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terça-feira, 8 de junho de 2010

Onde estará a torcida depois da copa?


Este mês de junho, igual a cada quatro anos, teremos o mundial de futebol. Boa parte dos nossos telejornais têm mostrado notícias da África do Sul, o país sede da copa 2010, divulgando eventos passados da seleção brasileira e um pouco da vida de cada jogador. Nas escolas, as crianças andam animadas com os jogos, sonhando com um futuro no mundo do esporte preferido da nação. As ruas das cidades, a cada dia, vão sendo mais enfeitadas com cores que lembram a nossa bandeira, isto é, com tiras verde e amarelo, bem como pinturas. Já nas lojas, são comercializados artigos específicos para a festa como chapéus, sacolinhas, balões, cornetas, sandálias havaianas, a tradicional camisa da CBF e até mesmo as irritantes vuvuzelas.

No final do ano passado, quando a cidade do Rio de Janeiro estava com suas atenções direcionadas para os jogos do campeonato brasileiro, época em que o Flamengo e Vasco lutavam pelos títulos das séries A e B, enquanto Botafogo e Fluminense tentavam se manter na primeira divisão, um taxista compartilhou comigo o seu desinteresse pelo futebol. Em suas palavras, ele mostrava um profundo desapontamento com a sociedade brasileira, questionando onde estava a torcida nas horas em que a falta de cuidados com vias públicas poderia causar sérios prejuízos e acidentes no trânsito. Enquanto passávamos próximo ao estádio Maracanã, no trajeto entre a Rodoviária Novo Rio e o Grajaú, ele indagou onde estariam as torcidas da educação e da saúde neste país.

Mesmo considerando o futebol como uma excelente opção para as pessoas se divertirem, não tiro a razão do sábio taxista do Rio de Janeiro já que a bolinha acaba se tornando uma forte atração para a alienação da nossa sociedade. Isto porque as pessoas desviam a atenção para coisas como o futebol, a novela ou os jogos de azar, deixando de lado o bem estar coletivo, o trabalho, os estudos, as preocupações com a família e os cuidados com a espiritualidade.

Uma nação não pode viver apenas de futebol! Um país como o Brasil, cheio de problemas sociais, com crianças e adolescentes sendo usados como “soldados” pelo tráfico de drogas, com pacientes idosos a espera de atendimento nos hospitais público, esgoto correndo a céu aberto em várias cidades e despejado in natura nos nossos rios, redes deficientes de transportes coletivo, milhões de famílias vivendo em precárias condições de moradias, muita gente desempregada e Maracanãs de florestas sendo devastadas diariamente na Amazônia, sinceramente não dá para nos iludirmos com as comemorações dos esportes como se tudo se resumisse ao gol de placa do time campeão.

Mais uma vez pergunta-se: onde está a torcida nestas horas? Entretanto, vivemos uma época em que a violência nos estádios de futebol tornou-se um caso de polícia. Agentes públicos que deveriam estar nas ruas protegendo o patrimônio, a liberdade e a integridade física dos cidadãos são obrigados a se deslocar para fazer a segurança dos jogos do campeonato brasileiro. Devido aos motivos mais fúteis, aqueles que já são vítimas da violência política e econômica preferem se agredir mutuamente. Um momento que deveria ser de pura descontração torna-se inegavelmente trágico, acabando em mortes, prisões e espancamentos.

Dentro de alguns dias, o Brasil vai parar para assistir os jogos da copa da África e, em menos de três meses depois, teremos eleições para os cargos de presidente, governador, senador, deputados federal e estadual. Ganhando ou perdendo o torneio, tudo indica que as pessoas mais uma vez comparecerão coercitivamente às urnas para escolherem de maneira cega o grupo político que irá administrar este país pelos próximos quatro anos. Poucos questionam quais os interesses por trás de cada candidatura, deixando de estabelecer uma relação transparente de compromisso entre o representante político e o eleitor, de modo que o voto da maioria torna-se inconsistente, um movimento sem forças para obrigar governantes e parlamentares quanto ao cumprimento de suas promessas feitas durante a campanha.

Depois das eleições, nos anos ímpares, os financiadores das campanhas políticas comparecem aos gabinetes dos políticos exigindo um “retorno” bem maior do que o “investimento” que empreenderam nas eleições e apenas alguns seguimentos organizados da sociedade brasileira cobram os seus direitos. Mas será que, em 2011, novamente iremos nos conformar com ingratos reajustes salariais e de benefícios previdenciários incapazes de resolver os problemas da distribuição de renda no país? Pessoas que deveriam estar empregadas ou abrindo seus pequenos negócios continuarão sobrevivendo com as bolsas-esmola do governo? Nossos idosos ainda vão ter que implorar pelo atendimento dos médicos nas unidades básicas de saúde como se o Poder Público estivesse prestando um favor ao cidadão que paga seus impostos? Onde estará a torcida brasileira depois da copa?


Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz

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