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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Nós como a causa


"Justo é o SENHOR, pois me rebelei contra a sua palavra" (Lm 1:18a; ARA)

Segundo a tradição judaico-cristã, o livro de Lamentações (hebr. Echá) teria sido escrito pelo profeta Jeremas. Ali o autor expressou todo o sofrimento de seu povo quanto à invasão de Jerusalém pelas tropas inimigas de Nabucodonosor. No texto, a cidade é personificada como uma mulher que chora pelos filhos levados em cativeiro para a Babilônia devido aos graves males auto-destrutivos que a nação de Judá cometeu (Lm 1:5).

No entanto, ao lermos o capítulo 1º desse magnífico texto das Escrituras Sagradas, encontramos no citado versículo 18 um ponto crítico em que o enfoque é retirado das circunstâncias. A cidade que até então parecia ser vítima dos acontecimentos, assume a responsabilidade pelos atos de rebeldia coletivamente praticados, reconhecendo haver justiça quanto às consequências de suas escolhas más.

Admitirmos o erro é, sem dúvida, o primeiro passo que se deve dar para que possamos nos tornar protagonistas da própria história. Ao invés do indivíduo ficar culpando sempre as circunstâncias em sua volta, ele assume a sua parcela de responsabilidade. Trata-se, pois, de um importante passo de maturidade pessoal.

Na década de 50, Julian B. Rotter (1916 - 2014) introduziu em Psicologia o conceito de locus of control (o lugar do controle), afim de designar a percepção do indivíduo a respeito das causas subjacentes aos eventos existenciais. Para Rotter, o nosso comportamento muitas das vezes seria reforçado pelas ideias de recompensa e punição, a partir das quais são geradas crenças em torno das ações que devem ser tomadas. Logo, o locus of control seria a plataforma  de onde a pessoa atribui significação de responsabilidade aos fatos ocorridos na vida.

Acredito que, quando deixamos de nos vitimizar eternamente, começamos a compreender as causas dos problemas e a buscar soluções. Então, aprendemos o caminho da auto-disciplina, da abstinência dos vícios psicológicos e passamos a buscar as melhores coisas com vontade, esforçando-nos por alcançá-las. E, desta forma, evoluímos com lucidez e racionalidade porque discernimos o quanto existe de condicionamento externo bem como qual a nossa medida de autonomia diante de cada caso.


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro Jeremias lamentado a destruição de Jerusalém (1630) pintado por Rembrandt (1606–1669). Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Rembrandt_Harmensz._van_Rijn_-_Jeremia_treurend_over_de_verwoesting_van_Jeruzalem_-_Google_Art_Project.jpg

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