Páginas

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Rumo a um consumo responsável




Embora a humanidade esteja muito distante de compreender e adotar uma ética sócio-ambiental voltada para o consumo, considero importante investir na educação das pessoas em relação a isso a fim de que elas contribuam para a construção de um mundo melhor.

Um dos pontos que devemos observar inicialmente diz respeito aos resíduos. E, embora muito se tenha falado em reciclagem nas últimas décadas, questiono se não poderíamos de algum modo contribuir para reduzi-los? Por exemplo, as garrafas de PET e as latinhas de alumínio são reaproveitáveis, mas, se você puder consumir o seu refrigerante numa embalagem de vidro, a qual é 100% reutilizável, a princípio não seria uma conduta melhor para a natureza?

Igualmente, se vou às compras num supermercado, por que não sair de casa portando uma sacola retornável? Sei que nem sempre é possível as pessoas terem esse planejamento devido à estressante correria do cotidiano e muitas das vezes as sacolinhas plásticas são bem-vindas quando utilizadas para armazenar o lixo doméstico. Só que, infelizmente, acabamos acumulando um excesso de sacolas, as quais acabam parando nos aterros sanitários quando não ficam esparramadas pelo ambiente, poluindo logradouros públicos, quintais e até os oceanos (muitas tartaruguinhas morrem asfixiadas porque confundem o plástico com água-viva por ser um alimento natural delas).

Ainda que não esteja ao alcance de todos, é fundamental promover a produção sustentável, incentivando as cadeias produtivas com certificações, rótulos ambientais, alimentos orgânicos, éticos e de comércio justo. Compreendo que um produto sem agrotóxicos muitas vezes só cabe no bolso de uma classe média culta de poder aquisitivo mais elevado. Porém, penso que seja possível sermos um pouco mais seletivos e/ou criteriosos mesmo na compra de algo convencional, olhando outros aspectos além do preço somente.

Mas como se vê, não são apenas os danos à natureza que precisam ser avaliados! Há que se considerar também o ser humano e a sua inclusão social por meio do processo produtivo adotado. Por exemplo, quem é que procura saber se fornecedor do carvão usado para acender a churrasqueira não se utiliza da mão-de-obra infantil? 

E quanto ao alimento consumido? Será que a nossa comida vem de pequenas ou de grandes propriedades rurais? Quantos se preocupam em ajudar um assentamento agrícola ou com a fixação do homem no campo?

Além disso, por que muitos de nós ainda preferimos fazer a nossa compra do mês nos estabelecimentos das grandes redes de varejo, chegando a enfrentar longas filas, se, na mercearia do vizinho, os preços dos produtos não promocionais são quase os mesmos? Afinal, não seriam as microempresas que mais geram empregos e distribuem renda? Só que uma boa parte dos consumidores se deixa levar pelo marketing publicitário ou se prende à agiotagem dos cartões de determinadas lojas ou bancos de modo que viram escravos de um terrível sistema financeiro concentrador de riquezas.

Junto com o microempresário e o pequeno produtor rural, há que se lembrar também dos artesãos, dos ambulantes, dos profissionais liberais e dos prestadores de serviço autônomos. Existem ainda as cooperativas, dentre as quais temos as de catadores e de recicladores, sendo todas essenciais para a promoção de um desenvolvimento comunitário nas milhares de localidades espalhadas por esse país.

Evitar desperdícios de energia, melhorar a eficiência energética e incentivar a auto-suficiência são medidas que jamais podemos ignorar. Para muitos pode ainda custar caro colocar em seu imóvel uma placa de energia solar (eu mesmo não tenho), porém há soluções simples que podem sair mais baratas tipo o biodigestor rural com o aproveitamento do esterco de boi capaz de substituir o gás de cozinha. Neste caso, chega a ser até mais rentável para o homem do campo.

E quanto à água? Por acaso o armazenamento domiciliar das chuvas não se refletiria nos gastos com os serviços de abastecimento hídrico e proporcionaria mais conforto aos moradores de uma residência? Isto porque as águas pluviais podem muito bem ser utilizadas para molhar plantas, jardins, ajudar na faxina e dar descarga no vaso sanitário. Do mesmo modo, as águas do chuveiro passariam a ter um segundo destino antes de serem lançadas na rede de esgoto.

Outra coisa! Você já pensou em reduzir o seu consumo de carne? Pois, além de melhorar a sua saúde, a sua atitude vai contribuir para que menos áreas do planeta (inclusive da Amazônia) sejam ocupadas com a pecuária. Quer seja diretamente, em razão das extensas pastagens, ou com a produção de ração animal. Assim, os ecossistemas nativos podem ser melhor preservados e a produtividade rural atender a uma população global cada vez maior.

Admito que até aqui foquei mais no consumo individual, mas não posso deixar de abordar também as compras públicas com as quais raramente nos preocupamos. Por exemplo, quantos pais se interessam pela merenda de seus filhos e comparecem a uma reunião do conselho de alimentação escolar na cidade onde vivem? Será que vamos permitir que o mercado institucional das prefeituras continue se comportando sem nenhum critério de inclusão sócio-ambiental?

Acredito que, com mais consciência e participação cidadã, podemos paulatinamente fazer com que a humanidade caminhe rumo a um desejável consumo sustentável estabelecendo assim a cultura do cuidado. É algo que projeto para longo prazo porque depende da educação das pessoas e, ao mesmo tempo, de políticas públicas eficientes. Muitas são as informações para serem refletidas, divulgadas e compreendidas pela população, o que nos convida a fazermos a nossa parte nas pequenas coisas bem como discutirmos com racionalidade ideias construtivas para o futuro.


OBS: Ilustração acima extraída de uma página da Fecomercio de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário