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sábado, 22 de novembro de 2025

Novembro de 1910 – Quando a chibata virou símbolo de resistência



Há exatos 115 anos, o Brasil assistiu a um dos episódios mais marcantes da luta por dignidade e direitos humanos em sua história naval: a Revolta da Chibata. Liderada pelo destemido João Cândido Felisberto (1880 - 1969), marinheiro negro, o movimento denunciou os castigos físicos, como o uso da chibata, impostos a marinheiros, a maioria descendentes de africanos, que enfrentavam condições de extrema exploração, fome e humilhação diária. João Cândido tornou-se símbolo de coragem e resistência, mostrando que a luta pela igualdade e respeito à vida humana pode nascer mesmo nas circunstâncias mais adversas.


A revolta começou no dia 22 de novembro de 1910, quando os marinheiros do encouraçado Minas Geraes se rebelaram contra os castigos violentos. Durante os quatro dias seguintes, o movimento se espalhou por outros navios da esquadra e tomou força suficiente para exigir mudanças concretas: o fim das punições físicas e melhores condições de trabalho. Apesar de inicialmente bem-sucedidos, os líderes, incluindo João Cândido, enfrentaram traições e represálias, com muitos sendo presos ou perseguidos. Mas a coragem daqueles dias permanece viva como exemplo de resistência contra a injustiça.


Essa história de bravura e luta ressoa profundamente com a Semana da Consciência Negra, lembrando-nos que a luta por igualdade racial e direitos humanos é contínua e necessária. João Cândido não lutou apenas por si, mas por todos aqueles que eram silenciados e oprimidos, e sua coragem inspira até hoje movimentos por justiça social no Brasil.


Salve o Almirante Negro!


💭 Nota pessoal: Meu bisavô, Francisco Ancora da Luz (1883-1951), pai do meu avô paterno, era oficial da Marinha naqueles tempos. Segundo alguns relatos familiares, ele teve a oportunidade de conhecer João Cândido e concordava com seu movimento. É de grande honra para a nossa família que a estátua de João Cândido esteja atualmente na Praça Marechal Ancora, logradouro do Centro do Rio, próximo à Praça XV, que homenageia outro ancestral nosso mais antigo, porém oriundo do Exército, simbolizando a conexão entre coragem, memória e legado familiar.

📷: Registro do líder da Revolta da Chibata, João Cândido (primeira fileira, à esquerda do homem de terno escuro), com repórteres, oficiais e marinheiros a bordo do Minas Geraes em 26 de novembro de 1910.

Paz e Realismo: o que está em jogo na Venezuela



O recente alerta dos Estados Unidos às companhias aéreas sobre os riscos de sobrevoar a Venezuela reacendeu uma preocupação que não é apenas diplomática: é estratégica, humanitária e política. A possibilidade, ainda que remota, de uma intervenção militar americana no país vizinho não pode ser ignorada. Mas, diante dessa ameaça, o que devemos defender é claro: a paz, a soberania e o diálogo como instrumentos de estabilidade regional.


Historicamente, a América Latina já pagou caro por intervenções externas. Guerras, crises econômicas e instabilidade política marcaram o continente quando interesses externos se sobrepuseram às decisões nacionais. Hoje, mais do que nunca, é necessário um posicionamento firme contra qualquer ação que viole a soberania da Venezuela, independentemente de opiniões sobre o governo de Nicolás Maduro. Defender a paz não significa ignorar problemas internos, mas sim proteger vidas e evitar que conflitos regionais se tornem tragédias humanitárias.


A realidade é que a ameaça de um ataque americano, ainda que limitada, gera efeitos imediatos: reforço militar, tensão diplomática e incerteza econômica. A Venezuela, cercada de vizinhos que observam com preocupação, vê sua população e sua infraestrutura em risco. Países da região, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia e México, enfrentariam dilemas complexos, mas a tendência histórica e diplomática é buscar a mediação, não a escalada.


O momento exige equilíbrio. A paz não se sustenta apenas em boas intenções: exige realismo geopolítico. A defesa da soberania e da vida deve vir antes de qualquer cálculo de poder ou interesse estratégico. Apoiar a escalada militar seria um erro que afetaria toda a região e deixaria cicatrizes profundas — econômicas, sociais e políticas.


Portanto, é fundamental que governos, instituições e cidadãos latino-americanos se posicionem com firmeza: a região não pode ser palco de uma guerra estrangeira, e a única via responsável é a negociação diplomática, o respeito às fronteiras e a proteção da população civil. Defender a paz não é fraqueza; é, neste contexto, a estratégia mais inteligente e necessária para preservar a América Latina de um desastre evitável.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

📝 Independente das impugnações eleitorais, Mangaratiba precisa urgentemente de uma revisão do eleitorado



Muita gente ainda acredita que Mangaratiba esteja vivendo um dos momentos mais decisivos de sua vida democrática, aguardando que a Justiça Eleitoral julgue ações, arquive inquéritos ou até livre investigados por falta de provas consistentes. Isso faz parte do jogo jurídico, e faz parte do Estado de Direito.


