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domingo, 7 de dezembro de 2025

A direita fragmentada em 2026 — por que a esquerda deve acompanhar com atenção



A publicação recente no Poder 360 que mostra governadores de direita divididos em relação à candidatura de Flávio Bolsonaro revela um fato político relevante: o bloco conservador — antes relativamente coeso — começa a mostrar fissuras significativas.


  • Nomes como Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais), Eduardo Leite (RS) e outros mantêm pré-candidaturas — mesmo com a investida de Bolsonaro sobre a sucessão presidencial.
  • O fato de Tarcísio ainda não se manifestar após o anúncio de Flávio indica hesitação, tensão interna ou cálculo político cuidadoso.
  • Há um cenário real de fragmentação da direita e da centro-direita, o que abre espaço para alternativas “menos radicais” — uma terceira via — atraente a eleitores moderados ou desencantados com polarização.


Para a esquerda — e particularmente para o campo do Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados — essa divisão representa ao mesmo tempo um risco (em termos de imprevisibilidade eleitoral) e uma oportunidade estratégica.


Por que a terceira via pode emergir — e por que a esquerda deve acompanhar?


✅ Vulnerabilidades da polarização extrema e apelo ao moderado


  1. Rejeição ao bolsonarismo — Com Flávio assumindo a candidatura, pesquisas apontam que sua rejeição nacional é elevada; simulações de segundo turno mostram vitória folgada de Luiz Inácio Lula da Silva contra ele.
  2. Cansaço com extremos — A persistente polarização nacional e os desgastes associados à radicalização e às crises institucionais podem levar parcela do eleitorado a buscar “voto útil moderado”.
  3. Governadores com base regional consolidada — Quem governa estados hoje já possui estrutura, visibilidade e poder local para se viabilizar como alternativa à polarização nacional — sobretudo com discurso de pragmatismo, “governabilidade” e retomada econômica.


🔎 Potenciais vantagens para a esquerda com uma terceira via crescendo


  • A fragmentação de votos à direita e centro-direita pode diluir o campo conservador, beneficiando Lula e candidatos de centro-esquerda no primeiro turno.
  • Facilita a construção de alianças regionais e estaduais: se a terceira via ocupar o espaço “moderado/conservador institucional”, a esquerda pode disputar contra uma direita fragmentada, com maior chance de manter governabilidade ou expandir base sem medo de polarização extrema.
  • Reduz a urgência de aproximar com setores extremistas para composição de governo — a coalizão para 2026-2030 pode se organizar com centro e centro-esquerda de forma coerente.


Como Tarcísio de Freitas pode se posicionar — e por que a esquerda deve observar com atenção?

Tarcísio surge hoje como um dos protagonistas desse possível reposicionamento da centro-direita:


  • Ele já aparecia — antes da definição de Flávio — como potencial sucessor de Bolsonaro e escolha preferencial de parcela da direita moderada.
  • Com a polarização de Flávio, Tarcísio pode optar por se diferenciar, apresentando-se como uma alternativa “técnica e moderada”, de centro-direita pragmática — potencialmente atrativa para eleitores que rejeitam extremismos.
  • Caso ele decida ser candidato, terá a chance de liderar uma terceira via e disputar com discurso de estabilidade institucional, foco no desenvolvimento e menos radicalismo — um perfil que pode mobilizar amplos setores, inclusive centro e classes médias, tradicionalmente eleitorado de moderados e centrados.

No entanto, há riscos e desafios para ele — fragmentação, trauma de alianças com bolsonarismo, necessidade de construir base independente e convincente.


O que a esquerda deve considerar agora — alguns alertas estratégicos

Para o PT e aliados, o panorama muda, e algumas precauções e oportunidades devem ser avaliadas:


  1. Não subestimar a volatilidade — Uma terceira via ainda é incipiente e pode desaparecer ou realinhar-se conforme conjuntura, escândalos, polarização ou acordos de bastidor.
  2. Manter presença territorial e mobilização de base — A disputa será descentralizada; a esquerda precisa continuar consolidando bases locais, políticas públicas e capital eleitoral nos estados, para não depender só da polarização nacional.
  3. Preparar narrativa de governabilidade e coalizão ampla — Se a fragmentação da direita se consolidar, a esquerda poderá buscar alianças alternativas, sem abrir mão de identidade, com setores moderados que rejeitam extremos — abrindo janelas para política menos polarizada e mais pragmática.
  4. Não banalizar radicalismo nem estigmatizar adversários por antecipação — Em um contexto de terceira via, exagerar críticas pode reforçar o adversário radical ou gerar simpatia por quem se apresenta como “novo moderado”.


