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terça-feira, 3 de abril de 2012

Um passeio ecológico e cultural pelo Morro da Urca

Quem foi que disse que segunda-feira não é dia propício para dar um passeio?!

Pois foi o que fiz na tarde de ontem (02/04), quando resolvi realizar uma bela caminhada pelas matas do Morro da Urca e do Pão de Açúcar, aproveitando-me de uma ótima oportunidade que a profissão liberal oferece – o direito de organizar a própria agenda. Se não posso gozar de férias de trinta dias, semelhante aos empregados da iniciativa privada e os funcionários públicos, por outro lado tenho a possibilidade de me dar ao luxo de escolher um dia na semana sem audiências no Fórum ou atividades necessárias para não marcar nenhum compromisso e aproveitar o dia.

Tendo almoçado com a esposa no boteco que tem perto de casa (ao lado da porta de entrada do meu edifício), saí daqui do Grajaú antes das 13 horas e fui sozinho de metrô para Botafogo afim de evitar o congestionado trânsito de veículos na rua. Desembarquei do coletivo e, como não estava com paciência de procurar onde fica o ponto do ônibus de integração da Urca com o Metrô, fui andando a pé.

A caminhada de Botafogo até à Praia Vermelha não é lá tão agradável por causa das movimentadas ruas. Fazer este trajeto a pé vale mais pelos prédios históricos da UFRJ situados no local antes de chegar até o local de embarque do teleférico que sobe para o Morro da Urca. Neste percurso urbano, é possível ver também o Instituto Benjamin Constant, situado em outro prédio antigo, além do Instituto Militar de Engenharia (IME) e a UNIRIO.

No entanto, eu estava mesmo era afim de curtir a tarde junto à natureza mergulhando naquelas matas que embelezam o Morro da Urca e o Pão de Açúcar. E, tão logo meus pés alcançaram a Praia Vermelha, refresquei-me bebendo uma gelada água de coco e, em seguida, fui seguindo em direção à Pista Cláusio Coutinho também chamada de “Caminho do Bem-te-vi” ou “estrada do Costão”. Na ocasião, um extenso grupo de aprendizes de guia turístico estavam também indo para lá.

O Caminho do Bem-te-vi é uma leve e bela caminhada que pessoas de todas as idades podem fazer na Praia Vermelha. Seu nome é uma homenagem ao ex-treinador da Seleção Brasileira de Futebol Cláudio Coutinho, formado pela Escola de Educação Física do Exército. Sua extensão é de 1,25 quilômetros. E, na marca dos 350 metros, fica o começo da trilha de acesso ao Morro da Urca. Aí, os que têm mais disposição para encarar subidas íngremes e gostam de natureza não podem deixar de fazer este roteiro alternativo.

Desde a tenra infância que eu já passeava no Pão de Açúcar. Só que, naquela época, sempre que ia lá na companhia de meus pais, utilizávamos o teleférico que é chamado também de “bondinho” pelos cariocas. Isto por causa da semelhança entre os primeiros veículos sustentados pelos cabos com os saudosos bondes urbanos. Em 1999, quando comecei a namorar minha mulher, refiz aquela viagem com ela, dando-lhe aquele inesquecível presente já que Núbia jamais havia subido neste famoso ponto turístico do Rio de Janeiro. Só que, desta vez, em 02 de abril de 2012, eu pude realizar o meu passeio a pé.

Ao concluir o íngreme trecho de subida, cheguei a uma bifurcação e dei de cara com a Baía da Guanabara. Após apreciar aquela vista surpreendente, resolvi tomar o caminho da direita indo em direção ao Pão de Açúcar com seus 396 metros de altura. Continuei e atrás de mim veio um casal de turistas estrangeiros que se enganaram pensando que eu, com toda a minha determinação, estivesse indo em direção do Morro da Urca. Tão logo eles me alcançaram, expliquei-lhes que estavam no rumo errado e esclareci que eu continuaria procurando por uma trilha que pudesse me levar ao topo daquele belo monólito. Curiosamente a moça sabia falar muito bem o português.

Minutos após despedir-me do gentil casal, eu já estava chegando à base da pedra do Pão de Açúcar. Dali apreciei as vistas dos dois lado: da Praia Vermelha e da Baía de Guanabara, incluindo Urca e Botafogo. Procurei incansavelmente por alguma trilha que prosseguisse até o topo, mas nada encontrei. Então, como não sou nenhum escalador de montanhas (e nem estava preparado com equipamentos especiais), tive que retornar pela mesma trilha, mas sempre atento para ver se acharia algum caminho.

Quase de volta ao ponto da bifurcação, encontrei uma picada na floresta que eu pensei que me levaria ao Pão de Açúcar. Segui por ela e comecei a descer o morro pelo lado da Baía de Guanabara. Continuei e não demorou muito para que eu ouvisse barulho de obra bem como de crianças.

Tendo passeado em outras oportunidades pela Urca e a praia do Forte São João, dava para perceber que eu estava caminhando em direção da unidade de direção de pesquisa do Exército onde está localizada a Escola Superior de Guerra (ESG). Provavelmente ali seria mais uma área de treinamento militar e eu fui sair nos quintais de um estabelecimento municipal de ensino que talvez sirva aos filhos dos oficiais e/ou das crianças moradoras da Urca. Trata-se da Escola Municipal Estácio de Sá, nome dado em homenagem ao primeiro governador da capitania do Rio de Janeiro.

Em falar no Estácio de Sá, eis que nem todo mundo sabe que a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro se deu na região da Fortaleza de São João e não no extinto Morro do Castelo. Isto ocorreu no dia 1° de março de 1565, no contexto histórico da expulsão dos franceses, e ficou relatado pelo jesuíta José de Anchieta. Juntamente com a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói, o forte que veio a ser construído ali pelos portugueses serviu de base estratégica para defender a Cidade Maravilhosa de invasões estrangeiras durante os séculos seguintes.

Como errei o caminho para subir no Pão de Açúcar, aproveitei o momento para desfrutar daquele cenário da área militar do Forte São João. A praia ali é pequena e linda! Quase não vi pessoas, exceto uma mulher e um senhor idoso pescando. Do outro lado da Baía de Guanabara, dava pra reconhecer parte de Niterói com seus bairros costeiros como Icaraí, São Francisco, Charitas e Jurujuba. Sentindo sede, fui até uma cantina que serve aos soldados e bebi um mate tomando em seguida um picolé de chocolate.

Dali eu só teria duas alternativas. Ou sairia da área militar pela porta de entrada e encerrar meu passeio, ou então retornar pela trilha na qual desci e terminar a caminhada no Morro da Urca com seus 220 metros de altura. Ainda cheio de disposição, encarei novamente aquele caminho íngreme e, em menos de meia hora, eu já estava de volta ao ponto da bifurcação.

Quanto mais eu me aproximava do Morro da Urca, mais bonita ficava a paisagem e movimentado de pessoas o trajeto. Se na picada que leva até à área militar não encontrei ninguém, o percurso da Praia Vermelha ao nível intermediário do teleférico estava cheio de visitantes subindo e descendo. Mesmo numa segunda-feira de baixa temporada turística.

Foi ali, no alto do Morro da Urca, onde passei as últimas horas do meu passeio apreciando aquela vista deslumbrante da cidade. A área é extensa e oferece opções de alimentação, compras, entretenimento, informação cultural e até mesmo espaço para shows. Permaneci no local desde o fim da tarde até à noite, pelo que vi o Rio todo iluminado.

Durante este tempo, conversei com algumas pessoas lá e conheci um colega de profissão, o doutor Edgar, que estava ali fazendo um curso de guia turístico. Juntos tentamos conversar em inglês com duas professoras norueguesas e também observei uma conversa em castelhano entre o seu Edgar e um grupo de visitantes. Tendo chegado até lá com meus próprios pés, pude apreciar gratuitamente um show da cantora Ithamara Koorax. Do contrário, teria que pagar R$ 53,00 (cinquenta e três reais) que é o valor do ingresso do bondinho. E não me arrependo de ter esperado aquelas horas e assisti-la interpretando músicas do Villa Lobos.

Às oito e vinte da noite, voltei descendo no teleférico sem que também precisasse pagar. Isto porque eu tinha vindo pela trilha e aí para os amantes da aventura, após às 19 horas, o bondinho sai de graça. O motivo talvez seja porque, neste horário, o portão de acesso à estação já se encontra fechado não sendo mais possível retornar a pé para a Praia Vermelha. Ainda mais no escuro!

Ao chegar em casa, minutos antes das dez, levei uma bronca da esposa. Núbia já estava bem preocupada com minha demora e, como o meu celular ficou em casa, ela ficou mais nervosa ainda. Porém, valeu a pena! Tem dias que agente precisa sair da rotina, inventar coisas novas para fazer e se divertir. Do contrário, a nossa vida fica muito chata.


OBS: As fotos foram tiradas nos meus passeios anteriores (com Núbia em 1999 e na época de infância entre o fim dos anos 70 e o começo da década de 80). Já a ilustração, eu a retirei da Wikipédia, a qual refere-se à fundação da cidade do Rio de Janeiro e tem sua autoria atribuíada ao colaborador identificado por Junius, sendo permitida a sua divulgação: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Funda%C3%A7%C3%A3o_do_Rio_de_Janeiro.JPG

6 comentários:

  1. Este é meu irmão Rodrigo! Sempre muito aventureiro e curioso em explorar cada vez mais as belezas do nosso Rio de Janeiro... difícil é acompanhar seu pique! Mas parabéns pela determinação em chegar no seu objetivo daquele momento... eu me lembro que na útima vez que fui subir este morro, cheguei no meu limite e parei. Como estava sozinho procurei ser mais cauteloso. Boas visitas em outras parte de nossa cidade rica em monumentos. Abraço, Thiago.

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  2. ÔÔÔ LÔCO MEU!!! Nessa foto, seu pai está parecidíssimo com vc, e vice versa!

    Sugestão para novo visual do Rodrigão: Barba e cabelos crescidos!

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  3. Franklin, ñ fica dando esses conselhos q ele pode seguir, aí eu mando ele pra sua casa!

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  4. com esse passeio ele me deixou quase louca, saiu na hora do almoço e só chegou 22:00h. e ainda veio com uma conversa fiada que ficou assistindo um show. é mole?!

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  5. Rodrigo,

    Vejo que temos em comum a paixão pelas caminhadas. Pelo menos quatro vezes por semana faço caminhadas entre quatorze e dezenove Km nos entornos do aeroporto de viracopos. De vez em quando vou de carona a alguma cidade vizinha com distância de até cinquenta Km e volto a pé. Em 2010 resolvi inovar. Fui na caminhada de Campinas a Praia Grande, na baixada santista. Foram 186 Km em três dias. Foi uma delícia. Este ano quero repetir a dose.

    Abraços.

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  6. Amigos,

    Obrigado pelos comentários de vocês!

    Thiago, meu brother (literalmente), fico feliz que esteja orgulhoso de mim e não desista de seus objetivos. Volte um dia ao Morro da Urca e faça novamente a sua caminhada. É certo que eu já fiz subidas muito mais ingremes que esta lá em Nova Friburgo onde as montanhas podem ultrapassar os 2.000 metros de altitude. Mas, nestas horas, o que vale é a persistência. Bem que eu queria ter a mesma fibra para superar outros obstáculos da vida...

    Franklin, meu pai era pouco mais de 10 centímetros mais baixo que eu. Sempre me lembro da imagem dele de barba, mas eu não consigo ficar com o rosto cheio daqueles cabelos me espetando. SInto como se fosse uma sujeita grudada e que incomoda na hora de colocar um terno ou roupa social. Enfim, não consigo me tornar um homem barbado e a Núbia também não gostaria que eu ficasse assim. (rsrsrs)

    Amor (Núbia), não fique preocupada. Caminhar é mais saudável que beber e mais seguro que dirigir!

    Donizete, acho que você me superou! Andar 50 quilômetros é algo que acho jamais ter feito. Isto é, se for no mesmo dia. Pois, quando morava em Nova Friburgo, na época em que fui estudante solteiro, ficava dias andando por aquelas serras. Teve uma vez que saí do distrito friburguense de Lumiar, rompi a serra até à localidade do Sana (serras macaenses) e prossegui caminhando por outros lugarejos como Bicuda Pequena, Bicuda Grande (num assentamento de sem terras), Glicério e, finalmente, concluí chegando à região da represa de Tapera já no município de Trajano de Morais. E, às vezes, fazia aquelas loucuras aproveitando a semana de correção de provas quando eu matava todas as aulas já que os professores não costumavam dar matéria nova.

    Um abraço a todos e tenham uma feliz Páscoa!

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