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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Deus de Spinoza

Baseado num e-mail que um amigo me enviou recentemente, gostaria de compartilhar aqui a experiência relacional com Deus do filósofo Baruch Spinoza, nascido em 1632 em Amsterdã e falecido em Haia nod ia 21 de fevereiro de 1677.

Spinoza foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Déscartes e Gottfried Leibniz. Ele era de família judaica, sendo considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

As palavras a seguir compartilhadas foram elaboradas em pleno século XVII por aquela mente brilhante que o Criador nos brindou, sendo que eu concordo com muita coisa exposta por Spinoza. Pois, mesmo sendo um leitor habitual da Bíblia e encontrando sentido em me congregar em templos (ou casas) com outras pessoas, bem como louvar o Eterno e orar, reconheço que também é possível experimentar Deus de uma outra maneira. E considero também que muitas das vezes a atividade religiosa nos afasta de uma relação sincera com Deus quando nos tornamos seres alienados dentro de práticas rotineiras e de uma moral imposta.

Portanto, vale a pena apreciarmos o que Spinoza escreveu com discernimento e absorvendo as coisas boas, pois estas palavras podem contribuir bastante para o desenvolvimento da nossa espiritualidade.


DEUS SEGUNDO SPINOZA

(Deus falando com você)


“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, que cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o Paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único de que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um Céu ou um Inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.

Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza de que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste...

Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido? Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.

Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.



OBS 1: O grande cientista do século XX Albert Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: "Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens".

OBS 2: A ilustração acima trata-se de uma gravura do filósofo Spinoza sob o título em latim que significa "Um judeu e um ateu". Foi obtida através de uma imagem da Wikipédia que, por sua vez, colheu o material dos arquivo da Biblioteca de Nova York: http://en.wikipedia.org/wiki/Baruch_Spinoza

19 comentários:

  1. Grande Rodrigo! Obrigado pelo "amigo"! Mas deixe-me lhe dizer que Spinoza era Português. O pai ou a mãe é que eram de tradição religiosa Esraelita (não gosto do epíteto "Judeu", pq Judeu é quem nasce na Judéia). Mas foi educado como "Cristão". Fugiu com a família para a Holanda função da perseguição às suas idéias revolucionárias. Lá morava numa aldeia idílica onde quase todo mundo falava Português. Suas idéias foram expostas em Português.

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  2. " O grande cientista do século XX Albert Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: "Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens".


    Eu acredito no Deus de milhares de pessoas e que também É em mim e em toda a natureza. Acredito no Deus que é PAI e que se interessa por tudo que me diz respeito porque me ama.

    Beijo.

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  3. Caro Nirava,

    Realmente Spinoza era de origem portuguesa também. Mas a sua liberdade de comrpeender a realidade é típica da formação de muitos pensadores judeus, os quais cresceram em meios que, na verdade, eram mais abertos a ideias diferentes do que em instituições cristãs.

    Sua crítica, amigo, é útil para todas as religiões. E a síntese que faço é que as práticas de oração, louvor, adoração, reunião em locais precisam ser sempre revistas, recicladas e baseadas numa espontaneidade, não em atos mecânicos.

    Abraços.

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  4. Caro Rodrigo, você deve se lembrar de quando eu afirmei ser ateu por não acreditar no deus cultural de Israel. Fiz questão do "deus cultural" porque é o único que conhecemos. Interpretações contemporâneas não contam. Não digo com isso que me identifico com outra possibilidade compreensível do assunto. Não utilizo a palavra "Deus" como um substituto da minha própria ignorância, como comumente se faz. Se faz por hábito ou por algo que está em cada um de nós e, no meu entendimento, não precisa de nome e nem de nada. Apenas pode funcionar como a espécie de um temerário catalizador social. Todas as tentativas normatizadoras foram catastróficas.

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  5. Também estou de acordo contigo, Guiomar.

    As críticas desses pensadores, por mais consideráveis que sejam em muitos de seus aspectos, também se tornam limitadoras da experimentação de Deus, reduzindo o Criador a um conceito ou a alguém distante que não interage mais conosco depois de ter concluído toda a Sua grande obra como Arquiteto do Universo.

    A experiência religiosa, por mais que possa parecer alienante aos olhos de alguns, não deixa de ser um meio de expressão e de relacionamento. Algo que, embora também limitado, pode nos levar a crescer e de um modo diferente daqueles que curtem Deus fora de uma igreja, gozando a vida.