Contudo, há algo muito sério que independe de condenações, de culpados ou de nomes: o colégio eleitoral da cidade está distorcido — e isso ameaça diretamente a legitimidade das eleições de 2028.


Ora, por isso, mesmo que:


  • a AIJE seja julgada improcedente,
  • o inquérito policial termine inconclusivo,
  • e nenhuma pessoa seja responsabilizada penalmente,


a revisão do eleitorado continua não apenas necessária, mas urgente!


Isto porque o problema não é jurídico.
É estrutural.
É aritmético.
É visível a olho nu.
E afeta profundamente a justiça e a competitividade das eleições municipais.


📉 O eleitorado cresceu além da capacidade real do município — e isso não precisa de culpado para ser corrigido


Mesmo se a Justiça entender que não há provas suficientes contra A, B ou C, permanece um fato incontestável:


  • 46.874 eleitores,
  • para 41.220 habitantes,
  • com milhares de títulos vinculados a casas sem energia, imóveis vazios e endereços incompatíveis com a realidade urbana.


Isso não desaparece com uma decisão judicial.

Não vira “normal” por falta de condenados.

Não se transforma em algo legítimo porque o inquérito não encontrou autoria.

O cadastro eleitoral não é um processo penal.

Ele é uma base técnica que precisa refletir a verdade da cidade.

E isso Mangaratiba deixou de ter.


🎯 A revisão não é punição — é saneamento


Há quem confunda revisão do eleitorado com perseguição política.

É o oposto.

A revisão:


  • não acusa ninguém,
  • não pune ninguém,
  • não cassaria nenhum mandato,
  • não deixaria ninguém inelegível,
  • não serve para prejudicar investigados.


Ela serve para proteger a população, ajustando o cadastro à realidade.


Se amanhã a Justiça absolver todos os que forem acusados, o eleitorado continuará anômalo e precisará ser revisado da mesma forma.


🧨 E quem mais sofre com essa distorção? O candidato a VEREADOR com base orgânica!


O candidato a prefeito não é o único capaz de atingido por esse inflacionamento artificial do eleitorado. Na verdade, ele é o menos prejudicado no pleito municipal!

Os que mais sofrem, ano após ano, são os candidatos a vereador com base verdadeiramente local.

Os números mostram isso de forma cruel:


✔ Quando entram milhares de eleitores de fora, o voto comunitário perde peso

O candidato do bairro, da igreja, da associação, do esporte, da cultura, do comércio…
Todos eles veem sua força esvaziada quando o colégio eleitoral cresce de forma incompatível com a realidade do território municipal.

✔ O quociente eleitoral sobe artificialmente

Mais eleitores → mais votos para se eleger → mais dificuldade para quem depende de apoio real, orgânico, legítimo.


✔ O voto de quem mora aqui passa a valer menos

É inadmissível que o morador tradicional de Mangaratiba, que sofre os problemas da cidade todos os dias, tenha seu peso reduzido em relação a títulos transferidos sem vínculo real.


✔ As campanhas ficam mais caras e desiguais

Quanto maior o eleitorado, maior o raio de atuação e maior a desigualdade entre quem usa vínculos comunitários e quem opera estruturas artificiais.


O candidato orgânico — aquele que representa de verdade a cidade — perde competitividade.

E não por falta de mérito. Mas sim porque ele está lutando contra um colégio eleitoral inflado, que ninguém sabe exatamente quem compõe.


🔍 Mesmo sem culpados, o problema permanece — e o TSE tem o dever de agir


O TSE não revisa eleitorado para condenar.

Revisa para proteger o processo democrático!

É por isso que, historicamente, o tribunal determina revisões mesmo quando:


  • não há responsáveis identificados,
  • não existem condenações,
  • ações eleitorais foram julgadas improcedentes.


Porque o foco é sanear e não punir. E Mangaratiba se enquadra perfeitamente nesse modelo.


🗳️ 2028 não pode ser decidida por um eleitorado fictício


A eleição municipal de 2028 poderá ser uma das mais importantes da história recente da cidade e poderá representar uma renovação.


E há apenas dois cenários possíveis:


❌ Sem revisão

  • o eleitorado seguirá inflado;
  • o quociente eleitoral continuará artificial;
  • candidatos comunitários serão novamente esmagados;
  • e o resultado nascerá sob suspeita.


✔ Com revisão

  • cada voto local recupera seu valor;
  • candidatos orgânicos têm chance real;
  • o pleito ganha legitimidade;
  • e Mangaratiba volta a escolher seu futuro de forma soberana.


