Páginas

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Deve a igreja virar coisa descartada?

Sou um crítico da religião. Isto não nego. Mas eu não diria que o trabalho das igrejas, em sua totalidade, seja um "placebo", pois vejo grande utilidade em diversas atividades que os cristãos fazem. Penso que, se não fosse a formação religiosa de muita gente, teríamos talvez um número maior de jovens viciados em crack no nosso país.

E não é só isto!

Você já parou para pensar em quantos matrimônios não foram recuperados pelo excelente ministério Casados para sempre? Pois, mesmo com suas limitações, vejo bastante coisa positiva sendo feita.

Ora, mas que as igrejas são passíveis de críticas, não tenho dúvidas. Se o discurso dos padres e pastores já está ficando obsoleto, também concordo. Tanto é que minhas posições têm sido não apenas para que haja uma reforma na igreja, mas sim a construção de um novo modelo de ação que, ressignificando tradições, trabalhe os valores da cosmoética, promova a educação de adultos, leve esclarecimentos em várias áreas, etc.

Ontem mesmo eu estava conversando com uma de minhas tias (a irmã da mamãe), a qual contou-me ter deixado a Igreja Bethesda para congregar-se numa Presbiteriana tradicional lá em Copacabana por não concordar com o fato de estarem "mudando a doutrina", tipo trazendo gente de outras religiões para pregar lá e "aceitando homossexuais. "Até espíritas e muçulmanos teriam ido dar mensagens lá", comentou ela.

Resolvi, então, confrontá-la dizendo mais ou menos assim:

"Tia, o importante de tudo é o amor. Não é o fato de uma igreja ser mais tradicional ou outra moderninha que ela se tornará a congregação ideal já que todos os ministérios são falhos. Conheço quase nada do trabalho da Betesda para dizer algo bom ou ruim sobre eles. Porém, entendo que a missão cristã é justamente a de acolher pessoas de tudo quanto for tipo, com seus defeitos e problemas, e dialogar com as outras religiões na construção do Reino de Deus, o que não significa necessariamente aderir a um completo ecumenismo."

Prossegui defendendo que a atuação de uma igreja precisa ser multifocal. Pois não é só adoração e estudo da Bíblia que satisfaz! As pessoas precisam falar de cidadania, saúde física e mental, problemas da comunidade, promover ações sociais em áreas carentes e cuidarem dos pobres que fazem parte da própria congregação através de uma assistência verdadeira. E estas coisas, no meu ponto de vista, são tão importantes e necessárias quanto ler a Bíblia e orar.

Enfim, se o placebo eclesiástico tá fraco, que venhamos com o remédio ou com o tratamento certo, para que seja despertada a consciência das pessoas. E, antes de pensarmos que a religião vai impedir mudanças, acredito ser mais sábio dialogar primeiro do que sairmos atacando todas elas.

Atualmente, assim como Ricardo Gondim, Caio Fábio e outros pensadores, não me identifico mais com o movimento que se diz evangélico e nem sou católico. Porém, mesmo assim continuo disposto a dialogar com todos os grupos dos quais fiz parte e com as demais religiões, afim de convocar a todos para que participem da construção do Reino de Deus.

Abraços e tenham todos uma excelente semana.


OBS: A foto acima refere-se à igreja Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, situada na Praça Edmundo Rego, Grajaú, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ou seja, trata-se do logradouro onde eu moro.

7 comentários:

  1. O "seguir uma doutrina" que sua tia enfatiza, é o grande nó (indesatável) que observamos nas instituições religiosas.

    As pessoas de um modo geral estão acostumadas às normas e regras fixas, e têm pavor à mudanças. Elas preferem se tornar estátuas de sal, como a "Mulher de Ló" ,a ter que enfrentar o desafio de caminhar e olhar para frente, a ter que mudar ou repensar conceitos retrógrados, e romper com estruturas arcaicas que mais atrapalham que ajudam.

    As doutrinas para elas são amuletos que as protegem dos seus medos e recalques.
    O crente prefere a "segurança" de viver eternamente como crianças, a ter que amadurecer ou mergulhar no abismo de si mesmo, para se conhecer melhor.