    Recordo que, nos anos em que havia deixado de me congregar em igrejas e adotado um estilo de vida considerado "mundano", senti-me próximo de Deus nas minhas caminhadas, andando pelas belíssismas paisagens de Nova Friburgo e região. E, subindo montanhas, descendo em vales, passando por florestas e mergulhando em rios, o Criador foi falando ao meu coração, levando-me a repensar muitas de minhas condutas erradas.

    Sobre o que Spinoza diz a respeito de pedir perdão, entendo que é outra coisa importante para ser desconstruída. Como judeu, ele sabia muito bem o que era o Teshuvá (o retorno ao caminho certo), bem como o significado de Torá. E, neste sentido, entendo que o pedir perdão não deve ser sempre aquele drama no entido de ser uma penitência católica ou as reações que assisti em diversas igrejas nos dias de Ceia. Pra mim, é reconhecer o erro, compreender que certas atitudes e estilos de comportamento não estão sendo compatíveis com o caminho da vida e me endireitar. Aì recebo graça suficiente todos os dias do meu Criador para encarar meus erros e falhas sem culpas.

    É o que penso.

    Valeu!

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  6. Prezado Ivani,

    Como escreveu o meu amigo quando me enviou o email falando sobre o pensamento de Spinoza (ele também se considera um ateu), o pensamento do filósofo seria uma paulada "na metafísica tacanha, em particular a ocidental dominante". E, numa resposta ao que eu lhe havia dito, ele ainda acrescentou:

    "Acho que ele 'começa' a 'cacetada' na metafísica e Nietzche termina".

    Sobre o "deus cultural", eu diria que a cosmovisão de qualquer povo, inclusive dos israelitas e dos autores da Bíblia, é capaz de causar distorsões na experimentação que se busca do Divino. Acerca disto, compreendo a sua crítica e também a de Einstein.

    Mas o que vale a pena, meu amigo, é vivermos plenamente esta vida que o Criador nos deu. Andarmos por aí sem culpas, honestos com nossa própria consciência, apreciando as coisas boas, não nos deixando absorver pelas tritezas e acontecimentos ruins, sermos sempre gratos e admirarmos o belo. O restyo (as coisas da religião), se não encontrar sentido dentro daquilo que aprendemos, é melhor nem fazer parte.

    Obrigado aí pela participação!

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  7. Rodrigo, li esse texto (que eu não conhecia) no blog do Kadu Santoro. Ele cairia muito bem lá na nossa confraria.

    Assino em baixo de tudo o que o fenomenal Spinoza escreveu.

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  8. Pois é, Edu. Pensei em postá-lo lá na Confraria Teológica Logos e Mythos, mas eu já tinha publicad o meu texto lá. Então, fica pra outra oportunidade, a não ser se outro colaborador o coloque na sua respectiva vez.

    Abração!

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  9. Rodrigão

    Este não é só o Deus de Spinoza. É o Deus de todos nós hereges. (rsrs)

    E por falar em Spinoza. Tenho aqui, dele, um livro de cabeceira, que estou sempre consultando: É o "Tratado Teológico Político" - volumoso compêndio, tido como a maior obra do desse fenomenal filósofo.

    Acho que você já deve ter lido essa imperdível obra.

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  10. Fala, Levi!

    Taí uma boa dica de leitura que certamente me interessa.

    Ainda não li este livro de Spinoza e não posso disperdiçar esta outra opção de pesquisa pessoa.

    Valeu!

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  11. Nobre Doutor Relacional, creio que irei autenticar em cartório a pecha que lhe atribui devido aos seus desvios doutrinários pelos quais eu também fui seduzido!rs

    O Mago Levi acertou em cheia "Este não é só o Deus de Spinoza. É o Deus de todos nós hereges".

    Versos relacionais do herege Salomão:

    Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe, com bom coração, o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras.

    Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de vida da tua vaidade, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade: porque esta é a tua porção nesta vida, e do teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol.

    Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque, na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma.

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  12. Pois é Franklin, meu brother. POde autenticar no Cartório para proteger seus direitos autorais... (rsrsrs)

    Por pouco não excluíram Eclesiastes da Bíblia. E por que será que este maravilhoso livro incomodou (e ainda incomoda) tanto os religiosos?

    Não tenho dúvidas de que Spinoza bebeu nesta mesmo fonte! E tenho a forte suspeita de que Coélet, o autor de Eclesiastes, também foi um judeu herege nos seus dias. E não foi por menos que ele deve ter se identificado com o rei Salomão ao refletir sobre a vida.

    Abração!

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