Quem passa pelo município fluminense de Itaguaí rumo às praias da
Costa Verde geralmente desconhece os interessantes atrativos do lugar. Apesar do ambiente caótico da área central da cidade e da destruição paisagística que o empresário Eike Batista causou na Ilha da Madeira com o seu ambicioso empreendimento portuário, eis que existem ainda alguns recantos no pé da Serra do Mar como as localidades de Mazomba,
Raiz da Serra e a Ilha de Itacuruçá, sendo esta pertencente também a Mangaratiba.
Em Raiz da Serra, encontramos um histórico caminho com pedras em estilo pé-de-moleque (foto), mais conhecido como a "Estrada Calçada", e que teria sido construído há mais de três séculos pelos padres jesuítas, ligando hoje Itaguaí ao município vizinho de Piraí. Por lá passou D. Pedro I quando partiu do Rio de Janeiro, em 14 de agosto de 1822, rumo a São Paulo afim de proclamar a Independência às margens do rio Ipiranga no dia 7 de setembro daquele ano. Após ter passado a sua primeira pernoite na Fazenda Real de Santa Cruz, o jovem príncipe seguiu para a antiga São João Marcos (atualmente município de Rio Claro), onde ficou as duas noites na Fazenda das Três Barras. Para tanto precisou romper a serra justamente nessa área rural de Itaguaí que conhecemos pelo nome de
Serra do Matoso.
Na manhã deste primeiro sábado de maio, decidi então percorrer o caminho utilizado por D. Pedro há quase duzentos anos atrás. Mesmo se não desse para fazer a travessia, pretendia ao menos buscar informações em Raiz da Serra, visto que havia perdido o primeiro ônibus para lá, o qual parte de Itaguaí bem cedo por volta das sete horas. Peguei então uma condução até o bairro de Teixeira e logo coloquei o pé na estrada em direção ao meu destino.
Alcançando Raiz da Serra, tive a tremenda sorte de conseguir uma carona num caminhão que estava subindo a Serra do Matoso. Era um pessoal que iria fazer uma entrega na localidade de "Três Vendas" já no interior de Piraí. Através deles, peguei ótimas informações e pude contemplar a belíssima paisagem que se descortinava à minha frente, podendo ver boa parte da Baixada Fluminense e Zona Oeste do Rio de Janeiro. Quanto mais avançávamos, mais encantador ficava o cenário até passarmos por um lindo mirante onde esportistas fazem seus saltos de voo livre.
Ao desembarcar nas Três Vendas, orientei-me com alguns moradores sobre a tal Estrada Calçada afim de descer por ela retornando para Raiz da Serra. Não foi difícil encontrar o caminho sendo que, minutos depois, lá estava eu fazendo o sinuoso trajeto de D. Pedro, porém no sentido inverso. E confesso que foi uma travessia bem fácil perto de outras que já havia realizado anteriormente, precisando apenas ter uma certa dose de atenção para não escorregar em alguma pedra molhada.
Infelizmente, um significativo trecho desse caminho histórico encontra-se mal cuidado e cheio de mato. A monumental inscrição em letras de bronze, deixada pelo rei numa rocha (a Pedra de Santo Antonio), pareceu-me parcialmente deteriorada. E lamentei não ter visto nem ao menos um memorial que os governantes atuais pudessem colocar ali para lembrar o povo de seu passado, assim como notei a falta de melhores informações quanto ao cenário visto de cima, sobre o início da trilha que conduz ao "Mirante do Imperador", com seus 628 metros de altitude, de onde muitos aventureiros descem fazendo rapel.
Antes de dar três horas da tarde, concluí a travessia e fiquei aguardando a
kombi partindo de Raiz da Serra para Itaguaí já que o ônibus só iria passar lá pelas 17 horas. Cansado e com fome, comi dois pacotes de
Torcida sabor pimenta mexicana num boteco bem pertinho e fiquei conversando com o assessor do prefeito de Seropédica que, coincidentemente, esteve no local. Por volta das quatro e pouco, estava eu já tranquilinho na minha casinha em Muriqui.
Refletindo sobre o estado em que se encontra a
Rota da Independência, pensei na necessidade dos governos investirem um pouco de dinheiro e de ideias ali. Afinal de contas, estaremos comemorando o
bicentenário da nossa emancipação política de Portugal daqui uns sete anos, em 07/09/2022, sendo que esse caminho histórico usado por D. Pedro poderia perfeitamente ser aproveitado turisticamente afim de trazer desenvolvimento sustentável para muitos municípios dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Embora pareça uma ideia recente para nós, eis que o conceito sobre as
trilhas de longo curso existe há cerca de um século tendo sido já amplamente testado com sucesso em vários lugares do mundo. Em alguns países, como nos Estados Unidos e República Dominica, tais vias são consideradas corredores ecológicos integrando os sistemas de unidades de conservação da natureza.
Através de um trabalho em conjunto entre o governo federal e as prefeituras dos municípios envolvidos, acredito ser possível realizar esse projeto na região, o que ganharia uma enorme importância tanto para ajudar na conservação do entorno do Parque Estadual do Cunhambebe como também desenvolver o ecoturismo. Isto porque, na proximidade dos diversos acessos da Rota da Independência, o Ministério do Turismo pode inventariar e cadastrar hotéis, albergues, pousadas, restaurantes, sítios de lazer, etc.
Conforme se diz,
o turismo deve ser considerado uma indústria sem chaminés e, se desenvolvido com sustentabilidade, tem o potencial de contribuir para a conservação do nosso tão agredido meio ambiente ao gerar emprego e renda para as populações do campo. Portanto, fica aí minha sugestão para que os governantes pensem na proposta de elaborarem um surpreendente projeto para a Rota da Independência.
OBS: Ilustração acima extraída de uma página da Prefeitura de Itaguaí na internet conforme consta em
http://itaguai.rj.gov.br/pmi/onde-ir/
Seria ótimo para o ecoturismo no país se toda a Rota da Independência, do Rio até S. Paulo virasse uma atração turística bem estruturada, algo que pode servir para o país celebrar o bicentenário da sua emancipação política de Portugal.
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