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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Lembranças da infância

Oficialmente, 12 de outubro é considerado um feriado nacional por razões de tradição religiosa. Boa parte da população brasileira, entretanto, comemoram esta data apenas como sendo o dia das crianças.

Durante os anos de minha infância, esta foi uma das datas que eu mais gostava. Isto porque era uma oportunidade para receber presentes assim como em dezembro (Natal) e em abril (mês do meu aniversário). E, por ter nascido numa família pouco religiosa e sem nenhum envolvimento com igrejas, eu mal sabia que, no dia 12/10, os católicos celebram Nossa Senhora Aparecida. Aliás, as próprias escolas seculares onde estudei focavam mais no festejo das crianças e não na suposta aparição de Maria.

Ainda assim, nem outubro e nem o Natal me interessavam mais do que abril. Em 12/10, eu ganhava só presentes. Já em 25/12, nem sempre as comidas típicas da festa natalícia de Jesus despertavam o meu apetite. Porém, no mês do meu aniversário, eu podia conciliar os presentes, mais a festa que era feita especificamente para mim (também no dia 12), os ovos de chocolate da Páscoa e ainda tinha a comemoração do níver da mamãe em 04/04.

Não posso negar que eu era uma criança bem apegada aos meus brinquedos. Papai me deu uma coleção de carrinhos e havia no meu quarto um cavalinho de pano no qual eu era doido para subir nele. Também passava horas soltando a minha imaginação com os bonequinhos do Playmobil. Gostava de um joguinho com peças para montar cidades cujo nome agora não me recordo.

Eu me distraía assistindo desenhos na TV a ponto de quase viver dentro das animações e ser influenciado por elas. Tanto é que, no meu aniversário de dois anos, quando me colocaram pra dormir contra a minha vontade, consegui sair do berço pulando em cima do travesseiro que havia jogado para fora, conforme observava os personagens da televisão. Felizmente não me machuquei, mas deixei os adultos perplexos. Tanto é que papai acabou fazendo depois uma portinha no berço a fim de que eu passasse a sair normalmente. E não demorou muito para que substituíssem o meu lugar de dormir por uma cama de solteiro.

Outra coisa que adorava fazer naqueles tempos era passear. Até meus três anos e meio ou quatro, moramos num prédio situado no Rua Comendador Martinelli, Grajaú, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ali perto ficava uma reserva florestal que, desde a década passada, passou a ser considerada como parque. Fora isto, o bairro tinha uma deliciosa praça e minhas duas avós e uma bisavó também viviam na localidade, sendo que eu tinha vários colegas na vila onde era a casa da bisa. Contudo, também costumávamos sair para outros pontos da cidade. Além das praias, dos teatros e dos cinemas (estes ainda não tinham se tornado templos da Igreja Universal), visitávamos os lugares turísticos cariocas, sendo que os meus destinos preferidos eram o Pão de Açúcar e o zoológico.

Posso dizer que foram bons tempos que foram vivenciados com alegria durante os anos iniciais de minha vida. Depois vim a sofrer com a separação dos meus pais, seguida da perda de uma parte dos meus brinquedos por causa de um projeto de mudança, das cenas de espancamento que presenciava num péssimo relacionamento que a minha mãe teve com outro cara e, finalmente, aconteceu o falecimento do papai em setembro de 1983.

Com estas perdas e o meu amadurecimento posterior, percebi que a minha alegria de fato nunca esteve nos brinquedos perdidos, nas festas de aniversário ou nos passeios. Realmente o que eu mais desejava era ter o papai e a mãe sempre juntos, isto é, a presença paterna e materna.

Penso que, quando nos tornamos pessoas religiosas, muitas das vezes buscamos em Deus o suprimento da ausência dos pais que tivemos durante a infância. Mesmo quando eles ainda estão vivos, todos sentimos falta daquele relacionamento original que era baseado no mais sincero e perceptível afeto, em que palavras eram ouvidas sem precisarem ser pronunciadas.

Sem dúvida que Deus também é o nosso Pai e a nossa Mãe. Não como os pais e mães terrenos, mas como o celestial. Nossa relação com Ele é diferente, baseada numa intimidade que é muito mais profunda e, além de tudo, eterna. Pois Dele viemos e para Ele voltaremos. Nele vivemos porque a Sua Presença nos contém, acompanhando-nos em todos os nossos momentos de vida. Inclusive quando andamos esquecidos Dele.

