Longe de ser um Natal fora de época para o comércio, a exemplo do que se tornou o Dia das Mães no Brasil, eis que o segundo domingo de agosto sempre acaba tendo alguns festejos, passeios, envio de presentes, visitas familiares e algum contato entre pais e filhos. Mesmo que seja um simples telefonema ou mensagens trocadas via internet.
No entanto, esta é uma data que, durante anos, foi muito dolorosa pra mim por causa do falecimento de meu pai aos sete anos de idade. Pois foi uma perda na época inesperada e que não aceitei com facilidade a ponto de haver negado o fato diante de meus colegas na escola. Pelo menos até os onze anos, quando então resolvi encarar a realidade, havendo depois encontrado um pouco de amparo na religião.
Na atualidade, confesso não sofrer mais com a perda de meu pai e nem depender tanto da figuração psicológica da Divindade como um Ser Paternal. Consegui trabalhar o que me foi levado pela vida, dar valor com gratidão ao que tive e olhar para frente.
Todavia, não deixo de honrar postumamente a memória de meu pai, compartilhando as coisas que ainda guardo na memória (e em fotografias) sobre sua pessoa, incluindo as recordações dos melhores momentos nos aniversários e passeios pelos lugares da cidade do Rio de Janeiro, onde morávamos nos meus tempos de infância. E, pelo menos até os meus quatro anos, quando vivíamos juntos (eu, minha mãe e ele), teria sido umas das épocas mais felizes da infância.
As recordações que tenho de meu pai era a de um homem barbado, embora nem sempre ele tivesse tal aparência. Era magro, usava óculos e tinha uma inteligência excepcional. Também era uma figura bem popular no nosso bairro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, em que seus amigos o chamavam de "Piu", por haver sido goleiro no futebol de salão e "frangado" diante do gol do time adversário.
Também era um bom cervejeiro e um amante da boemia, embora fosse um excelente profissional. Formado em Engenharia Mecânica, trabalhou em empresas como a Honda, Petrobrás e o seu último emprego foi na Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro, na época ainda uma estatal. Aliás, ele havia trocado a Petrobrás justamente para permanecer na Cidade Maravilhosa com a família e não ser mandado para fazer obras no Iraque, na época em que o ditador Saddam Hussein presidia aquele país e havia uma sangrenta guerra contra o Irã.
Sobre os passeios que fazíamos, visitamos várias vezes os pontos turísticos do Rio de Janeiro, embora morássemos lá. Talvez porque eu pedisse para ir repetidamente nesses locais e me agradava observar a cidade do alto dos morros do Pão de Açúcar ou do Corcovado, ainda que me portasse de modo inquieto quando chegava ao local.
Claro que não íamos apenas aos dois badalados mirantes cariocas. Havia vezes em que o passeio do final de semana era pegar uma praia na Zona Sul, irmos ao clube, à reserva florestal do bairro, à Quinta da Boa Vista (onde fica o zoológico do Rio), assistirmos uma sessão de teatro, de cinema ou fazermos uma visita a algum parente/amigo. E eram ocasiões muito boas que se mantiveram mesmo depois da separação conjugal entre ele e a minha mãe.
Além disso, eu gostava dos aniversários, os quais foram verdadeiros festões nos meus primeiros três anos de vida. E, em todas essas comemorações, meu pai se fez presente como na foto a seguir da época em que estava completando um quinquênio de vida com um evento mais simples celebrado na casa de amigos da família.
Papai faleceu aos 36 anos, em setembro de 1983, sem que eu tivesse a chance de ir ao seu enterro e não conhecesse de imediato a causa da morte. Aliás, contaram-me que ele estava doente no hospital como, na verdade, já tinha ido à óbito em sua residência na Rua Augusto Sampaio, no Leme, após sofrer um infarto no miocárdio.
Hoje, tendo eu 42 anos e vivido seis anos a mais que o meu pai, ainda não tive a graça da paternidade e acredito que partirei desta sem deixar descendente visto que Núbia já não pode mais ser mãe pelas suas condições de saúde e idade. Ela até teve duas gravidezes, mas que não foram adiante. E, se as oportunidades de trabalho e de renda nos fossem mais favoráveis, talvez adotássemos uma criança já na fase escolar.
De qualquer modo, festejo o Dia dos Pais e quero felicitar a todos os homens que têm (ou tiveram) filhos pela paternidade pois, realmente, é uma experiência muito importante, apesar de todas as dificuldades enfrentadas nos dias atuais. E ainda que o planeta hoje possa estar inchado com uma super população próxima dos 8 bilhões de habitantes, há que se perpetuar a presença de nossa espécie transmitindo um legado cultural para as gerações que nos sucedem.
Termino então por aqui esta minha postagem para que não fique tão cansativa para o amigo leitor, deixando aos pais os meus sinceros parabéns.
Ótima semana a todos!
Que texto bem escrito (você deve ter sido um excelente aluno a Português, Rodrigo, e depois com o curso de Direito ficou um "must"), bem pontuado e tão terno!
ResponderExcluirFicar sem pai aos 7 anos, deixa suas marcas, que o tempo vai se encarregando de apagar, mas…
Seu pai tinha uma figura física, que me agrada e tinha ar de "bon vivant", em todos os aspetos. Prazer, mto prazer fizeram parte da vida dele.
É bom recordar os lugares por onde ambos andaram, os passeios, k deram, enfim, tudo.
Ó Rodrigo, eu entendo sua vontade de se reproduzir, mas o Brasil, a China e a África estão superlotados. Tanta criança, tanto nascimento! Se quer tanto um filho, adote um já crescidinho, embora eu ache k não é a mesma coisa.
Eu estou tão bem sem crianças! Que liberdade! Que independência e que descanso! Sou filha única, e já só tenho uma dúzia de primos e primas, k contacto ou eles me contactam, qdo o "rei faz anos". A família de meu pai era mto pequena, embora a da mãe fosse um pouco maior, mas sempre soube estar e brincar sozinha.
Adorei as fotos e reparei nas roupas e nos penteados da época. Sua mãe, como sempre, moderna e elegantíssima. Uma lady!
QUE SEU DIA, ONTEM, TENHA SIDO DE LEMBRANÇAS FELIZES!
Beijinhos para você e Núbia. Eu passo por lá, depois.
Olá, CEU.
ExcluirObrigado pelo elogio quanto ao manejo do idioma, embora eu cometa lá meus errinhos. E o que me ajuda na correção é quando leio em voz audível para Núbia e aí percebo as falhas na redação.
Realmente meu pai era mesmo um "bon vivant". Segundo minha mãe, antes de se casar, ele passava uns tempos trabalhando na montadora, juntava um dinheiro e passava outros meses só passeando e aproveitando. Na época, os salários eram mais altos do que hoje assim como o poder aquisitivo da classe média brasileira e igualmente proporcional a oferta de trabalho.
Quanto a ter filhos, de fato pensaria hoje em adotar, caso levasse uma vida mais estável. Não faria com que Núbia passasse por uma gravidez de risco hoje aos 49 anos.
Fico feliz que as imagens tenham ficado boas pois, na verdade, são reproduções editadas de fotos físicas. E dá mesmo para notar alguns estilos da época que hoje não se usam mais. E minha mãe sempre gostou de andar na moda, coisa para a qual eu já não ligo. E, numa das fotos, dá para se notar uma antiga vitrola.
Agradeço pela sua atenta leitura com comentários e volta sempre que desejar.
Beijos.