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sábado, 2 de março de 2019

Felizmente, o governo parou e pensou



Confesso que eu estava preocupado com uma possível omissão do Ministério da Saúde desse atual governo quanto às campanhas de prevenção ao HIV no Carnaval de 2019, tendo em vista a eleição de um presidente conservador no pleito de outubro passado em que os discursos feitos em palanque pareciam não levar em conta o comportamento social já estabelecido.

Recordo muito bem que, 2016, durante o governo Dilma, a campanha "Deixe a Camisinha Entrar na Festa", veiculada entre os dias 27/01 e 06/02 daquele ano, foi duramente combatida pelas mentes retrógradas desse país. Com um pesado investimento em vídeos, jingle para divulgação em rádios (e versão estendida da música para os trios elétricos e carros de som), bem como a propaganda na TV, o Ministério da Saúde chegou a gastar algo em torno de R$ 14 milhões de reais. No filme, um ator fantasiado de camisinha (Homem Camisinha) ajudava seus amigos em situações icônicas de Carnaval, como ser convidado para uma festa e apresentar uma paquera, em que a ideia seria mostrar o quanto a camisinha faz a diferença e, deste modo, incentivar os jovens a se protegerem contra a AIDS e outras infecções sexualmente transmissíveis.

Já neste ano, a campanha "Pare, Pense e Use Camisinha", que tem a participação do cantor Gabriel Diniz (foto), promete distribuir 12 milhões de camisinhas diariamente no Carnaval, as quais virão numa nova embalagem. E, de acordo com o Ministério da Saúde, a publicidade oficial seria "mais moderna" por dialogar diretamente com o jovem, justificando tratar-se do público mais atingido pelas infecções sexuais nos últimos anos. De acordo com o gestor da pasta, o ministro Luiz Henrique Mandeta:

"Os números do HIV no Brasil, que demonstram aumento entre jovens, são muito importantes para a conscientização do grande desafio que temos na saúde pública, que é uma mudança no comportamento. Precisamos cada vez mais estimular o uso do preservativo, para que o Carnaval seja sempre uma memória feliz. Vamos fazer um Carnaval e um ano inteiro de consciência em relação à responsabilidade sobre o seu corpo e o da pessoa que você ama"

Sem dúvida, o Ministério da Saúde age com acerto quanto à indispensável distribuição das "camisinhas", tendo em vista ser o preservativo a mais importante arma de combate à transmissão do vírus HIV. Porém, sem querer fazer dessa postagem um ataque político ao atual governo ou ao ministro, apenas critico o fato da campanha de 2019 (ou de sua divulgação) não estar focando também nos outros meios de prevenção da AIDS. Pois, pelo menos, foi o que notei no site específico da propaganda oficial (clique AQUI para conferir). Por exemplo, não achei ali nada incentivando o preservativo feminino, o qual é muito importante para a mulher como uma segunda alternativa para um sexo penetrativo seguro tendo em vista que nem sempre os homens estão dispostos a proteger a si próprios e à parceira. E, se algo foi feito ou falado a este respeito pelo MS, não vi destaque algum na propaganda pública, sendo que, de acordo com o artigo da médica Dra. Wilza Vieira Villela, divulgado pela ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS), 


"A principal vantagem deste método [do preservativo feminino] é permitir às mulheres uma alternativa para sua proteção quando o parceiro não quer usar o preservativo masculino. Numerosos estudos têm demonstrado sua aceitabilidade por mulheres e homens em diferentes contextos sociodemográficos e culturais. Apesar disto, em termos globais, seu uso ainda é baixo. No Brasil, o preservativo feminino foi introduzido em dezembro de 1997. A partir do ano 2000 as Secretarias Estaduais de Saúde passaram a recebê-lo do Ministério da Saúde. Para tanto, foram realizadas oficinas em cada um dos estados da federação visando sensibilizar gestores e representantes para o uso do método e pactuar as estratégias para sua distribuição e monitoramento. A perspectiva é de que deveria haver desde os níveis centrais até os níveis locais e de contato direto com a população uma estreita articulação entre os programas de DST/aids e as áreas técnicas de saúde da mulher para que o preservativo feminino fosse ofertado dentro de um conjunto de ações voltadas para a saúde sexual e reprodutiva das mulheres. Portanto, além desta articulação, há o entendimento quanto à necessidade de implementação de práticas educativas com os gestores e os profissionais responsáveis pela oferta do método às mulheres para que eles próprios possam conhecê-lo, apreciar as suas vantagens e se conscientizarem da importância de oferecê-lo às mulheres, com o necessário suporte para o uso." - Extraído de http://abiaids.org.br/sobre-o-preservativo-feminino-e-os-entraves-para-a-sua-disseminacao-no-pais-algumas-reflexoes/28148

De qualquer modo, não tem como deixar de apoiar o que está sendo feito para combater uma doença que afeta uma parcela significativa da população brasileira. Aliás, de acordo com dados do último boletim epidemiológico do HIV/AIDS, 73% (30.659) dos novos casos de infecção do vírus em 2017 ocorreram no sexo masculino. Um em cada cinco novos casos de HIV encontram-se entre homens de 15 a 24 anos (2017), enquanto que, entre homens na faixa etária de 20 a 24 anos, a taxa de detecção cresceu 133% entre 2007 a 2017, passando de 15,6 para 36,2.

Portanto, parabéns ao governo e espero que os atuais gestores não deixem de parar para pensar mais nas diversas outras maneiras eficientes de combate à AIDS.

2 comentários:

  1. Parece que o governo conservador acordou a tempo. Que ele se movimente também para resolver os outros problemas do país. Assim esperamos.
    Um grande abraço!

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    1. Talvez o ministro esteja um pouco a esquerda do atual governo. Todavia, ainda assim, sei que tem havido críticas a campanha que tem ignorado a existência do público gay e parece ter se esquecido do preservativo feminino. A própria ABIA se manifestou nesse sentido. Mas confesso que esperava menos do governo

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