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quarta-feira, 2 de março de 2011

Qual a fantasia que criamos sobre Jesus?


Acabei de assistir a interessante entrevista do ex-padre Marcelo da Luz (não se ele tem algum parentesco distante comigo) e que foi concedida ao Programa "Ciência e Consciência" da TV Compléxis, tendo como tema a "Desconstrução do Mito de Jesus Cristo".

Muita coisa que ele falou realmente não é novidade para quem estuda assuntos teológicos ou já cursou algum seminário, sendo que algumas de suas colocações eu concordo enquanto outras não (principalmente no final onde pareceu que ele foi contraditório com o que falou no início).

Porém, ao invés de proferir de imediato uma crítica fundamentalista a respeito do entrevistado e correr o risco de ser injusto, prefiro antes olhar com humildade para a pessoa de Jesus, cuja biografia conhecemos muito pouco, bem como em relação aos ensinos expostos nos Evangelhos, visto que estes foram livros escritos décadas depois da morte e da ressurreição do Senhor.

Sendo assim, antes de comentar sobre esta polêmica entrevista, prefiro primeiramente compartilhá-la aqui no meu blogue para então fazer meus comentários junto com o de outras pessoas. Porém, gostaria de deixar como proposta para debatermos a pergunta que corresponde ao título da postagem:

Qual a fantasia que criamos sobre Jesus?

Mesmo que alguém tenha uma fé firme em Jesus Cristo, baseada numa experiência pessoal de relacionamento com o Messias e conhecimento verdadeiro do seu Nome, não podemos negar que a mente humana é capaz de fantasiar quaquer realidade.

Como o vídeo foi disponibilizado na internet por iniciativa da própria TV Compléxis e o Youtube permite a sua incorporação em outros sites (obviamente com a ciência do titular dos direitos autorais), entendo que existe autorização prévia para que haja uma divulgação por terceiros desde que sem fins lucrativos.

Por questão de ética, informo que o vídeo a seguir postado encontra-se também em http://irreligiosos.ning.com/video/desconstrucao-do-mito-de-jesus

Assistam e fiquem à vontade para comentar, sendo que eu, oportunamente, também pretendo expor minhas ideias a respeito da entrevista:




OBS: A imagem que ilustra o texto refere-se à capa do livro "Onde a Religião Termina?" do conscienciólogo e autor Marcelo da Luz, tendo sido extraída de http://www.ondeareligiaotermina.com.br/

14 comentários:

  1. Um comentário inicial que faço sobre a entrevista do ex-padre Marcelo da Luz é que, no começo, ele expõe com clareza o quebra-cabeça da formação dos evangelhos. Porém, suas conclusões ao final pareceram-me um pouco contraditórias. Isto porque, se nem tudo que está escrito nos textos dos Evangelhos seriam palavras do Senhor, como então erros a pessoa de Jesus? Não é melhor considerarmos tolerantemente a existência de ambiguidades nessas obras antigas afim de buscarmos entender sem conflitos o que diz cada ensinamento evangélico, sem nos preocuparmos em impor as nossas doutrinas à Bíblia?

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  2. Em tempo! Corrigindo a frase acima que ficou meio incompleta.

    O questionamento que faço no momento é se nem tudo o que está escrito nos textos dos Evangelhos seriam palavras do Senhor, como então o entrevistado atribui erros a pessoa de Jesus?

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  3. RODRIGO

    Creio que o Cristo Histórico tem um valor inestimável pelos seus grandes e insuperáveis ensinamentos, como as parábolas, que ainda hoje tiramos lições internas extraordinárias. Nessas parábolas há aspectos simbólicos que representam nossos afetos profundos, revelando numa linguagem metafórica, nossos conflitos, quase sempre com um pano de fundo inconsciente. Ele, Jesus era um homem profundamente observador dos desejos ambivalentes da alma humana: “Quem é bom, senão meu Pai que está nos céus”. O “bom”, o “Pai”, os “céus” são metáforas e símbolos que representavam muito mais do que o pensamento literal da frase. Vida Eterna = Céu = Conhecimento = Luz”. “Condenação Eterna = Trevas = Ignorância, etc.