Conclusão: a revisão é necessária porque a cidade merece uma eleição justa — independentemente de quem seja culpado


Mangaratiba não pode ser refém de distorções estatísticas, de números que não batem e de um cadastro eleitoral que não representa seu povo.


Caso haja culpados, a Justiça que os julgue. E, particularmente, tenho uma convicção íntima de que a ação movida contra os dois integrantes da chapa vencedora será considerada improcedente, mas isso não vem ao caso.


Desse modo, mesmo se não houver nenhum condenado, o dever da Justiça Eleitoral continua existindo da mesma forma: sanear o cadastro, corrigir a distorção e garantir que a eleição de 2028 seja a mais legítima possível.


Quem ama Mangaratiba, quem respeita a democracia local, quem acredita que o voto do morador real deve valer mais do que qualquer arranjo artificial, sabe:


👉 A revisão do eleitorado não é uma escolha. É uma necessidade.


E quanto antes ela vier, melhor para os candidatos orgânicos, melhor para a cidade, melhor para a democracia.

COP30: Entre Ausências, Expectativas e a Disputa por Liderança Climática Global



A Conferência do Clima realizada em Belém — a tão aguardada COP30 — carregava desde o início um simbolismo especial. Afinal, discutir o futuro do planeta no coração da Amazônia não era apenas uma escolha geográfica, mas um gesto político que trazia consigo a esperança de que esta fosse a COP capaz de marcar uma virada decisiva. 

No entanto, conforme os dias avançaram e os desfechos foram se desenhando, ficou evidente que a conferência oscilou entre avanços técnicos importantes, sinais de esgotamento político e a persistente sensação de que o mundo continua empurrando a crise climática com a barriga.

Um dos elementos que mais chamou a atenção — e já antecipava certa dificuldade — foi a ausência dos presidentes dos Estados Unidos e da China, justamente os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta. 

Embora suas delegações estivessem presentes, a ausência física dos chefes de Estado enfraquece simbolicamente qualquer COP. Isto porque a presença de líderes costuma servir para destravar impasses, conferir peso às demandas mais urgentes e demonstrar que o clima é realmente tratado como prioridade estratégica. Logo, quando ambos se ausentam, o recado implícito é duro: outras agendas internas e geopolíticas falaram mais alto que o compromisso climático.

Tal comportamento não é apenas protocolar; é político. Os países mais vulneráveis — sobretudo nações africanas, caribenhas e amazônicas — interpretam essas ausências como falta de seriedade. E com razão. Afinal, é difícil pedir sacrifícios aos que menos contribuíram para o problema quando os maiores responsáveis sequer se dispõem a aparecer pessoalmente.

O caso brasileiro também gerou debate. Lula, anfitrião da conferência, precisou deixar Belém antes do encerramento para viajar à África do Sul, onde ocorreria a reunião do G20. Contudo, a justificativa é compreensível: o G20 tem enorme peso econômico e ambiental. Reúne países responsáveis por cerca de 80% das emissões globais e, em muitos casos, decisões sobre energia, indústria e infraestrutura são tomadas ali muito antes de chegarem ao espaço multilateral da ONU.

A diplomacia brasileira, vale reconhecer, atua fortemente em ambos os campos. Entretanto, a decisão de se ausentar nos momentos finais da COP passou a impressão de prioridade invertida, uma vez que, em conferências climáticas, é justamente no último dia que surgem os acordos mais delicados, os parágrafos mais disputados e as concessões finais — e a presença do chefe de Estado do país anfitrião costuma ter papel decisivo na pressão diplomática. Critica-se que, ao deixar Belém antes da hora, Lula correu o risco de esvaziar parte do simbolismo político que o Brasil tentava exercer como liderança ambiental.

O paradoxo é que G20 e COP não competem entre si — pelo contrário, se complementam. O G20 formula diretrizes macroeconômicas e decisões estratégicas sobre subsídios, energias, combustíveis fósseis e investimentos de grande escala. Já a COP transforma esses entendimentos em dispositivos multilaterais, compromissos formais e instrumentos de implementação. Um define o rumo; a outra define as regras e o sistema global de monitoramento.

Todavia , mesmo considerando essa conexão entre fóruns, Belém não conseguiu escapar de uma sensação de frustração moderada. Como já apontado por diversos analistas, há três caminhos possíveis para interpretar a COP30:

- um otimista, em que a conferência serve de virada concreta;

- um intermediário, com avanços parciais;

- um pessimista, em que a COP se torna mais um símbolo de oportunidades perdidas.


Até agora, a leitura mais realista é a intermediária. 

Houve avanços na discussão da Meta Global de Adaptação, no detalhamento de indicadores e na ampliação do debate sobre resiliência climática. Porém, o grande gargalo — o financiamento — continua emperrado. 

Sem recursos claros, previsíveis e suficientes, todos os compromissos assumidos tornam-se promessas frágeis, dependentes da boa vontade política e de conjunturas domésticas instáveis.

