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sábado, 20 de fevereiro de 2010

O que significa ter Jesus como nosso Senhor?

Embora o termo “senhor” tenha se tornado em nossa sociedade uma forma respeitosa e formal de tratamento, dispensado principalmente às pessoas mais velhas, temos nos esquecido de seu significado original.

É muito comum entre os cristãos de hoje Jesus ser chamado como senhor. E, numa época não muito distante de nós, o marido ainda referia-se com mais frequência à esposa como sua senhora. Porém, quando utilizamos hoje a palavra senhor em relação à pessoa de Jesus, nem sempre damos o significado original do termo ao que dizemos com a boca.

No Novo Testamento que foi escrito no grego comum dos séculos I e II, a termo Senhor (Қύριοζ – Kurios) significa dono, aquele que tem o domínio sobre seus servos, conforme consta em várias passagens bíblicas, as quais nos servem de exemplo ilustrativo. Contudo, neste texto, vou me deter apenas na experiência da conversão do carcereiro de Filipos, registrada no capítulo 16 de Atos dos Apóstolos.

Lucas, autor do livro de Atos, conta que, na segunda expedição evangelística, Paulo, uma visão noturna, viu um homem da Macedônia pedindo a ele que viesse para lá e ajudasse o seu povo (At 16:9). Entendendo o sentido da visão, o apóstolo e seu companheiro Silas, imediatamente, obedecem a direção dada pelo Espírito Santo e partem para o novo destino sem saber o que enfrentariam, chegando a uma cidade chamada Filipos, onde passaram a pregar o Evangelho entre as mulheres do local (At 16:13).

Dentre aquelas mulheres que frequentavam as reuniões de Paulo estava a corajosa Lídia, a primeira a se converter naquela cidade e que vem a ser batizada juntamente com sua família, passando a oferecer sua hospitalidade ao apóstolo e também sua casa para ser o quartel general do Evangelho em Filipos. Porém, como sabemos, a obra de Deus tem momentos de adversidades para os cristãos. E foi o que aconteceu com Paulo e Silas quando o apóstolo expulsou um demônio do corpo de uma jovem adivinhadora.

Na época, era comum os homens terem escravos e essa jovem atormentada por um espírito demoníaco vinha sendo usada por seus senhores com uma finalidade lucrativa. Mas com a sua libertação espiritual, cessaram as adivinhações dessa moça, o que enfureceu os seus senhores que, sem nenhum respaldo nas leis da época, conduziram Paulo e Silas às autoridades romanas daquela cidade.

Abusando do poder que tinham, as autoridades de Filipos mandaram dar uma surra em Paulo e em Silas, trancando-os num cárcere sem que existisse qualquer justificativa na lei romana para prendê-los.

No entanto, Paulo e Silas sofreram mansamente aquele castigo injusto e, por volta da meia noite, Lucas conta que esses valorosos evangelistas oravam e ainda tinham ânimo para louvarem a Deus (At 16:25).

Repentinamente ocorreu então um tremor de terra e todas as cadeias foram abertas de modo que aqueles que estavam presos foram soltos.

Interessante que, apesar do terremoto, o carcereiro da prisão estava dormindo e, ao ver que as portas das cadeias tinham sido abertas, deve ter imaginado que, pela sua própria negligência, os presos escaparam.

Na certa, aquele homem deve ter imaginado que, em razão de uma suposta fuga dos presos, sua vida agora estivesse arruinada e, por isso, resolveu que iria tirar a própria vida.

Paulo, ao ver aquela tentativa de suicídio, gritou então para que o carcereiro não se matasse e lhe diz que todos os presos estavam ali a fim de que o homem ficasse despreocupado.

Importante para a compreensão do texto e da breve pregação de Paulo que busquemos contextualizar aquele momento difícil vivido pelo carcereiro.

Paulo e Silas deveriam estar na cidade há algum tempo e, embora não pudessem pregar abertamente dentro de Filipos, as reuniões com as mulheres junto à margem do rio estavam repercutindo entre os moradores da cidade. Num lugar onde talvez existissem poucos judeus e a maioria dos habitantes fossem pagãos, a obra de Deus feita por intermédio de Paulo alcançava o coração de muita gente a começar pelas esposas, filhas e mães daqueles cidadãos.

É possível que o carcereiro também tivesse escutado uma parte das orações e dos louvores cantados por Paulo e Silas, quando nossos irmãos ainda estavam presos. Porém, até então não havia ainda esperança para a vida daquele homem, o qual sentiu-se arruinado quando acordou do seu sono e viu que as portas das prisões estavam abertas.