    O certo é que existem pessoas que tem uma fé ilimitada na capacidade do pensamento e da imaginação humana. Essas pessoas pintam um quadro ou objeto cuja beleza é própria e variam conforme o poder de sua imaginação. Essas pessoas podem exaltar um ser que ama ao ponto de transfigurá-lo, e são consolados pela sua fé. Elas acreditam que após a morte irão rever todas as perdas afetivas decorrentes dos primeiros desamparos experimentados ainda quando eram seres inconscientes de poucos meses de idade.

    As primeiras rupturas, a primeira solidão, as primeiras decepções entre o filho e seus pais são internalizadas no inconsciente, que numa idade posterior irão provocar os desejos por um Pai eterno que recupere as suas fantasias infantis, que apazigua suas tensões para um devir-a-ser. Então as pessoas voltam-se para um Pai eterno no intuito de rever o que foi perdido no começo de sua formação psico-biológica.

    Há hinos, por exemplo, na Harpa Cristã, em que o seu autor. diz: “Tenho saudades do Céu”. A primeira vista essa frase parece um absurdo,(pois essa pessoa nunca foi ao Céu), mas não o é. Quando nos debruçamos para fazer uma análise psicológica profunda do pensamento do autor do hino, entendemos que o que ele anseia é, simplesmente, voltar ao paraíso de sua existência quando fazia com sua mãe um só corpo, antes da primeira grande ruptura que foi o desmame ou separação do seio materno, mediada pela autoridade paterna.

    A Jesus, muitos transferem o seu sentimento de religar-se esse Éden que foi perdido na gênese de sua formação. Assim como Jesus tinha a sua “Imago Paterna”, nós a temos desde criancinha, transmitidas pela pessoa de nosso Pai natural ou tutor. Crescemos e nos perdemos desse pai idealizado como eterno provedor.

    A grandeza dos Evangelhos reside em mostrar que ouve um filho que veio se igualar a nós na impotência e no reconhecimento da impossibilidade de ter todos os desejos satisfeitos por um pai, como aquele que em nossa infância limitava o nosso querer, correspondente a imagem do Deus judeu – JAVÉ.
    Nos evangelhos, um filho do próprio Pai (que provocava temor e terror) passa a nos defender da imago paterna – Javé – imagem substituta de nosso pai natural, que abandonou o filho a sua própria sorte, para nos resgatar das garras do “Pavão”(cantiga de ninar) – bicho repugnante que nos queria tragar, mas era afastado de nossa mente infantil através dos embalos a que éramos submetidos no colo de nossas queridas mães (Xô, Xô Pavão, sai de cima do telhado...)

    Religião, vem de (religa-re) e significa o sentimento sublime de se religar ao que foi perdido. Jesus, em uma outra grande metáfora, assim falou: “Eu vim buscar o que se havia perdido”

    Mas isso é assunto para se falar por mais de um ano (rsrsrs)

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  4. Errata:

    Onde está escrito: "ouve um filho" - LEIA-se: "Houve um filho"

    Releve os muitos os erros, pois são 2 e 15 da madrugada (rsrs)

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  5. Manifestação religiosa.