É justamente aí que as ausências de EUA e China pesam mais: sem a liderança dos maiores emissores, dificilmente o volume financeiro necessário se materializa. E, sem financiamento, não há adaptação que se sustente nem transição energética que avance com a velocidade necessária para conter o aquecimento global.

Por isso, a COP30 termina como um espelho do nosso tempo: um mundo consciente da gravidade da crise, mas ainda incapaz de mobilizar a ação política proporcional ao tamanho do problema.

Belém ofereceu ao planeta a oportunidade perfeita para uma guinada histórica — no coração da Amazônia, diante de uma crise que se intensifica ano após ano. Mas entre ausências estratégicas, prioridades divergentes e a eterna disputa por recursos, a conferência acabou ficando aquém da expectativa.

Resta agora acompanhar o desdobramento no G20 e o impacto que suas decisões terão no caminho até a COP31. 

Gostemos ou não, os próximos anos definirão não apenas o clima do futuro, mas a capacidade da comunidade internacional de agir com seriedade diante de uma ameaça global que já não admite mais adiamentos.


📷: Tânia Rego / Agência Brasil.

Sob a sombra do Jequitibá: memórias do Macacu



O jequitibá já se erguia com majestade, suas raízes enredadas na terra fértil e seu tronco grosso carregando séculos de chuva e sol. Embora jovem para os padrões do mundo que viria, a árvore já dominava o vale, sua copa enorme lançando sombras frescas sobre o solo onde pequenos animais se escondiam. Ali, sob sua proteção, os povos da região vinham honrar os espíritos da floresta, colher frutos e aprender com os sinais da natureza.

Foi sob essa sombra que Araúna, guerreiro da tribo Guapixana, descansava após a caçada, observando o voo das araras sobre os rios. Seus passos eram firmes, mas respeitosos com a terra, pois desde criança aprendera que a vida se sustentava na harmonia com o mundo vegetal e animal.

Nesse mesmo dia, Itaní, da tribo Tamoio, aproximava-se do jequitibá, recolhendo frutos e ervas medicinais. Seus olhos negros refletiam a luz dourada do sol filtrada pelas folhas, e em seu coração batia uma inquietação. Ao tocar a casca da árvore, sentiu um pressentimento profundo — um futuro desconhecido, onde outros passos além dos humanos, de pele diferente da sua, viriam modificar o mundo que conhecia. Mas naquele instante, o vento apenas sussurrava segredos do presente.

Os olhos de Araúna encontraram os de Itaní. Um silêncio se fez, carregado de curiosidade e respeito. A menina da tribo Tamoio e o jovem Guapixana partilhavam, sem palavras, a linguagem que só a natureza compreende: o murmúrio do vento, o canto do sabiá, o farfalhar das folhas do jequitibá. Com o tempo, ali sob a árvore, começaram a se encontrar, trocando histórias de caçadas, rituais, danças e cantos. Aprenderam sobre os mitos de cada povo: a Guapixana reverenciava o jequitibá como um “guardião da memória dos ancestrais”, enquanto os Tamoio acreditavam que sob sua sombra os sonhos se transformavam em ensinamentos para as gerações futuras.

O namoro cresceu com a estação das chuvas e a seca, com a mesma constância das marés do rio. Cada encontro reforçava o respeito pela terra, o cuidado com as plantas e o equilíbrio com os animais. Itaní ensinava Araúna a reconhecer plantas medicinais e ervas de proteção; Araúna mostrava a força e a paciência da caça, sempre com reverência à vida que ceifava.

Chegou o dia em que, com o consentimento das duas tribos, Araúna passou a pertencer ao povo de Itaní. A união não era apenas de corpos, mas de culturas, línguas, crenças e histórias. Realizaram a cerimônia sob o jequitibá, oferendo frutos e flores ao espírito da árvore, pedindo que guardasse suas vidas e as vidas que viriam. A copa alta parecia abraçá-los, testemunhando aquele momento sagrado.

Ao longo dos anos, mais de cem ciclos solares, o casal assistiu ao nascimento de muitas gerações, cada uma aprendendo a respeitar o mundo natural como eles haviam aprendido. O jequitibá permaneceu firme, testemunha silenciosa das alegrias, tristezas e festas. Sob sua sombra, crianças brincavam, aprendiam as canções dos pássaros e os segredos das ervas. Itaní às vezes sentia o pressentimento do futuro: viajantes de pele clara que chegariam e mudariam o curso da floresta e das aldeias. Mas também percebia que a árvore guardaria a memória de seu povo, mesmo diante da mudança.

O casal ensinou aos descendentes que o jequitibá não era apenas árvore, mas ancestral vivo, guardião da memória da terra, das águas e do ar. E enquanto a terra respirava, enquanto os rios corriam, e enquanto os ventos carregavam sementes e canções, Araúna e Itaní souberam que sua história se entrelaçava para sempre com a do Patriarca que os abrigava.


