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sábado, 19 de maio de 2012

Passeio pelo bairro imperial de São Cristóvão - Rio de Janeiro

Neste sábado (19/05), fiz um tur bem cultural no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, juntamente com minha amada esposa Núbia. Foi uma breve viagem pela história da Cidade Maravilhosa, através de um interessante evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) que está ocorrendo durante este final de semana.

Eu havia tomado conhecimento do evento no outro sábado (12/05), horas após ter levado Núbia na rodoviária Novo Rio, quando então resolvi passar o final da tarde caminhando pela Quinta da Boa Vista. Andando bastante pelas alamedas de lá, eis que, quando passei pela saída principal do parque, reparei numa faixa a informação sobre o passeio deste fim de semana incluindo ônibus gratuitos para transportar as pessoas até os museus do bairro de São Cristóvão.

Apesar do mau tempo que fez no decorrer da semana, até que este sábado rendeu um belo dia ensolarado. Tendo eu e Núbia agendado esta programação, saímos de manhã daqui do Grajaú, bairro onde moramos, e fomos de táxi até a Quinta da Boa Vista afim de nos juntarmos às pessoas que já se agrupavam lá na espera do passeio. Chegamos praticamente às 10 horas da manhã no ponto de partida onde recebemos um folheto com o roteiro.

Não demoramos muito para sair e o primeiro local visitado foi o Museu Militar Conde de Linhares, na Avenida Pedro II, bem pertinho da entrada principal da Quinta da Boa Vista. Ali tivemos uma visita guiada no pátio e nas salas de exposições onde se destacam os veículos blindados do Exército, canhões antigos e o armamento que foi usado nas guerras das quais o Brasil tomou parte (contra o Paraguai e os dois conflitos mundiais).

Chamou minha atenção a limpeza e o cuidado que os militares têm com aquele local. Diversas plantas ali, mesmo sendo árvores comuns encontradas pelas ruas da cidade, têm seus respectivos nomes científicos documentados em placas para informação do público. Nem a popular amendoeira escapou. Também fiquei impressionado com uma sala de exposição na qual é reproduzido o barulho infernal de uma guerra criando um ambiente característico. Ali pude sentir um pouco de como é a atmosfera aterrorizante de um conflito bélico.

Durante a visita, Núbia observou o quanto tais armamentos deveriam ter ceifado muitas vidas. Sem discordar dela e contrariando o meu pacifismo religioso, tive de admitir que, graças à resistência militar dos países aliados, o mundo de hoje não é nazista. Foi devido às batalhas ganhas pela geração de meus avós, como a vitória do Monte Castelo, que não fomos dominados pela Alemanha de Hitler. De outro modo, talvez eu e minha esposa nem teríamos nascido.

Contudo, o museu não homenageia somente a história militar, os heróis da FEB ou D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812), o Conde de Linhares. O nome do local pode até ser dedicado ao ministro que acompanhou a transferência da Coroa portuguesa para o Brasil, mas é uma enfermeira brasileira, a major Elza Cansanção Medeiros (1921-2009) quem é prestigiada com uma sala mostrando o seu valioso trabalho como voluntária da saúde na época da 2ª Guerra. E, curiosamente, nenhum soldado chegou a falecer sob seus cuidados enquanto esteve na Itália.

Deixando o Museu Militar, fomos conhecer o 1º Batalhão de Guardas que é outra unidade do exército estabelecida no mesmo logradouro (avenida D. Pedro II). Ali, após assistirmos a uma brilhante apresentação da banda sinfônica do quartel, tivemos outra visita guiada. Deste vez, conhecemos o Espaço Cultural Granadeiros do Imperador e conhecemos um pouco da história do batalhão onde não só a limpeza como a cortesia dos soldados despertam admiração.

Nascido há quase dois séculos, pode-se dizer que o 1ºGB surgiu no ano da independência, em 1822, com o objetivo de ser o Batalhão do Imperador pelo qual passou o jovem tenente Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880) – o famoso Duque de Caxias. Sua localização a princípio era no Campo de Santana, no Centro do Rio de Janeiro. Com a abdicação de D. Pedro I (1831), a unidade de elite do Exército foi extinta até ser reorganizada 102 anos depois no bairro de São Cristóvão como o Batalhão de Guardas (1933). E foi Getúlio Vargas quem teria sido o presidente que mais valorizou o GB, através do qual conseguiu sufocar a revolta comunista de 1935 em que os soldados revolucionários fizeram a equivocada opção pela luta armada. Quando houve a mudança da capital brasileira para o Planalto Central (1960), foi o Batalhão de Guardas que formou em Brasília o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) e permaneceu com a denominação atual. E hoje, ainda sediado na região do antigo Paço do Imperador, o 1ºGB permanece prestando serviços em favor da manutenção do patrimônio em área da administração federal, em que podem ser destacados o Palácio Duque de Caxias e o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial.

