondero dizendo que a verdadeira satisfação pessoal não se encontra nas coisas materiais. É até provável que a realização de algumas atividades proporcionem alegria a ponto de se incentivar na atualidade as chamadas terapias ocupacionais. Porém, acredito que nos tornamos homens e mulheres realmente felizes quando passamos a produzir coisas de valor espiritual. Em outras palavras, seria quando ajuntamos os tesouros celestiais permanentes através da prática desinteressada do amor ao próximo. Pois como um dia ensinou o nosso Senhor Jesus Cristo, tratam-se de bens depositados onde a traça e a ferrugem não corroem e onde ladrões nem escavam e nem roubam (conf. Mateus 6:19-21).

Tenham todos um excelente final de semana com a paz, a graça e a alegria do nosso Deus!


OBS: Ilustração acima extraída de http://www.vitoria.es.gov.br/noticias/noticia-9866

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