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quarta-feira, 3 de março de 2010

Momentos de Fé




“A fé requer incerteza, confusão” (Philip Yancey)

Hoje acordei bem cedo, às seis horas e vinte minutos, a fim de levar minha esposa ao ortopedista. Desde sexta-feira da semana passada, ela vem se tratando de uma dor no joelho esquerdo numa clínica da cidade, sendo que eu tenho lhe acompanhado nestas consultas.

Desta vez, não cheguei a acordar um pouco antes para fazer minha leitura matinal da Bíblia como de costume, pois fui dormir bem tarde e não nego que tenho passado por um certo desgaste. Há quase um ano que tenho buscado assisti-la com mais atenção nos seus diversos tratamentos médicos, entrando, inclusive, na fila do SUS apenas para tentar marcar consultas médicas, as quais geralmente ocorrem dias ou semanas após. E, depois de ter começado o ano de 2010, ainda não a levei na nutricionista e nem no dermatologista. Sua cirurgia da vesícula ainda está indefinida porque estamos buscando um hospital que faça através de laparoscopia para evitarmos os risco de uma operação aberta.

No entanto, enquanto aguardava o atendimento médico na manhã de hoje, fui tomado por um forte sentimento de frustração. Por volta das sete horas da manhã, quando chegamos na clínica (particular), esta nem ao menos havia sido aberta e os pacientes já formavam fila em pé no lado de fora. Depois, ainda ficamos esperando o médico chegar, os idosos serem atendidos e finalmente chamarem-na por volta das nove e meia.

Além de vê-la com dor, eu não podia esconder o meu desconforto não só por estar envolvido naquela situação. Sentia o cansaço de uma noite mal dormida, as preocupações em dar andamento às minhas atividades (trabalhar, pagar contas, atender pessoas), bem como sentia o mal estar intestinal, recusando-me a utilizar o banheiro coletivo apesar de ser relativamente limpo. Enfim, não desejava estar ali e gostaria muito que minha esposa não passasse por tantos problemas de saúde.

Enquanto ainda esperávamos pelo médico, resolvi refrescar a cabeça e fui até a padaria tomar um café, deixando minha esposa aguardando no desconfortável banco de madeira da clínica. Ao retornar, o médico ainda não estava e a frustração não me deixava.

Contudo, naquele angustiante momento, algo surpreendente aconteceu comigo!

De repente, olhei para todas aquelas pessoas que estavam ali e fui tomado por um forte sentimento de compaixão. Pensei no sofrimento de todas elas, bem como na funcionária que chegou atrasada para abrir a clínica e no médico que todos os dias encara aquela rotina de atender dezenas de pacientes, o que, no final das contas, deve ser cansativo por mais que ele ganhe relativamente bem com aquela atividade. Então fechei meus olhos por alguns instantes e orei em pensamento por todas aquelas pessoas que ali estavam.

Tal atitude mudou radicalmente o que eu vinha sentindo. As cólicas intestinais não passaram e nem o meu cansaço. Também nem o médico chegou imediatamente após. Porém, mudou dentro de mim a maneira de encarar aquela situação. Eu já não me sentia mais vítima de um problema e já não estava mais sendo governado pela situação fática. Comecei a reconhecer a presença de Deus na minha vida e agradecê-Lo por me ajudar em tantas outras coisas. Passei a ver aquela experiência como algo gratificante, uma oportunidade para poder glorificar a Deus. Então comecei a confortar minha esposa e lhe dizer palavras de encorajamento.

Situações reanimadoras como esta da manhã de hoje passaram a ocorrer com mais frequência nos últimos meses em outras ocasiões que experimentei na minha vida.

Houve uma época em que eu me abandonava diante dos problemas. Começava a me sentir só e perdia a consciência da presença de Deus.

Certa vez, quando estava começando a enfrentar meu dia, precisei lutar contra a insegurança e as expectativas das coisas que ainda me aconteceriam. Foi quando então eu me recordei das últimas palavras de Jesus registradas no Evangelho de Mateus: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (28.20b).

Na época de minha infância e começo da pré-adolescência, eu sentia uma nostalgia quando estava terminando de ler os Evangelhos e me deparava com a ascensão de Jesus. Ficava até mais triste com a sua subida aos céus do que com a sua morte porque agora já não temos mais a sua presença física no nosso meio. Ficava imaginando como seria bom se Jesus tivesse permanecido até hoje nesta terra encontrando-se conosco.

Contudo, o Senhor não nos abandonou! E a ascensão aos céus significa que Jesus continua presente em nossas vidas ainda que não o estejamos vendo. Ao lado do Pai e em nós pelo Espírito, Ele continua conosco de uma forma ainda mais especial, conduzindo-nos a experiências fascinantes a cada momento. E, no meu caso, isto vem ocorrendo quando, mesmo em meio às situações do cotidiano, lembro de sua Palavra e decido vivê-la.

De uma outra vez, estava eu indo para o Fórum sentindo o dissabor dos problemas e das lutas que enfrento. Minha mente estava atribulada e mergulhada nas situações cotidianas. Então, lembrei-me que o Senhor não nos prometeu um mar de rosas, mas sim aflições. Na noite da Ceia, horas antes de ser preso, Jesus disse aos seus discípulos: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33)

Prossegui então minha caminhada para o Fórum meditando na parte final deste versículo, trocando a ordem da frase com minhas palavras: No mundo já vencido por Jesus devo ter bom ânimo, mas passarei por aflições. Assim, refletindo na Palavra, fui recuperando meus ânimos e entregando toda a minha ansiedade a Deus naquele momento.

Deste modo, meus caros leitores, tenho percebido que a nossa fé é gerada nesses momentos de dúvida e de dificuldade, quando as coisas neste mundo só nos transmitem incertezas e falta de clareza. É quando nada de sobrenatural no mundo físico acontece, mas decidimos servir a Deus mesmo sem respostas que satisfaçam todas as nossas indagações. Quando tudo nos leva a duvidar e, apesar da ausência de provas, resolvemos crer (confiar) por mais que nossa a mente não queira acreditar.

Lembrar da Palavra de Deus sem dúvida é algo que considero fundamental nessas horas difíceis. Porém, é preciso que, em tais situações, a gente seja capaz de decidir crer, o que independe de meramente acharmos que a Bíblia seja verdadeira ou que Deus de fato existe. Então, quando decidimos crer, obedecemos e agimos conforme a Palavra manda. É aí que a fé se revela e mostra que ela é viva.

O autor anônimo da Epístola aos Hebreus, ao comentar sobre os heróis da fé do Antigo Testamento, diz que eles “da fraqueza tiraram força”, conforme consta no verso 34 do capítulo 11, o que, a meu ver, caracteriza muito bem o que é ter fé.

Que Deus abençoe sua vida e que você possa manifestar fé em todos os momentos de sua caminhada!


OBS: A ilustração acima refere-se à escultura Alegoria da Fé do artista espanhol Luis Salvador Camona (1708 - 1767), sendo os créditos autorais da foto atribuídos a Luis García, conforme consta no acervo virtual da Wikipédia em https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9#/media/File:La_Fe_(L.S._Carmona,_MRABASF_E-108)_01.jpg

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