A publicação recente no Poder 360 que mostra governadores de direita divididos em relação à candidatura de Flávio Bolsonaro revela um fato político relevante: o bloco conservador — antes relativamente coeso — começa a mostrar fissuras significativas.
- Nomes como Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais), Eduardo Leite (RS) e outros mantêm pré-candidaturas — mesmo com a investida de Bolsonaro sobre a sucessão presidencial.
- O fato de Tarcísio ainda não se manifestar após o anúncio de Flávio indica hesitação, tensão interna ou cálculo político cuidadoso.
- Há um cenário real de fragmentação da direita e da centro-direita, o que abre espaço para alternativas “menos radicais” — uma terceira via — atraente a eleitores moderados ou desencantados com polarização.
Para a esquerda — e particularmente para o campo do Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados — essa divisão representa ao mesmo tempo um risco (em termos de imprevisibilidade eleitoral) e uma oportunidade estratégica.
Por que a terceira via pode emergir — e por que a esquerda deve acompanhar?
✅ Vulnerabilidades da polarização extrema e apelo ao moderado
- Rejeição ao bolsonarismo — Com Flávio assumindo a candidatura, pesquisas apontam que sua rejeição nacional é elevada; simulações de segundo turno mostram vitória folgada de Luiz Inácio Lula da Silva contra ele.
- Cansaço com extremos — A persistente polarização nacional e os desgastes associados à radicalização e às crises institucionais podem levar parcela do eleitorado a buscar “voto útil moderado”.
- Governadores com base regional consolidada — Quem governa estados hoje já possui estrutura, visibilidade e poder local para se viabilizar como alternativa à polarização nacional — sobretudo com discurso de pragmatismo, “governabilidade” e retomada econômica.
🔎 Potenciais vantagens para a esquerda com uma terceira via crescendo
- A fragmentação de votos à direita e centro-direita pode diluir o campo conservador, beneficiando Lula e candidatos de centro-esquerda no primeiro turno.
- Facilita a construção de alianças regionais e estaduais: se a terceira via ocupar o espaço “moderado/conservador institucional”, a esquerda pode disputar contra uma direita fragmentada, com maior chance de manter governabilidade ou expandir base sem medo de polarização extrema.
- Reduz a urgência de aproximar com setores extremistas para composição de governo — a coalizão para 2026-2030 pode se organizar com centro e centro-esquerda de forma coerente.
Como Tarcísio de Freitas pode se posicionar — e por que a esquerda deve observar com atenção?
Tarcísio surge hoje como um dos protagonistas desse possível reposicionamento da centro-direita:
- Ele já aparecia — antes da definição de Flávio — como potencial sucessor de Bolsonaro e escolha preferencial de parcela da direita moderada.
- Com a polarização de Flávio, Tarcísio pode optar por se diferenciar, apresentando-se como uma alternativa “técnica e moderada”, de centro-direita pragmática — potencialmente atrativa para eleitores que rejeitam extremismos.
- Caso ele decida ser candidato, terá a chance de liderar uma terceira via e disputar com discurso de estabilidade institucional, foco no desenvolvimento e menos radicalismo — um perfil que pode mobilizar amplos setores, inclusive centro e classes médias, tradicionalmente eleitorado de moderados e centrados.
No entanto, há riscos e desafios para ele — fragmentação, trauma de alianças com bolsonarismo, necessidade de construir base independente e convincente.
O que a esquerda deve considerar agora — alguns alertas estratégicos
Para o PT e aliados, o panorama muda, e algumas precauções e oportunidades devem ser avaliadas:
- Não subestimar a volatilidade — Uma terceira via ainda é incipiente e pode desaparecer ou realinhar-se conforme conjuntura, escândalos, polarização ou acordos de bastidor.
- Manter presença territorial e mobilização de base — A disputa será descentralizada; a esquerda precisa continuar consolidando bases locais, políticas públicas e capital eleitoral nos estados, para não depender só da polarização nacional.
- Preparar narrativa de governabilidade e coalizão ampla — Se a fragmentação da direita se consolidar, a esquerda poderá buscar alianças alternativas, sem abrir mão de identidade, com setores moderados que rejeitam extremos — abrindo janelas para política menos polarizada e mais pragmática.
- Não banalizar radicalismo nem estigmatizar adversários por antecipação — Em um contexto de terceira via, exagerar críticas pode reforçar o adversário radical ou gerar simpatia por quem se apresenta como “novo moderado”.
Conclusão: a terceira via da direita não é inimiga da esquerda — mas uma variável estratégica com potencial de desarticular a polarização
A divisão da direita evidenciada recentemente mostra que há espaço para uma terceira via de centro-direita ou moderada emergir com força em 2026 — com Tarcísio de Freitas como um dos protagonistas. Para a esquerda, isso representa tanto risco quanto oportunidade.
Se a direita fragmentar, a eleição pode depender mais de capilaridade regional, mobilização da base e articulações locais do que de polarização nacional. Isso favorece quem tiver coerência programática, presença territorial e capacidade de governar — o que aumenta a relevância de uma estratégia ao longo de 2025–2026. Neste sentido, insisto que Minas Gerais poderá ser um divisor de águas no pleito geral que se aproxima.
Em resumo: não se trata apenas de combater o bolsonarismo ou a polarização… trata-se de preparar o campo progressista para disputar com inteligência, dividindo o foco entre política nacional e força local — e estar pronto para quando a terceira via emergir como alternativa real ao Brasil.








