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quinta-feira, 11 de julho de 2013

As mulheres no ministério de Jesus



Encontramos em Jesus algo incomum se comparado aos rabis de sua época. Nosso inesquecível Mestre teve seguidores do sexo feminino entre as pessoas que discipulou na Galileia. Diz o Evangelho de Lucas que, em suas pregações ambulantes "de cidade em cidade e de aldeia em aldeia", além dos doze apóstolos que o acompanhavam, "algumas mulheres (...) lhe prestavam assistência com seus bens" (Lc 8:2-3).

O autor sagrado menciona os nomes de algumas delas e fala brevemente de Mara Madalena, "da qual saíram sete demônios", Joana, esposa de Cuza, procurador de Herodes, e apenas cita Suzana. A respeito delas, quase nada se sabe pelos livros canônicos, escritos e selecionados por homens, não sendo a meu ver confiável recorrermos às tradições eclesiásticas nessa tentativa de querer entender qualquer coisa. Melhor, no meu ponto de vista, é iniciar uma investigação restrita ao próprio texto dos evangelhos, sendo que, neste estudo, limito-me a pesquisar somente em Lucas.

No capítulo anterior, Jesus havia acolhido uma mulher pecadora que lhe procurara na casa de um fariseu enquanto jantava à mesa a convite deste (7:36-50). E essa receptividade dá indícios de que o nosso Senhor tratava o sexo frágil com enorme compreensão, dignidade, humanismo e inclusão social. Nenhuma parte da Bíblia afirma que o Salvador tivesse caso de intimidades sexual e afetiva com qualquer de suas discípulas, muito embora ele devesse conhecer profundamente bem o coração delas. Mais até do que seus próprios, maridos, pais, filhos ou irmãos.

Enquanto os religiosos e políticos de seu tempo não souberam dar a devida importância a Jesus, as mulheres e os publicanos parecem ter sustentado financeiramente a obra por ele empreendida. Suponho que elas compreendiam certos aspectos do ensino do Mestre com uma sensibilidade tal que os doze apóstolos e demais discípulos homens talvez nem percebessem. Seja por questão de interesse ou, simplesmente, de perspectiva.

O texto em análise diz que essas seguidoras fieis "haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades". Com isto, podemos deduzir que se tratassem de mulheres de alguma maneira excluídas ou rejeitadas pela condição que tinham antes de uma experiência com Jesus. O fato de Maria Madalena ter sido liberta de "sete demônios", dá a entender qual a extensão de seu sofrimento até receber a cura.

Muitas das vezes a causa de algumas enfermidades pode decorrer de um assédio do mundo espiritual. Ou seja, existem consciências não físicas que oprimem pessoas vulneráveis provocando nelas dores e distúrbios inexplicáveis para a ciência convencional. Nos dias de Jesus, talvez ocorresse até o contrário em que males hoje bem diagnosticados pela Medicina fossem já preconceituados como casos de obsessão demoníaca. Mas o certo é que o Senhor devolveu àquelas mulheres a alegria de viver, restaurou-lhes a paz de espírito, fez com que se sentissem perdoadas e livres de suas culpas, dando-lhes uma nova motivação a ponto de se tornarem relevantes colaboradoras na promoção do Reino de Deus.

Nada se sabe pela Bíblia sobre quem foi Suzana, mas, em relação a Joana, o autor informa que ela teria sido esposa de um influente funcionário do rei Herodes. Enquanto no governo daquele tirano imoral uma mulher possivelmente só encontraria espaço se fosse prestando serviços sexuais em sua cama, ou dançando libertinamente numa de suas festinhas machistas, não era assim que as coisas funcionavam na realidade do Reino anunciada por Jesus. O Salvador veio libertá-las da posição de inferioridade que aquele mundo masculino lhes destinava.

Desde as caminhadas de Jesus pela Galileia até a sua morte e sepultamento, essas mulheres irão acompanhá-lo com a coragem que nem todos os homens tinham (23:49,55). Serão elas as primeiras testemunhas da notícia da ressurreição ao comparecerem no túmulo do Senhor levando aromas no domingo pascal (24:1-11), dando a entender que a fé muitas das vezes nasce primeiro nas pessoas de maior receptividade à Palavra, entre as quais costumam estar as mulheres. Não é por acaso que o escritor bíblico de Lucas falará a seguir da Parábola do Semeador. A ordem dos acontecimentos em cada Evangelho tem um significado particular.

Que solos férteis não são geralmente os corações femininos capazes de produzir a "cento por um"?! Ainda hoje são as mulheres quem têm maior inclinação para a espiritualidade. Enquanto nós homens queremos racionalizar demais as coisas, elaborando rançosos conceitos lógicos e métodos limitados de investigação da verdade, quase sempre conservadores e fechados na nossa inflexíbilidade de pensamento, elas desenvolvem um outro senso de observação dos fatos. Estão mais próximas dos sentimentos e da relação direta que estabelecem com a vida. Vida esta que também geram dentro de si.

Na nova dimensão do Reino, já não há mais diferenças ou distanciamentos sociais entre homens e mulheres. Os dois sexos tornam-se co-construtores de um mundo melhor e devem ser dignamente tratados sem haver uma relação de subordinação mas, sim, de coordenação. Por mais que a Igreja, o judaísmo e outras religiões antigas tenham demorado séculos para começarem a entender isso, as discípulas do Senhor têm todo o direito de aprenderem e também de ensinarem. Podem muito bem tomarem parte no ministério e pastorearem. E ainda ocuparem posições de destaque na nossa sociedade como a posse de cargos públicos revestidos de autoridade estatal (magistratura, comado militar e polícia), a chefia de companhias privadas e até a presidência do país como hoje acontece de forma inédita no nosso querido Brasil após cinco séculos e uma década de História.

Analisando como são as coisas hoje, vejo o quanto Jesus foi revolucionário em sua época predominantemente patriarcal. Ainda falta muita coisa para que o Reino de Deus seja estabelecido em todos os relacionamentos pessoais, familiares, sociais, políticos, econômicos, sociais e religiosos, mas a contribuição do Mestre foi fantástica. A inclusão das mulheres no seu ministério e discipulado pode ser vista como uma semente que, apesar de ter demorado quase dois milênios para germinar, tornou-se agora uma realidade incontestável. E duvido que as coias retrocedam.

Valeu, meu Jesus!


OBS: A ilustração utilizada neste texto refere-se a um quadro pintado pelo artista alemão Hans Holbein, o Jovem, o qual viveu entre 1498 e 1543, tendo sido um dos influentes mestres do retrato na época do Renascimento. Extraí a figura do acervo virtual da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Noli_me_tangere_detail_-_Hans_Holbein_the_Younger.jpg

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