    ResponderExcluir
  2. Caro Levi,

    Eu diria que existe uma insegurança quando nos deparamos com mudanças.

    Nas igrejas evangélicas, principalmente as mais tradicionais como os batistas e presbiterianos, aprende-se uma sólida doutrina com base na Bíblia. Aliás, o próprio estudo bíblico é bem mais consistente do que no catolicismo e nas denominações neopentecostais que só querem o dinheiro das pessoas.

    Entretanto, o evengélico tradicional faz do texto da Bíblia a sua segurança. Mesmo que seja impossível construir uma doutrina idêntica à Bíblia, já que o conteúdo das Sagradas Escrituras é inegavelmente ambíguo, aquilo que se afasta de um padrão acaba sendo colocado em dúvida pela mente da pessoa.

    Porém, este nosso valoroso irmão e que muito contribuiu para o esclarecimento das pessoas, passou a ser acusado no meio evangélico de aceitar o espiritismo, acreditar em indícios da reencarnação e se considerar um médium, além da suas polêmica posição quanto aos homossexuais.

    No caso desta minha tia, ela frequentou a Igreja Presbiteriana Bethesda do Pr. Nehemias Marien por um bom período de sua vida aqui no Rio até a segunda metade da década passada. Entretanto, eu compreendo a posição de seu ex-pastor que assim se posicionou numa entrevista, considerando a si mesmo "uma espécie de espinho de peixe na garganta da minha própria igreja":

    "Minha igreja é uma betel, Vamos dizer, uma palavra hebraica, todo lugar, onde o ser humano está presente em Deus, o eterno, na imensurável transcendência. Eu tenho até constrangimento de dizer em que igreja, porque minha igreja é você, estarmos, juntos, a eclésia no pensamento de Jesus, lá na Cesaréia, quando pela primeira vez disse "eu vou edificar a Igreja". É isso ai, é a vida, é o trabalho, é família, caminhada, Quando as pessoas estão juntas, mesmo que não pensem da mesma maneira é uma igreja, é uma comunidade holística. Agora, sou de formação Calvinista, sou pastor presbiteriano, lá em Copacabana, já há 43 anos, sem sair da igreja. Meus pais eram missionários lá em Mato Grosso, onde eu nasci, morei na Inglaterra, um período na França e estou no Rio de Janeiro há 26 anos, pastoreado a Igreja Presbiteriana Bethesda." (extraído de http://www.espirito.org.br/portal/artigos/ffarias/nehemias-marien.html )

    Indagado sobre a reencarnação, ele corajosamente respondeu:

    "Até o ano de 546, no Concílio de Calcedônia, o Espiritismo fazia parte dos cânones da Igreja. Depois, por discussões mais administrativas e menos teológica, foi banido do cânone oficial e hoje a doutrina espírita, para a maioria dos pressupostos evangélicos, porque assim, numa confusão chamar de evangélicos só os crentes entre aspas, né? Evangélico é quem anuncia a Boa Nova. Então, eu sou professor de Teologia Bíblica e de Ciências Bíblicas. É meu livro de cabeceira. No estudo da Bíblia, as evidências da reencarnação são assim clauburosas e eu acho que o Espiritismo é a mais caudalosa vertente do Cristianismo, pelas idéias. Você encontra, tanto no Antigo como no Novo Testamento, evidências claras da reencarnação, isto é, do prosseguir da vida. Tanto Pedro, o pressuposto grande apóstolo Pedro, fala na sua segunda encíclica, no final da Bíblia, fala sobre a existência do espírito após a morte e nesta evolução do ser humano. E também São Judas, o apóstolo de Cristo, na sua epístola final, também fala sobre o mesmo tema. Então, sou uma pessoa estudiosa, aberta. Eu não tenho muros de espécie alguma. Eu tenho uma visão holística e aprendo muito com meus amados irmãos espíritas. Eu tenho um livro Transcendência e Espiritualidade, onde abordo mais diretamente o assunto. Estou crescendo assim, nesta área e num certo diálogo."

    ResponderExcluir
  3. Penso que estamos todos em evolução. Nossa consciência ainda está se abrindo para uma relação mais universalista, sincera e pesquisadora. Quando o pastor Nehemias faleceu, Caio Fábio assim se lamentou em janeiro de 2007:


    "Depois, já em 1980, Nehemias me convidou para trabalhar com ele. Naquele tempo eu pastoreava em Manaus. Três dias depois do convite dele fui visitado por uma manifestação de revelação divina, através de um irmão, em São Paulo, e que me descreveu fisicamente o Nehemias, reproduziu literalmente as suas palavras para mim — e concluiu com a seguinte palavra: “É pro irmão não ir. O caminho dele não é o seu”. E eu não fui. Eu não estava procurando nada; e o tal homem não sabia de coisa alguma. Veio assim, do nada... No curso dos anos, Deus sabe que falo a verdade, lamentei muito, muita coisa desnecessária que eu via se manifestar na vida do Rev. Nehemias — coisas como: seu compromisso obsessivo com relação ao tal Ecumenismo Universal; sua constante tentativa de chocar as pessoas com aparições junto a “pais e mães de santos”, em comunhão espiritual; ou celebrar a Ceia do Senhor sobre a camisa do Flamengo, a fim de fazer forte impressão para a mídia; ou suas idas por décadas aos encontros de Nova Era; ou sua tentativa de justificar a prostituição evocando os costumes gregos das prostitutas cultuais; ou a realização de casamentos gays com nítida decisão de usar a mídia para divulgar o “choque”; e várias outras coisas; Deus sabe (...) No amor de Deus verei ao Nehemias na Casa do Pai, sem mais os traumas que tanto o influenciaram; sem mais o trauma da religião que não o acolheu em suas idéias; sem sua fixação sacerdotal religiosa; sem sua obsessão pelo ecumenismo religioso; e sem necessidade de chocar o mundo com nada — mas, agora, na Casa do Pai, totalmente livre de tudo, encontrá-lo-ei mergulhado em plenitude de entendimento. Tudo o que eu gostaria pessoalmente de ter visto na vida dele era aquele vigor obsessivo na promoção da causa ecumênico-religiosa, ter sido todo ele canalizado para o anuncio amoroso do Evangelho. Mas isto é minha opinião; jamais meu juízo. Prova disso é que sei que o verei na Casa do Pai, no amor de Deus, na Plenitude da Graça, nas alturas mais elevadas da compreensão, e na assembléia dos justificados pelo Sangue do Cordeiro; pois, se eu, sendo um verme, sei separar uma coisa da outra, por que, então, Aquele que é Pai e é amor não faria infinitamente mais?" (http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=03068)


    Não vou nem entrar no mérito se o Caio Fábio ainda teve ou tem medo de enfrentar seus medos e recalques, pois eu não seguiria um ecumenismo tão acentuado do Pr. Nehemias e prefiro ficar só no nível do diálogo entre religiões. Porém espero que quando encontrar Nehemias na "Casa do Pai", estejamos todos livres dos traumas, fixações, obsessões ou necessidades de chocar o mundo.

    Minha tia deve ter tido talvez mais razões do que a doutrina por não ter permanecido congregando-se na Bethesda e procurado uma presbiteriana mais tradicional que é a igreja da Rua Barata Ribeiro, também em Copacabana. Lá, por exemplo, ela tem estado bem envolvida com a comunidade, ouve pregações baseadas na graça de Deus e ajuda a cuidar de crianças numa creche que fica no prédio anexo ao templo. Enfim, não a critico por ter feito este caminho. Ela procurou algo que se adequa à sua consciência e talvez possa estar até mais satisfeita com o convívio das pessoas.

