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segunda-feira, 17 de março de 2014

É preciso reconhecer o plebiscito na Crimeia!




Os Estados Unidos e as potências ocidentais têm sido hipócritas quando agora dizem não reconhecer o resultado do plebiscito ocorrido este domingo na Província Autônoma da Crimeia em que a população livre e soberanamente resolveu separar-se da Ucrânia para integrar a Federação Russa.

A meu ver, os líderes mundiais não têm agido em prol da paz, mas sim buscando a satisfação dos interesses econômicos de seus respectivos países. Tanto os do Oeste quanto os do Leste da esfera terrestre! Pois, como bem sabemos, todos esses recentes conflitos ocorridos na Ucrânia resultaram de uma questão de geopolítica envolvendo a União Européia e a Rússia, de modo que a população daquele país bravamente resistiu a um autoritário governo que era aliado dos russos. No entanto, a maioria dos moradores de outras regiões, principalmente na Crimeia, considerou o quanto seria prejudicial para a eles passarem a fazer parte da periferia da UE.

Para nós brasileiros, distantes há milhares de quilômetros dessa confusão, talvez tenhamos melhores possibilidades de compreender o problema com uma dose a mais de neutralidade, livres dos ideologismos políticos que cercam ucranianos, russos, europeus e norte-americanos. Afinal, se racionalizarmos bem a coisa, não é difícil chegar à conclusão lógica de que cabe a cada qual seguir o seu próprio rumo.

Primeiramente, deve-se saber que, desde o final do século XVIII, a Crimeia passou a fazer parte do então Império Russo. Assim foi até que, nos tempos da ex-URSS, o presidente Nikita Khrushchov (1894 - 1971) transferiu a região para a República Socialista Soviética Ucraniana, num momento histórico em que tanto a Ucrânia e a Rússia compunham um único Estado. Ou seja, comparado a grosso modo, seria como se o município de Paraty, no extremo sul do Rio de Janeiro, viesse a fazer parte de São Paulo, sendo ambos estados brasileiros.

Vale ressaltar também que a maioria da população da Crimeia é de origem russa sendo desejo deles fazer parte do país de origem novamente. E, se o legislativo local, referendado pela população, assim escolheu, cabe às demais nações, inclusive às potências ocidentais, respeitarem a decisão, sob pena de estarem violando o basilar princípio da auto-determinação dos povos. Inclusive, caso o crimeianos optassem por constituir uma nação independente, libertando-se da Ucrânia e não aderindo à Rússia, todos também teriam que acatar.

Portanto, não há motivos para os USA se opor ou querer penalizar a Rússia economicamente. Aceitar o que a população da Crimeia escolheu é fundamental para que a Ucrânia e toda aquela região seja pacificada, evitando-se que ocorra uma sangrenta e interminável guerra civil. Este deve ser o caminho do bom senso.


OBS: A ilustração acima refere-se à bandeira da República Autônima da Crimeia.

6 comentários:

  1. é, Rodrigo, mas o buraco é mais embaixo.
    verdade que a maioria da população da Criméia quer voltar aos braços da Mãe Rússia, mas há os efeitos colaterais. Os órgãos estatais da Ucrânia na Criméia, seus recursos serão transferidos (apropriação indébita??) para a "República da Criméia". E como ficará as empresas privadas da Ucrânia que atuam na Criméia? Vai vendo o rolo...isso sem falar que os EUA e a UE não reconheceram o referendo.
    Isso vai dar é bode, amigo.

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    1. Bom dia, Edu!

      Inicialmente obrigado por sua leitura e comentários.

      Conforme eu lhe respondi no grupo Logos e Mythos do Facebook, quando uma região torna-se soberanamente independente ou é incorporada por outro Estado, uma dívida é assumida.

      Não foi o que ocorreu também conosco há quase 200 anos atrás?

      Agora sobre o fato os USA e a UE não reconhecerem a consulta popular, não significa que lutarão militarmente com a Rússia. Farão desse argumento hipócrita e incoerente o motivo para meramente espernearem até que futuramente ocorra um acordo. Só o fato da Ucrânia seguir com a UE já será uma vitória para ucranianos e europeus enquanto os crimeianos e russos comemoram o resultado desse plebiscito. Espere alguns anos e tudo estará consolidado e esquecido, o que desejo que aconteça pela paz mundial.

      Abraços.

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  2. Penso que este plebiscito na Criméia abre um precedente internacional importante para valorizar o direito de autodeterminação dos Povos. A aceitação do pedido de anexação da Criméia a Russia e a aceitação do plebiscito que quebrou a unidade territorial Ucrania, abre espaço para povos no mundo inteiro reivindicarem plebiscitos para sua independencia. Digo isto, sem entrar no mérito da questão geopolitica mundial, onde sabemos bem que o Sr Putin vem bancando o novo Adolf Hitler do pedaço... O fato é que hoje existem mais de 400 povos e nações sem estado e a negação do direito de autodeterminação tem gerado diversas guerras e verdadeiros genocídios mundo afora. Inclusive graças a Criméia, abre-se um precedente internacional que certamente será aproveitado pelo povo Sul-Brasileiro, que históricamente reivindica a sua autodeterminação. Negar aos Sulistas este direito, por esta nova realidade do direito internacional, seria uma aberração. Para aqueles que não conhecem o separatismo Sulista, indicamos www.facebook.com/meusul

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    1. Bom dia, Celso.

