Páginas

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os exemplos de Miriã, Corá e Sansão

A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas que praticaram a rebeldia e a desobediência contra a autoridade de Deus. Não somente encontramos os nomes dos heróis espirituais, como é o caso da lista de homens e mulheres de fé citados no capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, como também são relatadas as histórias daqueles que fracassaram porque recusaram submeter-se a Deus.

Sem dúvida, podemos aprender com os exemplos ruins deixados por tais personagens da história bíblica, os quais foram tão seres humanos quanto aqueles que alcançaram o sucesso de Deus. Foram tão humanos quanto nós, de modo que não devemos nos sentir superiores e nem inferiores a qualquer homem ou mulher citado pelas Escrituras.

Neste texto elaborado para a Escola de Missões da Igreja Evangélica Maranata, estarei me baseando nos episódios que compõem a vida de três personagens: Miriã, Corá e Sansão. As mensagens bíblicas que se referem aos dois primeiros encontram-se nos capítulos 12 e 16 do livro de Números, enquanto a história de Sansão pode ser lida nos capítulos 13 a 16 de Juízes.

Comecemos, por por Miriã. Quem foi esta mulher e o que ela fez de tão errado a ponto de ter provocado a ira de Deus a ponto de ficar leprosa por sete dias e detida fora do arraial de Israel durante este período?

A história de Miriã, irmã mais velha de Moisés, começa logo no capítulo 2 de Êxodo. Ela desempenhou uma papel fundamental no plano de Deus quando Moisés ainda era um bebê de três meses e a família não podia mais esconder a criança dos egípcios por causa de um decreto do rei do Egito que determinava a morte dos filhos dos hebreus do sexo masculino. Quando Moisés foi colocado num cesto de junco e largado nas águas do rio Nilo, Miriã protegeu a vida de seu irmão acompanhando-o até que ele fosse encontrado pela filha do faraó. Através dela, o menino pôde ser assistido por sua mãe durante o período de aleitamento materno e permanecido em companhia da família de origem até que fosse grande e então tornar-se filho da princesa egípcia.

Oitenta anos depois, quando os israelitas finalmente deixam o Egito sob a autoridade de Deus através de Moisés e atravessam o Mar Vermelho, Miriã liderou as mulheres com tamborim e danças, louvando a Deus pelo livramento dado ao seu povo (Êx 15.20-21). Em tal passagem, o texto bíblico refere-se a Miriã como sendo uma profetiza, sendo que o livro de Miqueias menciona seu nome e de Arão juntamente com o de Moisés ao falar na saída dos israelitas do Egito (Mq 6.4).

Contudo, nos difíceis dias da travessia pelo deserto, depois que os israelitas deixaram o Sinai, um episódio infeliz ocorre na trajetória da vida de Miriã, conforme encontra-se registrado no capítulo 12 de Números. De acordo com esta passagem, após Moisés ter se unido com uma mulher cuxita (etíope), Miriã e Arão, o sumo sacerdote da nação israelita, criticaram o irmão caçula, mas que também era o homem escolhido por Deus para liderar o povo até Canaã.

Atentando não apenas contra a autoridade de Moisés, mas contrariando também ao próprio Deus, os irmãos Miriã e Arão assim disseram insolentemente: “Porventura, tem falado o SENHOR somente por Moisés? Não tem falado também por Nós?” (Nm 12.2)

A atitude dos irmãos de Moisés não é compreendida como um simples protesto contra o fato de Moisés ter tomado para si uma mulher estrangeira. Tal questão parece ter sido levantada apenas como um pretexto para que Miriã e Arão manifestassem a cobiça que tinham pela posição de Moisés.

Mansamente, Moisés não tomou nenhuma atitude contra os seus irmãos. O texto diz que Deus ouviu as palavras de Miriã e Arão, dando a seguinte resposta que se encontra nos versos de 5 a 8 do capítulo 12 de Números:

“Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre vós há profeta, ei, o SENHOR, em visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?”

