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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Estão destruindo a natureza no litoral sul fluminense!

Durante as férias que passei em Mangaratiba (mais precisamente em Muriqui), entre o final de dezembro e o começo de janeiro, pude constatar a supressão da vegetação nativa por causa da insaciável expansão imobiliária.

Desde criança, eu já frequentava Muriqui passando temporadas de verão na casa de minha avó paterna na Rua Primeiro de Maio. Nosso meio de transporte eram os ônibus paradores da viação Eval hoje conhecida como Costa Verde. A viagem durava mais de duas horas e o motorista, depois de deixar Santa Cruz, entrava em Itaguaí, em seguida na vila de Itacuruçá e, finalmente, em Muriqui, quando então desembarcávamos e o coletivo continuava o itinerário até a sede do município.

Lembro que, naqueles anos de minha infância, os morros da Rio-Santos (BR-101) eram todos plantados por extensos bananais. E, na Baixada Fluminense, havia uma maior produção agrícola que dava aos sertões do Rio de Janeiro um cenário ainda rural. E, por sua vez, Muriqui era bem menor em termos de edificações, sendo que a maioria de suas ruas nem estavam pavimentadas (cheguei a pegar a Primeiro de Maio ainda de terra). Isto sem falar nos constantes apagões elétricos que ocorriam na localidade.

Desta vez, pude observar Muriqui por vários ângulos durante as minhas caminhadas feitas pelo município de Mangaratiba. Além da vista panorâmica que se tem ainda na rodovia e logo na entrada da vila do distrito, pude subir até um ponto bem alto situado numa serra, próximo a uma trilha que segue para um lugarejo rural chamado Rubião. Dali, numa altitude superior aos 500 metros, observei o quanto Muriqui expandiu-se. Tanto para os lados, avançando sobre a Serra do Mar e sobre a Mata Atlântica, quanto para cima, através de edifícios com três andares ou mais, provocando a poluição visual. Isto sem contar que até no outro lado da Rio-Santos e na estrada velha que vai pra Itacuruçá já existem construções.

Numa quinta-feira (05/01), caminhei de Muriqui até Coroa Grande, tendo antes entrado em Itacuruçá e passado pela estrada velha. Ali, ainda no início dos anos 90, eu costumava descer de bicicleta, beneficiando-me do baixíssimo tráfego de veículos automotores e da belíssima paisagem do litoral. Porém, desta vez, boa parte do trajeto já estava tomado por casas, ocupando terrenos até íngremes e limitando a vista da baía de Sepetiba.

Chegando a Itacuruçá naquele dia, tive outra surpresa desagradável. Depois de um clube de iatistas, deparei-me com um enorme empreendimento imobiliário restringindo o acesso de pessoas à praia. Uma linda área que deveria ser de manguezais está sendo ocupada por casas e apartamentos de veraneio, unidades habitacionais que passam a maior parte do ano vazias impermeabilizando o solo. E o nome de uma das empresas que está investindo ali é a tradicional construtora João Fortes Engenharia em que um de seus proprietários já foi deputado e ministro...

Terminei aquela caminhada andando pela linha do trem indo de Itacuruçá até Coroa Grande, lugar pertencente ao município de Itaguaí. Percorri um pequeno trecho de manguezal que separam as duas localidades, concluindo que se trata de mais uma área ameaçada pela ganância humana. Inclusive porque novos loteamentos estão surgindo em Coroa Grande, o que parece ter total apoio da Prefeitura de Itaguaí.

Descansando em Coroa Grande, pude ver o estrago que está sendo feito na Ilha da Madeira por causa dos empreendimentos do Sr. Eike Batista para a construção de um grande projeto portuário. Propriedades que antes valiam cerca de R$ 50.000,00 foram compradas por milhões pelo poderoso bilionário. E, com isto, tanto a vegetação quanto a topografia da ilha vêm sendo irreversivelmente destruídas.

Lamentavelmente, nem as autoridades municipais de Mangaratiba e nem as de Itaguaí estão cuidando adequadamente do meio ambiente. Na prática, os prefeitos agem como aliados da especulação imobiliária. Não só porque muitas vezes eles pretendem aumentar a arrecadação do IPTU mas também porque, como bem sabemos, sempre existem pessoas próximas da Administração Pública com grandes interesses econômicos em vista. Isto quando elas mesmas não estão lá dentro da máquina governamental beneficiando-se duplamente com os cargos de confiança.

Durante a caminhada que fiz na região serrana de Mangaratiba, em 04/01, encontrei uns homens a serviço da PETROBRÁS construindo ou fazendo a manutenção do trajeto dos dutos que vão de Angra dos Reis até Duque de Caxias. Ora, tal investimento certamente deve ter mobilizado prefeituras, ONGs e maus políticos que adotam falsamente o discurso ambientalista afim de arrancarem compensações financeiras dos empreendedores.