Conclusão: a terceira via da direita não é inimiga da esquerda — mas uma variável estratégica com potencial de desarticular a polarização

A divisão da direita evidenciada recentemente mostra que há espaço para uma terceira via de centro-direita ou moderada emergir com força em 2026 — com Tarcísio de Freitas como um dos protagonistas. Para a esquerda, isso representa tanto risco quanto oportunidade.

Se a direita fragmentar, a eleição pode depender mais de capilaridade regional, mobilização da base e articulações locais do que de polarização nacional. Isso favorece quem tiver coerência programática, presença territorial e capacidade de governar — o que aumenta a relevância de uma estratégia ao longo de 2025–2026. Neste sentido, insisto que Minas Gerais poderá ser um divisor de águas no pleito geral que se aproxima.

Em resumo: não se trata apenas de combater o bolsonarismo ou a polarização… trata-se de preparar o campo progressista para disputar com inteligência, dividindo o foco entre política nacional e força local — e estar pronto para quando a terceira via emergir como alternativa real ao Brasil.

sábado, 6 de dezembro de 2025

Trump e a Doutrina Monroe: o retorno de um imperialismo velado



Recentemente, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou planos para “atualizar” a Doutrina Monroe — política que há dois séculos define a relação dos EUA com a América Latina. Segundo o próprio governo americano, trata-se de uma estratégia para reafirmar a presença e influência dos EUA no Hemisfério Ocidental, em um contexto de crescente competição geopolítica, sobretudo com a China.

A Doutrina Monroe, formulada em 1823, nasceu como uma promessa de proteção aos países americanos contra colonizações europeias. No entanto, a história mostrou que, à medida que os Estados Unidos se tornaram potência mundial, a Doutrina foi reinterpretada para justificar interferências políticas, econômicas e militares na região. O Corolário Roosevelt, lançado há exatos 121 anos, é o exemplo clássico: sob o pretexto de manter a ordem, os EUA se deram o direito de intervir sempre que considerassem governos latino-americanos instáveis ou incapazes, inaugurando uma longa tradição de hegemonia e ingerência.

O que Trump propõe hoje tem claros ecos desse passado. O documento de sua administração sugere ampliar a presença militar no Caribe e em regiões estratégicas da América do Sul, condicionar investimentos e ajuda a interesses americanos e limitar a influência de potências fora do Hemisfério, como China e Rússia. Trata-se de uma forma moderna de “polícia hemisférica”, travestida de defesa da segurança regional, mas que, na prática, ameaça diretamente a soberania dos países latino-americanos.

Para o Brasil e demais nações da América Latina, essa reedição da Doutrina Monroe representa um risco duplo: além da possibilidade de pressão política e militar, há um componente econômico estratégico. Ao priorizar empresas e interesses americanos na região, os EUA tentam reduzir a liberdade dos países de buscar suas próprias parcerias internacionais, restringindo sua autonomia e capacidade de decidir seus caminhos de desenvolvimento.

Em outras palavras, o “Corolário Trump” não é apenas uma retórica de poder, mas uma tentativa de restaurar um padrão histórico de dominação externa. A experiência do século XX nos mostra que esse tipo de intervenção gera dependência econômica, instabilidade política e ressentimento popular, deixando claro que a soberania nacional não é um conceito negociável quando confrontado com interesses de grandes potências.

