Segundo os evangelhos, a família de Tiago e João, dois conhecidos apóstolos de Jesus, certa vez pediu ao Mestre para que um dos irmãos se assentasse à sua direita e o outro à esquerda quando fosse estabelecido o tão aguardado reino messiânico. Entretanto, a resposta dada por Jesus em seu ensino universal foi capaz de explicar o mistério do verdadeiro propósito de nossa existência – servir.
“Então se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e fazendo-lhe um pedido. E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino. Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E diz-lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado. E, quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mateus 20.20-28; ACR)
Que ninguém considere isto algo enfadonho, mas o certo é que fomos criados por Deus para servirmos uns aos outros alegremente em amor. Ou seja, não estamos no mundo simplesmente para mandarmos e darmos ordens no nosso semelhante. Nem tão pouco exercermos algum poder como um fim em si mesmo. Nada disso!
Geralmente, quando imaginamos o Paraíso, pensamos logo num lugar de repouso, o que, sob certo aspecto, não seria errado porque o descanso sabático também compreende a realidade espiritual/existencial “assim na terra como no céu”. Só que, ao pensar nos anjos e nas suas atividades descritas na Bíblia, percebo que eles são espíritos que trabalham pela nossa salvação (Hebreus 1.14). Do contrário, por que motivo os anjos, seres considerados como “superiores” aos homens, estariam em movimento ao invés de repousando? O que podemos aprender com isso?
Acredito que haja uma obra de Deus a ser feita neste nosso planeta azul. Aos anjos não foi concedida a tarefa de anunciar o Evangelho do Reino, mas sim aos homens já que se trata de um ministério que envolve a fé, consciência e responsabilidade coletiva das pessoas. Porém, cabe a esses seres celestiais, dentre outras coisas, zelar pelo nosso bem para que se cumpra o propósito divino dos agentes do Reino (ver como Pedro foi ajudado em Atos 12.7-17).
Será que algum dia, quando deixarem esta terra, os homens atuarão como os anjos no propósito de Deus?
Embora eu não me preocupe tanto com as coisas não reveladas por considerá-las sem utilidade para a nossa edificação, considero bastante esta última indagação feita acima como uma hipótese justificada nas Escrituras. Contudo, o certo é que o Senhor Jesus já nos explicou sobre o sentido da vida oculto no serviço ao próximo. Algo que, infelizmente, a grande maioria dos crentes ainda desconhece porque as pessoas esperam receber a felicidade como elas sonham esperando ter coisas materiais, um relacionamento afetivo correspondente como gostariam, um trabalho com status social, casa própria, saúde boa, etc.
Curioso que raramente se pensa na realização pessoal como um doador ao invés de continuarmos sendo meros receptores. De acordo com a Bíblia, Jesus teria ensinado que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (Atos 20.35), algo que é inexplicável pela lógica humana mas que se torna perceptível quando experimentamos na prática esta valiosa lição do Mestre. Pois é nos tornando doadores de vida que encontramos a verdadeira felicidade no nosso interior porque passamos a incluir o outro na nossa satisfação e nos nossos projetos. Neste momento, então, percebemos que já estamos vivendo no Reino de Deus embora na condição de peregrinos num mundo bem caótico cheio de imperfeições humanas, inclusive as nossas próprias.
Se quisermos aprender a servir devemos olhar firmes para Jesus e considerarmos o quanto ele se dispôs a doar o seu tempo, suas palavras sábias, sua força, sua bondade, seu carinho e até mesmo a vida em favor do próximo. Além do exemplo humilde na lavagem dos pés (João 13.3-17), encontramos em sua pessoa a disposição de perdoar sempre e de ajudar sem esperar nada em troca, nem mesmo um agradecimento, além da atitude de quem semeia amor nos corações não colhendo resultados imediatos.
Adquirirmos a expectativa paciente de Jesus torna-se fundamental para não nos frustrarmos mais com o outro e nem desanimarmos pela opção por uma vida de serviço. Isto significa compreendermos que a pessoa objeto do nosso amor precisa de tempo para crescer, amadurecer e dar frutos. Significa também o quanto devemos ser tolerantes com os defeitos alheios e com o nível de consciência de cada um.
Assim, creio na possibilidade real de cultivarmos jardins verdes e floridos nas áridas paisagens deste mundo hostil onde ninguém mais quer plantar nada de bom. Desejo que, com fé, esperança e amor, trabalhemos incansavelmente para que, nos relacionamentos mais difíceis, as coisas se transformem e, então, um lindo bosque cresça em meio a um deserto.
Uma excelente semana a todos!
OBS: A ilustração acima trata-se de um quadro mostrando Cristo lavando os pés dos apóstolos por Meister des Hausbuches, 1475 (Gemäldegalerie, Berlim), conforme extraído da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Meister_des_Hausbuches_003.jpg
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