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segunda-feira, 4 de maio de 2015

O Salmo 16 e a plena satisfação do homem em Deus




Embora o Salmo 16 não seja lá tão recitado quanto o 23 ou o 91, trata-se de um texto da Bíblia que exprime uma total confiança e satisfação do escritor sagrado no Senhor. Após fazer a sua confortante leitura neste último sábado, pude constatar um sereno estado de tranquilidade de um poeta que descobriu em Deus a inesgotável Fonte de vida e de prazer interior.

Neste hino, cuja autoria é atribuída ao rei Davi, não me parece que o salmista estivesse passando por uma crise presente capaz de o abalar. Observo em suas palavras um sentimento de superação e de equilíbrio, apesar de ele começar a oração pedindo o socorro divino (verso 1), de modo que, mesmo se estivesse suportando alguma dificuldade, a sua alma estava na mais profunda paz.

Durante a leitura, chamou a minha atenção o desapego do autor no tocante às coisas materiais quando ele diz não possuir outro bem senão o Senhor (v. 2), declarando, metaforicamente, ser Deus a "porção" de sua herança", o seu "cálice" e o sustento de sua "sorte" (v. 4). Ou seja, o texto expressa a consciência de que todos os recursos desta Terra seriam transitórios e perecíveis de maneira que o homem só alcança a verdadeira Vida no relacionamento que estabelece com o seu Criador.

Assim, essa vida em Deus torna-se para o salmista o que há de mais excelente em todo o Universo, ainda que Davi fosse um rico monarca de Israel morando num palácio em Jerusalém. Pois ele acha no Senhor sabedoria, segurança, bem como uma inegável alegria. E, num vislumbre da eternidade, já não teme mais a morte física por se sentir, a meu ver, tão arraigado no Autor da Vida a ponto do mero falecimento do corpo ser incapaz de destruí-lo:

"porque tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu santo sofra decomposição. Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita." (versos 10 e 11 conforme a tradução da Nova Versão Internacional)

Estes versos acima transcritos, embora citados no Novo Testamento quando Pedro e Paulo falam da ressurreição de Jesus (conf. Atos dos Apóstolos 2:25-28; 13:35), eis que, no Salmo 16, têm uma aplicação imediata ao próprio escritor e aos homens que se consagravam a Deus em santidade. De qualquer modo, está implícita na mensagem a ideia da eternidade da alma que seria o real sentido de alguém se levantar dentre os mortos. Cuida-se de algo que muitos consideram como "multi-existencial", projetando a vida consciente para além da atividade cerebral.

A nossa mente envolvida nas questões materiais talvez não consiga compreender em detalhes esses "caminhos da vida", os quais permanecem ainda que meio misteriosos para a humanidade. Contudo, devido ao elevado nível relacional do poeta bíblico com Deus, quaisquer inquietações acerca do além-túmulo estavam pacificadas para ele. A Divina Presença tornava Davi completo a ponto dele se tornar participante da vida eterna estando ainda na sua peregrinação terrena. Logo, a plena satisfação desfrutada no Criador bendito certamente iria se perpetuar por todos os tempos.

Acredito, meus amigos, que esse desejado estado de plenitude espiritual só conseguimos alcançar pelo total desapego das riquezas, dos prazeres, da fama, das compulsões, das manias, dos rancores e das preocupações com as coisas do cotidiano. Muitos de nós, na qualidade de aprendizes da escola da vida, estamos apenas no começo dessa caminhada. Porém cada progresso que fazemos hoje já proporciona enormes benefícios para o nosso ser aproximando-se mais de Deus.

Uma ótima semana a todos e tenham uma segunda-feira abençoada.


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro Davi Tocando a Harpa (1670) do artista holandês Jan de Bray (c.1627 – 1697), conforme extraído do acervo virtual da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/Psalms#/media/File:David_Playing_the_Harp_1670_Jan_de_Bray.jpg

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