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quarta-feira, 9 de março de 2011

Tenha uma quarta-feira de muita alegria e graça!

Terminou ontem o feriado carnavalesco, mas não acho que isto seja motivo para tristezas.

É momento de alegria e de graça! Principalmente para quem aproveitou o feriado de maneira sadia e agora vai retornar às suas atividades laborais ou estudantis, visto que a vida continua e deve ser celebrada em múltiplas ocasiões distintas.

Para os católicos, a quarta-feira de cinzas é considerado o primeiro dia da Quaresma e simboliza a conversão do crente. Nas missas, os padres colocam cinzas na testa do cristão que, por tradição religiosa, permanecem na cabeça da pessoa até o sol se por. E, a partir de então, algumas pessoas ficam se privando de comer carne até à Páscoa.

Ave Maria! Ainda bem que decidi seguir a Cristo livre das amarras doutrinárias do institucionalismo católico e evangélico!

Contudo, pelo fato da quarta-feira de cinzas corresponder ao dia seguinte após o Carnaval, muitos brasileiros associam este feriado de meio dia ao luto pelo fim da maior festa popular do país. Então, quem segue o catolicismo e resolveu cair na folia, mesmo sem ter cometido excessos, muitas vezes acaba se deparando com o sentimento aprisionador de que violou um mandamento e pecou.

Por sua vez, inúmeros evangélicos, quando brincam no Carnaval, sentem-se até mais culpados do que os católicos. Pois, no evangelicalismo brasileiro, a cultura carnavalesca ainda é tida como algo pecaminoso, totalmente impura e impossível de integrar uma diversão sadia, sem necessariamente alguém ter que praticar condutas de depravação sexual, atos de violência ou enveredar pelo consumo abusivo de álcool e de drogas.

Mas será que as pessoas devem se sentir culpadas e em pecado por agirem dentro da normalidade?

Somos humanos e o homem é um animal gregário. Logo, faz parte da nossa natureza levarmos uma vida em comunidade onde as festas populares, desde o começo da civilização e as eras pré-históricas, cumpriam o papel de aproximar as pessoas de um determinado grupo. Na Antiguidade, em quase todo o mundo, celebrava-se a colheita, a vitória de uma guerra, o nascimento de uma criança, recordações de acontecimentos históricos, o ano novo, a lua nova, o início do verão ou do inverno, o nascimento de uma criança, a entrada na adolescência, o casamento e a morte. E, não raramente, tais comemorações eram enriquecidas com algum significado religioso.

Infelizmente, o cristianismo acabou se tornando uma religião de pessoas tristes e fechadas para a sociedade. Criou-se uma dicotomia entre o espiritual e o secular, em que este chega a ser terrivelmente demonizado. E conviver com amigos não crentes dentro de uma festa, mesmo num ingênuo aniversário de criança, chega a ser mal associado com um trecho do Salmo 1º quando a Bíblia fala em "assentar-se na roda dos escarnecedores".

"A alegria só pode brotar de entre as pessoas que se sentem iguais", assim disse o romancista francês Honoré de Balzac. E o que ele falou faz sentido porque, no momento em que crio distinções morais em relação às demais pessoas do gênero humano, por me achar espiritual, acabo me privando de uma alegria plena no convício coletivo.

Segundo Caio Fábio, "Jesus não fala uma única vez, nos quatro Evangelhos, a palavra 'espiritual'. Esse chavão não passou por sua boca, por uma razão muito simples: para Jesus, não havia uma vida espiritual; para Jesus, a espiritualidade era a vida. Sobre a vida ele falou muito, e o tempo todo; sobre espiritualidade, não". (destacou-se)

Verdade seja dita que é o moralismo da sociedade, ditado muitas vezes pela religião, que acaba dando uma extrema relevância a determinados comportamentos que não agradam a um grupo dominante. Com isto, construiu-se no decorrer dos séculos uma moral que reprime com rigor condutas como o pecado sexual e a embriaguez, mas toleram outras "obras da carne" tão perturbadoras quanto, a exemplo do ódio, das rixas, dos ciúmes, da ira, das dissensões, das invejas, do egoísmo e da avareza. Aliás, há pastores que seguem a herética teologia da prosperidade e chegam a incentivar um repugnante apego ao dinheiro entre os seus seguidores, exceto se forem ofertar na igreja. E, quanto à dimensão coletiva do pecado, o cristianismo é muito superficial.

Entretanto é esta visão desproporcional, torta, tendenciosa e deturpada do pecado que tanto atrapalha os cristão na compreensão do arrependimento que deve acompanhar a fé no Evangelho. Por causa disto é que muitos têm dificuldade nos dias de hoje em experimentar a Metanoia, palavra grega que significa conversão.

Por outro lado, a conversão não significa uma mudança de cultura, mas sim de postura, devendo ser algo contínuo na vida da pessoa. Trata-se de algo que, na visão hebraica, corresponderia à Teshuvá (o retorno ao caminho certo), onde o homem reconhece sua tendência ruim e se abre para a generosidade da vida, considerando as oportunidades que ela continuamente nos dá e o quanto, em si mesma, é bela, perfeita e boa.

Ora, entendo que a conversão não deve fazer de ninguém uma pessoa triste, mas sim alegre e cheia de graça. E esta graça é que nos faz livres de mandamentos dos homens inventados por padres e pastores sem graça afim de que possamos graciosamente viver para a prática do amor, sem carregar peso na consciência ou cultivar restrições comportamentais.

Para os judeus, nas seis semanas que precedem a festividade de Pessach (Páscoa), existem quatro sábados especiais dentre os quais o Shabat Shecalim é o primeiro deles, tendo sido comemorado em 2011 neste dia 5 de março (que foi o sábado de Carnaval iniciado ao por do sol de sexta-feira). Então, é comum as pessoas que seguem as tradições judaicas cumprimentarem-se com estas palavras: "Chazak! Chazak! Venit'Chazek!" (Força! Força! Que sejamos todos fortalecidos!)

Meu desejo é que, após esta semana de feriado carnavalesco, sejamos realmente fortalecidos para vivermos este ano com muita alegria e graça, com bastante energia e força do Deus Eterno.

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