    A manifestação religiosa, ou seja, a busca de um Deus exercida pelos seres humanos, dizem os entendidos que esta manifestação se dá porque existe dentro de nós uma chama flamejante e divina a qual nos impulsiona a crer em um ser superior e criador do universo como um todo.
    Eu particularmente não acredito em nenhuma chama flamejante interna nos levando para esta manifestação.
    Em primeiro lugar se o ser humano fosse eterno não houvesse a morte, ou seja, o fim da vida, esta manifestação, esta chama flamejante nem faria parte do nosso vocabulário, também não faria parte do nosso intimo. O que acontece na verdade é que o ser humano morre de medo só de pensar na morte, e como será alem dela. Todos nós sabemos que ela é impossível de ser evitada. Diante desta preocupação com o alem túmulo e que leva os seres humanos a buscarem alguma coisa na sua imaginação, ou ainda nos ensinamentos vindo de pessoas que professam religiões, mesmo que estes ensinamentos não sejam verdadeiramente provados, eles acreditam para aliviar um pouco as suas preocupações com o futuro incerto. Sendo assim eles se contentam com uma fantasia qualquer para aliviar suas duvidas e amenizar o medo mórbido da morte.
    A maioria das pessoas irão se arrepiar com esta crônica, irão dizer que é uma escabrosa heresia, mas estou tranqüilo porque, ela está baseada em raciocínio lógico e coerente, é só analisá-lo friamente sem a interferência de dogmas religiosos.
    O que leva a maioria dos seres humanos a buscarem as religiões não é nada mais do que buscar ajuda para problemas de saúde, de dificuldades financeiras, ou por problemas de foro intimo. Observem buscar ajuda: Ninguém se preocupa em levar ajuda para ninguém, pensam somente em angariar vantagens, isso é próprio do nosso egoísmo
    Pessoas, sem os problemas relacionados acima, dificilmente são freqüentadoras assíduas de templos religiosos. Elas freqüentam bem moderadamente sem muito fanatismo, muitas vezes, somente para fazerem se passar por pessoas cheias de moral, para mostrarem que são tementes a Deus, mas o egoísmo, maledicência, orgulho, arrogância e o individualismo continuam intactos na consciência sem nenhum progresso.
    O progresso tecnológico executada pela mente humana caminha rapidamente para um futuro promissor, continua avançando a passos largos, mas infelizmente a moral humana continua caminhando para traz, sempre retrocedendo. Continuando assim a moral humana que dizem ser a essência de Deus estará voltando lá para a idade da pedra.
    Paulo Luiz Mendonça, autor do livro Crônicas Indagações e Teorias. Editora Scortecci.

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  6. rodrigo, primeiro, essa entrevista até pareceu um daqueles testemunhos de ex alguma coisa na igreja, só que inversamente...kkkkkkk

    de fato, para quem está habituado em leituras teológicas, exegéticas e sobre a religião da bíblia, ele não diz nada de novo.

    sua observação, é claro, tem lógica. se só 18% do que jesus disse é histórico, como saber qual seria a verdade dos outros 82%?

    é claro que ele está certo em 90% da análise que faz(eu também tenho direito de dar meu percentual, né? kkkkkk).

    mas eu acredito que não existem "invenções" sobre jesus nos evangelhos, o que há é (como ele disse) uma interpretação para o momento atual que determinado grupo de seguidores se encontravam. os 4 evangelhos são tipicamente isso.

    para joão, por exemplo, foi necessário conceber um jesus divino, deus, muito diferente dos sinóticos. mas tudo isso refere-se, como disse inteligentemente o levi, ao religare. as narrativas evangélicas querem falar à alma, à vida e não à lógica histórica (se é que a história tem lógica).

    destaco do que ele disse a afirmação de paulo não via jesus como deus encarnado;isso para mim está claro. no seu versículo mais metafísico ele diz que jesus subsistia em "forma de deus" e mesmo assim não quis se apegar a essa condição, preferindo esvaziar-se da sua forma divina. ou seja, jesus em seu estado humano, era humano e não humano e divino. por isso deus o sobressaltou à condição de "senhor" para a glória não dele mas de "deus pai". Fp 2

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  7. em outro lugar, paulo demonstra claramente crer numa hierarquia divina ao dizer que deus é o cabeça de jesus.

    enfim, o vídeo é muito bom, traz boas reflexões mas é uma feijoada que a maioria dos cristãos que bebem leitinho desnatado não podem comer...

    uma crítica: o entrevistador sempre tentava conduzir o entrevistado a dizer algo tipo: "eu vivia enganado, acreditava numa mentira, agora estou "salvo" " kkkkkkkkk

    em matéria de fé não existe verdade ou mentira, existe apenas o que é válido existencialmente para quem crê e o que não é válido para quem não crê.

