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domingo, 24 de abril de 2011

A Páscoa e a nossa passagem civilizacional


Já que estamos na Páscoa, considero muito oportuno meditarmos acerca da passagem civilizacional que a humanidade necessita atravessar, afim de que venhamos superar a atual crise ecológica e existencial do momento.

Curiosamente, em decorrência da globalização imposta pelo neoliberalismo e pelos meios de comunicação, estamos nos tornando uma só sociedade planetária. Um movimento que foi elaborado com uma finalidade excludente hoje se torna algo extremamente positivo porque produz uma admirável dialética - a globalização solidária. Já não dá para pensarmos em fazer política focando unicamente o interesse local ou de um país. Pois hoje vivemos todos numa única Arca de Noé, de modo que a minha sobrevivência inclui a todos e não somente a de minha família, visto que a Terra é um todo orgânico - um super organismo vivo.

A antiga sociedade patriarcal já se vai. Hoje a mulher toma parte nas decisões e a presença do feminino contribui para nos humanizar e nos tornarmos mais benevolentes e capazes de compreender melhor a Vida. E isto ocorre quando o masculino e o feminino se integram.

Já não dá mais para vivermos num mundo dividido em classes. Devemos ser um só povo e todos devem ter acesso à alimentação, à água, à saúde, à moradia, à comunicação, à educação e à preservação do planeta. E não somente o homem deve ser destinatário de uma política de inclusão, mas todos os seres como os animais, as plantas e os minerais, como participantes de uma única família global.

Assim, devemos ter a consciência de que não somos mais seres isolados ou que a Terra seja um somatório de elementos como a terra seca, água, rochas atmosfera e seres vivos, mas sim uma totalidade que se articula. Então, pode-se dizer que nós somos a Terra e que a Terra somos nós. Somos feitos do pó da terra e ao pó voltaremos, de modo que precisamos amar e preservar Gaia, nossa Pacha Mama. Aliás, o homem é a Terra que fala graças à animação dada pelo sopro do Eterno, de modo que precisamos reverenciar este Mistério - a Vida.

Assim, desejo que possamos compreender, viver e contribuir para esta importante passagem que o nosso planeta e sua humanidade estão atravessando.


OBS: A palavra Páscoa vem do hebraico Pessach (פסח), significando "passagem", o que pode ser compreendido também através do grego Πάσχα.

O nome Homem vem de humus que quer dizer "terra fecunda". Também é o vocábulo que traduz nas nossas bíblias o significado de Adão que vem de hebraico Adam da mesma raiz de adamá (terra). Ou seja, somos todos filhos da Terra.

3 comentários:

  1. rodrigo, a sua interpretação de que "Curiosamente, em decorrência da globalização imposta pelo neoliberalismo e pelos meios de comunicação, estamos nos tornando uma só sociedade planetária" creio verdadeira. estamos mesmo caminhando para um sociedade global, mas eu tenho minhas restrições de qual tipo de sociedade global será construída.

    vejo realmente do meio do povo, da sociedade, emergir o sentimento de que somos um só povo; a humanidade somos todos nós, independente de etnia ou religião. e isso num sentido solidário, de participação na construção de um mundo melhor.

    infelizmente, a nível de governos não vejo isso acontecer. os donos do mundo(g-7) a contragosto permitem que o g-20 experimentem um pouco desse seu poder mas com um cabestro bem posto para não irem muito longe. os interesses daqueles sempre estão acima e a frente desses.

    quando a união soviética cambelou nas próprias pernas e caiu; quando o muro de berlim enfim virou monturo, pensei que o mundo entraria numa nova era de paz e solidariedade globais entre os países ricos e pobres, mas não foi isso que aconteceu.

    o comunismo e o poder econônomico chinês estão aí; a coréia do norte está aí; o irã está aí; o fundamentalismo islãmico está aí; o fundamentalismo de direita, branco e protestante governaram os eua nos últimos 16 anos(e agora eles têm um mulçumano(?) discreto(?) no poder).

    temos um longo caminho até que os donos do poder ouçam as vozes que saem das ruas, dos becos, das favelas do mundo todo, dos pobres e miseráveis esquecidos do mundo, e de fato trabalhem que a cooperação e não a competição seja o mote a ser seguido por todos.

    valeu, rodrigo.

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  2. "temos um longo caminho até que os donos do poder ouçam as vozes que saem das ruas, dos becos, das favelas do mundo todo, dos pobres e miseráveis esquecidos do mundo, e de fato trabalhem que a cooperação e não a competição seja o mote a ser seguido por todos"


    Olá, Eduardo!

    Concordo com você de que o caminho seja longo, mas ao mesmo tempo observo que hoje as mudanças tendem a ocorrer com maior rapidez graças à revolução tecnológica e também ao fator climático - a crise ambiental que obrigará o homem a mudar seus paradigmas de desenvolvimento por uma questão de sobrevivência planetária.

    Não acho que a mudança virá de cima, como se os donos do poder um dia começarão a ouvir as vozes que clamam nas ruas. Isto porque quem está no poder quer conservar e manter a velha estrutura, iludindo-se com o que tem e achando que irá impor novas relações de dominação.

    Acho que ninguém pode ter certeza "de qual tipo de sociedade global será construída" ou mesmo se haverá alguma sociedade hanitando o planeta futuramente. Porém, prefiro crer no amanhã e também que está nas nossas mãos a possibilidade de construção dos ideais da utopia messiânica do profeta Isaías, quando haverájustiça e paz na terra:

    "O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha com o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspede, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar." (Is 11.6-9; ARA)

    Nesta hora vejo que o mundo precisa aprender com o Messias e que só a cruz pode salvar a humanidade. E isto significa irmos todos para a cruz afim de seguirmos a Jesus. Significa cada um deixar de amar egoisticamente a si mesmo para amar a Vida como um todo, o que significa a tomada de consciência de que devemos proteger o todo (o planeta com a sua coletividade de seres) do qual fazemos parte, assim como as abelhas agem em relação à colméia e a formiga ao formigueiro. Só assim encontraremos a Vida, quando nós entendermos que é preciso aparentemente perdê-la e a colocarmos na cruz.

    Será que veremos as sonhadas mudanças acontecerem? Não sei. Só Deus pode dizer. Porém, acho que devemos ter fé. A mesma fé de Abraão que, tendo habitado em tendas na Palestina com Isaque e Jacó, centenas de séculos antes de seus descendentes conquistarem Canaã, apenas foi dono de uma única propriedade - a sua sepultura.

    Igualmente penso ser este o nosso papel na história, mas sinto que a esperada mudança está mais próxima do que antes e o grande Dia do SENHOR vem aí.

    Abração!

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  3. Em tempo! Quando disse não acreditar que a mudança virá de cima é porque entendo que a transformação opera-se pelo povo. Assim, não são as classes que farão a História. Nem os de cima e muito menos um novo tipo de classe operária nos moldes do século XXI. O próprio Karl Marx e o seu amigo Engels foram uma amostra de que a luta de classes não é o tal motor, visto que ambos não eram proletários. Contudo é o povo, formado por pessoas com uma compreensão coletiva e ao mesmo tempo com grande respeito pela individualidade de cada ser que tem em suas mãos a ossibilidade de fazer um futuro diferente. E isto nos obriga a deixar de lado as classes e as castas para sermos todos um só povo.

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