      Achei bem pertinentes os seus comentários e vai de encontro com o que também penso, embora não considere algo maduro o separatismo sulista ou dos gaúchos numa época em que a tendência mundial é de globalização.

      A tendência, amigo, é que futuramente todos vivam numa federação planetária e que as cidades e regiões ganhem mais força do que os atuais Estados. Em tal caso, haveria um Estado único e um governo mundial juntamente com inúmeros governos autônomos que se rearticulariam conforme suas necessidades geográficas.

      Apesar de todos os nossos problemas, a realidade brasileira é incomparavelmente melhor do que a de muitos outros lugares no mundo. Não se vê por aqui os genocídios que ocorrem em outros continentes e os gaúchos vivem livremente em todo o território nacional. Inclusive graças a esses sulistas a agricultura tem se desenvolvido do Oiapoque ao Chuí e muitos foram os momentos em que gaúchos conscientes puderam influenciar nos destinos da nação brasileira.

      Em meu modo de pensar, o povo de nenhuma região deve ser obrigado a se sujeitar a um governo central ou federal do qual não concorda. Amo o Brasil de ponta a ponta, mas se amanhã os caiapós resolverem se tornar independentes dentro da Amazônia, respeito o direito deles. E por mais que eu seja internacionalista e defenda uma União Sulamericana (sem ditaduras bolivarianas é claro), entendo que deve ser respeitado o nível de consciência de uma coletividade em não se integrar a um bloco. Logo se, por exemplo, Colômbia ou Chile preferem não fazer parte da UNASUL, não há por que o Brasil, Argentina ou Venezuela imporem isso.

      Comparando a América Latina com a Europa, eis que o Velho Mundo encontra-se num nível de consciência bem mais avançado do que nós. Afinal, eles passaram por duas devastadoras guerras mundiais e já não possuem mais suas antigas colônias de maneira que precisam cooperar entre si pelo progresso coletivo ainda que a Alemanha e a França sejam as maiores beneficiadas. Porém, como negar a disciplina e a dedicação do povo alemão muito mais cumpridor de suas leis do que várias outras nações europeias?

      Enfim, não nego aos sulistas esse direito de querer a separação. Penso que a mídia deve dar mais espaço para a propagação das ideias emancipacionistas e o governo federal deve permitir que o assunto seja debatido com maior liberdade de expressão. Havendo representatividade suficiente manifesta por meio de movimentos e protestos, por que não se proceder à consulta popular?

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  3. A Criméia sempre foi um lugar de tensões. Já foi invadida por gregos, tártaros, citas, turcos, russos.

    O referendo, segundo correspondentes brasileiros instalados lá na Ucrânia, foi uma zorra de desorganização. Pasmem: as urnas eram transparentes, e qualquer pessoa podia ver por fora da urna os votos de todos. Dizem que não havia fiscalização nos locais de votação e que pessoas votaram mais de uma vez. Penso que deve ter sido coisa habilmente manipulada pelo inteligente Putin, que agora, está sofrendo sanções da comunidade européia.

    Os dirigentes russos, penso eu, estão passando por uma fase de saudosismo ditatorial. (rsrs)

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    1. Caro Levi,

      Embora o referendo não tenha sido 100% transparente, deve-se considerar que a consulta popular tornou-se satisfatória com a vitória esmagadora já que não se tratou de resultado apertado e o Parlamento local, legitimado por uma eleição anterior, já havia aprovado a anexação. Que houve manipulações do Putin eu não descordo, assim como os movimentos ocorridos em Kiev tiveram a influência europeia e quiçá norte-americana para depor o presidente do país.

      Comprovadamente, a maioria da população da Crimeia é russa não podendo por isso prevalecer os interesses das minorias embora estas devam ter sempre seus direitos assegurados.

      Pensando como um pacificador, penso que a conduta a ser adotada agora é permitir que cada região siga seu rumo: a Ucrânia integrando a confederação europeia (se é que já não podemos considerar a UE hoje como um Estado federativo) e a Crimeia na Federação Russa.

      Concordo que os dirigentes russos estejam vivendo esse saudosismo ditatorial sendo e me preocupa um pouco as condutas fascistas do Putin, as normas draconianas contra ativistas ecológicos, homossexuais, dentre outras coisas. Ainda assim, respeito a Rússia e a sua reviravolta político-econômica com reflexos positivos no desempenho dos atletas nessas últimas olimpíadas de inverno.

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