    é isso, amigo. aparece lá no caminhos da teologia, teus comentários sempre embassados em sólidos conhecimentos bíblicos são de muita valia.

    falando nisso, esse comentário do levi está um espetáculo. vou salvá-lo para depois publicar em algum lugar, até mesmo na confraria

    abraços e shalom.

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  8. Primeiramente quero desejar muita paz para todos e agradecer ao Paulo Luiz por estar visitando este blogue.

    Realmente o Cristo histórico tem seu "valor inestimável" como colocou o Levi e eu creio que os ensinos sapiençais e as parábolas dos Evangelhos sinóticos, pelo menos em grande parte, originaram-se de Jesus, ainda que a Igreja dos séculos I e II possa ter feito seus acréscimos aqui e ali, mas com o intuito de transmitir a mensagem. Logo, TUDO deve ser considerado. Seja para fins de ensino ou de compreensão do Evangelho.

    O judeu Geza Vermes, que é um respeitável estudioso de Jesus, faz interessantes considerações a respeito da questão da autenticidade de suas palavras e ensinos, dizendo que:

    "Qualquer tentativa de reconstruir uma versão palavra-por-palavra dos ditos de Jesus constitui, creio eu, uma perda de tempo. O objetivo é inatingível porque a fonte original, uma coleção deles em aramaico, se é que algum dia existiu, já não está disponível. Tudo o que temos é uma reconstrução secundária em grego. Num domínio como este, a uma distância de dois mil anos, certezas estão além do alcance do estudioso. A tarefa menos irrealista é pesar e classificar probabilidades. Do lado menos pessimista, vale observar que o princípio fundamental da crítica do Novo Testamento, a saber, que o ônus da prova cabe à reivindicação de autenticidade, é em grande medida equivocado. A tese de que na ausência de provas definitivas da autenticidade de um dito deve ser declarado inautêntico é logicamente falsa. A incapacidade de demonstrar que uma máxima atribuída a Jesus pelos evangelistas provém dele não significa que ele nada tenha a ver com ela. Significa apenas que nós não temos condição de provar que teve. A insuficiência de provas não prova automaticamente que uma afirmação não é verdadeira, apenas põe um ponto de interrogação depois dela. Do mesmo modo, a falta de certeza é compatível com vários níveis de probabilidade".

    A respeito da autenticidade das parábolas, Geza argumenta desta maneira:

    (...) às parábolas do Evangelho vários significados podem ser sucessivamente aplicados. O primeiro significado pode ter sido percebido pela audiência a que Jesus se dirigiu. Foi substituído na igreja judia da Palestina, preocupada com a idéia do retorno de Cristo. A cristandade não-judaica, que teve de suprir as suas necessidades especiais, adotou ainda um outro significado. As parábolas do banquete de casamento, dos trabalhadores enviados à vinha, do fariseu e do publicano e do último julgamento pertencem todas a esta classe."

    O que realmente me parece adequado é encararmos o Jesus histórico com o máximo de humildade possível visto que pouco conhecemos sobre o judeu Yeshua ben Yosef (Jesus filho de José), que viveu nas três primeiras décadas do século I, vem basicamente de fontes escritas em grego décadas depois de sua morte e ressurreição. Logo podem ter tido tanto reinterpretações como invenções. Mas até estas devem ser consideradas porque não estão despidas de algum propósito.

    Concordo que a ideia sobre a divindade do Messias foi uma doutrina da Igreja não judia num momento posterior ao rabi Saul de Tarso (Paulo), visto que para um judeu soaria blasfematório um homem ser igualado a Deus como se vê no 4º Evangelho cuja autoria foi atribuída ao analfabeto João sem que os reformadores tivessem questionado a tradição católica neste aspecto.

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  9. Continuando...

    A meu modo, concordo com o Levi sobre Jesus ser ou representar a nossa religação com o Éden. Inclusive isto tem a ver com a resposta que dei há pouco ao Paulo Luiz nos comentários do meu artigo "Uma inspiradora revelação sobre quem somos", de 30/01/2011, quando, na minha réplica, reflito que a convivência entre os diferentes animais dentro da Arca de Noé nos remete à idealizada paz paradisíaca que decorre da graça do Eterno manifestada naquele salvamento. Pois, enquanto o mundo se acabava na desordem, eis que, dentro da arca, amparada pela graça divina, reinou a harmonia paradisíaca entre os animais que se traduz em paz. Uma paz que se torna extensiva ao reino animal onde até as serpentes e as feras selvagens se tornam dóceis, coisa que o texto de Gênesis deixa implícito e nos fornece uma bela inerpretação em pelna harmonia com Isaías 11.6-11.


    "A grandeza dos Evangelhos reside em mostrar que houve um filho que veio se igualar a nós na impotência e no reconhecimento da impossibilidade de ter todos os desejos satisfeitos por um pai, como aquele que em nossa infância limitava o nosso querer, correspondente a imagem do Deus judeu – JAVÉ."

    Quanto a estas profundas palavras do Levi, eu as compreendi no sentido de que o ministério de Jesus representa seu chamado à maturidade para sairmos das sombras do paternalismo e encararmos a nossa responsabilidade missionária coletiva. É como se o Messias fosse o irmão mais velho e nos desse o exemplo do que fazer, ausentando-se fisicamente depois de completada sua obra.

    Por outro lado, penso que não podemos nos esquecer dos termos da oração do "Pai Nosso", em que Jesus coloca em evidência a nossa dependência e sujeição à vontade de Deus. Logo, somos chamados a uma responsabilidade coletiva, mas que se sujeita ao Pai Eterno.

    Concordo quando o Eduardo diz que "as narrativas evangélicas querem falar à alma, à vida e não à lógica histórica" porque realmente os evangelistas não tiveram mesmo a preocupação em serem pontuais quanto aos fatos históricos. Nem mesmo o autor de Lucas focou neste aspecto, apesar do que consta na sua introdução, visto que seu objetivo foi para que o amante de Deus (Teófilo) tivesse certeza sobre as coisas ensinadas.

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  10. Caro Paulo Luiz,

    Sobre o que escreveu, penso que se temos em nós o desejo de eternidade é porque um dia provamos dela. Deste modo, a morte nos aterroriza porque, a princípio, representa uma descontinuidade, um desfazimento, uma separação, uma perda, um esquecimento, uma nadificação ou nulificação. Inclusive, há um livro bíblico bem existencialista chamado de "Eclesiastes" em que o seu autor reflete de maneira bem cética a respeito da morte, numa época onde provavelmente não existisse a crença na vida eterna:

    "Ninguém se lembra dos que viveram na antiguidade, e aqueles que ainda virão tampouco serão lembrados pelos que vierem depois deles." (Eclesiastes 1.11; NVI)

    "Este é o mal que há em tudo o que acontece debaixo do sol: o destino de todos é o mesmo. O coração dos homens, além do mais, está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida; e por fim eles se juntarão aos mortos. Quem está entre os vivos tem esperança; até um cachorro vivo é melhor do que um leão morto! Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para eles não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles. Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nada do que acontece debaixo do sol (...) O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento e nem sabedoria" (Ec 9.3-6,10; NVI)

    "'Tudo sem sentido! Sem sentido!' diz o mestre. 'Nada faz sentido! Nada faz sentido!'" (Ec 12.8; NVI)

    Curiosamente os israelitas primitivamente não tinham a esperança de vida após a morte. O homem morria, retornava ao pó e o seu fôlego de vida, o 'ruah' retornava para Deus. E, embroa o termo 'ruah' possa ser traduzido para o português como espírito ou sopro, não se acreditava que se tratasse da alma.