A atitude de Paulo em se apresentar ao carcereiro depois daquele acontecimento e ainda preocupar-se com a sua vida deve ter lhe causado um forte impacto no seu coração. Supondo que horas antes aquele homem talvez tivesse castigado a Paulo com açoites, ou presenciado o castigo injusto e talvez nem se importado com a agressão praticada contra o apóstolo de Cristo a mando das autoridades locais, seria um tanto incompreensível o amor demonstrado quando nosso irmão lhe diz para não cometer o suicídio: “Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos!” (At 16:28)

Ouvindo tais palavras, o carcereiro toma uma atitude que realmente vai mudar toda a trajetória de sua vida. Ao invés de se matar, ele resolve procurar a ajuda espiritual que a sua alma tanto necessitava para que vivesse eternamente e vai então direto ao encontro de Paulo e de Silas. Lucas como um bom médico observador entra em detalhes relatando que o carcereiro encontrava-se “trêmulo” e se humilhou diante de Paulo e de Silas. E, depois disto, leva-os para o lado de fora da prisão, perguntando-lhes o que seria necessário fazer para ser salvo (At 16:31).

Prestem a atenção que quando o carcereiro fez esta ousada pergunta, confiando no poder sobrenatural que estava sobre a vida de Paulo e de Silas, ele queria saber qual a direção para a sua vida a fim de que não caísse em desgraça. Isto porque as autoridades da cidade, provavelmente, iriam tomar alguma posição em relação à fuga de Paulo e Silas, sendo que o carcereiro, além de sobreviver daquele trabalho, precisava zelar pela sua vida e por sua família.

Nesta altura, ao que me parece, o carcereiro já deveria estar compreendendo que havia alguém mais poderoso do que as autoridades de Filipos e, ao fazer sua pergunta para Paulo e Silas, ele estava demonstrando uma verdadeira confiança em quem seria poderoso para salvá-lo.

Mas quem poderia salvar a vida daquele carcereiro? Por acaso seriam Paulo e Silas?

Sem desejarem nenhuma glória para si mesmos, Paulo e Silas respondem ao carcereiro que aceitando o senhorio de Jesus em sua vida ele seria salvo bem como a sua casa (família): “Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”. (At 16:31)

Observem que Paulo e Silas anunciaram Jesus como um Senhor, termo este que também teria um significado bem maior do que os meros pronomes de tratamento usados hoje em dia.

Paulo e Silas estavam se colocando como servos de alguém chamado Jesus, expondo desta maneira a quem pertence aquele poder que estava sobre a vida deles a ponto de livrá-los das prisões dos homens.

Na cabeça do carcereiro deve ter se passado uma outra pergunta sobre quem seria esse tal de Jesus que seria o Senhor de Paulo e de Silas. Não sabemos ao certo se aquele carcereiro já tinha ouvido algum comentário sobre Jesus. Penso eu que sim, pois o ministério de Paulo e de Silas talvez já estivesse há algum tempo atuando na cidade de Filipos. Porém, certamente, até então o carcereiro ainda não conhecia Jesus realmente.

Sem dúvida que aquela deve ter sido a noite mais feliz desse homem, o qual, juntamente com as pessoas de sua casa, ouviu a pregação da Palavra de Deus, converteu-se e foi batizado. Sua atitude passou a ser de gratidão e de grande mudança, pois ele e sua família passaram a cuidar dos ferimentos de Paulo e de Silas, dando-lhes o que comer em sua própria casa.

Podemos até dizer que aquela ceia tornou-se uma inesperada festa para a família desse carcereiro que, conforme o relato registrado por Lucas, todos estavam transbordando de alegria por terem crido em Deus (At 16:34).

A partir daquele momento, o carcereiro e a sua família estavam libertos de um cotidiano vazio e sem esperança. Estavam livres da ignorância em que viviam. Pois aceitando a Jesus como Senhor significou que agora não estavam mais debaixo da escravidão do pecado e da morte. Ou seja, tinham finalmente encontrado o Caminho da salvação de suas almas. Algo que jamais perderiam, mesmo se fossem mortos pelas mãos dos homens.

Igualmente para todos nós está disponível a mesma oportunidade de salvação e de vida eterna. É algo simples, mas que produz um grande efeito no universo a ponto de provocar uma grande festa nos céus. Basta que cada homem seja capaz de arrepender-se de seus pecados e aceitar o senhorio de Jesus sobre sua vida. Reconhecer que a partir de agora é Jesus quem deve governar a sua vida através da obediência e não mais os seus próprios desejos. A partir de então, uma maravilhosa caminhada se inicia em direção aos céus e a salvação começa a ser vivenciada cotidianamente, sendo experimentada aqui mesmo na Terra.

Penso também que não precisamos ficar perturbando as mentes das pessoas enchendo-as de doutrinas ou insistindo em levá-las para uma congregação religiosa afim de que sejam salvas, pois não é desta maneira que a salvação de Deus opera. Na passagem bíblica mencionada, Paulo fez uma das mais breves pregações (crê no senhor Jesus e serás salvo), mas que foi poderosa e decisiva para mudar as pessoas. Com sua conduta mansa e humilde, Paulo despertou naquele carcereiro o desejo de receber a salvação, sendo que é esta a postura que o Senhor Jesus que de todos aqueles que são seus discípulos.

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