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terça-feira, 8 de maio de 2012

Visitando as selvagens praias cariocas

A maioria dos turistas que visitam o Rio de Janeiro (e até mesmo o próprio carioca) ainda ignoram os belos recantos escondidos nas distantes praias compreendidas na região de Grumari. Em geral, as pessoas preferem ficar mais pela orla de Copacabana, Ipanema, São Conrado ou Barra da Tijuca, deixando de conhecer lugares paradisíacos ainda livres da especulação imobiliária.

Eu mesmo admito que, quando vivi aqui em outro momento de minha vida (antes de alcançar a maioridade), não tive a chance de visitar os locais mais remotos do município em toda a sua extensão territorial de 1.182 m². Neste último domingo, porém, resolvi ir junto com minha esposa até às praias escondidas que ficam depois do bairro Recreio dos Bandeirantes, viajando dentro da própria cidade.

É incrível poder admirar uma paisagem cinematográfica como as praias do Parque Natural Municipal de Grumari, o qual se encontra duplamente protegido por uma área de proteção ambiental (APA). Dali há locais que nem mesmo dá para ver os edifícios altos da Barra e a impressão que se tem é que todo aquele patrimônio ecológico nem faz parte do Rio de Janeiro. Atrás fica um enorme costão e, em frente, o mar azul com algumas ilhas. Só que, por outro lado, é preciso percorrer uma longa distância para chegar até lá e o acesso é bem complicado para quem não tem carro.

Por volta das 10 horas da manhã, saímos daqui do Grajaú, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro onde eu e Núbia estamos morando desde meados de dezembro no apartamento que era da vovó. Pegamos um ônibus até à Tijuca, saltando na rua Uruguai com a Conde de Bonfim, e de lá tomamos uma outra condução até o Recreio dos Bandeirantes passando pela serra do Alto da Boa Vista cheia de verde ao redor. Depois continuamos no coletivo pelo longo trajeto na Barra até desembarcarmos em frente ao supermercado Prezunic de onde só foi possível prosseguir o nosso passeio de táxi.

Já deveria ser quase meio dia e meia quando chagamos à Praia do Abricó que é umas das mais bonitas e interessantes da região de Grumari e Prainha. A corrida de táxi deu uns R$ 23,00 (vinte e três reais), mesmo sendo um domingo em que se aplica a “bandeira dois”. Saltamos perto de um bar e caminhamos por uma deliciosa trilha até lá, o que não deve ter levado nem cinco minutinhos.

Adequadamente situada numa área praticamente desconhecida dentro de Grumari, o Abricó é uma praia oficialmente destinada para a prática do naturismo, sendo o único local público no Rio de Janeiro onde é permitido ficar tomar banho de mar nu. E por estar situada num local isolado, os seus frequentadores podem usufruir daquele espaço com privacidade embora nem sempre esteja livres da presença de curiosos.

Não posso negar que fomos muito bem recebidos pelo simpático pessoal da associação de naturismo. Um dos amigos que tenho no Facebook chamado Wiliam logo reconheceu-me assim que saí da trilha e nos apresentou para os demais integrantes do grupo que costumam ficar juntos em família numa parte da praia. Conversamos bastante sobre o lugar e trocamos ideias a respeito do movimento naturista. Ao final, eu e Núbia viemos a ser carinhosamente incluídos num parabéns dedicado aos associados que fizeram aniversário no mês de abril com direito a um delicioso pedaço de bolo.

Mal compreendidos até hoje, os naturistas são equivocadamente chamados de nudistas pelas pessoas que desconhecem o real propósito do movimento deles. Isso porque o naturismo não se restringe ao hábito de alguém andar sem roupas. Segundo a definição de 1974 adotada pela FBRN, o “naturismo é um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, que tem por intenção encorajar o auto respeito, o respeito pelo próximo e o cuidado com o meio ambiente” (http://www.fbrn.org.br/). Ou seja, é algo bem além do nudismo mas que também não deve ser confundido com o naturalismo.

Permanecemos na praia com a galera da associação até pouco depois das três da tarde. Mergulhei na água numa única ocasião e mesmo assim com a devida cautela porque o mar estava bravo (maio é época da ressaca no Rio). Fizemos a nossa consumação numa barraca ali mesmo saboreando uns gostosos sanduíches naturais de frango feitos pela jovem Érica, sendo que os preços estavam bem acessíveis se comparados com os estratosféricos valores cobrados pelos poucos bares e restaurantes de Grumari.

Foi fundamental termos encontrado o Wiliam com sua esposa na praia porque tínhamos ido para lá sem levar o celular para poder chamar o táxi. Voltamos de carona com eles até o Recreio apreciando toda aquela paisagem magnífica. Vimos os surfistas pegando onda na Prainha e passamos pela Praia da Macumba já numa área urbanizada. Depois pegamos um ônibus rumo à Zona Sul, descemos em Copacabana, almoçamos quase de noite e chegamos em casa depois das 19 horas.

Mesmo encarando um longo percurso na ida e na volta, valeu a pena ter curtido aquelas três horas no espaço naturista do Abricó neste tranquilo domingo de outono em que menos pessoas vão à praia se comparado ao verão. Tudo bem que passamos mais tempo dentro do ônibus, mas em compensação pudemos apreciar aquele cenário natural in esquecível num ambiente bem agradável e com pessoas super alto astral. Um lugar que certamente pretendemos retornar para conhecer melhor onde ainda pretendo fazer lindas caminhadas na floresta indo a pé de Grumari até Guaratiba, se Deus assim permitir.


OBS: As fotos acima foram extraídas do site da Associação Naturista da Praia do Abricó em http://www.anabrico.com/

5 comentários:

  1. Espero que o lugar continue preservado e com uma frequência com elevado nível de consciência e de ética como é o pessoal da Associação Naturista da Praia do Abricó. Conforme fomos orientados por eles, o Abricó só deve ser frequentado nos finais de semana e feriados com tempo bom quando o grupo encontra-se no local. Ir lá em outro dia e horário não seria recomendável para quem busca convivência familiar já que, infelizmente, falta um apoio institucional dos governos para zelar por aquele notável espaço dedicado aos naturistas, coisa que em terras europeias é super prestigiado e conta com uma frequência bem maior do que no nosso país ainda deitado eternamente em berço esplêndido quando se fala em matéria de turismo.

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  2. SACRILÉGIO!SACRILÉGIO!SACRILÉGIO!SACRILÉGIO!SACRILÉGIO!SACRILÉGIO! Tu foste na Praia da Macumba e no espaço naturista do Abricó???!!!KKKKKKKKKKKKKKKKKK

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  3. Que pena, Rodrigo

    No meu tempo em que fazia residência médica no Rio de Janeiro (1972) não tinha esse tipo de praia para naturistas. Porém, tinha o Bar Veloso na rua Montenegro na praia do Ipanema, onde de vez em quando encontrava os astros da bossa nova tomando seus chopes em mesas dispostas nas calçadas. Naquele tempo, o samba "Garota de Ipanema" letrado e musicado ali mesmo, fazia seus 10 anos de sucesso.

    Ai que saudades...

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  4. Olá, Franklin.

    Na Praia da Macumba eu apenas passei. Não vi nada de tão diferente lá. Nenhumdespacho ou oferenda para os Orixás... (rsrsrs) Trata-se de um local bem urbanizado.

    Mas a Praia do Abricó é um lugar lindo. Pena que não chega a ser efetivamente protegido pois os governos não levam os naturistas a sério. Nem tão pouco a sociedade que se esquece que há um nincho de mercado a ser trabalhado no turismo de modo que o naturismo no Rio precisaria de mais espaços e maiores com o devido apoio institucional.

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  5. Amigo Levi,

    É uma pena que Ipanema já não tenha tanto o seu encanto do passado, mas ainda há vida inteligente por lá e muitas coisas interessantes. Nestas horas, ficamos com o lamento da conhecidíssima música de Bossa Nova Carta ao Tom:


    Rua Nascimento Silva, 107
    Você ensinando pra Elizete
    As canções de canção do amor demais

    Lembra que tempo feliz
    Ah! que saudade
    Ipanema era só felicidade
    Era como se o amor doesse em paz

    Nossa famosa garota nem sabia
    A que ponto a cidade turvaria
    Esse Rio de amor que se perdeu
    Mesmo a tristeza da gente era mais bela
    E alem disso se via da janela
    Um cantinho de céu e o Redentor

    É, meu amigo, só resta uma certeza
    É preciso acabar com essa tristeza
    É preciso inventar um novo amor

    Rua Nascimento Silva, 107
    Eu saio correndo do pivete
    Tentando alcançar o elevador

    Minha janela não passa
    De um quadrado
    A gente só vê cimento armado
    Onde antes se via o Redentor

    É, meu amigo, só resta uma certeza
    É preciso acabar com a natureza
    É melhor lotear o nosso amor

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