Nestas horas, é evidente que qualquer prefeito finge estar preocupado com a natureza como se fosse um ecologista. Não que ele queira realmente proteger o meio ambiente, mas sim tirar o máximo de vantagens financeiras afim de investir o dinheiro do empreendedor em coisas que nada têm a ver com a reparação ambiental. E, nestas ocasiões, a grana vai mesmo é pra pagar obras com super faturamento ou que tragam um retorno eleitoral nos anos pares.

Confesso que assistir a tudo isso é muito entristecedor. Pois eu gostaria que uma região tão bonita fosse melhor preservada para as gerações do presente e do futuro.

Todas as matas do litoral sul fluminense e do norte paulista não foram recuperadas à toa pelos governos militares de Ernesto Geisel e de João Batista Figueiredo. Acompanhando o projeto megalomaníaco de construir uma usina atômica em Angra dos Reis, os milicos pensaram na reconstituição das florestas afim de amortecerem os impactos na hipótese de um acidente nuclear, protegendo desta maneira as duas maiores metrópoles brasileiras.

Pois bem. Há quem duvide dessa tese da época dos militares de que hoje com três usinas atômicas as florestas não impediriam um desastre de grandes proporções como este que houve em março ano passado no Japão devido ao terremoto. Mas eu tenho pra mim de que, se houver uma situação dessas, no mínimo o abastecimento de água do Rio de Janeiro e de São Paulo seriam prejudicados pela poluição radioativa. Aí, se as matas estiverem preservadas, penso que ficamos menos vulneráveis, o que deve continuar sendo um forte argumento para que haja uma radical conservação da natureza nesta região de Mangaratiba, Angra dos Reis, Paraty, Ubatuba, Caraguatatuba e outros municípios próximos.


OBS: A primeira imagem ilustrativa foi extraída da página da Prefeitura de Mangaratiba. Já a segunda encontra-se na Wikipédia e sua autoria é atribuída a Rcandre com permissão para divulgar. Em relação à terceira foto, eu a pesquisei na página da Eletronuclear http://www.eletronuclear.gov.br/AEmpresa/CentralNuclear/Angra3.aspx

2 comentários:

  1. Rodrigo,

    Conheci recentemente um pouco dessa região, quando fui buscar minha filha que estava em um trabalho missionário em Angra dos reis. Na ida fui pelo percurso que me indicaram: Sair de Campinas pela rodovia Dom Pedro I, depois seguir pela Dutra até Barra Mansa e dali pegar um percurso de serra até Angra. Como fiz este percurso acentuadamente sinuoso a noite, decidi que não passaria mais por aquele caminho nem que fosse obrigado a fazê-lo.

    Na volta então utilizei a Rio-Santos, passando por Parati, Ubatuba e subindo a serra em Caraguatatuba.

    Confesso Rodrigo, que nunca vi lugares tão bonitos em toda a minha vida, tanto é que este fim de semana estarei em Ubatuba.

    Mas o ponto alto dessa viagem litorânea, e que me fez parar por pelo menos meia hora na beira da estrada, foi justamente as usinas nucleares instaladas a beira mar.

    Fiquei pensando, com o pode algo tão espetacular representar tanto perigo para nós.

    Mas em relação a degradação da mata atlântica, não tive esta percepção. Talvez por não deslumbramento. rsrs

    Abraços.

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  2. Donizete,

    Fico feliz que tenha conhecido também esta magnífica região do país, um dos lugares mais bonitos do planeta em que a montanha aproxima-se tanto do mar que nos permite usufruir ao mesmo tempo de cachoeiras, praias e picos bem elevados.

    O município de Angra dos Reis é muito bonito! Além do continente existem as ilhas, especial da Ilha Grande onde já acampei por duas ocasiões e até já escrevi um artigo aqui no blogue.

    A serra é bem acidentada, mas é linda. Há, inclusive, caminhos históricos por dentro da floresta como se vê numa trilha em Paraty - o "Caminho do Ouro". Este foi uma estrada construída pelos escravos entre os séculos XVIII e XIX e hoje integra o Parque Nacional da Serra da Bocaina.

    Quando penso na usina atômica e na agressiva especulação imobiliária, confesso que esta ainda me preocupa mais. Pois a probablilidade de ocorrer um acidente nuclear é bem menor do que os danos ecológicos com a ocupação indevida do solo que muitas das vezes acaba contribuindo para os deslizamentos de terra noticiados na TV.

    No entanto, um acidente nuclear seria algo de enormes proporções e capaz de afetar a economia do país e de matar um número enorme de pessoas com o vazamento da radioatividade. Mesmo que não seja imediatamente.

    Outros problemas daquela região seriam a extração ilegal do palmito e a caça. Porém, nenhum destes dois se compara com a especulação imobiliária. E, quanto aos grande empreendimentos, penso que estes devem ser sempre bem analisados. Pois um super porto em Itaguaí vai promover fortes mudanças em toda a região e que, na certa, respingarão sobre Mangaratiba, Muriqui e Itacuruçá.

    Abraços.

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