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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Lutas, provações, dores e perseverança


“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tg 1.2-4; ARA)


A vida não é um mar de rosas. Há momentos bons aqui, os quais devemos aproveitar com intensidade, mas não podemos ignorar as batalhas que passamos em dias muito difíceis.

No texto bíblico citado acima, extraído da Epístola de Tiago, possivelmente o autor estivesse se referindo às circunstâncias relacionadas com as perseguições que a Igreja suportou nos primeiros séculos da era cristã. Contudo, não há como negar que, na atualidade, estamos sujeitos a outros tipos de provações e que também nos causam dores bem profundas.

Não temos hoje um circo romano onde um imperador louco mandava soltar as feras em cima dos seus prisioneiros para divertir a plebe. Por sua vez, aqui no Brasil, não há mais castigos cruéis e nem penas por motivo religioso tal como faziam no passado usando terríveis instrumentos de tortura contra quem se recusasse a abandonar suas ideias ou crenças. Só que, ainda assim, não minimizo a dimensão dos desafios do tempo presente.

Mesmo com os direitos humanos e lindas leis de proteção social, a luta não é fácil. Já não há mais escravidão como era antes, porém o trabalhador não é lá tão livre para se libertar de certas imposições do sistema. Seu baixo salário, o tempo reduzido que lhe sobre para cuidar de aspectos da vida não laborais, o deficiente sistema de saúde (tanto público quanto privado), a falta de amor e de sensibilidade de muitas pessoas, as dificuldades para conseguir uma moradia digna, os enganos praticados pelos políticos, a violência, o custo de vida alto, dentre outras coisas, apenas contribuem para que tenhamos hoje uma realidade caótica no país. Uma contradição diga-se de passagem.

Não há luta maior ou menor porque cada um suporta aquilo que pode. Tanto um pobre que sofre com a falta de dinheiro quanto um paciente depressivo com renda alta suportam pesadas pressões, sendo que não temos o direito de julgar a ninguém. O que pra mim parece ser algo fácil de lidar pode ser um problemão para o meu vizinho do lado e o inverso também se aplica. Logo, tudo é provação e ninguém pode afirmar que tem mais mérito do que os outros por passar por uma luta que entende ser mais intensa.

Conforme havia relatado no texto Perdido no Parque da Tijuca, não nego que, daquela vez, fui a causa de uma situação decorrente de minha própria imprudência em ter feito uma caminhada no mato sem ao menos avisar à família para onde estava indo, nem levar celular, mantimentos, agasalhos e outros instrumentos para alguma situação imprevista.

Igualmente, muitas das vezes nos perdemos por aí cometendo diversos erros nas trilhas da vida pelo que acabamos sofrendo devido às escolhas feitas. São decisões que podem ter sido irrefletidas ou que foram tomadas para a satisfação dos nossos sentimentos mais baixos ao invés de nos submetermos à boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Todavia, ainda que sejamos esbofeteados ingloriamente pelas falhas cometidas (1Pe 2.20), creio que mesmo assim o misericordioso Pai Celestial jamais vira as costas para nos prestar consolo e fortalecer a nossa paciência diante do sofrimento auto-provocado.

Nestas últimas quatro semanas, tenho enfrentado terríveis lutas em minha vida em que o vacilo de ter me perdido no Parque da Tijuca apenas contribuiu para agravar ainda mais a situação. Foi um péssimo momento para eu desaparecer por três dias na floresta! Pois, passando por sérios conflitos familiares, em especial problemas de saúde da esposa (em respeito à privacidade de Núbia não posso expor aqui do que se trata), este momento está sendo bem amargo na minha existência. Ainda mais porque estou na espera do plano de saúde Unimed Rio Personal conseguir vaga para o tratamento específico que ela necessita. E junto a isto acumulam os problemas financeiros, uma pessoa da família ter cortado relacionamento comigo, o fato de não ter arrumado trabalho nos sete meses em que estou aqui no Rio, deixado de fazer as provas do concurso do Tribunal de Justiça no mês de março enquanto minha avó materna estava morrendo no hospital público, o cumprimento de compromissos profissionais assumidos nos cinco anos em que advoguei em Nova Friburgo e as consequências dos meus inúmeros erros desde a época da adolescência até hoje.

Com tão pouco tempo morando naquela que é chamada de Cidade Maravilhosa, já estou com quase tudo encaixotado para me mudar para uma suíte na casa da sogra no sossegado município de Mangaratiba em meio a inúmeras incertezas e tentar começar praticamente do zero na belíssima região da Costa Verde (litoral sul fluminense). Porém, até a mudança está difícil de sair porque enquanto não definir o tratamento de saúde da Núbia, não posso deixar o Rio de Janeiro e nem fazer outra coisa porque a situação dela exige que eu esteja o tempo todo presente ao seu lado. Ontem mesmo eu tive que retornar ao consultório da médica dela e novamente insistir para que fosse fornecido um novo documento porque, se entrarmos na Justiça contra a Unimed, a situação de urgência não estaria caracterizada e correríamos o alto risco de não conseguirmos a liminar mesmo sendo a ação julgada procedente ao final.