    Porém, como bem colocou, há questões como os problemas de saúde e financeiros que motivam o homem a procurar religião, sem ter sido propriamente o medo da morte a única causa. E, nesse sentido, creio que tal foi a motivação inicial da humanidade, de modo que a visão primitiva sobre a divindade tinha mesmo uma origem bem mundana ou profana. Pois o homem procurava Deus para ser próspero, ter fertilidade, conseguir colheita abundante, buscar saúde e longevidade, proteger seus animais de criação, sair vitorioso nas guerras e se proteger contra as adversidades do cotidiano.

    Quanto à questão moral, penso que esta surgiu depois das preocupações do dia a dia e daí surge uma deturpada visão da divindade moralista.

    Ora, mas será que a moral seria mesmo a essência de Deus?

    Pode ser que isto vá surpreender as mentes moralistas, mas Deus está acima da moral que é uma invenção humana e da religião. Daí encontrarmos na Bíblia um Deus que se relaciona com os homens dentro dos valores destes, sem importar-se com uma regrinha moral.

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  11. Num momento posterior à Torah dos israelitas, quando já existe um encontro com a cultura helenista, é que o judaísmo vai se preocupando com a questão da vida eterna. E, nos tempos de Jesus, debates sobre a existência de ressurreição e espírito (aqui no sentido grego e não o sopro judaico) caracterizavam as divergências entre saduceus e fariseus, tendo estes prevalecido historicamente e influenciado tanto o judaísmo rabínico quanto o cristianismo (em termos de ortodoxia os cristãos se aproximavam mais dos fariseus do que dos demais partidos religiosos do século I). E há quem diga que, entre os fariseus, até existisse alguma crença também na re-encarnação.

    Respondendo às preocupações sobre morte, o Evangelho é anunciado não só para dar esperança quanto à vida eterna que ultrapassa a morte, mas também na percepção do sentido da vida. O homem é então convidado para encontrar a vida em vida e, contraditoriamente, perdendo-a. Ou seja, com o abandono do desejo egoísta através de uma atitude que inclui serviço ao próximo e trabalho pelo reino, o homem encontra aqui mesmo a sua vida. E, quanto a isto, venho mencionar os comentários do Levi:

    "O “bom”, o “Pai”, os “céus” são metáforas e símbolos que representavam muito mais do que o pensamento literal da frase. Vida Eterna = Céu = Conhecimento = Luz”. “Condenação Eterna = Trevas = Ignorância, etc."

    No meu dizer, "céu" e "inferno", embora simbólicos, traduzem não só o estado final da alma do indivíduo, mas também uma vida dentro ou fora do Reino de Deus experimentada aqui neste mundo. Logo, a mensagem do Evangelho é bem prática, tornando-se um convite para promovermos uma mudança radical no planeta durante o presente, fazendo história. Não para ficarmos alienados e restritos à expectativa de um céu após a morte como muitas das vezes as igrejas discursaram para anestesiar as massas.

    Abraços.

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  12. "em matéria de fé não existe verdade ou mentira, existe apenas o que é válido existencialmente para quem crê e o que não é válido para quem não crê."

    Entendi o sentido subjetivo, Edu, pois é dentro de sua própria realidade que o homem encontra a fé. Mas hei de ressaltar que alguém alimentar a crença em fantasias não é nada libertador, mas sim aprisionador.

    No título do tópico fiz a pergunta sobre qual a fantasia que criamos sobre Jesus?

    Acho que nem eu e nem ninguém que participou coms eus comentários até o momento lembrou-se de respondê-la diretamente.

    Por razões de conveniência, muitos resolvem criar uma visão subjetiva de Jesus para agradar seus interesses próprios. Por exemplo, se faço isto ou aquilo, quero crer um Jesus que justifique minha conduta. E, se estou no controle do poder político, invento um Jesus que favorece minhas posições ideológicas.

    O fato é que assim foi durante a história da humanidade e da Igreja. É como se os cristãos tivessem se esquecido aquele versículo do Evangelho de João atribuído a Jesus:

    "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo 8.32)

    Por mais subjetiva que seja a percepção humana, meu irmão, creio que a verdade é uma só!

    Obrigado pelo convite para retornar ao blogue "Caminhos da Teologia".

    Shalon!

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  13. rodrigo, sobre sua frase

    "Por mais subjetiva que seja a percepção humana, meu irmão, creio que a verdade é uma só!"

    mas você não acha que a verdade religiosa só pode ser verdade para a quem a experimenta por fé?

    qual o seu parâmetro para julgar a fé dos outros como "fantasia"? por que acreditar que jesus é a encarnação do javé do at que mudou de opinião (visto todas as diferenças entre a teologia da torá e a teologia dos evangelhos) é realidade é a crença por exemplo, na "iluminação budista" é fantasia?

    são questões para pensarmos, ok?

    concordo com a respota que você dá à sua própria pergunta-título. mas fica a questão:

    qual jesus é o verdadeiro?

    abraços

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  14. "mas você não acha que a verdade religiosa só pode ser verdade para a quem a experimenta por fé?"

    Resposta: Entendendo a palavra "religiosa" como re-ligação, eu diria que sim.


    "qual o seu parâmetro para julgar a fé dos outros como 'fantasia'?"

    R: Simplesmente não julgo e a pergunta do título fica disponível para que cada um tente respondê-la a si mesmo. Porém, eu tenho consciência de que já criei e ainda alimento fantasias a respeito de Jesus justamente por não conhecê-Lo ainda o suficiente. E digo isto assim como Philip Yancey fala sobre sua fé e ideias a respeito da pessoa do Messias no célebre livro "O Jesus Que Eu Nunca Conheci", publicado no Brasil pela editora Vida.


    "por que acreditar que jesus é a encarnação do javé do at que mudou de opinião (visto todas as diferenças entre a teologia da torá e a teologia dos evangelhos) é realidade é a crença por exemplo, na "iluminação budista" é fantasia?"

    R: Embora a divindade do Messias seja uma construção doutrinária da Igreja, eu a considero. A Torah pouco fala acerca do Messias de uma maneira explícita, mas podemos fazer uma re-leitura dela através dos profetas e, principalmente, dos evangelhos. Só que serão compreensões fora do seu contexto, mas que, ainda assim, não deixam de ser revelações pra quem tem fé. Já a divindade do Messias encontraria um fraco embasamento nas Escrituras hebraicas, mesmo numa re-leitura pelo NT. Até porque o advento do Cristo no AT era um mistério como hoje continua sendo sua segunda vinda. De qualquer modo, não vejo a crença na doutrina da divindade do Messias como condição para a salvação, pois basta que o homem evangelizado simplesmente aceite ser Jesus o Cristo.

    Sobre o busdismo, tenho poucos conhecimentos desta religião. Sei que eles acreditam na re-encarnação, o que não posso em hipótese alguma concordar. E, como creio na salvação pela graça, sem nenhum esforço pessoal, entendo que a iluminação, ou santificação, também vem pelo dom gratuito de Deus. Então, na dependência da graça, vivendo em graça e amando em graça, nós vamos sendo santificados pelo Eterno, sem termos que ficar ansiosos pela mudança de comportamento.

    Enfim, posso não conhecer budismo, todas as religiões ou mesmo a Bíblia em totalidade, mas este lema socrático que fala sobre o auto-conhecimento faz um certo sentido pra mim:

    "Homem, conhece-te a ti mesmo".

    E não é praticamente o mesmo que Paulo fala aos coríntios sobre cada um examinar a si mesmo antes de comer o corpo e beber do sangue do Senhor.

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