Diante desse cenário, a reação da América Latina precisa ser firme. É fundamental fortalecer organismos regionais que promovam integração, autonomia e respeito mútuo, como a CELAC, e reforçar alianças internacionais equilibradas, sem subordinação a uma única potência. O Brasil, por sua dimensão e peso estratégico, tem papel central em defender um Hemisfério Ocidental livre de hegemonias externas, garantindo que a Doutrina Monroe continue sendo um capítulo do passado — e não uma ameaça renovada ao futuro da região.

Artigo 8º da Lei das Eleições: a democracia interna que não existe

 


O artigo 8º da Lei nº 9.504/1997, conhecida como Lei das Eleições, estabelece que “os partidos escolherão seus candidatos mediante convenção partidária, observando as normas do estatuto do partido”. 

À primeira vista, parece um dispositivo neutro, meramente formal. Porém, ao analisarmos com atenção, percebemos um hiato que compromete a essência da democracia interna partidária.

O ponto central é o sujeito da escolha uma vez que a lei não especifica se a decisão deve ser tomada pela Executiva Nacional ou Estadual, por delegados eleitos em convenção, ou pelo conjunto de filiados – algo que a Causa SuUn* chama de “sufrágio minoritário”. 

Ora, na prática, eis que a redação do texto legal ainda permite que a maioria dos estatutos partidários concentre o poder de escolha nas cúpulas da respectiva agremiação, criando o que se poderia chamar de candidato cooptado.

Ocorre que essa concentração gera problemas concretos para o exercício da democracia partidária! Pois, embora formalmente legal, o processo de escolha pode limitar a participação efetiva dos filiados e reduzir a equidade interna, elementos que são pilares da democracia. 

Não se pode esquecer que o Pacto de São José da Costa Rica, ao qual o Brasil é signatário, garante o direito de todos os cidadãos à participação política plena e equitativa. Daí, quando a escolha de candidatos se restringe a uma minoria, a democracia interna partidária torna-se meramente simbólica.

A crítica que vem sendo apresentada pela Causa SuUn é clara: sem regras que determinem participação ampla e vinculante dos filiados, a lei acaba permitindo processos internos opacos e centralizados, favorecendo interesses de poucos em detrimento da vontade coletiva. A solução conforme proposta por seu mentor, Julio Auler, é simples e direta: instituir mecanismos de sufrágio interno vinculante, garantindo que todos os filiados possam participar efetivamente da escolha dos candidatos.

Como se vê, é preciso colocar em pauta a eficácia real dos princípios inspiradoras da legislação eleitoral em termos de democracia interna nas agremiações partidárias. Pois, se queremos partidos mais democráticos e representantes que reflitam genuinamente a vontade de seus filiados, torna-se urgente repensar como as convenções partidárias são estruturadas e exigir transparência e participação ampla.

O debate não é apenas jurídico: é político e ético! 

Um partido verdadeiramente democrático não se constrói apenas em palavras; constrói-se na prática, com decisões que envolvam todos os seus membros, com amplas oportunidades de participação. 


(*) A Causa SuUn é um movimento que defende a democratização interna dos partidos políticos, propondo que todos os filiados tenham participação efetiva e vinculante na escolha de candidatos, ao invés de decisões concentradas nas Executivas ou em pequenas convenções. Seu objetivo é justamente corrigir o hiato da lei eleitoral brasileira, a qual não especifica quem deve escolher os candidatos, promovendo maior transparência, equidade e representatividade, de modo a transformar a democracia interna em prática real, e não apenas formalidade estatutária.

Repensando a Punição e a Corrupção — Da Vingança à Governança Técnica



Desde os primeiros debates sobre justiça moderna, o Brasil — como muitos países — vem repetindo o ciclo de escândalos, prisões e indignação pública. O espetáculo da algema tornou-se rotina: políticos, servidores, empresários, todos transformados em personagens de um teatro público que mais busca a catarse social do que a reparação do dano.

Nosso ordenamento jurídico, em particular a Constituição de 1988, estabelece princípios nobres: legalidade, moralidade, impessoalidade, eficiência e responsabilidade pública. No entanto, a aplicação prática, seja no direito penal ou administrativo, continua a enfatizar o drama moral do agente corrupto, em vez de lidar com as falhas sistêmicas que tornam o ilícito possível.

