"Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo. O Espírito do Senhor repousará sobre ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do Senhor. E ele se inspirará no temor do Senhor. Não julgará pela aparência, nem decidirá com base no que ouviu; mas com retidão julgará os necessitados, com justiça tomará decisões em favor dos pobres. Com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios. A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão. O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará perto do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar. Naquele dia as nações buscarão a Raiz de Jessé, que será como uma bandeira para os povos, e o seu lugar de descanso será glorioso." (Isaías 11:1-10; NVI)
Não é por menos que o Livro de Isaías é considerado por alguns pensadores cristãos como sendo um "Evangelho do Antigo Testamento", visto que encontramos ali inúmeras mensagens capazes de transmitir esperança e consolação apontando para uma futura era de ouro da humanidade, quando reinarão a justiça e a paz. No capítulo 11, lemos uma passagem que é muito comentada nos sermões religiosos, a qual fala na vinda de um novo Davi brotando do "tronco de Jessé", o qual é entendido como o Messias identificado pela cristandade com a pessoa do mestre Jesus de Nazaré.
Prosseguindo, eis que o texto bíblico descreve simbolicamente sobre essa aguardada paz que representa o oposto de tudo aquilo que anda acontecendo no mundo de hoje cheio de guerras, atentados terroristas, assassinatos covardes, roubos, estupros, agressões físicas baseadas nos motivos mais fúteis, intolerâncias religiosas, atitudes desrespeitosas para com o idoso, etc. Repetem-se até os nossos dias os comportamentos mais vis da humanidade, os quais podem ser muito bem ilustrados pelos homicídios de Caim e de seu descendente Lameque, conforme se observa no capítulo 4 de Gênesis.
Contudo, tendo Isaías vivido numa época também violenta e desumanizada, ele não perdeu as esperanças. Antes o profeta encorajou o seu povo a buscar uma reconstrução nacional depois que as tropas do exército assírio havia devastado as cidades de Judá, dominando o reino de Israel, exilando parte da população pelas terras estrangeiras conquistadas e submetendo os diversos povos do Oriente Médio. Por isso o texto proclama que de um tronco decepado brotará um "renovo" que, em seu tempo, talvez pudesse significar o reinado de Ezequias, sendo certo que, no governo daquele monarca considerado justo, ainda faltou muita coisa para que se alcançasse a tão desejada paz messiânica e fosse promovida por completo a justiça social em favor dos pobres da terra.
Para nós cristãos, mesmo tendo sido Jesus da Galileia um rei sem palácio, sabemos que ele transmitiu valiosos ensinamentos aos seus discípulos e plantou uma semente sobre o amor quando andou pelas poeirentas cidades da Palestina. Apesar de todos os equívocos históricos cometidos pela Igreja, o Mestre influenciou o mundo com o seu pensamento avançado a ponto de inspirar as legislações humanitárias que temos hoje. Aliás, nosso Senhor pode ser considerado como um grande intérprete da Lei de Moisés quando direcionou os seus preceitos éticos para o perdão, a integração das pessoas rejeitadas da sociedade e o amparo aos humildes, sem precisar revogar qualquer letrinha da norma do povo israelita.
Entretanto, como coloquei acima, o que Jesus teria feito foi lançar a semente do amor, passando para a humanidade redimida a tarefa de continuar a obra que começou. A esperada era messiânica de paz e de justiça ainda precisa ser estabelecida por nós, por meio das atitudes justas que tomamos no cotidiano, e, principalmente, modificando o nosso caráter pessoal. Ou seja, precisamos nos reavaliar por completo e mudar de maneira decisiva.
Refletindo sobre o texto profético que reli com minha esposa Núbia este final de semana, lembrei-me das feras selvagens que habitam o nosso interior. Ou seja, temos dentro de nós um "lobo" e também um "cordeiro" capazes de praticar tanto o mal quanto o bem, conforme as escolhas de vida que fazemos. Como escrevi num artigo postado neste blogue dia 14 de maio de 2011, Um outro mundo é possível!, abordando esse mesmo trecho das Escrituras Sagradas, eis que
"a (re)construção do Paraíso na Terra não significa que o leão, o leopardo, o lobo, o urso e a serpente deixarão de existir. Nossas feras interiores continuarão sempre existindo com o nosso lado cordeiro, dócil e meigo, mas apenas precisarão ser pacificados. Pois jamais deixaremos de ser entes profundamente humanos como foi o Messias Jesus, de modo que o futuro não será feito de santos perfeitos, mas sim de gente que busca se elevar espiritualmente através de um contínuo aperfeiçoamento de seus valores éticos que precisam também refletir sobre o nosso comportamento." (destaquei)
Olhando para dentro de mim, admito que consegui mudar muito pouca coisa dentro desses quatro anos quando havia publicado a referida postagem de 2011 e reconheço que uma vida inteira pode ser insuficiente para nos aperfeiçoarmos na totalidade. Não nego que amadureci um bocadinho, aprendi com alguns erros e acertos, caí e ainda continuo nos mesmos desvios de conduta, conservando, infelizmente, um idêntico potencial para as coisas ruins que sempre existiram em minha vida. E acredito que essas tendências nocivas permanecem conosco até os nossos corpos serem levados para o túmulo. Cabe ao homem, porém, aprender a dialogar com as suas inclinações negativas pela auto-compreensão, sem deixar-se engessar pela culpa, mas buscando tratamento com a regeneradora graça divina.
No caso da agressividade, que é um dos terríveis males de nossa espécie, temos muito o que aprender afim de que possamos viver amanhã numa sociedade menos violenta. Trata-se de um instinto que compõe a natureza animal e que talvez esteja até relacionado com a sobrevivência de cada um no meio da natureza. Só que, como seres conscientes que somos, devemos ser capazes de domesticar essa selvageria latente fazendo uso de todos os recursos possíveis para a prática de uma auto-disciplina.
Por outro lado, como as condutas humanas nem sempre resultam de escolhas pessoais, mas também recebem uma certa dose de estímulo do meio, considero que poderemos tentar prevenir a violência na sociedade criando ambientes pacíficos os quais se tornem propícios para uma convivência harmônica. Sei que não será nada fácil porque depende das escolhas de cada um e também porque o bom exemplo começa dentro de casa de modo que, se uma criança é educada por pais agressivos, ela tende a perpetuar o mesmo comportamento quando chega à idade adulta. Claro que há exceções, mas o que quero dizer é que muitos trazem consigo feridas da violência marcadas lá na infância, precisando da nossa ajuda e compreensão para que consigam superar todos esses traumas.
Portanto, meus amados, como eu havia concluído no artigo de quatro anos atrás, precisamos continuar orando (e agindo) "para que o Espírito do SENHOR possa nos instilar o desejo de compreensão da humanidade" e "haja o despertar da consciência messiânica em cada ser humano". Fazendo isso, acredito que iremos trazer para as nossas relações pessoais o Jardim do Éden que Deus plantou no nosso interior.
Um ótimo domingo para todos com muita paz!
OBS: A ilustração acima trata-se da gravura Paz (1896) feita pelo artista inglês William Strutt (1825 – 1915), o qual baseou-se em Isaías 11:6-7. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia.
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