A programação do passeio incluiu também uma visita ao Centro Cultural Maçônico do Supremo Conselho do Brasil, situado no Campo de São Cristóvão, onde assistimos a mais exposições, dentre as quais umas obras de Thiago Castro e Albert Kolker. Percorremos as câmaras filosóficas decoradas com seus símbolos característicos e honrarias aos diversos dirigentes da Loja que prestaram seus serviços à Maçonaria desde a primeira metade do século XIX, além de constarem muitas informações sobre a história nacional.

Estando já roxos de fome, almoçamos no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas que fica em frente ao templo maçônico e do outro lado do viaduto. Com centenas de barracas de artesanato e de alimentação, o turista pode saborear um pouco da culinária típica do Nordeste mesmo estando no Rio de Janeiro. Nosso cardápio, como não poderia deixar de ser, incluiu a típica e apetitosa carne de sol.

Um lugar que um dia já esteve caindo aos pedaços, como foi o Pavilhão de São Cristóvão, veio a ser inteligentemente recuperado na primeira década deste século XXI pelo então prefeito César Maia. Para lá foi transferida a antiga feira de São Cristóvão, o que fez do local um interessante mercado turístico onde imigrantes nordestinos podem trabalhar talentosamente. O visitante paga apenas R$ 3,00 (três reais) para entrar e se diverte pra valer. Mensalmente mais de 250 mil pessoas vão passear na feira, contribuindo para a revitalização de um tradicional bairro carioca.

O último ponto visitado foi o Museu de Astronomia que se encontra na Rua General Bruce. Além do conjunto histórico e arquitetônico onde funciona o MAST, o turista tem a oportunidade de enriquecer seus conhecimentos científicos acerca do Universo nas exposições interativas e cúpulas de observação celeste. Sem falar também na coleção de instrumentos científicos e nos telescópios do início do século XX que são abrigados pela instituição, o que faz daquele espaço um ambiente instrutivo para todas as idades. Uma excelente opção para as escolas levarem seus alunos (www.mast.br).

No cair da tarde, estávamos bem cansados e sentindo um pouco do frio que começa a fazer no Rio a partir de maio. Infelizmente, não deu para ficar mais tempo e curtir as atrações noturnas do MAST. Embarcamos no ônibus que nos levou até a estação do metrô de São Cristóvão de onde retornamos para casa. Núbia foi logo pra cama dormir e eu vim direto para o computador compartilhar esta última experiência.

Como o tempo foi curto, espero concluir o roteiro da programação numa próxima oportunidade, o qual inclui também o Museu Nacional e o Club de Regatas Vasco da Gama. E ainda desejo um dia ir à antiga Casa de Banhos de Dom João VI, monumento tombado pelo patrimônio histórico em 1938 onde passou a funcionar depois o Museu da Limpeza Urbana da Comlurb, bem ali no bairro do Caju, vizinho a São Cristóvão. Mas pra quem tiver condições de fazer o passeio neste domingo (20/05), deve aproveitar a chance. Os ônibus começam a circular a partir das 10 horas da manhã e terminam às 16. Totalmente grátis!


OBS: A primeira imagem do artigo trata-se do folheto do evento Turismo Cultural no Bairro Imperial de São Cristóvão de 2012. A segunda refere-se ao Museu Nacional da UFRJ, situado na Quinta da Boa Vista. Foi extraída do site da instituição em http://www.pr3.ufrj.br/pr3/ims/fotos_patrimonio/MuseuNacional.gif . Já a terceira ilustração cuida-se do Museu Militar Conde de Linhares e obtive a foto no site do Forte de Copacabana em http://www.fortedecopacabana.com/modules/mastop_publish/?tac=Inicio . A quarta imagem, cujos créditos são atribuídos a Pedro Kirilos, eu a consegui numa outra página oficial pertencente à Rio Film: http://www.riofilmcommission.rj.gov.br/locacao/centro-luiz-gonzaga-de-tradicoes-nordestinas-feira-de-sao-cristovao.