    ResponderExcluir
  4. Karaka Rodrigão, onde é essa Bethesda que eu vou me tornar membro dela! Tudo a ver com o Recanto dos Hereges! Sugestão para todos nós congregarmos juntos lá e fazermos a maior zona espiritual! rsrsrs

    Agora é sério, também creio que a igreja tem sua importância no papel social, eu mesmo sou produto de sua ação resgatadora (sou ex tudo, de bandido & viciado a problemático familiar para não entrar em detalhes), mas isso não me dá o direito de ser omisso quanto aos seus desvios fazendo a política da boa vizinhança.

    ResponderExcluir
  5. Fala, Franklin!

    Você não se lembra do Pr. Nehemias?!

    Confesso que sei muito pouco sobre a Betesda. Apenas fui lá uma única vez no comecinho dos anos 90, quando o Pr. Nehemias ainda era vivo e lembro também do Pr. Jonas que participava de programa de debates bem interessante na TVE e que ía ao ar no horário da tarde.

    O Pr. Nehemias sempre foi envolvido com a questão do ecumenismo. Era um homem de mente muito aberta e que sempre se diferenciava da maioria dos evangélicos.

    Aí em SP, parece que existe uma congregação da Betesda e ligada ao Pr. Ricardo Gondim:

    http://betesda.com.br/

    Atualmente, quem mais tem sido atacado por divulgar um evangelho aberto e chamado de "herege" tem sido o Gondim.

    No meu ponto de vista, precisamos ser sempre abertos ao diálogo. Mesmo com as igrejas evangélicas das quais fizemos parte. Todos estamos em evolução, em movimento, e aí, quando menos esperamos, ficamos surpresos com a visão pra frente de um irmão que até aí considerávamos como sendo pessoa retrógrada. E também ficamos surpresos com os retrocessos dos que imaginamos ser pessoas pra frente já que a evolução me parece ser dialética com suas idas e vindas.

    Acho que fazer política de boa vizinhança só pra ficar bem na fita é não ter propósito. Isto a mídia costuma fazer bajulando todas as religiões como caminhos que levam a Deus. Eu, contudo, prefiro trilhar o caminho da espiritualidade, daquilo que entendo como vida em Cristo, procurando dialogar com todos em função do Reino e, desta maneira, acredito que vou evangelizando. Este sim é meu propósito!

    Nem ecumenista compulsivo e nem maníaco por apologética... (rsrsrs)

    Abração!

    ResponderExcluir
  6. A do Gondim eu conheço, do Nehemias é novidade pra mim.

    Com certeza, ecumenismo por pura politica de boa vizinhança é sujeira da grossa!

    ResponderExcluir
  7. Exato! Pois em tal caso seria concordar com todas as manipulações religiosas, com o fato de pessoas estarem sendo enganadas, exploradas, bloqueadas para pensar, reprimidas e até mesmo desumanizadas.

    Afinal como fazer política de boa vizinhança em situações em que a religião manda um terrorista colocar bombas no seu próprio corpo para matar pessoas dentro de um prédio ou numa estação de trem?

    Iremos nos calar diante de fatos históricos como as cruzadas, a Inquisição, as guerras religiosas francesas, a revolta chinesa de Taiping, a violência cometida pelo exército japonês na primeira metade do século XX com o apoio do zen-budismo e mais recentemente o atentado de 11 de setembro?

    Tenho pra mim que o correto a ser feito seria despertar o lado espiritual nas pessoas a serviço do bem independentemente das tradições ou formação que elas têm. Do contrário, o diálogo com as religiões torna-se inútil e sem um propósito a ser realizado.

    No caso do Pr. Nehemias, por mais que ele tenha talvez cometido exageros, penso que valeu a pena o seu ministério. Sem dúvida que ele contribuiu para desmistificar muita coisa do meio evangélico e conseguiu aproximar do Evangelho bastante gente de outras religiões. E aí, se o ministério do nosso mano Caio Fábio não é este, conforme teria-lhe dito o tal homem de Deus, logicamente que ele deve deixar outros tratarem da questão ecumênica. Mas de qualquer modo, entendo que o movimento Caminho da Graça ainda carece de desenvolver mais contatos com outros segmentos religiosos.

    Abraços.

    ResponderExcluir