Os Descendentes: História Continua


Araúna e Itaní já haviam partido há muito tempo, mas sob a copa do jequitibá, seus descendentes continuavam a trilhar os caminhos da floresta, aprendendo com os rios, os ventos e os espíritos das árvores. Os tamoios, agora espalhados por vales e serras, guardavam a memória dos ancestrais e a reverência pela natureza que seus antepassados haviam ensinado.

No século XVI, a chegada dos portugueses à Baía de Guanabara trouxe conflitos, que os cronistas chamariam depois de “Guerra dos Tamoios”. Os descendentes de Araúna e Itaní sentiram o peso da guerra e da doença, mas muitos escaparam para os sertões do Macacu, mantendo viva a cultura indígena. Ali, o jequitibá continuava a crescer, já uma árvore impressionante, testemunha de vidas, encontros e despedidas, guardando sob sua sombra histórias que o colonizador jamais compreenderia.

Com o tempo, a região ao redor do jequitibá começou a se transformar. As trilhas indígenas foram sendo vigiadas pela Coroa portuguesa, que mantinha o controle rigoroso de ingresso de pessoas, para combater contrabandistas que vinham das minas de ouro e de outros pontos do litoral. Boatos sobre um "bandido" apelidado de Mão de Luva corriam pelas serras, assustando viajantes e moradores, mas o vale do Macacu ainda oferecia refúgio a quem conhecia suas curvas e riachos.

No século XVIII, um jovem mestiço de nome Manoel, filho de pai negro e mãe indígena, escravizado em uma fazenda jesuítica de Santo Antônio de Sá, conseguiu escapar. Com passos cautelosos, ele se embrenhou pelos sertões do Macacu, carregando consigo as palavras e cantos que sua mãe lhe ensinara em língua indígena. Entre vales e riachos, chegou ao jequitibá, onde encontrou Potira, uma jovem indígena oriunda de uma tribo situada na atual Nova Friburgo. O encontro foi silencioso, carregado de curiosidade e reconhecimento mútuo entre as almas, como se a própria árvore os chamasse para se aproximar.

Ali, sob a sombra do Patriarca, o jovem mestiço e a indígena iniciaram um vínculo que cresceria com o tempo. Ele aprendeu os caminhos da mata, a língua do povo dela e os segredos das ervas medicinais. Ela, por sua vez, compartilhava o conhecimento dos ciclos da floresta, das estrelas e dos rios. Eventualmente, com o consentimento do povo de Potira, Manoel passou a integrar sua tribo, e a união foi celebrada com ofertas ao jequitibá, que guardava, como sempre, a memória dos ancestrais.

Ao longo de décadas, o casal assistiu à transformação do entorno. As florestas, no começo, ainda eram densas, mas as clareiras começaram a surgir no século XIX com a lavoura do café, que se expandia gradualmente para os vales férteis.

Pequenos sítios e fazendas como a Morro Queimado surgiram, mas, apesar disso, o casal conseguia viver em relativa paz, caçando, cultivando e celebrando os ciclos da natureza.

Quando já eram idosos, viram naturalistas estrangeiros, curiosos com a riqueza da Mata Atlântica, passando pelas serras, os quais admiravam a biodiversidade que florescia sob a guarda do Patriarca, sem imaginar que o jequitibá já tinha testemunhado séculos de histórias humanas.

Todavia, mudanças avançavam inexoráveis: a chegada dos colonos suíços e alemães trouxe novos assentamentos, estradas e plantações, fragmentando a floresta e alterando o curso de rios e trilhas. O café tornou-se cada vez mais dominante, e a pressão sobre as terras indígenas aumentou. Os descendentes do casal presenciaram a destruição gradual de grandes trechos de Mata Atlântica, a diminuição dos animais, e a morte de muitos membros de suas comunidades pelo contato forçado com os brancos, doenças e violência.

Manoel e Potira envelheceram sob o jequitibá, vendo as gerações se sucedendo e sobrevivendo, apesar da alta taxa de mortalidade, testemunhando também a devastação da terra que sempre fora sagrada. Ainda assim, eles permaneciam fiéis aos ensinamentos dos antepassados, cultivando respeito pelos espíritos da floresta, contando histórias às crianças e mantendo vivas as canções que ensinavam a ler os sinais da natureza.

Mesmo diante da chegada de novos povos, da transformação das florestas e da expansão das plantações, o jequitibá resistia, continuando a ser a testemunha silenciosa de séculos, carregando na casca e nas raízes a memória de indígenas, mestiços, negros e todos aqueles que sob sua sombra aprenderam a respeitar a terra e a vida.