Como se vê, o próprio Deus defendeu a honra de seu servo e, por castigo, Miriã ficou leprosa por sete dias, apesar da intercessão de Moisés para que ela fosse curada daquela praga, com o objetivo de que ela fosse envergonhada por sua conduta. Tal castigo Deus comparou a uma cusparada que uma filha recebe de seu pai, algo considerado como abominável no contexto daquela época.

Tempos depois, Moisés enfrentou mais uma sedição, desta vez vindo de Corá, um dos levitas do ramo dos coatitas.

Juntamente com Datã e Abirão, homens da tribo de Rúben, mais 250 líderes dos israelitas, Corá afrontou Moisés e Arão, dizendo as seguintes palavras que se encontram no verso 3 do capítulo 16 de Números: “Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do SENHOR?”

Estas palavras de rebeldia, a exemplo do que também ocorreu no episódio anterior envolvendo Miriã e Arão, significavam uma cobiça por posições, uma inveja deliberada.

Nos capítulos 3 e 4 de Números, Deus havia dividido so levitas em três ramos com funções distintas. Os descendentes de Coate, isto é, os coatitas, tinham a nobre função de carregarem os utensílios sagrados do Tabernáculo todas as vezes quando o arraial de Israel partisse. Ou seja, depois que Arão e seus filhos cobrissem a Arca do Testemunho e os demais móveis do santuário, cabia aos coatitas transportarem aquela mobília santa sem tocarem nela para que não morressem. Aliás, não poderiam sequer ver aquelas coisas santas, conforme o próprio Deus havia ordenado (Nm 4.15-20).

Deste modo, Deus havia estabelecido limites para os ministérios dos levitas, determinando que o sacerdócio em Israel apenas poderia ser exercido por Arão e seus descendentes, os únicos que poderiam entrar no Lugar Santo, oferecer os sacrifícios, comer os pães da proposição, queimar o incenso aromático, dentre outros deveres específicos que se acham detalhadamente expostos no livro de Levítico. Contudo, Corá cobiçava a posição de sacerdote.

Sabiamente, Moisés deixou que a solução daquele conflito ficasse nas mãos de Deus. Em sua resposta, Moisés propôs que, no dia seguinte, Corá apresentasse incenso perante o SENHOR e o próprio Deus faria a sua escolha entre ambos.

Contudo, enquanto Moisés demonstrou sua confiança no comando de Deus, Corá havia se aliado com Datã e Abirão, dois homens profanos da tribo de Ruben que, ao serem chamados por Moisés, chegaram a se referir ao Egito como uma terra “que mana leite e mel” (Nm 16.13), acusando Moisés de ter trazido o povo de Israel para morrer no deserto.

Assim, no dia seguinte, Corá e seus 250 seguidores apresentaram-se portando cada um o seu incensário e vieram até a tenda da congregação, tendo se ajuntado todos os israelitas no local. Deus, porém, ao manifestar-se no meio do povo, fez com que a terra se abrisse e tragasse vivos a Corá, juntamente com seus bens. E, quanto aos 250 homens que portavam indevidamente o incensário diante da tenda da congregação, Deus mandou fogo dos céus e os consumiu, confirmando diante de toda a nação de Israel a quem o povo deveria prestar obediência.

Como se pode ver, atitude de rebeldia teve uma consequência drástica para Corá, um dos levitas que prestavam um serviço especial no Tabernáculo e que chegou a ser mencionado como um dos chefes de Israel em Êxodo capítulo 6. Sua cobiça desmedida pelas funções que Moisés e Arão exerciam acabou lhe custando não só a sua posição como a própria vida, tornando-se um exemplo de rebeldia que, na Epístola de Judas, é comparado aos falsos mestres juntamente com os exemplos de Caim e de Balaão (v. 11).