A repetição cíclica de escândalos evidencia que o problema não é apenas o caráter individual, mas a fragilidade das estruturas administrativas e a ausência de mecanismos preventivos eficazes. Em outras palavras: não se trata de punir o corrupto para satisfazer a indignação popular, mas de corrigir o sistema para impedir a repetição do dano.


Da prisão à falha técnica: uma releitura necessária

O debate aqui no blogue sobre prisões há mais de uma década já apontava problemas semelhantes: a pena de prisão, especialmente para delitos sem violência ou de menor potencial ofensivo, muitas vezes não ressocializa, não educa e apenas reforça o espetáculo da punição. Hoje, podemos aplicar essa lógica ao combate à corrupção:


  • Corrupção como drama moral: o foco está no vilão, no espetáculo, na punição punitiva. O erário pouco se recupera, a gestão continua vulnerável, e o povo se contenta com o espetáculo — não com a correção estrutural.
  • Corrupção como falha técnica: o foco está no processo, nas regras, nos fluxos administrativos. Sanções não desaparecem, mas tornam-se ferramentas de correção e prevenção, garantindo que a mesma vulnerabilidade não produza novos prejuízos.


Nesse modelo, não se elimina a responsabilização individual — mas ela deixa de ser o único eixo da justiça. A prioridade é estruturar o sistema para que o erro não se repita e que os recursos desviados retornem rapidamente ao Estado.


Proposta de reforma infraconstitucional

Para implementar esse paradigma no Brasil, algumas mudanças são necessárias nas leis que hoje regem a improbidade administrativa, a corrupção e as licitações:

  1. Lei Anticorrupção (12.846/2013):

    • Introduzir sanções técnicas graduadas, com foco na reparação do dano e na correção de falhas de governança.
    • Acordos de leniência obrigatoriamente acompanhados de protocolos de correção sistêmica.
  2. Lei de Improbidade Administrativa (14.230/2021):

    • Estabelecer avaliação objetiva da falha: distinção entre responsabilidade individual, sistêmica ou ambas.
    • Permitir redução ou substituição de sanções mediante comprovação de correção de processos vulneráveis.
  3. Lei de Licitações e Contratos Administrativos (14.133/2021):

    • Tornar obrigatória a rastreabilidade digital de processos.
    • Implementar inteligência artificial para monitoramento de padrões atípicos.
  4. Direito Administrativo e Orgânico:

    • Consolidar protocolos de governança preventiva.
    • Instituir auditoria contínua, independente e automatizada.
    • Publicação de selos de conformidade e certificações de integridade para órgãos e empresas.


Releitura constitucional

A Constituição Federal de 1988 é plenamente compatível com essa visão, se interpretada à luz de:


  • Princípio da eficiência (art. 37, caput e EC 19/1998): priorizar resultados, não dramatizações.
  • Controle interno e externo (arts. 70-74): reforçar auditoria sistêmica e preventiva.
  • Probidade e moralidade administrativa (art. 37): ampliar o conceito de probidade de “caráter do gestor” para “conformidade sistêmica”.


Em suma, a Constituição já prevê instrumentos que permitem migrar de um modelo retributivo e moralista para um modelo técnico, preventivo e reparador.


Conclusão

O Brasil precisa abandonar o ciclo do espetáculo da corrupção e da vingança simbólica. 

A punição continua necessária, porém o foco deve ser estrutural, técnico e preventivo

O que proponho é um novo pacto institucional, em que falhas são identificadas, corrigidas e monitoradas, e o dano é rapidamente reparado de modo que o drama moral dê lugar à governança eficaz.

Essa visão não é apenas utópica: ela pode ser transformada em lei, com impactos reais na proteção do erário, na confiança social e na eficiência administrativa.

A nova pesquisa Datafolha e a urgência de Lula buscar o centro



A pesquisa Datafolha divulgada nesta primeira semanas de dezembro de 2025 mostra que a avaliação do governo Lula está estagnada — com 32% dos entrevistados considerando a gestão “ótima ou boa”, e 37% a classificando como “ruim ou péssima” enquanto outros 30% veem o governo como “regular”.

No recorte da avaliação pessoal do presidente, há um leve empate técnico: 49% aprovam o trabalho de Lula, enquanto 48% o desaprovam.

Esses números pintam um retrato claro: o governo vive uma fase de base razoável — mas insuficiente para impor sua agenda com força plena, especialmente se houver polarização, crise econômica ou disputa eleitoral acirrada. Com aprovação abaixo de 1/3 da população e reprovação superior, o “núcleo duro” de apoio parece já esgotado.


Por que esse cenário torna essencial buscar alianças no centro


  1. Ampliar a base de apoio na sociedade: Uma aprovação de 32% revela que o apoio se limita a um segmento da população. Para consolidar governabilidade — e para que as reformas que o governo pretende implementar tenham respaldo —, será preciso atrair eleitores decepcionados com o radicalismo de direita ou com as oposições tradicionais. O centro — composto de eleitores pragmáticos, moderados ou insatisfeitos com extremismos — é, portanto, alvo estratégico.

  2. Diluir a polarização e reduzir riscos eleitorais: Numa disputa polarizada, com candidatos extremados, a margem de 5 pontos (diferença entre aprovação e reprovação) é muito frágil. Para Lula garantir chances sólidas em 2026, precisa buscar composições de governo ou alianças políticas que atraiam quem está “em cima do muro” ou descontente com o radicalismo. Um centro forte pode ser o diferencial.

  3. Estabilidade institucional e governabilidade: Com apoio restrito a nichos, qualquer crise — econômica, social ou de segurança — pode rapidamente ampliar a rejeição. Alianças mais amplas, com partidos e lideranças de centro, podem dar ao governo maior margem para negociar, governar e aprovar medidas.

  4. Construção de narrativa de união e pragmatismo: Num momento em que boa parte da população está dividida, um governo que se apresenta como moderado, disposto a dialogar e aberto a consensos ganha respeito — e neutraliza ataques de opositores radicais. A moderação e o pragmatismo podem ser mais atrativos do que a pureza ideológica.


Conclusão


A nova pesquisa do Datafolha evidencia um fato inegável: o governo Lula hoje não conta com ampla aprovação — e navegar com 32% de aval e 37% de rejeição é um caminho instável. Para manter relevância política, garantir governabilidade e pavimentar uma eventual disputa em 2026 com chances de vitória, é imprescindível que Lula busque alianças sólidas no campo do centro político e social.

Somente assim ele poderá ampliar sua base de apoio, neutralizar polarizações extremas e reconstruir uma narrativa de governabilidade realista e abrangente.


📷: Ricardo Stuckert/Presidência da República

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

O anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência e Minas Gerais como o pêndulo da balança em 2026

 


O anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República para 2026 movimenta o cenário político nacional. Flávio afirmou ter sido escolhido pelo pai, Jair Bolsonaro, para liderar o projeto político do grupo, reforçando a continuidade do bolsonarismo. Mas o que isso representa para a direita, e como impacta a estratégia de Lula e do PT?


Bolsonarismo e a fragmentação do centro-direita

Mesmo que pesquisas indiquem que Flávio pontua abaixo de Tarcísio de Freitas e de Michele, sua candidatura pode coexistir com outras frentes do bolsonarismo no primeiro turno, criando divisões estratégicas que podem dificultar a consolidação de votos e favorecer adversários no Sudeste. Se Tarcísio também disputar, a base de direita pode se manter mobilizada, mas haverá competição interna que pode desgastar o bolsonarismo ou, ao contrário, ampliar sua visibilidade.


Minas Gerais: o pêndulo da balança

Minas Gerais continua sendo o estado-chave para a eleição presidencial, funcionando historicamente como um verdadeiro pêndulo da balança. Com mais de 21 milhões de eleitores, Minas tem tradição de equilíbrio político, alternando apoio entre esquerda, centro e direita. Uma vitória parcial ou ampla aqui pode determinar a competitividade de Lula ou Tarcísio no Sudeste e influenciar o resultado nacional.

