Páginas

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Nossos políticos deveriam ser submetidos a um teste de seleção intelectual!

Segundo o grego Platão, a democracia seria um regime que não funciona. No entender deste grande pensador, a democracia degenera em demagogia e tirania, pelo que, no seu modelo de cidade ideal, a Callipolis, o governo do país caberia aos filósofos.

A explicação do pensamento platônico era que pra este grande sábio da humanidade o Estado deveria promover uma educação seletiva baseada na capacidade dos grupos de indivíduos afim de se fazer uma distinção qualitativa entre os homens. Assim, uns seriam agricultores, artesãos e comerciantes. Outros dedicariam-se à guerra. Mas quanto aos filósofos, versados na arte do diálogo, caberia a eles o exercício da elevada função de dirigir a comunidade. É o que se lê na festejada obra A República.

Contudo, manter a democracia tem se mostrado fundamental para que haja equilíbrio dentro de uma sociedade. Permitir que o cidadão expresse livremente o seu descontentamento e se faça representar nos órgãos de deliberação coletiva tornam-se mecanismos indispensáveis à paz. Logo, além da competência dos governantes, é preciso que, simultaneamente, seja desenvolvida uma política de participação estruturada sobre um diálogo acessível à linguagem de todos entre administradores e administrados.

Sendo assim, a visão do antigo filósofo, cujo pensamento é evidentemente marcado pelo dualismo, deve ser até certo ponto considerada. Pois, embora seja eticamente recusável e utópico implantar a sofocracia (o governo dos sábios), parece-me indispensável que a voz da inteligência receba lugar de honra na direção do Estado junto com a voz do povo. E aí o bom senso leva-me a concluir pela necessidade de se promover uma seleção dos políticos brasileiros através de um exame de conhecimentos gerais.

Neste sentido, em todas as eleições majoritárias, seria obrigado que o político ao menos fosse submetido a uma prova objetiva e discursiva aplicada pela Justiça Eleitoral, a qual seria realizada uns seis meses antes da votação. A nota da avaliação não impediria o registro da candidatura, exceto se a pontuação for zero, houver "cola" ou o candidato não comparecer. Contudo, desta maneira, com base num exame de referência nacional, o cidadão teria mais um critério para poder escolher as pessoas mais capacitadas que pretendem ocupar os cargos de presidente, senador, governador e prefeito.

A meu ver, um exame como o que estou propondo distingue-se de um concurso público. Neste há um número de vagas limitadas para serem preenchidas e só os melhores colocados e que não foram eliminados é que iram ocupá-las. Já na provinha que defendo, o teste se assemelharia um pouco à habilitação para dirigir veículos automotores feita pelo DETRAN ou para o exercício da advocacia aplicada pela OAB, onde passa quem sabe. Daí, se todos os candidatos atenderem aos critérios exigidos, nenhum deles é reprovado ou impossibilitado de disputar eleições. Mesmo se a pontuação ficar acima de zero e abaixo de um.

Evidente que como prova nenhuma atesta de maneira plenamente a satisfatória a capacidade do indivíduo, quem julgará se os candidatos habilitados deverão ser eleitos será o próprio cidadão quando comparecer às urnas. Isto porque a nota de cada um deles, bem como as respostas às questões, seriam publicadas em órgão da imprensa oficial e ficariam depois disponíveis na internet através das páginas do TSE e de cada TRE. E assim, não tenho dúvidas de que a qualidade do voto será bem melhor a cada eleição.

Convoco cada brasileiro a debater e a divulgar esta ideia afim de que, futuramente, alguma emenda constitucional venha a ser proposta. Tal como a Lei da Ficha Limpa (LC n.º 135/10) dependeu de um grande clamor público que a antecedeu, o mesmo acontece com outras sugestões apresentadas pela sociedade capazes de obrigar os demagogos de Brasília a votarem contra seus próprios interesses. Acredito que, desta maneira, estaremos cuidando para que gente incapaz e aproveitadora continue chegando ao poder para governar a nação.


OBS: A ilustração acima foi extraída de uma reprodução fotográfica do arquivo da Wikipédia. Trata-se de uma pintura de 1509 feita pelo pintor italiano Raffaello Sanzio da Urbino (1483-1520) retratando Platão. A imagem está disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Plato-raphael.jpg

2 comentários:

  1. Taí uma boa idéia Rodrigão, pelo menos para elevar o nível dos CÃODIDATOS, se bem que quando querem fazer picaretagem, não há nada que os segure!

    ResponderExcluir
  2. Caro Franklin,

    Obrigado por sua participação.

    Embora eu reconheça que a prova, por si só, não bastaria, acredito que ela já iria provocar alguma diferença nas eleições seguintes. Ela não teria nenhum poder quanto à ética do candidato (um corrupto pode muito bem ser alguém com altíssimo intelecto e conhecimento). E aí, quando o negócio é fazer picaretagem, entendo que só um forte controle social e uma atenção maior do cidadão com poder de se mobilizar contra as cosias erradas é que geraria efeitos práticos.

    Só que a prova ajudaria o eleitor a decidir, bem como tiraria do anonimato um bando de gente séria. Imagine, por exemplo, qual seria a reação do povo sabendo que o líder nas pesquisas tirou uma nota bem baixa e deu respostas ridículas a determinadas questões? Agora pensemos no fato de que possa vir um candidato até então desconhecido pelo público através de um partido pequeno e que tirou um notão da prova da Justiça Eleitoral?

    Conforme propus no texto, o exame só reprovaria quem zerasse, colasse ou não comparecesse. Só que as notas e as provas ficariam todas disponíveis no site do TSE. E acho que isto criaria um debate bem interessante entre os cidadãos deste país na época das eleições.

    Abraços.

    ResponderExcluir