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domingo, 27 de abril de 2014

A terrível quebra de diálogo entre as gerações




"E como é importante o encontro e o diálogo entre as gerações, principalmente dentro da família" 
(palavras do papa Francisco nos dias de sua visita ao Brasil em 2013)


Neste último sábado (26/4), estava a ler o Salmo 78, quando os seus primeiros oito versículos me fizeram refletir acerca da nossa atual condição crítica no Brasil e no Ocidente em geral. Em seu poema, Asafe assim teria declarado ao seu povo:

"Em parábolas abrirei a minha boca, proferirei enigmas do passado; o que ouvimos e aprendemos, o que nossos pais nos contaram não os esconderemos dos nossos filhos; contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez. Ele decretou estatutos para Jacó, e em Israel estabeleceu a lei, e ordenou aos nossos antepassados que a ensinassem aos seus filhos, de modo que a geração seguinte a conhecesse, e também os filhos que ainda nasceriam, e eles, por sua vez, contassem aos seus próprios filhos. Então eles porão a confiança em Deus; não esquecerão os seus feitos e obedecerão aos seus mandamentos." (Salmos 78:2-7; NVI)

Provavelmente o autor bíblico deveria estar se recordando das palavras de Deuteronômio 6, onde está a importante confissão monoteísta do Shemá Yisrael ("Escuta, Israel"), recitada todas as manhãs e finais de tarde pelos judeus afim de relembrarem a aliança estabelecida entre Deus e o povo no monte Sinai. Ali pode-se afirmar que Moisés teria aconselhado a geração que entraria na Terra Santa a gastar tempo conversando com os filhos, estimulando o interesse da criança pelo passado glorioso de sua nação afim de infundir-lhe a fé e a esperança de seus antepassados.

É interessante observar que, também entre os indígenas, transmite-se o saber às novas gerações, emergindo de cada etnia as relações de poder, coletivo, baseando-se no diálogo para a solução dos problemas por eles enfrentados. Pois, mesmo desconhecendo a escrita, os povos que julgamos "primitivos" guardam um rico conhecimento sobre a vida e de respeito pela natureza. São guardiões de uma ética que a nossa sociedade acabou perdendo com o seu progresso civilizatório multiplicador de necessidades.

Contudo, entre nós, a ausência desse indispensável diálogo tornou-se patente nos últimos tempos. Há quem considere ter isso ocorrido entre o final da década de 1960 e os anos 70, colocando a geração nascida no pós-guerra como a grande vilã da rebeldia. Só que a responsabilidade pela educação e transmissão do conhecimento sempre foi dos pais. Daí, se os filhos não quiseram mais ouvi-los, não seria por causa de um excesso de autoritarismo e da falta de conexão dialogal?

Como resultado de todo esse processo trágico, temos hoje pais vazios em conteúdo e que nada têm a passar para os filhos. As pessoas tornaram-se vítimas do comodismo e das próprias distrações do cotidiano. E, desta maneira, sem dúvida que o secularismo contribui decisivamente para essa perda de princípios porque os bons hábitos de uma tradição são esquecidos e passam a ser substituídos por atividades nem um pouco construtivas. Ou seja, a criança acaba sendo "educada" pela TV, pela internet, pelos joguinhos eletrônicos e pelas más companhias da rua.

Mas não vamos ficar culpando os pais "por tudo", como diz aquela música cantada pelo grupo Legião Urbana! Cada ser humano pode exercer o seu direito de escolha e procurar as coisas boas por mais que o ambiente externo seja desfavorável. Logo, cabe a nós invertermos todo esse processo negativo dentro da cultura brasileira, a qual tem o cristianismo em suas origens e deve se fortalecer novamente com base nos saudáveis valores bíblicos. E, nesta redescoberta, precisamos estar disposto a dialogar sempre com as crianças, ouvindo suas dúvidas, perguntas e inquietações. Como pais, avós, professores ou pastores espirituais precisamos dar a elas essa liberdade durante as nossas conversas, presentificando-nos a respondê-las e indo sempre além daquilo que os pequeninos esperam ouvir.

Concluo este artigo incentivando o meu leitor a elaborar uma educação entusiasmada em seu trato com as gerações de seus filhos e netos. Cuida-se de um trabalho que exigirá de nós paciência e também fé, cientes de que estamos ainda plantando boas sementes as quais a seu tempo germinarão no solo dos corações dos infantes. Talvez não colheremos agora os frutos, mas estaremos criando condições para o surgimento de um novo Brasil diferente do seu quadro atual de corrupção, dependência química, criminalidade e injustiças sociais. Afinal, as mudanças que desejamos para um país requerem tempo para amadurecimento, mas precisam que alguém idealista trabalhe hoje para que elas ocorram. Alguém como Moisés que, mesmo sem entrar na Terra Santa, transmitiu aos israelitas uma inspiradora constituição escrita enquanto esteve buscando a Deus na montanha do Sinai.


OBS: Imagem acima extraída de http://radios.ebc.com.br/radioteatro-contos-no-radio/edicao/2014-04/amigo-do-rei-episodio-de-contos-no-radio

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