Atualmente, pesquisas mostram Lula com vantagem em Minas, mas enfrentando rejeição elevada em áreas urbanas de alta renda e escolaridade. Nomes como Rodrigo Pacheco parecem fragilizados, enquanto candidatos regionais como Cleitinho Azevedo e Alexandre Kalil despontam com força própria, tornando a eleição estadual imprevisível.


Alianças estratégicas: PSDB e Aécio com a benção de FHC

O PSDB nacional e líderes históricos, como Aécio Neves, continuam influentes em Minas. Aécio tem mais força como articulador do que como candidato majoritário: sua rede de prefeitos, vereadores e lideranças regionais pode transferir apoio crucial para aliados do PT ou candidatos de consenso, como Alexandre Kalil.

Uma aproximação de Lula com Aécio e com o PSDB, partido que governou o Brasil no governo de Fernando Henrique Cardoso e legenda anterior de Geraldo Alckmin, poderia fortalecer uma candidatura consensual em Minas, neutralizando adversários fortes e reduzindo polarizações. Mas essa estratégia não é isenta de riscos: obviamente setores da base do PT podem enxergar o movimento como concessão ideológica, e a comunicação precisa ser cuidadosa para não gerar percepção de oportunismo.


Kalil como candidato consensual de Lula e Aécio 

Alexandre Kalil surge como alternativa moderada e eleitoralmente competitiva. Com aprovação popular significativa em Belo Horizonte e perfil menos polarizador que Cleitinho ou Nikolas Ferreira, ele poderia representar um candidato de consenso apoiado tanto por Lula quanto por Aécio, com intermediação de FHC e Alckmin. Isso uniria forças locais e nacionais, tornando Minas um campo controlável para o PT e aliados no primeiro e segundo turno.


Conclusão: o desafio estratégico de 2026

O anúncio de Flávio Bolsonaro evidencia que a disputa de 2026 será complexa e fragmentada, com candidatos do mesmo campo político atuando em frentes distintas. Para Lula, a consolidação de Minas como base eleitoral forte — aproveitando alianças estratégicas com Aécio e PSDB — será essencial para neutralizar adversários e manter viabilidade nacional, mesmo diante de custos políticos internos.

Em 2026, vencer Minas pode significar ganhar a eleição. O estado segue como o verdadeiro pêndulo da balança, e cada movimento político, cada aliança e cada candidatura de consenso será decisiva para o futuro do país.

Mais do que nunca, será necessário agir com pragmatismo diante do cenário turbulento das eleições de 2026, em que uma direita, mesmo dividida, pode se unir contra Lula em um eventual segundo turno. Nesse contexto, a aliança estratégica com Aécio Neves e com o PSDB se apresenta como indispensável para consolidar e dar continuidade ao projeto de desenvolvimento nacional iniciado pela vitoriosa chapa Lula-Alckmin em 2022, garantindo estabilidade política e fortalecimento das bases no país.

Brasil, terras raras e o futuro industrial

 


"Nós não vamos ser exportadores dos minerais críticos. Se quiser, vai ter que industrializar no nosso pais para que o nosso pais possa ganhar esse dinheiro" (Lula)


O Brasil pode estar diante de uma grande virada estratégica. Com reservas expressivas de terras raras — minerais essenciais para baterias, eletrônicos, semicondutores e tecnologias de energia — o país tem uma oportunidade rara de transformar riqueza natural em desenvolvimento tecnológico. A recente aproximação com os Estados Unidos traz no horizonte a possibilidade de um acordo bilateral com potenciais impactos profundos no futuro industrial brasileiro.


🌱 O que são terras raras — e por que importam?

As chamadas “terras raras” não são tão raras assim — são apenas difíceis de extrair e processar. Elas são fundamentais na composição de ímãs permanentes, baterias de alto desempenho, componentes de semicondutores, motores elétricos, turbinas, eletrônicos sofisticados, entre outros. Quem controla o processamento destes minerais controla parte estratégica da tecnologia mundial.

Hoje, grande parte da extração de terras raras do Brasil está voltada à exportação de concentrados, muitas vezes para a China — cujo polo industrial domina a cadeia global. Isso gera receita, mas pouco valor agregado para o Brasil: os grandes lucros da cadeia tecnológica acabam fora do país.


🇧🇷🤝🇺🇸 A proposta de acordo Brasil–EUA: o que há de novo

Fontes recentes indicam que os Estados Unidos estariam avaliando acordos com o Brasil para garantir acesso seguro a terras raras — ao mesmo tempo em que oferecem investimentos que podem viabilizar a indústria nacional. Em teoria, o acordo poderia contemplar:


  • financiamento e apoio à construção de refinarias e fábricas de processamento de terras raras no Brasil;
  • incentivos e transferência tecnológica para que empresas brasileiras fabriquem baterias, componentes eletrônicos e semicondutores;
  • compromissos de compra de longo prazo por parte dos EUA, garantindo demanda estável;
  • parcerias público-privadas e privadas internacionais para viabilizar produção em escala competitiva.


Se for bem estruturado, esse acordo pode transformar o Brasil de um mero exportador de matérias-primas em um player global na produção de componentes estratégicos.


🔧 Por que esse caminho pode acelerar a industrialização


  1. Valor agregado local: Em vez de vender apenas o minério, o Brasil poderia produzir baterias, módulos, componentes tecnológicos — agregando valor aqui dentro, gerando empregos qualificados e estimulando inovação.
  2. Diversificação econômica e tecnológica: A criação de uma cadeia integrada permitiria que o país se tornasse menos dependente de commodities voláteis e mais competitivo em tecnologia, com vínculo global mais estável.
  3. Inovação e soberania tecnológica: Com P&D local, o Brasil poderia desenvolver aplicações próprias, competir internacionalmente e reduzir vulnerabilidades frente a crises externas.


⚠️ Riscos diplomáticos: o que muda na relação com a China

Não é segredo: historicamente, a China tem sido o maior destino das exportações brasileiras de minerais e concentrados — inclusive terras raras. Um movimento claro para privilegiar acordos com os EUA e parceiros ocidentais pode ter consequências:


  • a China poderia retaliar com restrições comerciais ou reduzir investimentos em outros setores brasileiros;
  • haveria risco de “esfriar” relações diplomáticas e econômicas, numa época em que o país asiático procura consolidar parcerias na América Latina;
  • é possível que o Brasil assuma pressões geopolíticas: alinhar-se com EUA pode significar ficar refém de tensões globais (como rivalidades EUA-China).


Por isso, é essencial que o Brasil construa o acordo com equilíbrio: não abandonar a China, mas diversificar parceiros — de modo a não depender de uma única grande potência.


🌿 Compensações ambientais: um requisito inescapável

Mineração e processamento de terras raras podem causar danos ambientais graves: desmatamento, poluição de solos e água, impactos a comunidades locais. Para que o acordo Brasil–EUA (ou qualquer outro) seja justo e sustentável, é indispensável:


  • licenciamento ambiental rigoroso, com participação das comunidades tradicionais e povos locais;
  • estudos de impacto e plano de gestão ambiental, garantindo recuperação do solo, reuso/reciclagem de resíduos, controle de efluentes;
  • transparência e fiscalização social e pública durante todas as fases: extração, refino, produção.
  • benefícios sociais e econômicos para populações afetadas, como geração de empregos, infraestrutura, saúde e educação.


Somente com essas garantias o Brasil poderá transformar seus recursos naturais em desenvolvimento de longo prazo — sem repetir erros do passado.


📌 Conclusão: uma aposta estratégica com responsabilidade

O cenário presente — reservas de terras raras + interesse internacional + urgência de industrialização — cria uma oportunidade histórica para o Brasil. Porém, esse avanço só será positivo se vier acompanhado de compromisso com valor agregado, soberania, diversificação diplomática e responsabilidade socioambiental.

Um possível acordo com os Estados Unidos pode abrir as portas para fábricas de baterias, semicondutores e tecnologias de ponta no Brasil — se for bem negociado. O desafio é grande, os riscos são reais, mas o payoff de longo prazo pode redefinir o papel do país no mapa global da tecnologia e da indústria.

O Brasil precisa deixar de ser fornecedor para virar protagonista!