Este é o mundo em que vivemos. Nossos honestíssimos políticos quebram o SUS e o cidadão, quando paga por um plano de saúde, ainda tem que entrar com processo na Justiça para conseguir tratamento. E para piorar, esses bandidos do PMDB que governam o Rio de Janeiro podem mais uma vez ser eleitos daqui uns três meses para sugarem a cidade por outros quatro anos assim como já fazem com o governo estadual. Entretanto, jamais podemos esquecer que é a própria população quem coloca essa gente no poder...

Seja como for, não me sentindo disposto hoje para ficar discutindo causas e efeitos. Não estou afim de culpar o povo ou a ninguém pelo sofrimento suportado. Minha ideia é que possamos cultivar em nós o sentimento de solidariedade nas horas mais difíceis da vida. Que possamos compreender a dor do outro e nos encorajarmos mutuamente transformando sentimentos reativos em proativos. Fazermos com que o limão ácido torne-se uma gostosa limonada.

Perseveremos e tenhamos esperança!


OBS: Ilustração acima extraída de http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mylinks/viewcat.php?cid=11&min=550&orderby=dateD&show=10

4 comentários:

  1. Rodrigão, o que entendo é que o que ficou para trás ficou. Você errou, já se desculpou e não se fez de vítima. Se alguém não lhe perdoa, deve saber que se não sabemos perdoar também não somos perdoados. (bíblia)

    Sei do que você está falando, porque minha mãe teve um plano caro e eu vi coisas terríveis acontecendo com ela. Agora no seu fim, ela esteve em um bem conceituado hospital público, mas as dificuldades para se conseguir uma UTI quando ela mais necessitava, certamente apressaram sua morte.
    Simplesmente não acredito que este mundo vai melhorar, mas a minha esperança em Cristo, me faz mais que vitoriosa.

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    1. Amiga,

      Obrigado pela força!

      Como é bom contar com o apoio de pessoas como você mesmo eu estando à distância.

      Felizmente minha esposa conseguiu internação ontem. Glória a Deus! Agente perturbou a médica dela e a mesma acabou ligando para o dono da clínica e lhe explicou sobre a gravidade do caso. Hoje a Unimed entrou em contato informando que havia conseguido vaga em outro estabelecimento fora da rede credenciada, mas a situação já estava encaminhada.

      As coisa estão muito difíceis neste mundo. As pessoas já não se respeitam mais e até entre os que se dizem cristãos/religiosos/familiares agente se decepciona. Os serviços públicos não funcionam a contento. A saúde anda um caos e até os planos de saúde falham desrespeitando os direitos do cliente que paga em dia sua mensalidade. Nas ruas, frequentemente deparo-me com motoristas de ônibus que nem ao menos se dignam a parar para os passageiros quando trafegam a uma certa distância do ponto. Nossas leis de proteção ao consumidor, embora sejam boas, nem sempre são aplicadas como deveriam e hoje o Judiciário tem decepcionado bastante. Se você ajuizar uma ação pedindo danos morais, se o magistrado entender que não se trata de um "mero dissabor", talvez dê uns poucos milhares de reais como esmola para adoçar a boca de uma minoria que pode dispor de condições, inclusive tempo, para trazer sua demanda ao Fórum.

      Como será o futuro da humanidade, só Deus sabe. Mas penso que de certo modo está em nossas mãos. E aí, por mais que as coisas estejam escuras, creio no Evangelho. Creio que as boas novas do Reino podem realmente transformar o homem caído e despertar uma sociedade da sua alienação/comodismo/egoísmo. E aí a natureza criada continua aguardando a manifestação dos filhos de Deus.

      Falando agora em perdão, amiga, compreendo uma coisa. Precisamos ser misericordiosos com aqueles que ainda não sabem perdoar. É uma tarefa difícil, mas é assim que serviremos a Deus de um modo agradável. Sabe, hoje muita gente em minha família tem me cobrado bastante e até pelos outros estou respondendo e a tolerância de alguns tem sido quase zero comigo e com minha esposa. Porém, graças a Deus porque estou vivo e bem.

      Louvado seja o Senhor!

      Paz!

