Hoje eu estava numa loja de aperitivos próxima ao Fórum de minha cidade e, durante a minha conversa com a vendedora e proprietária do estabelecimento, começamos a falar sobre os vinhos antigos. Debatemos a respeito de garrafas da época da primeira metade do século XX que hoje são vendidas nos leilões por uma fortuna, mas os seus compradores (geralmente colecionadores) na maioria das vezes nem ousam abri-las em razão do alto valor do produto.
Questionei então que graça teria adquirir um produto que jamais vou usufruir. Mas a vendedora, em sua réplica, soube fazer uma excelente comparação com o estilo de vida de grandes milionários, pessoas que têm um poder aquisitivo altíssimo para pagar até mesmo por uma viagem à lua.
Tal conversa fez com que eu me recordasse do multimilionário norte-americano Dennis Tito que certa vez pagou 20 milhões de dólares aos russos apenas para fazer turismo numa base espacial, coisa que eu preferiria evitar se fosse astronauta, ainda mais quando me recordo do que aconteceu com a explosão da Challenger num passado não muito distante. Não nego que teria curiosidade de olhar o nosso planeta do espaço ou mesmo pisar na lua, mas não faria destas coisas uma prioridade pra mim, assim como não me importaria com a compra de um vinho de 70 anos atrás.
Lendo a Bíblia, encontro no Livro do Pregador (Eclesiastes) as confissões de um riquíssimo monarca que adquiriu tudo quanto desejaram os seus olhos, tendo concluído que “tudo era vaidade e correr atrás do vento”.
Supõe-se que rei Salomão tenha vivido no século X a.C., época em que governou Israel por 40 anos. Foi ele quem construiu o primeiro templo judaico, bem como palácios e outras obras suntuosas. Em seus dias, a prata tornou-se coisa tão comum em Jerusalém quanto as pedras, ou seja, sem nenhum valor econômico. O trono em que sentava era de marfim e ele bebia em taças feitas de ouro. Teve uma quantidade absurda de mulheres, nada menos do que umas 700 esposas e outras 300 concubinas, as quais ele, com toda a razão, chamou de “delícias dos filhos dos homens”.
Contudo, tem-se um relato deprimente a respeito de Salomão durante a sua velhice em que o Livro de Reis não esconde a corrupção do coração do monarca, o qual, aceitando a influência de suas esposas estrangeiras, “seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e a Milcom, abominação dos amonitas”. Em frente à Jerusalém, diz o texto que ele construiu um santuário de adoração a Quemos, uma abominação dos moabitas, além de ter trazido para Israel o culto hediondo a Moloque em que mais tarde pelo menos dois de seus sucessores chegaram a sacrificar os próprios filhos quimando-os no fogo.
Ser rico nunca foi pecado, mas o amor às riquezas é algo comparável à idolatria. E as consequências de uma vida errada em relação a Deus acabam sendo catastróficas para quem decide seguir os seus próprios caminhos, desprezando o Criador. Pois, além da cegueira espiritual, no sentido de perceber a noção de que está caminhando para abismo, o homem perde a compreensão sobre qual é o verdadeiro sentido da vida. E, neste sentido, as riquezas tornam-se um perigo para o ser humano.
Os Evangelhos sinóticos contam sobre o encontro de um jovem rico com Jesus, o qual lhe perguntou sobre o que precisava fazer para herdar a vida eterna. Em resposta, o Senhor lhe disse para guardar os mandamentos da Torah, citando alguns que se encontram no decálogo: não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe.
Reagindo à resposta dada por Jesus, o jovem rico disse que todos aqueles mandamentos ele já observava desde a sua juventude e, na certa, deve ter se sentido perplexo com o que ouviu pois não sabia o que ainda estava lhe faltando. Então o Senhor, fitando os olhos nele com muito amor disse: “Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me”.
Lamentavelmente, por se sentir contrariado com as palavras ditas por Jesus, aquele jovem rico preferiu retirar-se triste do que se alegrar com aquilo de mais valioso que o Senhor lhe prometeu: um tesouro no céu.
O sentimento de tristeza do jovem rico demonstra que, mesmo possuindo uma abundância de bens, o homem é capaz de se tornar infeliz e sem propósitos para viver, fazendo com que uma pessoa se sinta ao mesmo tempo muito pobre, mesmo quando se pode comprar tudo aquilo que os olhos conseguem ver.
Por várias vezes tive os mais frustrantes pensamentos sobre o que faria se ganhasse na mega-sena acumulada, coisa que dificilmente ocorreria comigo porque não tenho o costume de jogar. Mas se estou gastando algumas linhas deste texto para soltar a minha imaginação, posso então fazer de conta que, por acaso tenha achado algum bilhete premiado perdido aqui pelas ruas de Nova Friburgo já que, no mundo da fantasia, tudo é possível.
Prosseguindo no meu desvaneio, posso dizer que, assim que botasse a mão na grana do prêmio, eu poderia realizar o sonho de visitar todos os continentes do planeta a começar fazendo um turismo cultural e arqueológico pelo Mediterrâneo, com ênfase nos lugares antigos citados na Bíblia que eu tanto leio.
Mas será que tudo seriam flores quando nos tornamos milionários?
Provavelmente eu iria me deparar a todo instante com a miséria do meu próximo, coisa muito comum num raio de poucos quilômetros das belíssimas praias brasileiras ou daquelas curiosas pirâmides do Egito. Na Palestina, enquanto estivesse caminhando pelo lugares físicos em que Jesus andou, eu presenciaria muitos conflitos desagradáveis entre judeus e árabes, percebendo a falta de razão em satisfazer a mim mesmo enquanto tanta gente ali continua se destruindo. E como gozar a vida na Europa, ou nos Estados Unidos, em que milhões de imigrantes clandestinos sofrem opressões todos os dias e procuram vagas de trabalho em condições atentatórias à dignidade humana? E que graça tem observar a fauna africana se naquele continente vou encontrar tantas crianças passando fome? E o que fazer num hotel de selva da Amazônia ou num passeio ecológico pelos mares da Antártida enquanto as últimas áreas verdes do planeta estão sendo devastadas?
Prosseguindo neste sonho de vaidades, depois de viajar pelo Brasil e por mais de 100 países, finalmente eu teria que pensar na minha falsa segurança, em onde aplicar o meu dinheiro para que amanhã não ficasse pobre novamente e qual casa iria comprar para fixar minha nova residência. Então, dentro de algumas décadas, sustentando meu luxo através do rendimento de juros bancários, algum dia eu ficaria velho, caso não morresse antes, e estaria destinado à sepultura assim como todos os homens. Sentiria saudades dos meus amigos e parentes que tivessem ido para a sepultura antes de mim, além de um profundo vazio por ter buscado apenas satisfazer meus próprios desejos num mundo que é passageiro, cheio de desigualdades sociais, violência, enfermidades e sem amor.
Ora, mas assim como os ricos que vivem egoisticamente, observo que muita gente pobre também levam uma vida vazia e sem propósito. Há pessoas que passam os seus dias comemorando resultados do futebol, enquanto outras apostam tudo na beleza ou no prazer do sexo. Tem aquelas que se contentam em prestar a atenção dos comentários sobre as realizações alheias, procuram trabalhar excessivamente, penduram-se em intermináveis prestações comprando as novidades vistas na TV ou fazem obras intermináveis nas suas casas. Muitos militantes políticos fanáticos passam a maior parte do tempo em função de seus respeitáveis ideais que, embora sejam causas justas e louváveis, acabam se tornando um ídolo para os seus corações que eles colocam no lugar de Deus. Outros, porém, tentam se preencher com a música, colecionando compulsivamente algum tipo de relíquia, preocupando-se em excesso com a vida dos filhos ou se prendendo a diversos tipos de vícios.
Contudo, se pararmos para meditar nas palavras de Jesus, o Senhor prometeu ao jovem rico uma vida com propósitos, ilustrando a eternidade como um “tesouro no céu”, algo que ele só encontraria se colocasse em prática a palavra recebida.
A meu ver, Jesus prometeu ao jovem rico (e a nós também) não apenas um lugar no céu, embora isto, por si só, já estivesse de bom tamanho. Pois percebo no convite do Senhor para segui-Lo algo que realmente representa uma vida com propósitos, capaz de dar sentido à nossa existência neste planeta complicado.
Mas o que é seguir a Jesus? E quais as recompensas espirituais que podemos receber deixando tudo de lado para andar nos seus passos?
Acredito que Jesus nos chama para uma vida amorosa, uma aventura que dinheiro nenhum do mundo poderá comprar, mas que só pode ser explicada quando realmente nos dispomos a experimentar sua proposta, respondendo-lhe com fé.
Quando entregamos nossas vidas ao Senhor, Ele nos enche com o seu eterno amor, perdoa todos os nossos pecados, oferece cura para as nossas feridas mais íntimas e depois desperta em nossos corações o desejo de compartilhar com o nosso próximo a felicidade que estamos encontrando. Então, a partir daí já não faz mais sentido eu apreciar aquele vinho de 1940 guardado como troféu dentro de uma garrafa fechada em minha adega particular, mas passo a me sentir livre para me desfazer de todas as relíquias do mundo que prendem minha vida para proporcionar um banquete ao meu próximo, promovendo uma festa nos corações das pessoas.
Depois que distribuísse tudo o que tinha para os pobres, o jovem rico estaria mais leve para seguir a Jesus e quiçá um dia carregar a sua cruz. Assim como Barnabé que, depois de ofertar à Igreja o valor da venda de seu campo, tornou-se um captador de recursos para os pobres de Jerusalém e, enfim, um apóstolo em terras estranhas ao lado de Paulo, podemos igualmente experimentar a maior das aventuras quando, definitivamente, resolvemos nos desfazer de nossas próprias relíquias para caminharmos ao lado do Senhor.
Como disse Jesus a Pedro, “ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por causa do reino de Deus, que não receba, no presente, muitas vezes mais e, no mundo por vir, a vida eterna” (Lucas 18.29-30).
Nos nossos dias, encontramos pessoas que descobriram o que significa trocar as relíquias terrenas por um tesouro no céu, andando nos passos de Jesus. Tratam-se muitas das vezes de homens e mulheres comuns como eu e você que, algum dia, após acolherem Jesus nos seus corações, continuam exercendo suas profissões e cuidando de suas famílias. Para elas buscar em favor de quem esteja em seus ambientes de convivência passa a fazer algum sentido de maneira que as suas atitudes fazem diferença dentro dos relacionamentos que cultivam. São pessoas que realmente se importam com o que o outro sente, tornando-se capazes de se compadecer de quem sofre, regando-lhes a alma com alegria e com amor.
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