No entanto, a Bíblia não relata como exemplos de rebeldia apenas aqueles que cobiçaram funções alheias. O autor de Juízes conta-nos sobre a história de uma liderança em Israel que recusou-se a cumprir o papel que o Anjo do SENHOR havia lhe dado, rebelando-se diretamente contra Deus. Trata-se de Sansão.

A história de Sansão de passa alguns séculos depois de Moisés, quando os israelitas já se encontravam na posse da terra de Canaã. Por causa do pecado do povo, Deus havia entregue os israelitas de baixo da opressão dos filisteus durante um período de quarenta anos até que o Anjo do SENHOR visitou um casal cuja esposa era estéril, prometendo-lhes um filho que começaria a livrar Israel das mãos do adversário.

Para que Sansão pudesse cumprir a sua missão, Deus lhe dotou de uma grande força física e várias proezas foram por intermédio dele realizadas durante os vinte anos em que liderou Israel. Porém, ele deveria cumprir com o voto nazireu, o qual, segundo a Lei de Moisés, impunha que a pessoa consagrada a Deus não cortasse o cabelo, nem tocasse num cadáver ou tomasse qualquer tipo de bebida alcoólica, conforme o Anjo havia determinado à sua mãe:

“porque eis que tu conceberás e darás à luz um filho cuja cabeça não passará navalha; porquanto o menino será nazireu consagrado a Deus desde o ventre de sua mãe; e ele começará a livrar Israel do poder dos filisteus”. (Jz 13.5)

Sansão, todavia, não foi obediente a Deus e desperdiçou a sua vida. Ao invés de concluir a sua obra e derrotar de vez com os filisteus, Sansão violou seus votos e as leis de Deus em muitas ocasiões, deixando-se conduzir por seu apetite sexual. Seus dons e habilidades foram utilizados sem prudência.

Na época de seu casamento com uma filisteia, Sansão quebrou dois de seus votos que deveria guarar como nazireu. Ou seja, bebeu vinho e havia retirado um favo de mel que havia se formado no cadáver de um leão que matara dias atrás.

A pior tragédia de Sansão, entretanto, ocorre quando ele apaixona-se perdidamente por Dalila (provavelmente uma filisteia), a qual, com muita insistência, induziu-o a contar onde estaria o segredo de sua força. O texto bíblico diz que Dalila o importunava todos os dias até que, finalmente, Sansão confessou que se sua cabeça fosse raspada, sua força o deixaria de modo que ele se tornaria como qualquer outro homem (Jz 16.17).

Dalila, após receber dinheiro dos filisteus, traiçoeiramente rapou as tranças de Sansão e o entregou aos seus adversários. E, no momento em que foi avisado por Dalila sobre um novo ataque dos filisteus contra ele, Sansão ainda pensava que iria se livrar daquela situação como nas vezes anteriores, mas o próprio texto diz que “o SENHOR já tinha se retirado dele” (Jz 16.20).

Depois de capturarem Sansão e cegarem seus olhos, os filisteus levaram-no para Gaza. Ali, no país dos filisteus, Sansão passou a executar o trabalho braçal de moer grãos dentro da prisão. Contudo, os seus cabelos tornaram a crescer novamente.

Houve um dia em que os filisteus resolveram festejar a captura de Sansão oferecendo um sacrifício a Dagom, o deus deles. Para tanto, trouxeram Sansão do cárcere e começaram a se divertir com aquele episódio.

Contudo, diferente do fim que teve Corá, o qual em momento algum arrependeu-se, Sansão voltou-se para Deus e, nos últimos momentos de sua vida, experimentou o que é depender do SENHOR e não de si mesmo, fazendo esta oração:

“SENHOR Deus, peço-te que te lembres de mim, e dá-me força só desta vez, ó Deus, para que me vingue dos filisteus, ao menos por um dos meus olhos.” (Jz 16.28)

Naquele momento difícil, Sansão ainda encontrou graça diante de Deus. Pois, mesmo depois de ter quebrado todos os votos do nazireado, ele foi novamente usado por Deus para matar mais filisteus do que em todas as vezes anteriores. Diz a Bíblia que Sansão derrubou as duas colunas que sustentavam o templo de Dagom, de modo que a casa desabou sobre todos os príncipes dos filisteus e sobre o povo que ali estava, apesar de tê-lo matado também.

