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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A comunicação entre cliente e advogado




Constantemente recebo mensagens de pessoas solicitando ajuda sobre algum processo em curso na Justiça ou em relação a conflitos que pretendem solucionar. Muitas delas já expõem que têm um advogado acompanhando o caso e, ainda assim, pedem auxílio a este internauta. No blogue, as postagens onde mais chegam solicitações seriam estas: Os julgamentos na segunda instância judicial, Direitos de aforamento - uma relíquia jurídica que ainda atrapalha muita gente em várias cidades brasileiras e A responsabilidade por cartão de crédito roubado.

Por razões de ética profissional, procuro não entrar no caso concreto quando respondo. Pois, além do dever de respeitar o trabalho de um outro colega, considero importante a valorização dos serviços advocatícios. O meu objetivo ao escrever artigos sobre qualquer tema não inclui a prestação de serviços jurídicos e/ou de simples consultas via internet. Sei que muitos se sentem angustiados e fatigados no enfrentamento de situações relacionadas a um conflito. Mas, por outro lado, entendo que qualquer assistência prestada por mim via internet deva ficar facultativamente limitada à generalidade de um assunto acadêmico para não se tornar algo anti-ético e que acabe desorientando o internauta. Inclusive para nunca tirar o ganha pão de muitos outros causídicos já que o profissional do Direito, após ter se dedicado por anos numa instituição de ensino superior, investido em livros e se privado de tantas outras coisas imediatas, precisa ser adequadamente remunerado neste país.

Outrossim, é desaconselhável um cliente pegar informações na internet e tentar, por sua conta e risco, a tomada de certas decisões quando ter o conhecimento técnico se faz necessário. É o que muitos têm feito se arrogando no lugar de advogados, como se bastasse consultar o dr. Google. Pois tão perigoso quanto ler o resultado negativo de um exame médico e achar que está tudo bem com a sua saúde, seria outra atitude temerária alguém encontrar um artigo sobre leis na internet e pensar que a sua situação está tranquila ou possa ser resolvida de uma determinada maneira.

Ora, mas por que essas situações ocorrem? 

Afinal de contas, o que tem faltado na comunicação entre o cliente e seu advogado? 

E por que tal diálogo nem sempre flui como deveria?

Sinceramente, não acho correta a responsabilização do advogado sempre que a comunicação com o cliente dá errado. Há pessoas que são mesmo bem difíceis de lidar e nem sempre compreendem (ou querem compreender) certos limites vivendo um eterno inconformismo por não terem suas pretensões satisfeitas. Dependendo do caso e/ou da própria ansiedade do sujeito, nenhuma resposta de posicionamento será suficiente para oferecer a tranquilidade desejada. Ainda mais quando se trata de clientes hipersensíveis.

Entretanto, acho que os advogados não só podem como devem melhorar a comunicação! Claro que nem sempre será possível explicar para leigos determinados detalhes técnicos de uma ação. Porém, quando passamos a entender um pouco da dor do outro e nos organizamos para prestar um atendimento decente ao público, acredito que as coisas ficam um pouco mais fáceis de desenrolar.

Assim, para os clientes recomendo que não se preocupem demasiadamente tentando acompanhar todos os andamentos na internet, nem colecionem opiniões de terceiros (principalmente dos que não são operadores da área jurídica), mas procurem cultivar uma relação de confiança com o advogado. Sejam sempre sinceros não escondendo nenhuma informação e muito menos mentindo pois é um dever do causídico manter sigilo sobre tudo o que conversou secretamente com a pessoa atendida tendo o dever de ser parcial na defesa dos seus interesses (o juiz, sim, é que precisa agir com imparcialidade).

Quanto aos advogados, sugiro que sejam sempre transparentes, simples, acessíveis e usem a didática o quanto for possível, deixando de lado o esnobe "juridiquês" das faculdades de Direito. Jamais digam, por exemplo, que uma causa seja "ganha" ou "perdida" porque podem pintar surpresas desagradáveis no curso da ação. Esclareçam o cliente sobre os riscos da demanda, alertem em relação ao prazo prescricional, recorram das decisões desfavoráveis quando houver fundamento para tanto, redijam contratos  compreensíveis que sejam capazes de abranger com suficiência tanto o objeto dos serviços quanto o pagamento dos honorários e jamais abandonem o assistido à sua própria sorte. No que diz respeito às prestações de contas sobre o andamento do processo, uma ideia seria combinar uma data mensal para o interessado ser informado, o que não afasta o dever do advogado em fazer contato quando surgir algo urgente ou de grande relevância.

Muito mais coisas eu precisaria ainda escrever sobre essa relação cliente e advogado, mas deixo o assunto aberto ao debate na expectativa de ler aqui as mais diversas opiniões que possam trazer enriquecimento em relação ao tema.

Um abraço a todos e tenham um ótimo fim de semana!


OBS: Foto divulgação/internet.

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