6 comentários:

  1. Rodrigão

    Você citou aí em suas incursões nostálgicas, o Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas

    Gostaria de saber se este Centro é o mesmo Pavilhão de São Cristóvão que em 1972 eu frequentava, e aproveitava a oportunidade para matar a minha fome de comida nordestina, como a tapioca, a pamonha, carne de sol, etc

    O pavilhão, naquela época, tinha uma estrutura mais simples e, lembro-me que ao lado existia um templo das Assemb de Deus.

    MUito grato pelo passeio que você me proporcionou, pelo velho bairro de São Cristóvão.

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    1. Caro Levi,

      É este lugar mesmo! O então prefeito César Maia foi quem colocou a feira nordestina no pavilhão quando este estava caindo aos pedaços. Hoje você vai lá e se depara com um "chapelão" do Luiz Gonzaga. Você vai gostar de ver como o local está hoje!

      Que tal vir ao Rio um dia desses pra matar as saudades?!

      Abraços.

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  2. Um belo passeio, o bairro de São Cristóvão é mesmo rico em história, sem falar na linda Quinta da Boavista que nem sei se está cuidada, a última vez que estive, andava meio abandonada.

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    1. Oi Wilma,

      Não vou dizer que o local esteja lá 100%, mas até que a Quinta está bem organizada e cheia de atividades e de opções populares de lazer.

      Quando passei pela gruta duas semanas atrás (no dia em que levei minha esposa na rodoviária), senti um forte cheiro de urina ali. Mas acho bem difícil controlar um espaço tão grande e que recebe um número relativamente alto de pessoas. Infelizmente, nem todos os frequentadores são conscientes.

      De quaquer modo, acho que a tendência é de melhora. Não concorda?

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  3. após ter levado Núbia na rodoviária Novo Rio, quando então resolvi passar o final da tarde caminhando pela Quinta da Boa Vista. Andando bastante pelas alamedas de lá, eis que, quando passei pela saída principal do parque, reparei numa faixa a informação sobre o passeio deste fim de semana incluindo ônibus gratuitos para transportar as pessoas até os museus do bairro de São Cristóvão.
    Como se vê caro Rodrigo, quando se deseja respirar Cultura, basta esta voltado para esse desejo, apenas com a boa vontade, você se deparou com a oportunidade de passar um dia que lhe enriqueceu, através do conhecimento de parte de nossa história, e o que foi melhor nisso tudo é que passou para o público de maneira clara essa feliz experiência, são pessoas com seu modo de percepção do que esta à sua volta, que muda perfis e aumenta saberes. Espero que seu exemplo seja seguido.
    Abraços em você e sua amada esposa
    Maria Araujo

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    1. Prezada Maria,

      Inicialmente obrigado por sua mensagem e pela participação em meu blogue.

      Eu diria que não basta apenas desejarmos algo. Precisamos tomar a iniciativa de ir ao encontro daquilo que queremos.

      Se o agricultor ficasse o tempo todo olhando para o céu, ele jamais plantaria nada. Nem sempre o cenário visto vai lhe motivar. Mas quando ele resolve lançar as sementes na terra, faz aquilo por pura iniciativa, vencendo as preocupações se choverá bastante ou se os dias seguintes serão de seca.

      Assim também nós não precisamos ficar esperando o dia seguinte. Se estou afim hoje de curtir natureza ou cultura, por que não procurar no mesmo dia?!

      Eu diria também que a vida nos proporciona uma riqueza de oportunidades. Nós é que nem sempre as enxergamos.

      Indo ao Fórum do Rio de Janeiro (no complexo de prédios do Tribunal de Justiça), eis que, por várias vezes, passei em frente ao Paço Imperial, na Pça. XV. Porém, mesmo com o antigo casarão estando bem pertinho de mim nas inúmeras vezes em que fui trabalhar, demorei bastante para resolver entrar ali num belo dia em que não tinha nenhuma obrigação profissional a cumprir. Porém, poderia muito bem ter me despertado para conhecer aquelas exposições.

      Mais uma vez agradeço por suas palavras e desejo uma excelente semana pra você.

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