Assim, apesar de todos os erros de rebeldia que cometeu no passado, Sansão morreu justificado, tendo cumprido aquilo que o Anjo do SENHOR disse a seu respeito, no sentido de que iria começar a livrar Israel das mãos dos filisteus, sendo que seu nome é citado no Novo Testamento. Na epístola aos Hebreus, São aparece na lista dos homens que

“por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb 11.33-34)

Sem dúvida que, no seu pior momento, Sansão tirou força da fraqueza como diz o texto do Novo Testamento. E, embora a sua vida pudesse ter sido muito melhor, foi com o sofrimento decorrente de sua desobediência que Sansão aprendeu a depender de Deus e não do dom que havia recebido.


CONCLUSÃO

As três histórias bíblicas servem para nós como exemplos de que a obediência a Deus é o melhor caminho a ser seguido.

A rebeldia tem sua raiz no pecado e se encontra motivada por sentimentos de inveja destrutiva. Reflete a falta de confiança em Deus, na sua soberania e justiça, de modo que o rebelde por si mesmo toma atitudes impróprias, agindo por seu próprio desejo.

Geralmente o rebelde não tem por objetivo servir as pessoas e sim controlá-las. E, da mesma maneira que Corá, o rebelde cobiça as qualidades e os dons que Deus deu às outras pessoas, desejando destruí-las de alguma maneira.

Ao se revoltarem contra Moisés, Corá e seus companheiros não estavam apenas levantando-se apenas contra homens, mas opondo-se ao próprio Deus. Pois, embora Arão e Moisés não fossem melhores do que os outros israelitas e todos na nação fossem escolhidos pelo SENHOR, Israel devia obediência tanto a Moisés quanto à Arão.

Digno de maior glória do que Moisés, Cristo é o cabeça da Igreja, da qual nós pertencemos. Como seguidores de Jesus, devemos confiar nele de modo que a nossa conduta precisa estar firmada na sua direção e nos seu poder, sendo ele o único sumo sacerdote ao qual devemos prestar contas.

No capítulo 12 da primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo nos ensina que somos do corpo de Cristo, no qual fomos batizados. Porém, exercemos funções diferentes na Igreja, as quais devem estar em harmonia para o perfeito funcionamento do corpo.

Justamente por isto, a Palavra de Deus nos diz claramente que devemos nos sujeitar “uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5.21), tendo em vista que a vida do cristão é de prestar serviços a Deus e aos outros.

Com este objetivo, a Palavra de Deus nos fala que devemos obedecer aos nossos guias em submissão pois são pessoas que velam pela nossa alma (Hb 13.17). E, na primeira epístola de Paulo aos tessalonicenses, diz que devemos ter tais pessoas em grande estima e consideração (5.12-13).

A base de tal apoio, certamente não se fundamenta na personalidade de quem exerce um ministério na Igreja, mas sim no exercício da função designada por Deus, com o objetivo de realizar a sua obra na terra.

Devemos permanecer atentos e vigilantes a respeito do comportamento que desenvolvemos na Igreja em relação aos irmãos e à obra de Deus. É importante que a todo momento nos examinemos quanto às nossas motivações internas afim de que não sejamos tomados pela inveja e pela cobiça. Precisamos nos questionar se estamos querendo satisfazer a Deus ou aos nossos interesses, tendo em vista que o cristão não tem por finalidade alcançar o poder ou ocupar cargos, mas sim ser um instrumento do Senhor Jesus na execução de sua obra na terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário