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terça-feira, 25 de maio de 2010

Será que precisamos sentir a presença de Deus?

Recentemente deparei-me com um sincero relato de uma mulher no site Café História que disse não crer em Deus e nem na Bíblia. Suas palavras pareceram-me bem espontâneas, levando-me a refletir sobre os erros que muitas das instituições religiosas cristãs cometem. Há vários meses, eu havia entrado num debate que tem como título “Os Evangelhos são livros históricos no sentido em que hoje conhecemos a história?” e, desde então, comecei a participar de uma envolvente discussão sem fim com o seu autor, quando então uma debatedora surpreendentemente interveio dizendo:

“Fico até constrangida, e isso não é comum em mim, a postar neste fórum, por perceber o nível de conhecimento de todos que já postaram, mas pelo interesse que tenho no assunto, gostaria de colocar minha opinião, como leiga no trato histórico, porém como leitora da Bíblia toda, desde minha infância. Preciso deixar um parênteses para que não haja dúvidas sobre meu pensamento, cresci cristã protestante, leitora da Bíblia e crente em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, criei meus filhos na mesma crença, pelo que agradeço por ter podido inculcar moral e bons costumes nos mesmos, coisa que não teria conseguido, pois venho de uma família deficitária na educação dos filhos, não más pessoas, mas sem preparo e formação. Hoje, não acredito na existência de um deus, ou um ser superior como me foi colocado pelo cristianismo, nem que exista algo além do que é comprovado pela química, pela física ou pela biologia. (…) Eu não posso me declarar com fé para acreditar em suas histórias, embora as conheça de cor e salteado, desde "no princípio criou Deus... até a graça do Senhor Jesus seja com todos", não consigo crer ou aceitar como palavras inspiradas por um ser superior, mas não vou aqui defender o ateísmo nem atacar o cristianismo ou a Bíblia, até porque aceito como conselheira, com ensinamentos importantes nos campos da saúde e na sabedoria dos conselhos no tangente às relações humanas (…) desde pequena tentei em vão sentir a existência de Deus, compreender seus motivos para assistir à humanidade e interferir apenas na vida de uns sorteados, e dentro de mim, a razão me levava a ver que ele não existe. Apesar da dificuldade em admitir isso, confesso que a consciência cristã inculcada em mim deixou um vestígio forte do medo da blasfêmia, mas minha razão não me permite mais ler a bíblia e crer no Deus que ela prega, nem mesmo lendo sobre outras doutrinas religiosas. Não sei se quero descobrir se existe uma alternativa de deus pra mim, nem sei se quero que haja, mas o que sei é que, para mim, a existência de deus é algo criado por seres humanos” - o destaque é meu

Dentro deste curioso relato, chamou-me mais a atenção quando a debatedora disse que, desde pequena, havia tentado perceber a existência de Deus, lembrando-me o desespero dramático que muitos cristãos vivem dentro das igrejas evangélicas buscando sentir a presença divina.

Desde o ano em que me converti, em 1990, cometi a infantilidade de querer sentir Deus para acreditar na minha aceitação por Ele. Durante as orações na igreja, eu ficava ansiando por receber a experiência do batismo no Espírito Santo e começar a falar na língua dos anjos igual o meu pastor orava no púlpito. Aguardava ser milagrosamente curado do defeito na visão que fora diagnosticada quando tinha cerca de nove anos de idade e também do desvio de minha coluna descoberto pelo ortopedista no começo da adolescência por causa de minha péssima postura. Só que nada acontecia instantaneamente no mundo físico enquanto eu orava e, por muitas vezes, saía frustrado dos cultos achando que me faltava fé ou que não era amado por Deus.

Lendo o relato da participante no extenso debate histórico sobre os Evangelhos, recordei-me do discurso de Paulo em Atenas, quando o apóstolo disse que Deus não está tão longe de nenhum de nós ainda que não possamos encontrá-lo pelo nosso tato (ou por qualquer outro sentido corporal), já que a divindade não é semelhante aos elementos da natureza (conferir com Atos 17:22-31)

Embora eu acredite na possibilidade de alguém ter experiências sobrenaturais, também tenho observado que, em muitas igrejas, as pessoas confundem o emocional com o espiritual, sendo que há um número de crentes buscando sentir a presença de Deus. E, lamentavelmente, há pastores de má-fé que se aproveitam das reações emocionais das pessoas utilizando-se das mais variadas técnicas que poderão proporcionar em alguns a sensação de ter sido tocado por Deus. Claro que nem todos os pregadores que fazem isso são mal intencionados, pois muito já agem inconscientemente, mas de qualquer modo o que tenho visto por aí são pessoas agindo com histeria enquanto outros saem decepcionados.

Mas será que esta ânsia de querermos sentir a Deus não seria a mesma imaturidade de alguém buscar encontrar o seu Criador através do tato? E o que dizer daqueles que ficam esperando ter visões ou ouvir vozes sobrenaturais?

De fato, ansiamos em nosso íntimo pelo toque de Deus. Não nego que gostaria de contemplá-lo com meus olhos naturais, ouvir sua voz ressoando nos meus tímpanos, abraçá-lo e sentir seu perfume suave. E acredito que tudo isso acontecerá na eternidade quando estaremos para sempre com o Senhor, vivendo através de um corpo transformado. Porém, no momento presente, não acho que este seja o caminho.

Por outro lado, foi esta ânsia mal administrada de desejar apalpar a Deus que fez o homem voltar-se para a idolatria. Junto com a ambição de se construir uma torre elevada que chegue até os céus, o homem apegou-se a objetos de pedra, madeira e metais para que pudesse suprir sua necessidade psicológica de ter a divindade perto de si. Só que nas vezes em que a Bíblia fala da manifestação de Deus no deserto, os israelitas resolveram fugir de sua presença santa, preferindo que Moisés intercedesse pelo povo.

Ora, o que podemos dizer a respeito da encarnação de Deus? Quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós, nossas mãos puderam apalpá-lo como escreveu João logo no primeiro verso de sua epístola. E não só as mãos apalparam o Filho de Deus como os olhos humanos viram seu rosto e os ouvidos ouviram sua voz, embora quase ninguém creu na sua pregação.

Atualmente, pelo tempo em que uma parte da humanidade aguarda a nova manifestação do Messias, resta-nos a oportunidade de desenvolvermos a fé quando o mundo não nos dá nenhuma razão para crermos. Se no Egito os israelitas aguardaram 400 anos pelo êxodo, a Igreja tem esperado por dois milênios a volta de Jesus, contentando-se com o silêncio de Deus enquanto crianças morrem de fome, as doenças proliferam e a violência cada vez aumenta mais.

Com toda sinceridade eu respondo à debatedora do fórum de discussões históricas da internet que não existe nenhuma explicação na Bíblia sobre os motivos da intervenção (ou das não intervenção) de Deus na humanidade, de maneira que só nos resta confiar em sua infalível soberania. Assim como Deus não respondeu a Jó o porquê de seu sofrimento, penso que, por enquanto, o Rei das Nações também não vai nos revelar em todos os detalhes como se cumprirão seus propósitos. Não ouviremos dele nada que nos leve a acreditar pela razão, através de provas racionais acerca de sua existência.

Em meio ao momento de incerteza que a humanidade atravessa, compreendo que a fé surge como uma opção que escolhemos, isto é, a decisão de servirmos ao Deus único e de nos submetermos ao senhorio do seu Cristo. Somos crentes porque resolvemos confiar em Deus, aguardar as suas promessas e obedecer a sua Palavra. Permitimos que a Palavra não fique retida pelos nossos cinco sentidos e chegue aos nossos corações, atingindo o centro de nossas motivações, amadurecendo pela meditação e se consolidando pela prática das boas obras, as quais podem comprovar que realmente estamos crendo.

6 comentários:

  1. Caro Rodrigo, é difícil colocar minha opinião, mas eu sabia ao postar no site que poderia suscitar o debate, e que talvez eu não esteja preparada, com palavras adequadas para defender meu ponto de vista, e na verdade, nem mesmo é o que eu propunha quando postei, mas, como gostomuito do debate, quero de antemão dizer que tenho lido tudo o que você tem postado e tenho reconhecido seu conhecimento e sua habilidade em defender seus pensamentos, o que acho muito importante, principalmente, no que se refere ao nível do debate no fórum em questão.
    Vou tentar ir ao ponto, me perdoe, as palavras fluem, e eu não consigo evitar, mas, gostaria de garantir que não tive intenção de expor exatamente os motivos pelos quais nunca consegui crer em Deus, na verdade, embora como já sabe tenha sido criada como cristã protestante.
    Minha intenção era apenas expor meu ponto de vista, para fazer o comentário na questão da utilização dos evangelhos como fonte histórica, não pretendi defender minha idéia de não crença em Deus, o que me recuso a nominar, nem considero como ateísmo, nem mesmo como agnosticismo, porque na verdade sempre fui cética com relação a]à existência de Deus, e o que me referi em sentir sua presença em mim, não é que eu esperasse uma manifestação espiritual de Deus em mim, até porque, aqui posso discriminar melhor meu ponto de vista a você, fui criada desde o nascimento na Igreja Adventista do Sétimo Dia, e esta denominação tem a converção e culto como atos racionais, não apaixonados nem com comoção espiritual.
    Portanto, nunca esperei que Deus se manifestasse de maneira incrível dentro de mim, apenas que eu conseguisse, e isso esperei sim, ter certeza dentro do profundo do meu ser que há Deus. E minha razão exige que eu desacredite, justamente por ter tido contado direto com o estudo da Bíblia, que li várias vezes e estudei das mais diversas formas, nunca consegui ter certeza da existência de Deus ou mesmo de Jesus Cristo.
    Tentei sim, por muito tempo confiar em Deus, esperar suas promessas, e ver o cumprimento de sua Palavra, porém, quanto mais eu vivo, mais eu discordo do que está escrito na Bíblia, e encontro um livro escrito por sábios com fntes inextimáveis de conselhos e exemplos, mas apenas isso.
    Continuo, agradecendo minha educação cristã, e a possibilidade que tive em criar meus filhos nela, por sua moral, porém, isso não me permite evitar o sentimento que eu não sei o que move a vida, nem o que formou o mundo tal como é, nem porque estamos aqui, não me importa responder estas perguntas.
    Ser humano, fazer diferença no reino animal e interferir de alguma forma positiva na pequena história da humanidade da qual faço parte é apenas o que importa pra mim.
    Agradeço mais uma vez pela oportunidade do debate, e sinto que embora esteja convicta do que penso, não consigo defender como verdade, porque não vejo importância em convencer outras pessoas de que estou certa, apenas exponho aqui o que penso e esclareço o que não desejei aprofundar no fórum.
    Espero poder sempre ser enriquecida com seus comentários no fórum, que encontrei por acaso mas muito me alegrou pelos temas interessantes que encontrei lá e no site.
    Obrigada
    Um grande abraço
    ASlba Nilse

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  2. OLá, Alba. Alegra-me muito a sua presença e participação aqui no meu blog. Quando vc postou lá no Café História, tive incertezas para identificar de qual comunidade evangélica você teve sua experiência, mas o termo protestante me fez menção das igrejas tradicionais e os adventistas são considerados como pertencentes ao grupo dos tradicionais. Porém, quando escreveu sobre "sentir a existência de Deus", lembrei-me da histeria que se vê em determinadas igrejas pentecostais (atualmente fala-se por aí em "sapatinho de fogo" e tantas outras coisas que não parecem estar nos objetivos da Palavra de Deus). Sobre os adventistas, confesso que muito reflito acerca do 4º mandamento, item de divergência doutrinária de sua igreja de origem em relação às demais denominações evangélicas. E, embora eu não seja muito radical quanto à guarda do sábado, acho que a sociedade atual precisa bastante descansar durante um dia na semana. Hoje, porém, em que muitos de nós temos até dois dias de descanso semanal, parece que a sociedade não sabe mais como entrar em repouso pois nos enchemos de atividades e daí a contribuição deixada pelos adventistas que, desde o por do sol de sexta-feira ao final da tarde de sábado, tentam se abster de qualquer trabalho. Aliás, isto não deixa de ser uma oferta ou um agradável jejum a Deus, quando resolvemos dedicar parte do nosso tempo para orarmos, meditarmos na sua Palavra e prestarmos culto ao Criador. Mas atentando para o que me escreveu em resposta, digo que simplesmente não procuro razões para acreditar em Deus. Eu simplesmente decido crer e demonstrar confiança quando resolvo obedecer sua Palavra. A todo instante sou bombardeado por dúvidas acerca de sua existência, da sua bondade, do seu perdão e da sua vontade, o que acho super normal porque os "heróis da fé" da lista de Hebreus 11 também devem ter passado por isso, ainda mais nos momentos de dificuldades. Só que aí acho que nos cabe uma decisão de seguir a Deus, mesmo sem termos provas de sua existência. Concordo que interferir de forma positiva na pequena história da humanidade seja importante e estou certo de que todo cristão foi chamado para fazer diferença no mundo em que vive, como consequencia de um comportamento amoroso. Aliás, é o que Deus mais quer de nós, isto é, que amemos a Ele de todo o nosso coração e ao próximo como a nós mesmos. E, como disse o apóstolo João,s e não amo ao próximo que eu vejo, como poderei amar a Deus a quem não vejo? Um forte abraço e apareça sempre que desejar.

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  3. Regina- serva do Senhor, creio em Deus pela Palavra Dele.
    Deus também virou matéria de sentimento. A grande maioria vive buscando emoções que validem e evidenciem a presença divina. Queremos sentir a sua presença! Queremos tocar no manto de Jesus. Essa é a tônica da mentalidade pós-moderna que vive embriagada com a aparência da realidade e com o desfrute de tudo aquilo que é meramente sensório. Mas a Bíblia afirma: Visto que andamos por fé e não pelo qJesus disse: e conhecereis a verdade; ele não disse: e sentireis a verdade. A vida de fé é um produto da verdade divina, revelada em sua palavra, sem necessidade alguma de um sentimento comprobatório que autentique a veracidade da experiência. Ninguém precisa de uma emoção para apoiar a fé depositada na palavra de Deus, e mesmo que alguém tenha alguma muito importante, não há obrigação de vinculá-la ao conteúdo da féue vemos. 2Coríntios 5:7. Isto é: andamos pela fé e não pelos sentimentos.

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  4. Obrigado peloa participação! Concordo com o que diz, lembrando que o sentir nada mais é do que gênero da visão, da audição, do tato, do paladar e do olfato. O que é "sentir a presença divina" na concepção de muitos, senão um tipo de tato emocional? Ao contrário do sentir, precisamos andar na Divina Presença, deixando que o Espírito Santo nos oriente, buscando um real relacionamento com Ele.

    Participe sempre que desejar!

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  5. Cuidado!!! Vcs podem estar tirandos muitos que tem se esforçados estar na presença de Deus. Prestem atenção com as palavras pq nem todos que leem esse documentario conhecem a palavra de Deus muitos são novos convertidos. Cuidado!!!

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  6. Olá, Kamille,

    O que é Estar na presença de Deus" pra você? E qual o seu conceito de conversão?

    Ninguém precisa se esforçar pra esatr na presença de Deus. Todos estamos contidos Nele, vivemos Nele e nos movemos Nele. Além de que não há méritos e nada que possamos fazer em termos com esforço próprio para sermos "aceitos por Deus" porque é através de sua graça que desfrutamos da vida eterna.

    Se um "novo convertido" ler este texto, melhor. Assim a pessoa já não constroi em sua mente conceitos equivocados do neopentecostalismo brasileiro.

    Abraços.

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