Que neste dia 12 de outubro, você deixe Deus cuidar da criança que ainda vive dentro do seu coração!

6 comentários:

  1. Rodrigo, diante de Deus viramos criança. Diante de quem podemos expor nossas fraquezas e nossa dependência sem causar um susto e uma corrida? Só Ele mesmo, nosso pai da eternidade.
    Tive uma infância um pouco conturbada tb, mas tive sempre a presença de Deus me auxiliando.
    Feliz dias das Crianças para vcs!!
    Fiquem com Deus.

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  2. legal ler as suas lembranças.

    também acho que deus muitas vezes, substitui o colo de mão e pai que nos faltaram. tive e ainda tenho, uma relação muito próxima com meus pais; eles supriram completamente a minha necessidade de proteção, de atenção e de cuidado.

    será que por isso não tenho tanta necessidade de ver deus como pai/mãe?

    abraços, amigo.

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  3. Rodrigo,

    Todos temos lembranças boas e más da nossa infancia, mas ser criança tem uma grande vantagem quanto a isso, voce não tem tantas preoculpações, se hoje sua mãe brigou com seu pai voce ficará triste mas quando a situação se normaliza voce nem se lembra do ocorrido, hehehe.
    Os brinquedos marcaram minha infancia, e os desenhos me influenciam até hoje, kkkk, somos todos eternas crianças, basta querermos, eu quero porque ser adulto é chato demais,hahaha

    Feliz dia das crianças rodrigo,abraços.

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  4. Olá amigos!

    Obrigado pelos comentários de vocês.

    "Diante de quem podemos expor nossas fraquezas e nossa dependência sem causar um susto e uma corrida?" (Mariane)

    Realmente a Mariane mandou bem. E suas colocações me lembram do Salmo 139, pois só Deus nos conhece como ninguém.

    Deus certamente que está além da construção focada na pessoalidade que fazemos Dele. Contudo, creio que o Eterno permite que O cultuemos mesmo com as nossas limitações. Tanto é que até os sacrifícios de animais foram aceitos na Antiguidade quando o ofertante mostrava uma coerência íntima com o ato praticado.


    "eles supriram completamente a minha necessidade de proteção, de atenção e de cuidado. será que por isso não tenho tanta necessidade de ver deus como pai/mãe?" (Eduardo)

    Acredito que sim, Edu. E, se fizermos uma análise psicológica de Jesus, tendo em vista o que nos conta das tradições cristãs (de que seu pai José teria morrido antes do ministério messiânico do Senhor), compreenderemos talvez o porquê das constantes ocasiões em que Yeshua fez uso da imagem do "Pai".


    "somos todos eternas crianças, basta querermos, eu quero porque ser adulto é chato demais" (Tiago)

    Concordo! Acho que vale a pena preservarmos a inocência, o despreendimento, o encantamento pela Vida e a espontaneidade das crianças, mas sempre buscarmos o amadurecimento espiritual. E, sem dúvida, são coisas perfeitamente conciliáveis.

    Abraços e valeu aí pelas participações aqui.

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  5. E aê Rodrigão, gostei das fotos, tenho um montão delas também.

    Lembranças da infância? Constantemente trago a memória boas e más impressões que ficaram mas que contribuem para o crescimento.

    Vc disse:"Sem dúvida que Deus também é o nosso Pai e a nossa Mãe", essa variação de figura fica bem exemplificada no livro A Cabana, que apesar de teologicamente ser alvo de críticas, considerei muito bacana de ler pela proposta.

    Valeu mano!

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  6. Também li A Cabana e pelo que sei o livro não conseguiu ser publicado em editoras cristãs nos Estados Unidos porque suscitava estas críticas teológicas daqueles que se julgam "donos de Deus". Conclusão, o canadense William P. Young acabou procurando uma editora secular e se deu muito bem. A obra foi um record de vendas naquele país.

    Lembro que, no magnífico livro, Deus aparece para o personagem na figura de uma mulher. Bem interessante e antipatriarcal... (rsrsrs)

    Concordo contigo em relação á infância. Cabe a nós aprendermos a reeditar as memórias boas e ruins para que não fiquemos mais presos ao passado e, desta maneira, termos olhos para o futuro e vivermos no aqui e agora.

    Obrigado pelos comentários, mano!

    Grande abraço!

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