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  2. Rodrigo, sempre que vejo texto seu sobre a Bíblia, eu pulo ou leio superficialmente,rsrsrs, porque o tanto que você parece tê-la estudado (a Bíblia) eu a ignoro, ou melhor, na-da entendo,é um livro dificílimo. Aí vi que você passou 3 dias na floresta perdido?!! Isso mesmo que entendi? ou foi força de expressão?? Deve ser um terror!! Posso imaginar seu sofrimento e ainda agravado por problema de saúde da sua esposa que acredito ser o pior de tudo, e ainda ser cliente de um desses planos de saúde que quando mais se precisa é o primeiro a se recusar a fazer a sua parte, e nos deixam indignados!! e mais doentes ainda!! como você bem sabe estamos entregues a sorte!!! Sobre você está há 7meses no Rio, como passa rápido, e sem emprego, é mesmo de se admirar, pois só ouço dizer que há tanta oferta de trabalho/emprego, inclusive preenchidos por gringos, e você me parece ser tão preparado e nada consegue... É mesmo estranho e compreendo o que deve pensar seus familiares, porém não querendo dá palpite mas creio que por aí é mais fácil pra se locomover e equilibrar a vida financeira e tudo mais, deixe que falem e prove que não é bem assim, força e persistência e que sua esposa consiga o bem estar, a saúde...porque ir pra Mangaratiba que nem conheço bem, penso que é tudo mais difícil, imagina láááá longe!! Eu mesma já penso em sair de Cachoeiras porque perco um dia inteiro pra resolver qualquer coisa fora daqui, o deslocamento é de matar!! Muita força, serenidade para sair dessa e torço pra que arrume um emprego, fará bem a todos e Muita Saúde pra sua esposa, que ela encontre um médico dedicado que a faça recuperar a Saúde!!

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    1. Querida, não posso deixar de testemunhar que as mensagens da Bíblia me transmitem muita força para enfrentar os problemas que se apresentam no cotidiano. Ela realmente é um livro sob certo aspecto difícil porque seus textos precisam ser refletidos, historicamente contextualizados, às vezes acompanhado de outros significados do idioma original e alguns pontos podem depender de uma explicação teológica. Eu diria que o mais difícil nem seria ler a Bíblia, mas sim fazer uma cuidadosa análise principalmente quando se tem doutrinas religiosas que rendo justificar nas Escrituras determinadas práticas e acabam tentando impor uma visão bíblica que lhes interessa. Já eu, sem querer me prender hoje a nenhuma religião ou doutrina eclesiástica, tenho na Bíblia um livro de orientação que busco seguir de um modo mais livre e com cautela para não impor a ninguém as conclusões que tiro. Busco assim fazer das Escrituras uma bússola ou um mapa, mas é a resposta no interior do coração, sem dispensar reflexões lógicas e até o parecer de pessoas, que eu tento posicionar-me.

      Os dias em que me perdi na Floresta da Tijuca foram mesmo aterrorizantes porque ficava aquela dúvida se eu seria salvo dali ou não, bem como a minha preocupação com as pessoas que estariam a minha procura sem nem ao menos saberem aonde eu estava e como seria desagradável para elas uma eventual morte minha. Ainda assim, tive uma dose de calma e de prudência para não cometer determinados erros como passar em trechos perigosos e o conhecimento que eu tinha da natureza nessas horas me ajudou, bem como a minha fé em Deus. Aliás, falei bastante com Deus ali, crendo em sua bondade mesmo para com aqueles que cometem erros.

      Superada aquela situação, eis que me vejo hoje no meio de outras bem complicas em que também ando perdido em busca de um trabalho suficiente para sustentar a mim e minha família, tendo que vencer desafios como os problemas de saúde da esposa, resolver minha mudança para Mangaratiba, pintar este apartamento antes de deixar as chaves na imobiliária, dar conta dos processos que deixei em Nova Friburgo, das poucas ações que ajuizei aqui no Rio, cuidar também de minha saúde, pagar contas, etc. Mas quanta gente não passa por problemas semelhantes e ainda piores, não é mesmo? E, com toda dificuldade, prefiro mil vezes estar aqui do que morto em algum lugar da Floresta da Tijuca ou achado sem vida pelos bombeiros, paralítico ou qualquer coisa pior.

      Esta minha mudança para Mangaratiba tem lá alguns motivos não revelados e que não pude expor aqui para não violar a privacidade de terceiros. Sei que o Rio tem muito mais oportunidades do que lá e também nem posso ficar dizendo que as portas estiveram fechadas porque, na verdade, não bati em nenhuma aqui na Cidade Maravilhosa. Em momento algum saí para procurar trabalho, apresentar currículos, tentar abrir um escritório na minha área, estudar firme para concursos, montar um negócio ou oferecer serviços de consultoria. Eu tive foi uma paralisia diante dos problemas que tenho enfrentado, os quais também não foram fáceis e que, nas últimas semanas, já nem permitiam que eu saísse de casa deixando a esposa sozinha. E, quando ela sair da clínica, precisarei que alguém me ajude fazendo companhia na minha ausência quando eu sair para trabalhar. Logo, eu indo pra Mangaratiba espero que a presença da sogra e da canhado seja de alguma ajuda deste sentido.

      Obrigado por sua mensagem de apoio e, caso goste de Cachoeiras de Macacu, não desista daí porque com o COMPERJ em Itaboraí, esta região vai ficar muito boa assim como também está ocorrendo com Mangaratiba por causa do desenvolvimento de Itaguaí.

      Grande abraço e tudo de bom!

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