Séculos de Memória




Com o passar dos anos, os descendentes de Potira e do jovem mestiço foram diminuindo em número e já não viviam em tribos. Muitos foram assassinados por fazendeiros ou colonos, enquanto outros tornaram-se escravizados de forma ilegal ou fugiam indo cada vez mais para o interior, e pouco a pouco a presença indígena tornou-se quase imperceptível nos vales e nas serras do Macacu. Ainda assim, a memória da terra, a reverência pelo jequitibá e os cantos antigos sobreviviam em alguns poucos, transmitidos de avós a netos.

No século XIX, com a influência do Barão de Nova Friburgo, a ferrovia chegou a Cantagalo, passando por Nova Friburgo e passando não muito distante do jequitibá. Menos de duas décadas depois, a Abolição da Escravatura mudaria novamente a paisagem social da região. Nova Friburgo cresceu, tornando-se uma cidade industrial e também turística, enquanto Cachoeiras de Macacu, após o fim do ciclo do café na década de 1930, mudava suas culturas agrícolas, com áreas de pasto, bananas e hortaliças.

A mata, aos poucos, começou a se regenerar espontaneamente, beneficiada pelas chuvas abundantes, mas os habitantes indígenas originais não mais estavam presentes. As onças grandes tornaram-se raras e algumas espécies desapareceram. A ferrovia precisou de cortes de árvores para fornecer combustível às locomotivas, mas com a construção da estrada de ferro moderna, a antiga linha foi desativada. 

Expansões urbanas deram origem a bairros e pequenas propriedades de veraneio. Apenas trechos da mata foram preservados nas áreas mais altas e por sorte as margens da rodovia mantiveram-se com poucas ocupações, em especial por causa de uma captação da CEDAE , garantindo água limpa e sombra para o trecho do vale.

No início do século XXI, mais precisamente em meados de 2002, durante a curta gestão de uma mulher negra que governou o Rio de Janeiro, foi criado o Parque Estadual dos Três Picos. A unidade de conservação passou a proteger fragmentos importantes da Mata Atlântica e, consequentemente o jequitibá.

Dez anos depois, em 2012, durante os dias da conferência Rio+10, um jovem chamado Roberto, morador de Nova Friburgo, descendente de uma das últimas indígenas da região — bisneto, portanto, de uma das últimas descendentes do casal ancestral — decidiu descer a serra com amigos para uma expedição na floresta.

O passeio era uma celebração da vida. Roberto havia sobrevivido à terrível enchente de janeiro de 2011, sendo resgatado pelos bombeiros apenas três dias depois. Agora recuperado, podia caminhar novamente, sentindo o cheiro da terra molhada e ouvindo o canto dos pássaros nas trilhas que seguiam o leito da antiga ferrovia.

Chegando em Boca do Mato, seus amigos decidiram pegar um ônibus de volta pela RJ-116, pois a noite se aproximava e o frio aumentava. Roberto, porém, continuou sozinho pelo caminho do antigo trem, determinado a encontrar o jequitibá que tantas histórias guardava.

Quando se aproximou da árvore, sentiu algo inesperado: uma presença antiga e familiar, mesmo que estranha. Sob a sombra imensa, encontrou uma jovem indígena do Acre, participante de alguns dos eventos da Rio+10. 

Seu nome era Yaraê, da tribo Kaxinawá, conhecida por sua ligação profunda com a floresta e os rios. Havia algo nos olhos dela, na maneira como tocava a casca da árvore, que o fez sentir que já se conheciam há séculos.

O encontro foi inevitável. Sem palavras, mas com uma compreensão profunda que transcendia o tempo, eles se aproximaram e se beijaram, sentindo correr o sangue indígena que ambos carregavam, mesmo que Roberto pouco soubesse sobre seus ancestrais já que conviveu tão pouco tempo com sua bisavó que, por sua vez, não nasceram numa tribo. 

Com promessas silenciosas, os dois combinaram de se reencontrar no Rio de Janeiro, durante a conferência, e mais tarde, em janeiro de 2013, numa viagem que Roberto faria até o Acre, onde começaria uma nova vida ao lado de Yaraê com quem se casou. 

O casal passou a trabalhar no projeto ambiental de uma ONG em Cruzeiro do Sul. Somente depois do fim da pandemia por COVID-19 é que voltaram a Nova Friburgo trazendo consigo os filhos para que eles conhecessem os avós paternos. No trajeto, fizeram questão de parar o carro no caminho a fim de mostrar às três crianças a grande árvore onde os pais se viram e se beijaram pela primeira vez.

O jequitibá, patriarca da serra e guardião das memórias do Macacu, permanece lá até os dias de hoje. Sempre imponente, como uma testemunha silenciosa de séculos de encontros, despedidas, amor, perdas e renascimentos.

Consórcio de Resíduos da Costa Verde: uma solução sustentável para Angra, Paraty, Mangaratiba e Rio Claro



A gestão de resíduos sólidos na Costa Verde continua sendo um dos maiores desafios estruturais da região. 

Atualmente, grande parte do lixo produzido em Angra dos Reis, Paraty e Mangaratiba ainda é enviado para localidades distantes, incluindo Seropédica, o que representa custos elevados, impactos ambientais evitáveis e perda de oportunidades econômicas que poderiam beneficiar diretamente a população local.

Pode-se dizer que a Costa Verde vive um paradoxo: é uma das regiões mais belas do país e, ao mesmo tempo, uma das que mais sofrem com os impactos da má gestão de resíduos. Angra dos Reis, Paraty e Mangaratiba enfrentam os mesmos desafios — expansão urbana acelerada, pressão do turismo, limitações geográficas e ausência de uma estrutura moderna que trate o lixo de forma responsável.

Todavia, já está mais do que claro: cada cidade isoladamente não consegue resolver esse problema. Porém se caminharem juntas, poderão transformar a realidade ambiental de toda a região.

Desse modo, eis que há uma alternativa moderna, inteligente e ambientalmente responsável: a criação de um Consórcio Intermunicipal de Gestão de Resíduos Sólidos, reunindo Angra dos Reis, Paraty, Mangaratiba e, potencialmente, Rio Claro, o qual apesar de participar do APL turístico e econômico do Vale do Café, não faz parte do consórcio de resíduos do Vale do Café (CONVALE), cujo aterro situa-se em Vassouras.

Com isso, defendo que, juntamente com o consórcio, tenhamos o Complexo Integrado de Resíduos Sólidos da Costa Verde (CIRSCV), através de um sistema moderno que disponha de triagem, reciclagem, tratamento de orgânicos, inclusão de cooperativas, educação ambiental e um aterro mínimo, tecnicamente seguro. Um modelo alinhado ao que há de mais sustentável no mundo — e perfeitamente viável para nossos municípios.

Ao invés de, simplesmente, abrir outro aterro sanitário, que é caro, ocupa grandes áreas e gera impactos permanentes, o CIRSCV poderá oferecer algo muito melhor: reduzir em até 90% o que iria para o aterro, gerar energia limpa com o tratamento de orgânicos, fortalecer cooperativas de reciclagem e proteger nossas praias, rios e baías, que são o verdadeiro patrimônio econômico da região.

Portanto, eis que temos uma oportunidade histórica de integração regional e inovação administrativa sendo que, para tanto, precisamos de união política, com as nossas cidades, em parceria com.o governo estadual, dando um passo histórico no sentido de criarem um Consórcio Intermunicipal de Gestão de Resíduos aqui na Costa Verde, nos moldes de outras autarquias interfederativas exitosas que já existem pelo Brasil.


A situação atual: por que precisamos repensar o modelo


O envio de resíduos para Seropédica e outras regiões evidencia a falta de uma solução integrada local. O fluxo atual de resíduos:


- eleva gastos com transporte;

- aumenta emissões de carbono;

- sobrecarrega aterros de outras regiões;

impede a criação de soluções próprias, que gerariam empregos e receitas locais.


Exportamos nosso lixo — e com ele, perdemos capacidade de gestão e autonomia.


O exemplo de Mangaratiba: o Projeto "Lixo Zero" como inspiração regional


Mangaratiba iniciou recentemente o Projeto Lixo Zero, uma política que busca:


- ampliar reciclagem;

- fortalecer cooperativas de catadores;

-promover educação ambiental nas escolas e comunidades;

- implementar práticas de redução e reaproveitamento de resíduos;

- aumentar a taxa de materiais desviados do aterro.


O Projeto "Lixo Zero" de Mangaratiba demonstra que a solução não precisa começar do zero: já existem iniciativas locais que podem ser ampliadas e integradas em um sistema regional. Em vez de cada município agir isoladamente, é possível somar esforços, compartilhar custos e gerar resultados mais robustos.

Um consórcio regional permitiria que esse modelo — hoje aplicado em Mangaratiba — fosse expandido para Angra, Paraty e Rio Claro, com escala muito maior.


Por que um consórcio intermunicipal seria a solução mais adequada?


1. Economia de escalaOs custos por tonelada coletada e tratada diminuem quando vários municípios compartilham instalações, logística e equipamentos. Todos economizam.


2. Alternativa mais sustentável que aterro sanitárioA ideia do consórcio não é construir “mais um aterro”, mas sim um sistema integrado, composto por:


- usina de triagem e reciclagem;

- compostagem de resíduos orgânicos;

centrais de valorização energética (quando tecnicamente viável);

estrutura para cooperativas;

- armazenamento e comercialização de recicláveis.


Com isso, o aterro deixaria de ser o centro, passando a ser apenas a etapa final para o mínimo indispensável.


3. Geração de emprego e rendaA cadeia da reciclagem movimenta economia real. Cooperativas formalizadas e apoiadas por um consórcio podem participar do processo de forma digna e estruturada.


