O que posso hoje escrever acerca das minhas trinta e tantas páscoas pelas quais passei?
Quando criança, a Páscoa era época de chocolate, o que fazia de abril um dos melhores meses de minha vida. Além de comer os deliciosos ovos e bombons que os adultos me presenteavam, tinha também o meu aniversário no dia 12 com direito a bolo, brigadeiros, salgadinhos, refrigerantes e brinquedos.
Mas o tempo passou, as coisas mudaram e me tornei adulto. Deixei de ser custeado pela família para prover o sustento próprio contando praticamente só com meu trabalho e a ajuda de Deus. Com isso, precisei aprender o valor que tem uma torta de chocolate e os caros ovos de Páscoa expostos nas prateleiras dos supermercados, coisa que acabei dispensando do meu consumo anual porque passei a considerar mais compensador comprar uma caixa de bombom. E agora nem ouso trazer mais doces para casa devido à rígida dieta de Núbia, a qual fez uma cirurgia bariátrica em janeiro.
As diversas privações que passo e toda a luta que tenho ao lado de minha esposa vieram me ensinar um outro sentido da Páscoa. Algo de sabor muitas vezes amargo, mas que acaba sendo mais significante do que o docinho do aniversário. Isto porque a adversidade trás consigo as lições de um aprendizado.
Lendo o texto O sentido existencial da Páscoa, escrito por Hermes C. Fernandes em seu blogue, chamou-me a atenção estes trechos do artigo que cito a seguir:
"Todos, sem exceção, estamos de passagem. Não estamos vindo. Estamos indo. Não estamos de chegada. Estamos de partida. Vemos paisagens que nunca mais veremos. Vivemos situações que jamais serão revisitadas. Encruzilhadas que não se repetirão. (...) Nada jamais será como antes. A vida segue um irreversível fluxo de mudanças. E as maiores mudanças não se dão pela variação de cenários, mas na sucessão de paisagens internas. Nosso mundo interior está sujeito a rearranjos. A cada nova peça encontrada, o quebra-cabeça que parecia estar devidamente montado, desafia-nos a ressignificá-lo. Novas combinações fazem com que imagens inusitadas emerjam."
Da mesma maneira como deixei de acreditar na figura lendária do coelhinho aos sete anos de idade e, consequentemente, acabei duvidando do Papai Noel, sei que os meus tempos de ovos de chocolate não voltam mais. Pelo menos não como nos dias de infância. Porém, acredito que novas experiências ainda me aguardam na imprevisível estrada da vida que trilhamos.
Amigos, creio ser esta a consciência pascoal que não podemos perder. Deve-se sempre lembrar que tudo hoje em nossa volta é passageiro bem como precisamos considerar o fato de haver um propósito existencial para cada um de nós. E aí não dá para alguém ficar improdutivamente se recordando dos alhos e das cebolas do Egito! Temos que encarar a aridez do deserto e prosseguindo até chegarmos às margens do Jordão para que, enfim, entremos na Canaã prometida.
O que há de animador nesse caminhar é que o nosso destino não será uma sepultura pelo trajeto. E aí a crença na vida eterna simbolizada pela ressurreição de Cristo Jesus vem ensinar sobre a transitoriedade do sacrifício. Suportar o dever e não desistir da obediência ao Pai Celestial compõe a presente etapa do nosso crescimento pessoal por mais que não o compreendamos hoje. E, nessas horas, por que não entrar na tenda de Moisés através da oração pedindo a Deus força e coragem?!
É importante que jamais nos abandonemos nesse deserto que é o mundo, cujos cardos e espinhos foi a própria humanidade quem plantou. Diante das dificuldades, vale a pena lembrar que não estamos sozinhos e o quanto se torna confortador recebemos de algum irmão ou irmã qualquer tipo de apoio. Nem que seja aquela palavra de ânimo transmitindo consolo e esperança, tornando mais agradável a nossa passagem por esta vida.
Que façamos isso pelo nosso próximo!
Um ótimo feriado e tenham todos uma feliz Páscoa!
OBS: Ilustração acima extraída de https://andradetalis.wordpress.com/2013/03/31/o-verdadeiro-simbolismo-do-ovo-de-pascoa/
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