Páginas

domingo, 16 de novembro de 2014

A desistência das contendas



"Como o abrir-se da represa,
assim é o começo da contenda;
desiste, pois, antes que haja rixas."
(Pv 17:14; ARA) 

A Bíblia sabiamente nos adverte para não nos metermos em rixas.

Como se sabe, muitas das vezes o conflito de interesses é inevitável. Porém, a diferença do insensato para o homem sábio está na maneira como este prefere lidar com a situação através de um comportamento manso, humilde e disposto a negociações pela via do diálogo.

No exercício da advocacia, aprendi ser ético não alimentar aquelas intermináveis brigas entre cônjuges, parentes e vizinhos, as quais muitas das vezes acabam sendo motivadas por sentimentos baixos como vingança, ódio, inveja e discordâncias sem um fundamento plausível. Isto é, são coisas que acabam virando meras picuinhas. E, se a guerra um dia termina, para tais pessoas é como se a vida perdesse todo o sentido já que elas projetam a felicidade que buscam sobre o desejo infantil de triunfar sobre o outro. Entre os casais, por exemplo, há quem tenha uma coleção de processos somando-se à ação de divórcio, diversos boletins de ocorrência policial sobre violência doméstica juntamente com a reparação por danos morais e o imoral envolvimento dos filhos menores nas confusões dos pais com aqueles constantes pedidos infundados acerca da guarda, dos valores do pensionamento, requerendo a revisão das visitas, etc.

É certo que não podemos sair generalizando todas as demandas entre pessoas físicas que chegam até às Varas de Família. Por um lado, considero até proveitoso que as partes tragam ao Estado as suas divergências do que partirem para soluções criminosas e agressivas entre elas mesmas. Afinal, a Justiça tem por objetivo pacificar a sociedade e, neste longo e difícil percurso, cabe ao magistrado tentar ensinar ao jurisdicionado como lidar com os seus conflitos que muitas das vezes podem estar em nós mesmos e não no adversário. Por isso, penso que o Judiciário precisa contar com uma colaboração maior de psicólogos em suas sessões e audiências já que nem sempre os juízes sabem como solucionar algumas questões íntimas do indivíduo.

Entretanto, o sábio Salomão propôs que os seus leitores desistissem das contendas antes de haver rixas. Ou seja, quanto mais rápido as pessoas renunciarem à briga, melhor será para o relacionamento que mantêm entre si. E isto muitas vezes se faz quando decidimos abrir mão de determinados direitos que acreditamos ter sobre o outro aceitando o prejuízo. Ou, em outras palavras, preferir "ser feliz do que ter razão", como diz uma conhecida música secular. Aliás, foi o que o apóstolo Paulo teria recomendado em sua primeira carta aos coríntios quanto ao fato de haver litígios entre os próprios irmãos na Igreja daquela antiga cidade grega:

"O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano? Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos!" (1ªCo 6:7-8)

Penso que tal ensino não significa que devamos procurar o que seja sempre pior para nós como verdadeiros trouxas, mas entendo que, na busca da pacificação de conflitos, as partes precisarão ceder em algum ponto. Se o proprietário de um apartamento pretende o despejo do inquilino inadimplente e também a cobrança dos alugueis em atraso, em muitos casos é melhor negociar a desocupação do imóvel para poder colocá-lo novamente para uma outra locação. É o que muita gente faz, às vezes dentro do próprio escritório do corretor, sem precisar ingressar com ação judicial. Só que o mesmo não costuma acontecer quando as pessoas se sentem iradas e ofendidas.

Acredito, meus leitores, que a solução encontra-se no exercício da longanimidade e no controle da ira como nos ensina outro verso das Escrituras Sagradas (conf. Pv 15:18). O uso da brandura nas palavras ao invés de respondermos com agressividade, bem como a recusa em tomar atitudes irrefletidas, podem ajudar no trato do problema. E aí mais do que nunca precisa entrar a compreensão de que o outro também passa por dificuldades e muitas das vezes age por imaturidade pessoal. Então, quando damos a outra face esperando receber mais um bofetão, podemos ser surpreendidos com uma inesperada atitude amorosa.

Para um homem espiritualmente maduro haverá sempre outros valores em jogo além dos bens materiais e da satisfação de suas próprias razões. Os conflitos devem ser encarados como uma oportunidade para aprender, praticar o amor e fazer o bem a um semelhante, sendo certo que há propósito divino em tudo que acontece no nosso permanente caminhar. Por isso, precisamos refletir sempre diante das situações que se apresentam pedindo a Deus sabedoria para lidar com cada uma delas.

Tenham todos uma semana abençoada!


OBS: Ilustração acima extraída de http://estadosentido.blogs.sapo.pt/bandeira-branca-na-praia-eleitoral-3307313

Nenhum comentário:

Postar um comentário