4. Fortalecimento políticoQuatro municípios unidos têm muito mais força para:


- captar recursos estaduais e federais;

- negociar com o setor privado;

- pleitear programas ambientais;

- atrair financiamentos verdes internacionais.


5. Redução de impactos ambientais 


Com tratamento local, diminuem-se:


- emissões de caminhões que percorrem longas distâncias;

- custos de manutenção;

- riscos de acidentes ambientais;

- poluição associada ao transporte prolongado.


Rio Claro: Uma participação estratégica


Embora Rio Claro esteja associado à região turística e produtiva do Vale do Café, não participa do consórcio de resíduos CONVALE, que opera o aterro de Vassouras.


Com isso, abre-se um espaço para que Rio Claro se una à Costa Verde em um consórcio inovador, ampliando:


- território de abrangência;

- capacidade instalada;

- compartilhamento de custos e benefícios.


A geografia e as rotas logísticas tornam essa participação viável e racional.


Uma nova política para a Costa Verde


Integrar Angra, Paraty, Mangaratiba e Rio Claro em um consórcio de resíduos é mais que uma proposta técnica: é um passo civilizatório. Representa deixar de “empurrar o problema para longe” e assumir a responsabilidade por soluções modernas, limpas e alinhadas ao futuro.

A Costa Verde merece mais do que apenas praias bonitas — merece ser referência em sustentabilidade e inovação.


A hora é agora!


Com Mangaratiba avançando no Projeto Lixo Zero, com Angra e Paraty buscando alternativas ao envio de resíduos para Seropédica, e com Rio Claro apta a se integrar a uma solução regional, temos todas as condições para construir o primeiro sistema realmente sustentável de gestão de resíduos da Costa Verde.

A criação desse consórcio não é apenas uma alternativa técnica — é uma escolha política. É a oportunidade de romper com modelos ultrapassados e adotar uma gestão sustentável, moderna e compatível com a importância ambiental e econômica da Costa Verde.

Se queremos proteger nossas praias, rios, ilhas e a Baía da Ilha Grande para as próximas gerações, precisamos agir agora. Um futuro mais limpo, mais sustentável e mais inteligente depende da união dos nossos municípios.

Que os prefeitos, vereadores, gestores públicos, lideranças comunitárias e a população apóiem essa ideia. Pois o que chamamos de "lixo" não é só um problema — é uma oportunidade de transformação com sustentabilidade e inclusão social.

A Costa Verde precisa de uma solução conjunta para o lixo — e o momento é agora.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Incluir o amor na vida da nossa nação




No Dia da Bandeira, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) retomou uma proposta de enorme significado simbólico e político: o Projeto de Lei 5.883/2025, que propõe incluir a palavra “Amor” no lema da bandeira nacional, transformando o famoso “Ordem e Progresso” em “Amor, Ordem e Progresso”.

Para muitos, a bandeira é apenas um símbolo visual, algo de cerimônia. Porém, há momentos em que ela pode — e deve — nos lembrar de ideais mais profundos. 

O projeto do deputado Alencar é exatamente isso: não se trata de uma simples reformulação estética, mas de resgate de uma filosofia original, a do positivismo comtiano, onde “amor por princípio” não era uma frase de efeito, mas a base moral de uma visão de mundo.

Aqui no meu blog, na postagem Protejam o vermelho e o verde no Brasil!, de 12/02/2024, já escrevi sobre a importância de preservar e ressignificar nosso símbolo maior — de enxergá-lo como algo vivo, mais do que histórico. Daí citei o samba do Salgueiro daquele ano, o qual expressou uma possível visão dos excluídos povos indígenas:


"Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom

Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom

Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso

Não queremos sua ordem, nem o seu progresso"


Sem dúvida, o corajoso projeto legislativo do nobre parlamentar é um convite ao respeito, ao pertencimento, à diversidade simbólica de quem somos como povo. 

Incluir “amor” no lema nacional seria reafirmar que a nossa pátria tem vocação para cuidar, para se importar, para amar — até na sua concepção mais simbólica.

O PL n.° 5.883/2025, portanto, é também um ato de esperança. Em tempos difíceis — com polarização, desigualdades profundas, crises sociais — reafirmar que o amor está no princípio daquilo que nos une é uma declaração de fé no Brasil. Ordem e progresso sem amor são vazios; com amor, ganham sentido.

Além do mais, a proposta não surge do nada: ela dialoga com vozes históricas, como a de Jards Macalé, músico que defendia essa visão full do positivismo. E já teve apoio no passado, por exemplo, do senador Eduardo Suplicy.

Por tudo isso, acredito que apoiar o PL 5.883/2025 não é apenas propor uma mudança de lema. É apoiar um Brasil mais ético, fraterno e comprometido com a dignidade humana. É mostrar que símbolos nacionais não são coisa do passado — podem ser instrumentos de transformação.