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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A infeliz idade dos nossos pobres




Apesar da existência de leis que defendem formalmente os direitos dos idosos em nosso país, viver a "melhor idade" não é nada fácil para o cidadão brasileiro de baixa renda depois que passa dos 65 anos.

Poucos dias antes do Carnaval, conheci uma senhora daqui mesmo de Mangaratiba que disse precisar catar latinhas na rua junto com o marido (também idoso) para poderem comprar remédio. Perguntei-a se o casal não estava recebendo alguma assistência farmacêutica do SUS, porém ela me respondeu que nem todos os medicamentos a Prefeitura anda fornecendo. Apenas os mais simples. E, deste modo, sugeri que ambos procurassem o primeiro atendimento da Defensoria Pública nas manhãs de 3ª e de 4ª feira lá no prédio do Fórum da Comarca.

O que essa cidadã me contou é verdadeiro! 

Não cheguei a entrar em detalhes acerca de quais remédios ela e o esposo faziam uso continuamente, porém tenho acompanhado o caso de alguns munícipes de Mangaratiba, inclusive as três ações de minha mulher, e verificado o flagrante descumprimento das decisões judiciais em inúmeros processos. Pois, mesmo com uma multa diária estabelecida pelo magistrado local em favor do jurisdicionado, é comum alguns remédios de Núbia não chegarem e eu ter que mexer no nosso apertado orçamento indo comprá-los numa farmácia com recursos próprios. Apesar de cobrarmos o ressarcimento pelas vias judiciais, até hoje não levantamos nenhum centavo do que se gastou. 

Por ironia, o prefeito de Mangaratiba, Dr. Ruy Tavares Quintanilha, é um médico... Mas reconheço que situações assim não são exclusivas de uma cidade só! Sei de problemas idênticos que se repetem em outros municípios sendo que o Estado do Rio de Janeiro, embora riquíssimo em petróleo, também tem sido réu em inúmeras ações sobre fornecimento de medicamentos. E, tal como se vê por aqui, o Sr. Pezão anda também descumprindo decisões judiciais. Uma vergonha!



Como se já não bastasse o idoso receber serviços de saúde ineficientes e inadequados, a sua renda vai sendo reduzida com o passar do tempo. Isto porque, com reajustes inferiores ao aumento do salário do mínimo, o beneficiário do INSS acaba sofrendo uma considerável perda do poder aquisitivo em face do elevadíssimo custo de vida. E o pior é que as necessidades vão só se multiplicando com o envelhecimento da pessoa.

Lamentável essa maneira criminosa como o Estado cuida de quem trabalhou a vida inteira! Brasileiros que contribuíram por longas décadas com a expectativa de se aposentarem com uma renda maior foram vitimados por sucessivas reformas da Previdência Social desde a década de 1990 (e continuadas pelos governos petistas) sem haver regras de transição capazes de protegê-los eficazmente.

Além das injustiças estatais, temos ainda aquelas praticadas pela sociedade. Não raras vezes, motoristas de ônibus deixam de parar para o embarque de passageiros idosos. As filas de quem tem prioridade no atendimento nas instituições financeiras chegam a andar mais lentamente que as comuns e até nos planos de saúde há uma repugnante discriminação quanto à faixa etária do consumidor de modo que muitos velhinhos precisam se socorrer da Justiça.




Eu, que completo 40 em abril, sei que poderei ser mais um idoso em 2041. Provavelmente ainda não estarei aposentado aos sessenta e cinco tendo em vista as futuras mexidas nas regras previdenciárias que deverão vir por aí. Contudo, poderemos ser a maioria da população e o governo nos tratará como um número indesejável a ser eliminado.

Hipocritamente, vejo governantes criando programinhas paliativos com a vã promessa de oferecerem mais qualidade de vida aos idosos. Um deles seriam as chamadas ATIs (Academias da Terceira Idade) em que os prefeitos apenas colocam uns aparelhinhos de ginástica nas praças para ficarem pegando chuva ao relento. Executam projetos muitas vezes super faturados e sem disponibilizarem depois um professor de educação física para dar aulas. Enfim, criam maneiras de se omitirem quanto às políticas sociais mais básicas e essenciais.

Ao contrário do Brasil, temos um exemplo a ser mostrado no outro lado do mundo. No país do "Sol Nascente", o idoso vive com dignidade e a sociedade sabe valorizar os seus velhinhos. Se você for visitar algum povoado do interior japonês, provavelmente encontrará algum cidadão centenário gozando de boa saúde, convivendo com as outras pessoas e ainda se ocupando libertariamente com atividades laborais. Neste caso, fica óbvio que o trabalho praticado torna-se um fator positivo para o bem estar do indivíduo ao invés de massacrá-lo como costuma ocorrer por aqui.

Meus caros leitores, será que não podemos mudar a nossa triste realidade e seguirmos os passos das nações mais desenvolvidas?! Não se esqueçam de que outubro está chegando... Que tal fazermos um Brasil diferente?!




OBS: Primeira ilustração acima extraída da USP enquanto a segunda imagem (com Pezão e Dr. Ruy Quintanilha à sua direita) encontrei o original na página da Prefeitura Municipal de Mangaratiba. Já a terceira, com atribuição de autoria a Marcelo Camargo/Agência Brasil está em http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2014-11/mp-pede-fim-da-leitura-biometrica-para-acesso-gratuito-onibus-de

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